quarta-feira, janeiro 31, 2007

The Motherland

Continuamos em excelente companhia. Ou se preferirem, mais uma volta, mais uma moeda.

China.
"Limited legal and judicial reforms did little to improve human rights protection. Tens of thousands of people continued to be detained in violation of their human rights and were at risk of torture or ill-treatment. Thousands of people were sentenced to death or executed. The authorities frequently resorted to the use of force against growing social unrest. There was a renewed crackdown on the media and Internet controls were tightened. The Uighur community in the Xinjiang Uighur Autonomous Region (XUAR) continued to face severe repression as part of the authorities’ “war on terror”. Freedom of expression and religion continued to be severely restricted in Tibet and other Tibetan areas. China’s arms sales to Sudan raised concerns that its actions were contributing to human rights violations in other countries. China continued a limited dialogue with selected members of the international community on human rights issues. However, human rights defenders at home continued to be arbitrarily detained and some were sentenced to prison terms."

(Taken from the Amnesty International's 2006 Report)

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Paciência

substantivo feminino


1.
capacidade de suportar males, incómodos e dificuldades com tranquilidade;

2.
resignação;

3.
persistência; perseverança;

4.
passatempo que consiste em formar as diferentes combinações possíveis com as cartas de um ou mais baralhos;

5.
CULINÁRIA biscoito redondo, achatado e de pequenas dimensões, geralmente com sabor a limão;

paciência! exclamação designativa de resignação;

paciência de Job paciência extrema;

perder a paciência irritar-se;

torrar a paciência a aborrecer; irritar;

(Do lat. patientìa-, «id.»)


© Copyright 2003-2007, Porto Editora.

Ondas Sonoras - XXIV

O que não vale ter um amigo que se lembra de nós e daquilo que gostamos (uns dias mais do que outros, é certo, mas é sempre um gosto). Confesso que nunca me passaria pela cabeça ir acabar por ver este senhor actuar ao vivo, ainda menos em 2007. Mas tendo em conta o espaço onde vai ser, prevejo muito suor e muita intensidade. A ver vamos, estou com muita curiosidade e gostava que o senhor Reznor não se esquecesse da droga perfeita em casa. Grande, enorme canção essa...

sábado, janeiro 27, 2007

Ondas Sonoras - XXIII

Sábado de manhã. Acordar com os raios de Sol a entrarem pelo quarto adentro. Sem pedirem licença, a puxarem-me para fora do mundo dos sonhos que não se agarram à nossa memória. Levantar-me, ainda meio a dormir. Ligar o rádio, esperar que as ondas hertzianas me consigam voltar a embalar, a devolver-me o sono negado. Lá fora está frio, continua a estar frio. Mesmo com o Sol a brilhar como se de Verão se tratasse. Mesmo com o céu de um azul intenso que magoa os olhos quase tanto como os raios da nossa estrela. O frio está lá, consigo ver as pessoas na rua, com os casacos apertados e com os cachecóis enrolados. Das colunas começo a ouvir a voz dele. Aquela voz que já me assombrou tantas e tantas vezes. Aquela voz que me lembra o frio que está lá fora, apesar de me aquecer nas minhas entranhas. Aquela voz que traz consigo as cordas de uma guitarra que me vai lentamente acordando, deixando-me a expectativa de que um dia que começa com esta canção me vai trazer boas coisas. Aquela voz que me faz sentar a este teclado e escrever meia dúzia de palavras que provavelmente não vão fazer muito sentido a muita gente, mas que para mim são apenas uma forma mais de me recordar que este senhor me inspira a algo, mesmo que eu não saiba bem o quê. Mas só ouvir a sua voz e ouvir as suas canções já é uma razão suficiente para estar vivo e lamentar que não possamos dizer o mesmo dele. Quem sabe que outras mais pérolas ele poderia ter escrito. Assim, "apenas" temos a sua memória e todos os preciosos tesouros que tivémos a felicidade que ele conseguiu tirar da sua guitarra planante. Obrigado e descansa em paz, onde quer que estejas, Jeff.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Make love, not war


Anansi Boys

"It begins, as most things begin, with a song.
In the beginning, after all, were the words, and they came with a tune. That was how the world was made, how the void was divided, how the lands and the stars and the dreams and the little gods and the animals, how all of them came into the world.
They were sung.
The great beasts were sung into existence, after the Singer had done with the planets and the hills and the trees and the oceans and the lesser beasts. The cliffs that bound existence were sung, and the hunting grounds, and the dark.
Songs remain. They last. The right song can turn an emperor into a laughing-stock, can bring down dynasties. A song can last long after the events and the people in it are dust and dreams and gone. That's the power of songs."

