sexta-feira, dezembro 21, 2012

Ondas Sonoras - XLII

E assim, não só o mundo não acabou (toda a gente sabe que isso só acontece às quintas-feiras), como houve ainda a oportunidade de ver um belíssimo concerto dos A Jigsaw. Uma voz regada a whisky, uma guitarra, um piano, um violino e uma bateria são o suficiente para convocar os fantamas de Guthrie, Dylan, Cash e Springsteen (versão Nebraska + Tom Joad) para cima do palco e construir belas canções que levam a viajar por uma cidade fantasma, um saloon ou uma festa num celeiro de um western do século passado. Belas canções que nos contam as vidas de Júlio César, do Zé do Telhado ou de Tolstoi, pelo menos assim nos relatou o vocalista João Rui, simpático e comunicativo e sem se deixar enredar em monólogos aborrecidos sobre lisboetas ou Oslo. Um concerto daqueles para guardar nas gavetas da memória. Muito bom mesmo. Ah, e há uma música destes senhores nas Canções de 2012 ;)))



 


terça-feira, dezembro 18, 2012

Coração quente

E eis que começam a chegar sms's e telefonemas e afins.

E a alma agradece e o coração aumenta e fica mais quente.

E todas as horas gastas compensam largamente e não se consegue deixar de ter um sorriso parvo na cara.

Esta, fica mais uma vez comprovado, é, sem dúvida, a minha altura do ano preferida. Dar largas à imaginação e simplesmente dar, dar, dar. Estou feliz. Com pequenos nadas.


quinta-feira, dezembro 13, 2012

Dezembro.

Estamos outra vez naquela altura do ano.

A sala está invadida por papel de embrulho, envelopes, postais e canetas. E mais umas quantas coisas que fazem com que as noites sejam mais ocupadas do que é habitual.

Vão começar as idas ao correios. E às lojas que ainda resistem abertas perante tanta crise, austeridade e tristeza. O frio não ajuda, a chuva muito menos.

E no entanto, são pequenas coisas que preenchem os dias de Dezembro e inspiram sorrisos á espera do que aí vem. Vai ser bom, com toda a certeza.

Só não me pensam balanços. Este ano não vai haver balanços. Prefiro pensar que este foi um ano para, não digo esquecer, mas para dar mais relevo ainda aos anos bons que houve e quem ainda aí vêm. Irremediavelmente optimista me confesso. Sem balanços.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

domingo, dezembro 02, 2012

Verdade verdadeira



"Our lives are not our own. We are bound to others. Past and present. And by each crime; and every kindness we birth our future."


terça-feira, novembro 20, 2012

Livro

      "A culpa é do Salazar, esse filho de uma correnteza de
putas, esse cão. E o padre é outro que tal. Enchem o bandu-
lho de bolos, massa finta, mas têm a cabeça cheia de estru-
me. Andam sempre com a boca cheia de pobres, a doer-se,
os pobrezinhos, os pobrezinhos, mas hás-de cá vir dizer-
-me quando os vires fazer a cabeça de um alfinete pelos po-
bres. São uns parasitas desgraçados, hão-de apodrecer com
todo o veneno que carregam debaixo do pêlo, isto se não
estiverem já podres, se não tiverem só merda líquida a cor-
rer-lhes nas veias."

José Luis Peixoto

 

Onde é que já ouvi isto?



"uma espécie de lamento colectivo nacional: adoro o meu país e ele não funciona."



sábado, novembro 10, 2012

O meu novo vizinho noctívago



(P.S. - Remeter para este post quando me perguntarem se há novidades... :)))


(P.S. 2 - Claramente estou no campo há demasiado tempo... :)))


terça-feira, novembro 06, 2012

Um segredo só nosso

"Gosto de ti. Muito. Do tamanho do mundo."

É maravilhoso sussurarem estas palavas ao nosso ouvido. Vão directamente para o coração, sem pagarem impostos nem interessadas em algo em troca. Apenas palavras simples, sinceras, sentidas. Uma amizade assim tem de ser bem conservada, com muito carinho e com visitas mais frequentes, não é minha querida? Adoro-te até ao infinito. :)


quinta-feira, outubro 25, 2012

Mantra


(relembrando coisas do passado enquanto se prevê trovoadas para a noite...)




quarta-feira, outubro 24, 2012

Molha

Dia de chuva. E enquanto o carro rodava pelos paralelipípedos da cidade, e as escovas funcionavam no máximo, veio-me à memória uma recordação longínqua de um outro dia chuvoso. Não devia ter mais de onze anos. Torneio de futebol na escola. Nada de relvados nem sintéticos, apenas um campo de gravilha acimentada (não consigo arranjar melhor descrição). O dia até tinha começado com sol e nada de frio, de modo que me lembro que todos nós jogávamos de calções e camisas de manga curta. Lembro-me de alguns com camisas oficiais dos clubes do seu coração e lembro-me de outros com t-shirts compradas na praça. Lembro-me de ter jogado à baliza. Sei que defendi alguns remates e sei que deixei entrar outros tantos. Não sei quanto ficou o jogo, se ganhámos ou se perdemos (nunca havia empates), e sei que ficou um joelho esfolado, com riscos de sangue pisado e escuro. O que me lembro realmente bem é que durante o jogo começou a chover. A princípio umas gotas tímidas e com pouca vontade de molhar mas que rapidamente se foram juntando para acabar com o nosso jogo. Até que às tantas estávamos a jogar com um dilúvio a cair sobre nós. A chuva era tão cerrada que às vezes nem conseguia ver quem levava a bola, se nós se os da outra equipa. Mas nós continuávamos a jogar, por mais poças de água que houvesse no campo, por mais gente que largasse das bancadas a correr para abrigos secos. E nós continuávamos a correr e atirarmo-nos para o chão, gravilha e água a agarrar-se aos nossos corpos. Até que me lembro de um dos contínuos vir interromper o jogo, a gritar para irmos para os balneários, para nos irmos embora que nesse dia não haveria mais jogos. E nós, refilando e barafustando com aquele que era o maior (único?) adepto do Belenenses naquela escola, lá fomos para dentro de portas, procurando os chuveiros quentes. Mas nesse dia não havia mais aulas. E, para não variar muito, também não havia água quente. O cilindro devia ter ido ao ar mais uma vez. E a partir daqui não me lembro se todos nos decidimos pelo passo seguinte ao mesmo tempo, ou se foi ideia de algum apenas, ou se foi daquelas coisas em que não precisávamos de falar uns com os outros. O certo é que simplesmente aconteceu. Todos pegámos nas nossas mochilas e, sem trocarmos de roupa e ainda equipados, fomos para a rua, para o meio da chuva, em direcção às nossas casas. Foi das maiores molhas que apanhei até hoje. Ainda que fossem apenas uns quinze minutos a pé até à maior parte das nossas casas, ficámos encharcados até aos ossos e, enquanto passávamos pelas pessoas de chapéu aberto que procuravam o interior dos passeios, ríamo-nos e ríamo-nos, uma vezes a correr, outras á espera das ondas de água provocadas pelos carros que passavam. E ríamo-nos mais um pouco, e recordávamos os passes e os golos e as defesas do jogo. E a chuva, que continuava a cair impiedosamente, não apagava os nossos sorrisos e as nossas cumplicidades. E enquanto cada um ia chegando ao seu destino, lá nos despedíamos, até amanhã, trazes tu a bola?, sim, não te esqueças dos apontamentos de inglês, ficaste de me trazer uma banda-desenhada, ok, e lá seguíamos caminho, certos de que quando chegássemos a casa iríamos ouvir os ralhetes da nossa vida, ainda que ao mesmo tempo viria a toalha mais macia para nos secar o esqueleto. E agora que estou quase a chegar a casa e a chuva vai dando lugar a uns raios de sol desfocados, lembro-me dos nomes. Do Jorge, do Bruno, do Hilme, dos gémeos. De como juntos tínhamos os momentos mais felizes das nossas vidas e que nenhuma chuva torrencial conseguia dobrar-nos o espírito. Sabe bem voltar lá atrás e reviver estas pequenas memórias...


