quarta-feira, setembro 27, 2006

O Estrangeiro

"Pois bem, morrerei. Mais cedo do que os outros, evidentemente. Mas todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida. No fundo, não ignorava que morrer aos trinta ou aos setenta anos tanto faz, pois, em qualquer dos casos, outros homens e outras mulheres viverão, e isso durante milhares de anos. No fim de contas, isto era claro como a água. Hoje ou daqui a vinte anos, era à mesma eu quem morria."

10 comentários:

PenaBranca disse...

Desculpa lá, por muito que eu goste de Camus e do seu Estrangeiro, isso nao significa que queira bater as botas já. Serei sempre eu, logicamente, que morrerei quando chegar a hora, mas que essa seja bem tarde. Ou ha algo que me escapou?

Nuno Guronsan disse...

Sim, há algo que te escapou. O simples facto de eu apenas ter gostado deste pedaço de escrita, independentemente de concordar ou não com a posição do personagem.

PenaBranca disse...

ai ai ai, isto da distancia tem o seu Q

João Dias disse...

Já que falamos de morte vou fazer a minha propaganda. Para mim o tempo não será o factor decisivo na vida, é claro que com certos pressupostos "todos" ambicionaremos viver o mais possível. Mas a questão da qualidade de vida para mim é decisiva, gosto de viver a vida com certos padrões de qualidade, apartir do momento em que eu não os tivesse podia, eventualmente, prefirir até a morte.

Nuno Guronsan disse...

Deixo-te o desafio, João, para umas palavras sobre o que é que poderiam ser esses padrões de qualidade de vida. Até porque, se bem o suspeito, até poderei eventualmente concordar contigo. Fico a aguardar mais desenvolvimentos...

A disse...

Padrões de qualidade de vida:

- não viver no Cacém (definitivamente, e graças a este Espaço Cinzento conseguiste demover-me da intenção)

:)

- ter saudinha pra continuar nos copos com os amigos (ou seja, um fígado novo de 5 em 5 anos a partir dos 35)

- uma conta na Suíça ou nas Caimão

- ...

- whatever

Olha lá... esse pensamento camusiano tem mais que se lhe diga... hoje ou daqui a 20 anos (ou mais) era eu que morria???
Perdão... mas não seria a mesma pessoa que morria. Isso será desistir de toda uma brilhante carreira (quiçá artística, meu caro) e privar o Mundo disso mesmo.

Pseudo-intelectuais de esquerda... pfff... pois.... ya, right... queria ver se o Camus lhe tivesse dado um tranquelimano antes de escrever o Estrangeiro se tu concordavas com essa teoria brilhante...

Daqui a vinte anos não serei a mesma e nessa altura já terei muita obra espalhada por aí... e se morresse hoje? Deixaria muito menos, concerteza...

Beijos Guronsan

Nuno Guronsan disse...

Essa do fígado seria um grande passo para a humanidade... ou talvez não, apenas para os fabricantes de bebidas com muito espírito...

O dinheiro... sim, era capaz de ajudar...

A pessoa que sou agora, a pessoa que fui há dez anos atrás ou a pessoa que serei daqui a dez anos devem ser todas diferentes. A altura em que todas elas deixarem este mundo é um bocado indiferente. Quanto mais tempo me derem melhor, mas não é algo que me preocupe muito. Sei que já consegui deixar alguma coisa em algumas pessoas, portanto... Whenever...

João Dias disse...

Nuno:

Quanto aos padrões de vida apenas te posso dizer os meus e mesmo os que eu diga podem ser alterados quando confrontados com a realidade.
Por exemplo eu acho que se estivesse no estado do Ramon Sampedro provavelmente teria tomado a mesma decisão, mas até podia perante a situação reagir de forma diferente...não te sei dizer.
Mas sei que independente da forma como reagisse à situação, se não sentisse que tinha os padrões de qualidade satisfeitos que desistiria de viver, o problema é que hoje os meus padrões de vida podem mais exigentes do que amanhã ou vice versa.
Aliás no que respeita à liberdade de morrer apenas ponho como condicionantes a sanidade mental, o que também pode ser perigoso porque assim que alguém diz que quer morrer alguém se apressa a declará-lo/a louco/a.

Mas os loucos estão todos vivos...

João Dias disse...

P.S. Já agora basicamente os padrões de qualidade de vida prendem-se com a felicidade, e a felicidade para mim é passar um dia sem dores fisícas extremas, é ter pessoas que "justifiquem a minha existência" e ter alguma liberdade motora.

Nuno Guronsan disse...

Sim, João, concordo com quase todos os padrões que mencionas. E não poderia haver melhor frase do que essa de que "os loucos estão vivos". E mais do que se pensa... Obrigado por teres aceitado o meu "desafio". Um abraço.