Neil Gaiman

(You're so right, Neil. Thanks)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Polaroides - II

Cacém, Novembro de 1982. E num piscar de olhos, o tempo que passou parece ser apenas um grão de areia na pequena ampulheta que dura a nossa vida. Vários casamentos. Uma morte demasiado injusta. Filhos e filhas. Uma descida ao inferno da agulha. Um exílio no estrangeiro. Vários exílios cá dentro. Um engenheiro agrónomo. Uma economista. Uma advogada. Um pequeno retalhista. Uma modelo. Uma professora e amiga eterna. Vidas cujos novelos se afastaram há muito tempo. Vidas cujas malhas se cozem ao virar da esquina mais próxima. Tudo isto cabe nesta fotografia, nestes olhares que me contemplam directamente do passado. Alguns com o presente mesmo ali ao lado, outros com o paradeiro desconhecido. E eu, que também estou ali, não sei muito bem para onde olho. Será que tento ver o que me está destinado, vinte e cinco anos depois? Na verdade, não me lembro. Só sei que provavelmente estava a perder um jogo de futebol ou de berlindes para ficar a olhar especado para uma máquina fotográfica. Azar!

terça-feira, janeiro 23, 2007

À Mesa

O que se faz quando se está à mesa com pessoas que conhecemos há anos mas que ao mesmo tempo já não conhecemos de todo? Pessoas com as quais passámos alguns dos melhores momentos da nossa vida mas que agora apenas encontramos casualmente e que só estamos à mesma mesa devido à "carolice" de um de nós (normalmente é sempre o mesmo coitado) que se lembra, de tempos em tempos, de combinar estas coisas? Todos nós temos um passado em comum, mas o presente (ou o futuro) afastam-nos naturalmente. Uns casados, outros solteiros, outros ainda casados e com filhos, e um ou outro recém-divorciado. Uns com sucesso no trabalho, outros assim-assim,e um ou outro no desemprego. Uns felizes, outros menos felizes. Uns a manterem o espírito de outrora, outros a percorrerem outros caminhos e há ainda aqueles que se encontram completamente perdidos. As caras são as mesmas, todos eles são ainda demasiado "novos" para já mostrarem as cicatrizes que a vida lhes vai deixando. As palavras encontram-se enraizadas no passado, em acontecimentos cuja recordação se vai repetindo uma e outra vez, por mais vezes que sejam alguns nunca se sentem aborrecidos ou enfadados. Mas e o presente, será que não há palavras sobre o presente?

.....

(umas horas mais tarde)

.....

O presente é aqui. É agora. É nas palavras cuja repetição nos recorda porque estamos aqui todos juntos. É nos pequenos nadas que nos fazem cúmplices, mesmo que o tempo e os dias não nos deixem repetir essas mesmas cumplicidades com mais regularidade. É nos afectos que temos uns pelos outros e que não temos vergonha de os mostrar. É nos brindes que fazemos, nas danças que partilhamos, nas músicas que cantamos a plenos pulmões, porque não sabemos quando vamos estar novamente juntos e queremos escrever com urgência, com as emoções à flor da pele, mais um capítulo da nossa existência em comum. Hoje um de nós não está cá, uma pessoa de família que morreu. Na ânsia de o termos connosco, invocamos o seu nome, a nossa amizade por ele, as mil e uma histórias que cada um tem para contar e que o involvem também a ele. Porque é assim que ainda nos sentimos, quase irmãos, quase como uma família alargada, por muito que os nossos dias sejam diferentes daqueles vividos há uma década atrás. Nada disso importa. Apenas as nossas almas, que saem desta mesa bem mais cheias do que as nossas barrigas.

domingo, janeiro 21, 2007

Pelo Sim... com reflexão.

Não sei qual a posição do padre Anselmo Borges em relação ao referendo. O que sei é que o seu artigo é provavelmente o escrito mais sensato que li até agora e no qual mais me revi. Recomendo vivamente, e deixo aqui duas transcrições que fundamentam basicamente a minha intenção de voto.

"O aborto é objectivamente um mal moral grave. Aliás, ninguém é a favor do aborto em si, pois é sempre um drama."

"A vida é um bem fundamental, mas não é um bem absoluto e incondicionado. Se o fosse, como justificar, por exemplo, o martírio voluntário e a morte em legítima defesa?"

sábado, janeiro 20, 2007

Grande?