domingo, outubro 21, 2012

21 de Outubro de 1976

Mais um dia de alegria e afectos para juntar às páginas da memória sentimental.
E confirma-se, as coisas simples são as que mais alegram o meu coração.
Obrigado, José e Maria, por estarem sempre ao meu lado, desde sempre.
Obrigado a todos os outros que ao longo do dia ficaram um bocadinho mais perto de mim.
Não me canso de o repetir.
Sois grandes. Enormes.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Cada vez mais relevante...


(ainda assim, e ironias à parte, isto lembra-me tempos felizes, o que é meio caminho para esquecer as demais tristezas e depressões... :))


quinta-feira, outubro 18, 2012

Mil homens

Um restaurante quase vazio. António entra quase a medo, não sabe se fez bem em escolher aquele sítio para matar a fome. Mas também não havia muita escolha. Tinha que parar em algum sítio e de cada vez que percorria mais um quilometro sentia-se ainda mais perdido. E isso aumentava ainda mais a sua natural insegurança. Mesmo assim lá entrou, quase a medo como já se disse. Numa mesa do canto um casal mais o filho vão conversando sobre uma série de pratos fumegantes. Numa outra mesa, em frente ao único televisor da sala, uma senhora de idade que vai acabando de beber um café enquanto observa apreensiva as notícias televisivas. A única outra pessoa presente na sala é um homem alto e magro, camisa branca e calças pretas e que se dirige a ele com um sorriso nos lábios. "Boa tarde. É só o senhor?" António acena que sim e o homem convida-o a sentar numa das mesas vazias. Rapidamente lhe traz um cesto com pão e uma tigela de azeitonas, enquanto vai falando incessantemente sobre os pratos do dia, sem nunca perder o seu sorriso. António não sabe pensar se o homem está a ser genuinamente simpático ou se aquilo é apenas uma cassete de restauração. Após o que lhe parecem horas, lá consegue dizer ao delgado empregado que apenas deseja uma sopa. Pode ser a do dia, uma canja de galinha. O empregado garante-lhe que é uma boa escolha e despede-se com um obrigado na direcção da cozinha. Do outro lado da pequena sala, a senhora desvia o olhar da televisão e, olhando nos olhos de António, diz-lhe "Vai gostar muito da canja. É uma especialidade da Idalina.". António fica surpreendido, mas rapidamente percebe, pelas palavras que a senhora lhe vai dizendo e pelo retrato de um casal pendurado por cima da família do canto, que aquela senhora é filha dos fundadores do restaurante e a provavel actual proprietária do mesmo. A senhora continua a falar com ele sobre comida, o tempo lá fora, as notícias da televisão, a terra onde estão, enquanto António vai interpondo aqui e ali um ou dois monossílabos, limitando-se a maior parte do tempo a ouvir a senhora, nunca se cansado das suas palavras. Talvez que estas pessoas sejam realmente assim, simpáticas e interessadas nos seus clientes. Chega a canja. O empregado deseja-lhe bom apetite e segue para a mesa do canto. A família acabou a refeição e está a pagar a conta enquanto se vão rindo com o empregado de um comentário do filho. António vai comendo a canja e fica maravilhado com o quão saborosa é. Há muito tempo que não comia algo tão bom. Talvez que a última vez tenha sido o prato que a sua mulher lhe preparou na noite antes de partir. Desde esse dia que ansiava por comer algo que lhe lembrasse a sua casa, a sua mulher, o seu filho. E era isso que aquela canja lhe lembrava, o calor da sua terra. A família passa pela sua mesa e todos eles se despedem amistosamente dele e a mulher diz-lhe mesmo "Prove a alhada de cação, vai ver que está uma maravilha!". Despedem-se com sorrisos da dona do restaurante e saem para a rua. António está desconcertado. Já não pensava que pudesse haver pessoas assim. É sinal que está realmente longe de casa, longe das pessoas cínicas e frias da sua terra. Além da sua esposa e filho, já não pensava sequer em algum dia conversar com outras pessoas, quanto mais pessoas desconhecidas. Mas aqueles desconhecidos do restaurante fizeram mudá-lo de opinião. Afinal ainda há esperança para estes dias. António terminou a sua sopa e sentia-se perfeitamente satisfeito. Pediu a conta ao empregado. Este estranhou e perguntou-lhe "Mas o senhor não quer nenhum prato principal? Temos uns quantos do dia e são tão bons.". António agradeceu ao empregado com palavras simpáticas e à senhora de idade, que olhava para ele inquisitoriamente, com um aceno e um sorriso. Sentia-se satisfeito, a canja tinha-lhe aquecido a alma. Enquanto dizia aquilo, António não podia sentir uma certa estranheza nas palavras que dizia, há muito tempo que não usava expressões assim, directamente do coração. Pagou a conta e despediu-se com apertos de mão aos dois e com o desejo que dissessem à D. Idalina que a canja estava maravilhosa. Agradeceu uma e outra vez a hospitalidade e fez votos de que viessem melhores tempos, com mais clientes e sala cheia. Cá fora, o sol dava um ar da sua graça. A chuva e o nevoeiro pareciam ter fugido para outro lado. Enquanto se afastava do restaurante, levou a mão ao casaco e sentiu as formas perigosas do revólver. Não, pensou ele, não desta forma. Aquelas pessoas não mereciam que ele roubasse a caixa registadora. Aquelas pessoas mereciam melhor do que um estranho a estilhaçar a vida deles. Aquelas pessoas estavam a passar pelas mesmas dificuldades que ele. Elas não mereciam estar na mira de uma arma e ele nunca se perdoaria de ser às suas custas que iria pôr comida na mesa da sua família. Sim, ele tinha de lutar pela sua mulher e pelo seu filho com todas as armas que estivessem ao seu dispôr. Mas aquilo não. Roubar aquela casa era algo que ele não podia fazer, algo dentro dele não o deixaria e sentir-se-ia como se estivesse a vender as últimas réstias da sua dignidade. Talvez que fosse altura de se deixar daquela vida, atravessar a fronteira, voltar a casa e arranjar outra forma de trazer dinheiro para a sua família. Talvez que ainda possa haver uma vida decente. Talvez que a honestidade e um sorriso simpático ainda tenham lugar neste mundo...



quarta-feira, outubro 17, 2012

Entretanto nas ilhas...

Um dia, quando fores grande, a tua mãe vai mostrar-te o mundo. Ou melhor, vai mostrar-te todos os mundos que fizeram parte da vida dela. Vai levar-te de norte a sul deste país à beira-mar plantado. Vai levar-te a todos os pedaços de terra flutuante que também fazem parte desse país. E depois vai contar-te sobre os dias em que decidiste largar o conforto da barriga dela e vieste espreitar este estranho mundo cá fora. Vai contar-te que nasceste numa altura em que este país estava, literalmente, de pernas para o ar. Que por todo o lado a dificuldade era mais que muita, que as pessoas andavam tristes e desanimadas, que todos tinham de contar os cêntimos na carteira muito bem contados. E tu vais perguntar-lhe, "mas Mãe, hoje vivemos todos bem, em harmonia, com cada vez menos pobreza, com pessoas sorridentes nas ruas, com o país a prosperar como nunca prosperou. Como é possível que o que me contas tenha, de facto, acontecido?". A tua Mãe vai sorrir, compreendendo as tuas dúvidas. E explicar-te que, felizmente, tu cresceste num país que foi mudando, sempre para melhor, e que todas as nuvens negras se foram dissipando enquanto passavas da roupa de criança para a de adolescente. E vai mostrar-te fotografias, recortes de jornais, endereços de internet que permaneceram no ar, e lentamente vais começar a compreender que o teu mundo, aquele que já é teu, é muito melhor e mais solidário. E vais ficar aliviada e vais abraçar longamente a tua Mãe, como que a reconfortá-la pelos tempos difíceis que ela passou. E ela, apercebendo-se disso, vai contar-te que também teve momentos felizes. E que, mesmo não sendo tudo rosas, também não foi tudo espinhos. E depois vai contar-te a história mais bonita do mundo e os teus olhos vão brilhar enquanto ela te conta como o conheceu o amor da vida dela, o teu Pai. E, quem sabe, até pode acontecer que a tua Mãe te mostre estas palavras que agora escrevo. E pode ser que tu também sorrias ao ler o que aqui te deixo. Para ti desejo apenas uma coisa. Que tenhas muitos momentos de felicidade, de amor verdadeiro, e sobretudo uma longa vida ao lado dos teus pais. Beijos. Grandes.

Para uma Mãe a quem muito me orgulho de chamar Amiga.
Tu sabes quem és.




Do sangue.

Casa cheia por estes dias. Respira-se outra vida dentro destas quatro paredes. Há mais alegria, mais risos, mais cumplicidades, menos solidão. São muitos anos de companhia, intercalados com algumas ausências. Já sabemos muito bem como cada um de nós funciona. Todos os defeitos, as qualidades, as pequenas particulariedades das nossas personalidades. Não somos perfeitos, nenhum de nós é, mas sabemos o que faz animar o coração de cada um e não nos custa ir por esse caminho. Já fez sol, agora chove, mas estamos aqui, alinhados, no nosso amor. Gostava de poder descrever melhor, mas não o consigo. Não se consegue pôr em palavras todas as emoções que nos trespassam enquanto caminhamos juntos, almoçamos juntos, partilhamos pequenos segundos de prazer juntos. Os dias vão correndo, tento estar o mais presente possível, pois a despedida mora já ao virar da semana. Até lá ainda temos muita vida para celebrar, muitas velas para festejar. E depois será tempo de regressarmos às nossas casas, até ao próximo encontro. Até ao próximo beijo. Até ao próximo abraço apertado. Coração junto aos vossos corações.

domingo, outubro 07, 2012

Voo Nocturno

"Ela ficava ali. Olhava, triste, para aquelas flores, aqueles livros,
aquela doçura, que para ele eram só um fundo de mar."

Antoine Saint-Exupéry

 

segunda-feira, outubro 01, 2012

sábado, setembro 29, 2012

Bica

A felicidade mora no interior de um contrabaixo.

Pelo menos durante o tempo que um piano nos deixa respirar e elevar a nossa alma para outros tempos, outros locais, outros sonhos.

E depois o contrabaixo arrebata-nos o coração, deixa-nos navegar nas suas cordas, levando-nos lentamente até à nossa casa. Aquela que fica, precisamente, no nosso coração.

A felicidade mora no interior de um contrabaixo.

 

sexta-feira, setembro 28, 2012

Lama

Não deixa de ser simplesmente fabuloso como se pode pegar num mero saxofone e fazê-lo soar como um distante e temível didgeridoo.

Ler a frase de cima em todas as suas formas de interpretação possíveis, imaginárias e sonhadas algures durante a noite.
 

domingo, setembro 09, 2012

Nippon

Um dia hei-de lá ir. Eu que já estive lá tão perto mas não consegui lá chegar. Uma pena, realmente. Mas o fascínio continua por aqui, rondando a minha cabeça. E um dia há-de ser plenamente satisfeito. Quero conhecer tudo. Quero conhecer as pessoas. E, como diz o Haruki, quero realmente saber de que é "feito". O que é que realmente faz ser como é? E tantas perguntas que poderia fazer, tanta coisa que poderia querer saber, e assim de repente apenas me apetecia perguntar como é que se resiste a tanta coisa? Afinal de contas,

Hiroshima foi há 67 anos,

Nagasaki foi há 67 anos,

Kobe foi há 17 anos,

o metropolitano de Tóquio foi há 17 anos,

e Fukushima já foi há mais de um ano.


Seja pela mão do homem ou pela da natureza, tantos já tombaram naquela terra. Que as suas almas descansem em paz.
安らかに眠る.

Um velho acordado na sua própria morte

"Este é o lugar que me prometeram
quando adormeci,
que me foi roubado quando acordei.

Este é o lugar por todos desconhecido,
onde os nomes dos navios e das estrelas
vagueiam para longe.

As montanhas já não são montanhas;
o sol não é sol.
É fácil esquecer como era;

Vejo-me a mim, vejo
a margem da escuridão na minha fronte.
Em tempos fui inteiro, em tempos fui jovem…

Como se isso agora importasse
e me pudesses ouvir
e o tempo deste lugar alguma vez parasse."


Mark Strand



(Dedicado a um país com um coração enorme e com uma capacidade de sofrimento ainda maior.)

terça-feira, setembro 04, 2012

Alegria a dois


Que bela maneira de começar um Setembro que promete muitos sorrisos...



 


domingo, agosto 26, 2012

Passeio

Hoje caminhei, caminhei e caminhei. E ao longo dos meus passos, tive a estranha sensação que caminhavas ao meu lado, reavivando todas as caminhadas que fizémos juntos, desde os tempos em que eu corria atrás de ti até aos tempos em que te dava o meu braço para te apoiares. E assim caminhei com um sorriso e com o sol a bater-me na cara e com o sentimento de que a minha homenagem matinal falhada ficou plenamente conseguida com a vespertina que passámos juntos. Pelo menos nas nossas almas.




 


sexta-feira, agosto 24, 2012

sexta-feira, agosto 17, 2012

Cinco dias

Nunca é tempo suficiente. Fica sempre algo por dizer, por fazer, por pensar, por sonhar. Quando o tempo se esgota, olha-se para trás e fica-se sempre com a amarga desconfiança que o tempo passou demasiado depressa. Que toda a mistura de memórias felizes eternamente guardadas nos recantos da alma com todas as lágrimas que se vai derramando escondidos da multidão deixa sempre uma névoa sobre nós. Os reencontros, as cumplicidades, as mesas cheias de caras risonhas, tudo isso não tem preço e faz com que o mundo seja a nossa ostra. Esses momentos já ninguém me tira, e felizmente preencheram tantas horas que quase parecia que tinha recuado no tempo, até aos dias em que as férias duravam e duravam. Tantos abraços, tantos beijos, tantos olhos a brilhar na minha frente, tanta história que atravessa quase trinta e seis anos de vida "conjugal". Como é que se explicam tantas e tantas afinidades? Como é que se explica que se dobre uma esquina quase a correr para esconder as lágrimas de alguém que chora já uma despedida que nunca se sabe se será a última? Como é que se explica que perante pessoas que sempre conhecemos de outra maneira, tenhamos que manter um débil sorriso e pensar que o dia de amanhã vai trazer melhoras? Se calhar não se explica. Se calhar só o nosso coração percebe o porquê de amarmos todas estas pessoas. E depois há toda aquela terra. Uma terra que noutros tempos conhecemos tão bem e que agora apenas conhecemos a sua geografia física. Que sentimos um peso no peito quando entramos no jardim das tabuletas e de quase todos os cantos sentimos os olhos de tantas e tantas pessoas que nos conheceram, que nos amaram. É o local mais triste que conheço hoje em dia. Mas depois basta passar o portão, descer uns quantos metros de pedras calcetadas e entrar numa casa construída com suor e traballho, ver as uvas a pintar, sentir o cheiro dos grelhados, e ter um encontro imediato com o sagrado coração, versão tresloucada e ovelha negra da família. E tudo está bem, mesmo do outro lado da encosta onde sabemos que sim está bem, que sim tem imensas saudades de nós, e que sim os nossos encontros serão a partir de agora um enorme turbilhão de emoções que iremos guardar dentro de nós até ao final dos nossos dias. Que esse dia esteja bem longe é que o desejo mais.



segunda-feira, agosto 06, 2012

Verão alentejano

Nunca me canso de chegar a casa do trabalho e ficar sentado a olhar para os céus enquanto o sol se vai pondo por trás do Monte da Penha. Digamos que é o meu momento zen do dia e que apenas peca por ser muito rápido. Ainda assim, há sempre o instantâneo para a posteridade. Para mais tarde recordar mas sem interpretações de me querer ir embora. Ainda há tempo...



domingo, agosto 05, 2012

Obrigado...

... à Radar. Por me lembrar que houve um dia onde saí das aulas à pressa, sempre com medo de perder o dinheiro que tinha no bolso, e que corri em direcção à loja de discos mais próxima onde, depois de meses à espera, pude comprar aquele quadrado de cartão que continha o vinil mais desejado desse ano. Good times...








sexta-feira, agosto 03, 2012

Fenómenos

Há amizades que nos marcam. Que nós marcamos. E que, felizmente, temos uma vida inteira para apreciar, para fortalecer, e para diariamente nos lembrarmos que as afinidades do coração estão aí, quase sempre ao virar da esquina e quase sempre prontas a nos surpreender e nos agarrar pelos colarinhos. Parabéns grandes, minha querida amiga.


 


quinta-feira, agosto 02, 2012

i'm not there

"É impressionante como passas ao lado da vida. Sempre distraído com alguma coisa, sempre a pensar na morte da bezerra. Porque não te viras para a frente e agarras a coisa pelos cornos? Pensas que vai ser sempre assim, sonhos acordados com uma paisagem bonita em fundo? Desengana-te, meu amigo, ainda vais ter de pisar muito carvão em brasa até chegares ao teu destino. E mesmo aí duvido que realmente ganhes juízo, não passas de um pobre sonhador, sempre a imaginar o que poderia ter sido ou o que ainda pode acontecer, quando na verdade deixas escapar o presente nas areias em fuga de uma mera ampulheta. Vá, diz lá que não tenho razão, diz lá que sou só basófia e garganta. Ainda vai chegar o dia, e não deve estar longe, em que vais dar o braço a torcer e afirmar, com todas as letras, que eu é que tenho razão e que começaste a procurar a vida, a real vida, demasiado tarde. E depois quem é que te vai amparar?Não contes com a minha ajuda, meu pateta, tenho mais que fazer, ainda tenho de passar hoje nas finanças para entregar o IRS em atraso..."



(Foto tirada por um desaparecido em combate.)

(a dobrar)



quarta-feira, agosto 01, 2012

A pessoa que éramos

"As histórias de amor são assim, derradeiras, socos no estômago e, mais tarde, na memória. Mais do que nas fotografias que são tão cruas, tão ausentes de tudo o que se viveu, porque não passam de imagens de algo ou de alguém que já não amamos, as músicas lembram-nos aquilo que vivemos, que sentimos e acima de tudo, a pessoa que éramos, que fomos, que destruimos, uma faísca que ardeu e se perdeu.


A história reescreve-se sempre, por outras palavras, com novas memórias, com outra pessoa, mas a música traz-nos de volta tudo o que fomos e todas as sensações de um momento único na nossa vida."

(Minha querida amiga, nunca me canso das tuas palavras e já não tenho conta das vezes que me conseguiste deixar sem fôlego literário. Gostava que escrevesses mais. Considera isso como a minha prenda para este ano. :)


Os teclados

"Tudo é o que tem de ser, vá lá a gente saber por que se morre."


Teolinda Gersão

 

terça-feira, julho 31, 2012

Um buraco no coração


("I wouldn't change one second of our life together...")


... chaos will ensue.

Eu e tu não nos entendemos. Tu e eu não conseguimos perceber o que cada um de nós quer desta vida. Poderia apenas ser um problema de linguagem, afinal somos de países diferentes, mas nem isso serve como desculpa. Até porque simplesmente deixámos de falar. Já nem sequer conseguimos ouvir-nos a explicar isto e aquilo e o que está errado e o que está ainda mais errado. Discussão após discussão conseguimos espremer todo o amor que tínhamos até quase nada restar. Continuamos juntos mas apenas estamos a partilhar o mesmo espaço físico, o espaço emocional implodiu. E aqui estamos, sentados a poucos centímetros um do outro, calados, e nas nossas cabeças a milhares de quilómetros um do outro. Um de nós devia dizer algo, devia pedir desculpa, devia pedir que o outro se desculpasse. Mas nenhum se move, nenhum abre a boca, permanecemos mudos e deixamos que a angústia nos consuma. No dia seguinte, alguém vai estar a fazer as malas, a arrumar as suas coisas e algumas das que vieram para esta casa pelas mãos dos dois. Vai ser o símbolo final, o símbolo de que o nosso amor não foi suficientemente forte. Imagino que ambos estejamos a pensar numa das nossas canções preferidas e que, realmente, todo o amor do mundo não foi suficiente e apenas podemos pensar que o amor, o nosso amor, não serviu realmente para nada. A tristeza é palpável mas nem isso nos leva a dizermos algumas palavras, alguma espécie de elegia a um amor que se prepara para ser enterrado definitivamente. Ficamos quietos, cada um no seu canto, calados, sem forças para fazer ou dizer o que seja. Até ao momento em que tu te levantas e sais porta fora e eu apenas consigo sussurar pela última vez o teu nome. Júlia...


quarta-feira, julho 11, 2012

Lá de Cima - XVI


Albufeira de Montargil, Portugal.

Aqui jazem os meus óculos, Outubro 2010 - Julho 2012. Descansem em paz. :)


sábado, junho 30, 2012

Nítido nulo

"Há o espírito do tempo, da hora que nos calhou, só se nasce uma vez? há o signo que nos coube. Introduz-se nos interstícios de todo o nosso ser, é o espírito do tempo. No que pensamos, amamos, odiamos. E no nosso modo de andar, de vestir, de estar à mesa. E de fazer amor. E no tamanho dos gestos, na altura da voz. No formato do corpo até onde puder ser. Nos problemas que nos pomos e na antecipada solução deles, que é por onde um problema começa. Ou na não solução deles quando escolhemos problemas para a não terem. E nos móveis da casa e no sítio deles e na casa e no sítio da casa. É o espírito que nos atravessa todos mas que enquanto nos atravessa nós estamos fabricando ou já temos fabricado - é curioso. Vou pensar na questão?"

Vergílio Ferreira

 

quinta-feira, junho 14, 2012

A conta, fachavor

"Saving human race from total extinction - no charge".


Douglas Adams

 

domingo, junho 03, 2012

Bom dia.

Nunca tinha acordado com uma canção que encaixasse tão bem nos sonhos que tive durante a noite. Pena que a possibilidade de os mesmos se concretizarem esteja tão distante da realidade. Mas posso sempre continuar a sonhar ao som destes senhores que hoje me foram acordando a pouco e pouco...


 

"Hey, are you awake
Yeah, I'm right here
Well, can I ask you
About today"


terça-feira, maio 29, 2012

The dark of the matinee

Para quem, como eu, adora cinema e perder horas e horas da minha vida numa sala escura diante do grande e mágico ecrãn, este filme é uma homenagem tão bonita ao cinema que é impossível não ficar apaixonado por ele. Lindo, lindo, lindo.


"If you've ever wondered where your dreams come from, you look around... this is where they're made."


quarta-feira, maio 23, 2012

Sinal dos tempos... cada vez mais...

"Good evening, London. I thought it time we had a little talk. Are you sitting comfortably? Then I'll begin...
I suppose you're wondering why I've called you here this evening. Well you see, I'm not entirely satisfied with your performance lately…. I'm afraid your work's been slipping, and...and well, I'm afraid we've been thinking about letting you go.
Oh, I know, I know. You've been with the company a long time now. Almost...Let me see. Almost ten thousand years! My word, doesn't time fly? It seems like only yesterday… I remember the day you commenced your employment, swinging down from the trees, fresh-faced and nervous, A bone clasped in your bristling fist... "Where do I start, sir?" You asked, plaintively.
I recall my exact words: "There's a pile of dinosaur eggs over there, youngster," I said smiling paternally the while. "Get sucking."
Well, we've certainly come a long way since then, haven’t we? And yes, yes, you're right, in all that time you haven’t missed a day. Well done, thou good and faithful servant. Also please don't think I've forgotten about your out-standing service record, or about all of the invaluable contributions that you've made to the company... Fire ,the wheel of agriculture...It's an impressive list, old-timer. A jolly impressive list. Don't get me wrong.
But...well, to be frank, we've had our problems ,too. There's no getting away from it. Do you know what I think a lot of it stems from? I'll tell you... It's your basic unwillingness to get on within the company. You don't seem to want to face up to any real responsibility, or to be your own boss. Lord knows, you've been given plenty of opportunities...We've offered you promotion time and time again, and each time you've turned us down. :"I couldn't handle the work, Guv'nor," you wheedled. "I know my place"
To be frank, you're not trying, are you? You see, you've been standing still for far too long, and it's starting to show in your work....And I might add, in your general standard behaviour. The constant bickering on the factory floor has not escaped my attention...Nor the recent bouts of rowdiness in the staff canteen. Then of course there's....Hmmmm. Well, I didn't really want to have to bring this up, but...Well, you see I've been hearing some disturbing rumours about your personal life.
No, never you mind who told me. No names, no pack drill...I understand that you are unable to get on with your spouse. I hear that you argue. I am told that you shout. Violence has been mentioned. I am reliably informed that you always hurt the one you love...The one you shouldn't hurt at all.
And what about the children? It's always the children who suffer, as you're well aware. Poor little mites. What are they to make of it? What are they to make of your bullying, your despair, your cowardice and all your fondly nurtured bigotries? Really, it's not good enough, is it? And it's no good blaming the drop in work standards upon bad management, either ...
Though, to be sure, the management is very bad. In fact, let us not mince words ... the management is terrible! We've had a string of embezzlers, frauds, liars and lunatics making a string of catastrophic decisions. This is plain fact.
But who elected them? It was you! You who appointed these people! You who gave them the power to make your decisions for you! While I'll admit that anyone can make a mistake once, to go on making the same lethal errors century after century seems to me nothing short of deliberate.
You have encouraged these malicious incompetents, who have made your working life a shambles. You have accepted without question their senseless orders. You have allowed them to fill your workspace with dangerous and unproven machines.
All you had to say was "NO." You have no spine. You have no pride. You are no longer an asset to the company. I will however, be generous. You will be granted two years to show me some improvement in your work. If at the end of that time you are still unwilling to make a go of it...You're fired.
That will be all. You may return to your labors."



 Alan Moore



sexta-feira, maio 11, 2012

A vida enquanto piano desafinado


A vida, às vezes, consegue ser um autêntica merda. Especialmente quando somos "roubados" de um enorme mundo de talento na forma de um ser humano. Que continuemos a ouvir o som dos seus dedos nas teclas de um piano para nos lembrarmos da sua memória luminosa que nos iluminou até ao triste dia de hoje...


domingo, maio 06, 2012

Dejá vu

"Não digas nada – a tua boca já me pertenceu
e agora tenho ciúmes das palavras. O que
disseres será um beijo pousado nos lábios de
outra mulher, dor e mais dor, traição maior
para quem acreditou que o teu amor era para
a morte. Não fales – tenho também ciúmes


da tua voz; ouvir-te é ficar só uma vez mais."

Maria do Rosário Pedreira



quinta-feira, maio 03, 2012

Corvo

A simplicidade e a honestidade conseguem fazer momentos cinematográficos únicos. E sou recordado de algo que uma vez escrevi acerca da viagem do ano passado à Nova Zelândia. Que, por muito bonitas e inesquecíveis que sejam as paisagens e os lugares, o que acabará sempre por ficar nas nossas memórias são as pessoas, a sua sinceridade e a sua frontalidade, a forma como nos recebem e nos confrontam, é isso que fica. E aqui aconteceu exactamente a mesma coisa. Como alguém diz a certa altura, e não me recordo das palavras exactas, só vale a pena fazer alguma coisa se realmente gostarmos de a fazer, só se a amarmos muito é que vai sair bem, tenhamos ou não tudo o que precisamos à mão, se a fizermos só por interesse ou porque tem que ser, então o mais certo é ficar uma coisa muito mal feita. Assim, apenas ficamos deslumbrados pelo quanto o Gonçalo ama realmente o Corvo e as suas gentes, para ter saído esta maravilha de três horas e tal que passam a correr e deixam o desejo de continuar por ali...





domingo, abril 29, 2012

Vacaciones

Hoje foi o primeiro dia. E se todos os dias que aí vêm nas próximas três semanas tiverem momentos tão bons como o de hoje, serei uma pessoa feliz. Com ou sem chuva, mas sempre com a luz que apenas os verdadeiros amigos nos conseguem dar. Sejam sempre bem-vindos a esta casa. :)

domingo, abril 22, 2012

Os outros dizem



"Uma cenoura?? Mas crua ou cozida? Ou descascada??"

Riso e mais riso. Muito bom.


quinta-feira, abril 12, 2012

A propósito da MAC...

Fui recordado que a minha antiga escola primária também já não existe. Era uma pequena ilha de ensino no meio de alguns dos prédios mais antigos da freguesia. Era feita de pavilhões de madeira, tinha árvores, e recreios para brincar, e espaço para correr. Se eram as melhores instalações escolares do mundo? Não, longe disso. Mas sempre foram mais do que suficientes para os alunos que havia na altura, sempre houve salas suficientes, sempre houve professores e auxiliares capazes de controlar algumas das crianças mais destravadas que conheci em toda a minha vida. E nem mesmo uma cabeça partida me faz ter menos saudades daquela escola que conheci desde os meus três anos de idade até à altura que parti para a preparatória. Foi abaixo, com a justificação de instalações mais modernas e a necessidade de albergar muitos mais alunos do que aquilo que conseguia. Nunca construíram outra no seu lugar. Nem tal se pedia. Mas havia tanta coisa que podia ali ter nascido para, de algum modo, honrar aquele antigo local de aprendizagem escolar e mesmo de como crescer enquanto cidadão deste mundo. Um jardim, uma biblioteca, tanta, tanta coisa. Ficámos com um parque de estacionamento. Uma coisa necessária, sem dúvida, tendo em conta a falta de planeamento urbano que sempre reinou naquele local, mas mais cimento cinzento povoado por coisas sem vida. Acho que nem sequer a árvore que há tantos anos ajudei a plantar, acho que nem sequer ela sobreviveu. Nem sempre penso nestas coisas quando passo à frente daquele espaço que me deixou tantas memórias. Mas, às vezes, por vezes, lá me passa de repente uma imagem, um som, uma voz, uma espécie de fotografia em movimento, que acaba sempre por me lembrar que, enquanto os anos passam e inevitavelmente crescemos, há algumas partes do nosso mundo emocional que simplesmente acabam. Seja ou não quinta-feira...

quarta-feira, abril 11, 2012

Mantra


"You is kind. You is smart. You is important."

(isso.)


segunda-feira, abril 09, 2012

Prenda atrasada

Acabei há poucos minutos de ler um livro do Steinbeck que me foi oferecido no último aniversário por duas boas amigas, daquelas com quem já tenho um bonito caminho percorrido. Caminho que já passou por algumas viagens, tal como através do livro também Steinbeck vai viajando por estradas e esquinas norte-americanas, tentando descobrir o que realmente é isso de ser Americano, esteja esse ser Americano em desertos, montanhas, planícies, costas marítimas, ou as grandes cidades que nasceram de pequenas povoações. Um livro bem interessante e que explica muito sobre a forma como os E.U.A. foram "crescendo" nos últimos cinquenta anos. Mas mal podia esperar que também o livro que agora tenho nas mãos também tenha viajado. Mais concretamente desde a Quarteira em 1989 até chegar aqui, Portalegre em 2012. Uma bonita surpresa feita pelas minhas amigas. Um grande bem haja ao João José, onde quer que ele se encontre. O teu livro está em boas mãos! :)


domingo, abril 01, 2012

Um de abril

Hoje caminhei cerca de doze quilómetros, por entre serras e vales, a subir e a descer, debaixo de chuva e debaixo de sol. Houve sabores alentejanos aos quais, provavelmente, já me habituei demasiado mas que sempre são reconfortadores. Houve conversas e mais conversas com tudo e mais alguma coisa à mistura. Houve visões deslumbrantes de flores que em breve serão frutos de uma terra que merecia mais, muito mais. E houve, acima de tudo, a simpatia e a alegria das gentes alentejanas, que tornam este país um bocadinho mais bonito. E houve vozes alentejanas a cantar que cheira bem, cheira à minha cidade de nascimento, e a chamarem-me alfacinha, e outras a dizerem que não, que já sou mas é alentejano. Houve um domingo repleto de alegria, e, melhor que tudo, nada do que aqui escrevi é mentira.




segunda-feira, março 26, 2012

Viagens com o Charley

"Há ocasiões que uma pessoa guarda como tesouros por toda a sua vida, e tais ocasiões estão gravadas, clara e rigorosamente, na substância da recordação total. Sentia-me muito feliz nessa manhã."

John Steinbeck


Memória

Ferreiros, Laceiras e Cavaleiros. Estas três "terras" vieram-me hoje à memória enquanto atravessava um campo de oliveiras quase dentro de Portalegre. O mesmo cheiro a terra cultivada, o mesmo cheiro a oliveiras a crescerem, tudo a recordar-me os inúmeros dias passados nessas três "terras", sempre caminhando atrás do meu querido avô, sempre escutando as suas palavras, e lembrando-me dos dias em que ele ainda subia às oliveiras com uma vara às costas. Memórias boas, muito boas mesmo, mas que não evitam que algumas gotas de tristeza sejam derramadas sobre o meu coração. A saudade não tem tempo nem lugar, apenas existe, sempre.


Fronteira

Hoje foi dia de encher o depósito do pólo em Espanha.

Eu sei, eu sei, sou uma besta anti-patriótica por não comprar cá dentro do rectângulo. Sim, eu sei, sou um sacana que apenas se interessa em poupar o vil metal, que não compreende que a diferença entre gasolina a 1,491 € do outro lado da fronteira e gasolina a 1,739 € no posto de abastecimento aqui ao pé de casa se deve aos mercados, e às taxas de juro, e ao preço do barril de petróleo, e não às supostas filhas-da-putice das empresas gasolineiras que operam cá na nossa terra. Sim, eu sei que provavelmente ainda estou a contribuir para um possível aumento do desemprego com o fecho de mais postos de gasolina, independentemente de achar que há cartéis e coisas afins neste mercado, e independentemente da bomba espanhola onde vou empregar espanhóis e portugueses, e quase que jurava que há por ali uma moça galega que adora dizer xxxxx isto e xxxx aquilo. Eu sei, eu sei, sou um cabrão incorrigível e que devia preocupar-me mais com a nossa economia, mas em meu favor digo que ainda não encho o pólo com três ou quatro jerricans de gasolina, nem encho o porta-bagagens com sete ou oito bilhas de gás. Sim, que o gás também é mais barato, vá se lá compreender. E realço a palavra ainda, de modo que podem ir preparando mais palavrões para me linchar em praça pública.

Mas, calma, tenham calma, meus caros vilipendiadores, que estas coisas não ficam sem o devido castigo. E esse, mais tarde ou mais cedo, acaba por cair em cima de quem o merece. Portanto, toma lá duas operações stop no espaço de quatro quilómetros, uma do nosso lado e outra do lado de lá. É verdade, hoje houve encontro imediato com a GNR e com a Guardia Civil, uma maravilha. Mas são tão parecidos que até podiam ser gémeos separados à nascença. Pediram-me impiedosamente os documentos, fulminando-me com os seus olhares suspeitos. Isto até me deixar rir com uns e com outros. Do lado de cá, ri-me com o senhor agente pois a foto da minha carta de condução ainda foi nos tempos da barba, de modo que tive de tirar os óculos escuros para o senhor perceber que em tempos tive mesmo aquele aspecto. Depois de quatro quilómetros, ri-me com o señor agente pois disse-lhe que nem há cinco minutos tinha sido mandado parar, ao que o senhor me respondeu com risos de "nuestros colegas portugueses tambien tengan que trabajar" ou algo do género, que eu não falo espanhol.

Portanto, este vosso pouco patriota amigo, que se dá ao desplante de conduzir vinte e poucos quilómetros para ir à bomba espanhola mais próxima, já teve o seu duro castigo e com toda a certeza que os agentes policiais, portugueses e espanhóis, estarão atentos às minhas movimentações gasolineiras. Há que andar na linha senão ainda lá sai uma carga policial sobre a minha pessoa. E eu que não sou jornalista, e sim um porco capitalista ao soldo do grande capital estrang..., quer dizer, pequeno capital nacional. Ou algo assim.


Para vosso conhecimento, já devo ter passado a fronteira tantas vezes que já nem recebo a mensagem de boas-vindas da vodafone espanhola. Uma vergonha. Não há como a nossa pátria.


domingo, março 25, 2012

Declaração de intenções domingueiras parte 2

Umas breves palavras para a posteridade. Caso a malta hindu ou os amigos cristiano-esotéricos (sim, eles existem) tenham mesmo razão nas suas crenças, queria desde já dizer que na minha próxima reencarnação eu quero ser um cão. Não interessa a raça, o tamanho, a cor, apenas quero ser um canis lupus familiaris. É só.




(A culpa é do Steinbeck, das duas almas que me ofereceram o Steinbeck, e finalmente de um cão que hoje se aproximou de mim no jardim. Culpados, todos eles.)



Declaração de intenções domingueiras parte 1

Era só para lhe dizer, menina Victoria, que de cada vez que a ouço cantar uma dessas porcelanas musicais que a sua banda nos oferece, me deixo perder de amores por si mais um bocadinho. Espero que saiba o que isto significa e que faça alguma coisa de modo a eu não ficar eternamente perdido. Obrigado, menina Victoria.




Uma hérnia discal e um restaurante


"Leben ist, was passiert, waehrend du dabei bist, andere plaene zu machen"


quarta-feira, março 21, 2012

Ondas Sonoras - XLI

Domingo passado. Mais de duas horas de músicas lindas, sons que ficam a morar na nossa cabeça indefinidamente, e uma voz, uma senhora, que continua a aquecer-nos o coração como poucos. Obrigado, por mais um concerto das nossas vidas, menina Leslie.






quarta-feira, março 14, 2012

Variações sobre a amizade...

... do Miguel Esteves Cardoso...


... do meu homónimo escritor preferido...

"É certo que tenho amigos destes. Felizmente. Algumas pessoas, que por razões que nem a elas nem a mim assistia poder alterar, só as posso ver de quando em vez, , porque vivem noutro país, noutra cidade, noutros enquadramentos. mas há pessoas que assumem esta posição quando nada o obriga a tal. Quero com isto dizer que o recorte das chamadas amizades próximas também vive de uma combinação entre rega e presença, e que, em alguns casos, se isso não acontecer, não se gera acrimónia ou desgosto, mas algo fica diferente. O que, no passado, já me entristeceu, porque verifiquei que os queria mais próximos, mais "quotidinizáveis", e não conseguia. Ou perdia-se o enquadramento.
Uns esqueceram-me, outros esqueci-me deles, e alguns permaneceram e permanecem, felizmente. Mas não julgo que a amizade de sempre, que aquele acervo precioso de com quem contamos, seja em que perspectiva fraterna for, esteja isenta de riscos quando a ausência é maioritária ou esmagadora.
No fundo, não é colocar em causa o que o MEC diz, mas simplesmente achar que as minhas empatias, e atrevo-me a dizer, mais algumas, sobrevivem à custa da vivência, da tal partilha dos nadas, da cumplicidade das histórias que depois se tem para contar. Acho eu...
A prova de que talvez eu esteja mesmo enganado, é que este meu amigo está longe, e de facto está perto. Mas se também o preferiria ver mais vezes, e desafiá-lo para as as jornadas fílmicas nas salas de cinema manhosas do Monumental? Também é verdade.
Ao menos Domingo lá estaremos."



... da minha calamidade preferida....

"um Senhor Malhumorado que conheci dizia que a Amizade e o Amor eram como as plantas.
Daqui, julgo que quem conhece as ditas, mais a terra e as fragas poderá tirar muitas ilações...
ele é o terreno, a água, o sol, o frio, mais ou menos luz, a fragilidade da cepa, a enxertia que se quer fazer, se são de fruto ou decorativas...se árvores para durar cem anos ou daquelas flores exóticas sem cheiro para adornar mesa de ministro."



terça-feira, março 13, 2012

Ira


"I'll be all around in the dark - I'll be everywhere. Wherever you can look - wherever there's a fight, so hungry people can eat, I'll be there. Wherever there's a cop beatin' up a guy, I'll be there. I'll be in the way guys yell when they're mad. I'll be in the way kids laugh when they're hungry and they know supper's ready, and when the people are eatin' the stuff they raise and livin' in the houses they build - I'll be there, too."


domingo, março 11, 2012

Fuga


Haja risos para animar a alma. Especialmente quando, vindo do nada, aparece algo que pouquíssimas pessoas na plateia terão realmente percebido. É o que dá ser o único a soltar uma gargalhada sobre a minha casa suburbana de tantos anos... :))

"Mas o papá gosta tanto do Cacém...."

sábado, março 10, 2012

Retomar velhos hábitos.

Hoje foi dia de dar uma volta até Marvão (nunca se pode visitar Marvão demasiadas vezes), e conseguir dar um salto até à Mercearia de Marvão. Sítio simpático e pequenino, mas com coisas interessantes para descobrir. E foi assim que lá comprei um pequeno caderno que me vai fazer retomar um velho hábito no qual já não pego há pelo menos uns vinte e poucos anos. A ver vamos o que vai sair disto...




quarta-feira, março 07, 2012

Ondas Sonoras - XL

Bad As Me. Old Ideas. E agora Wrecking Ball. Todos grandes discos, que muito têm rodado no sonoro aqui de casa. Contrapondo um famoso slogan de há uns anos, a tradição ainda é o que era. E estes senhores são como o vinho do Porto, cada vez melhores com o passar dos anos. Bem hajam.







domingo, março 04, 2012

Morreste-me

"As coisas e eu mexem-se, deslocam-se todas. Vou. Parto para o que sobra de ti e tudo são resquícios do que foste. Parto de ti, viajo nos teus caminhos, corro e perco-me e desencontro-me no enredo de ti, nasço, morro, parto de ti, viajo no escuro que deixaste e chego, chego finalmente a ti. Pai."

José Luís Peixoto



(Uma vez que te rendeste a todos os livros que fui acumulando nessa casa durante tantos anos, então vais ter de ler este. Para que, nas palavras do Peixoto, possas perceber o quanto gosto de ti, meu Pai.)


quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Day 29: Water


A seca já leva quarenta e tal dias, mas ao menos nas fontes ainda há uma réstia de água. E é com este pequeno sinal de esperança para toda uma região entregue à sua própria sorte que chega ao fim o mês de Fevereiro. Com apenas uma honrosa excepção (a foto mais bonita, na minha opinião), todas as fotos foram tiradas no próprio dia a que correspondem. Foi uma iniciativa engraçada, que serviu para andar todos os dias com a máquina fotográfica para todo o lado, muitas vezes sem saber como me ia desenrascar para "picar o ponto". Deu origem a muitas e engraçadas e enigmáticas fotos, sendo que a grande maioria não veio aqui parar. Obrigado, J., pela ideia e pelo colorido dos dias. Hasta.


segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Um buraco no coração


(ou como ouvir sempre a mesma canção pode não trazer de todo a felicidade...)

Day 27: Animal



My name is Richardson, Killer Richardson. :)))

domingo, fevereiro 26, 2012

Day 26: Terrace


No terraço das Encostas de Estremoz. Que grande domingo!


Como o vinho do Porto


"boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas"



bonito, bonito concerto. obrigado.

sábado, fevereiro 25, 2012

Day 25: Winter


Um grau à meia-noite e meia em Marvão. Haja amizades grandes para aquecer o coração.


quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Day 23: Home town


Ah, a minha querida terra e as suas sempre bonitas atracções... :)


quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Day 22: Earrings for today


É escolher, freguesa, é escolher!
(Acho que ficaram a pensar que eu vou assaltar esta loja. Ou que ando a espionar a concorrência, ou algo do género... J., para a próxima baldo-me a esta categoria!! :)))

terça-feira, fevereiro 21, 2012

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

domingo, fevereiro 19, 2012

Day 19: Shadow of me


A chegar a casa após uma caminhada pós-almoço. E reparo agora que a minha sombra está um pouco obesa, está mesmo a precisar de mais exercício. A sombra, entenda-se...


sábado, fevereiro 18, 2012

Day 18: A look


Um olhar. Invisível e uníssono. Para algo ou alguém que passa. Com a tranquilidade e reflexão que apenas muitos anos permitem. Dos seus postos de comando há muito reservados. Três homens. Um único olhar. Assim é, ao sábado.


une petite merveille


« Moi, si on m’ouvrait, on trouverait des plages. »


sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Day 17: Taste I love


Café acabado de fazer.
(Este dia sofreu enormes contingências em virtude de estar longe da cozinha da minha mãe. :)


quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Day 16: Store



Loja ou arrumar? :) Loja. E só havia uma escolha possível... :)


quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Day 15: Ancient door


Uma das entradas para a câmara municipal. Terá sido restaurada mas a madeira da porta ainda mantém um aspecto "ancient"...