Os Grandes Portugueses, segundo a RTP. Tenho de confessar que não fiquei muito interessado neste assunto. Não sei explicar muito bem porquê, mas vendo a misturada de pessoas que foram escolhidas começo a perceber a razão de não ter votado. Será um poeta mais importante que um político? E um futebolista, será ele mais importante que um actor de uma novela de verdadeiramente inconscientes? E uma fadista, será ela maior (no sentido de grande) do que um cantor de música popular portuguesa? Pois, demasiados campos de acção e com muitas e muitas diferenças entre eles. Mas pronto, é quase um concurso, não é? Ao ver os resultados, tenho pena que algumas pessoas que muito prezo não tenham passado aos play-offs, casos de Salgueiro Maia, Mário Soares ou Zeca Afonso. Para compensar, temos entre os dez eleitos Luis de Camões e Fernando Pessoa. Mas caso pensasse em votar nesta "sondagem", escolheria provavelmente o Infante D. Henrique (pela visão, pela capacidade de ir mais além, por toda a história que conseguiu despoletar neste pedacinho de terra) ou em Aristides de Sousa Mendes, pela sua integridade enquanto prova de consciência humana ou pelo facto de ter desobedecido a um outro personagem que também está entre os dez mais. Será que se este concurso acontecesse noutros países teríamos resultados parecidos coms este? Na Rússia estaria lá Estaline? Na China estaria lá Mao? Sim, muitíssimo provavelmente. Mas, e na Alemanha, haveria Hitler?E na Itália, Mussolini? E na Espanha, Franco? E eu gostaria de ver Portugal associado a estes últimos ou aos primeiros países que mencionei? Uma vez que o Fado e o Futebol não ficaram representados (Amália e Eusébio não mereceram essa honra), ficámos com a figura do seminarista, como diria o meu amigo Suburbano, que no seu post exemplifica bem como a amnésia consegue tomar conta de (parte de) uma nação. Poderia inumerar uma série de razões para não concordar com a presença de Salazar entre dez Grandes Portugueses (nem entre cem, quanto mais dez). Mas vou deixar só uma. A foto que acompanha este escrito foi tirada pelo meu pai em Angola, em 1971. Amanhã o meu pai completa 58 anos. Mas a verdade é que a sua vida poderia ter terminado aos 21 anos e eu nem sequer estaria aqui a escrever estas coisas desprovidas de bom senso que por aqui aparecem. Felizmente ele sobreviveu, ao contrário de alguns dos seus colegas de armas. É em sua memória que deixo estas palavras que talvez lembrem a algumas pessoas o tipo de grande português que querem que os represente.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Serpico

"The reality is that we do not wash our own laundry - it just gets dirtier."

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Serviço de utilidade pública - XIII

Nada como começar um novo ano com um novo desafio profissional, não é minha querida amiga? Por isso mesmo me lembrei de te dedicar este especial "recuerdo" dos meus tempos asiáticos. E é engraçado, até porque faz a ponte entre o teu anterior emprego e a nova estrada de trabalho que se abre para ti. E sim, leste bem, trata-se mesmo da OB Beer. Tudo de bom para ti!

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Afinidades

India.
"Perpetrators of human rights violations continued to enjoy impunity, particularly in Gujarat, which witnessed widespread violence in early 2002. There were reports of human rights violations in the context of unrest in several states, including Jammu and Kashmir and some north-eastern states. The government repealed security legislation which had been used to facilitate arbitrary arrests, torture and other grave human rights violations. However, some of the provisions allowing these violations were transferred into existing laws, a move widely criticized by human rights organizations. Socially and economically marginalized groups, including women, dalits and adivasis (tribal people), continued to face systemic discrimination and serious doubts remained about whether moves to enact new laws could achieve the intended aim of protecting their rights. Some states in central and eastern India, where traditional adivasi habitations are located, witnessed an increase in violence involving armed groups and state forces."

Portugal.
"Reports of ill-treatment by police officers continued to give rise to concern about Portugal’s failure to comply with international law and standards. Law enforcement training in the use of force and firearms and operational guidelines reportedly continued to be insufficient. At least 33 women were reported to have been killed as a result of violence against women in the family."

(Taken from the Amnesty International's 2006 Report)

Pelo Sim... em consciência.

Amigo, ainda bem que passaste por este Espaço. E acredita em mim quando te digo que não estou a ser irónico. Sabes bem, tu que me conheces e que pertences à categoria que referi no post anterior, que prezo muito a tua opinião, ainda que contrária à minha. Digo ainda bem que por aqui passaste, porque é sinal de que há, nesta "casa", espaço para discordar do autor dos escritos que por aqui aparecem. Tal como tu, preferia que este debate à volta do referendo fosse feito à volta da discussão de ideias, e não centrada na troca de insultos. Quando ainda falta quase um mês para a data do referendo, parece-me impossível que tal vá acontecer. Talvez por ser um assunto que envolva mais emoção que objectividade, porque "a moral e os bons costumes" continua a ser um cliché perfeitamente identificado com este país. Tu poderás não chamar assassino a ninguém, mas já houve vozes do Não que gritaram assassinos, terroristas ou que compararam esta questão à execução do Saddam (caso do sr. Bispo de Bragança-Miranda) ou, como num powerpoint que recebi esta semana (de uma pessoa amiga), a compararem a questão à volta do referendo com os julgamentos de Nuremberga, ou seja, o Holocausto (de mau-gosto, na minha opinião). Também o Sim já teve a sua quota parte de insultos, entre gritos de hipócritas ou atrasados mentais. Da minha parte apenas posso dizer que sim, acho a lei, como está, uma hipocrisia e sim, também considero hipócritas aquelas pessoas que votaram "a favor da vida" no referendo anterior e depois viraram as costas a tarefas fundamentais como o planeamento familiar, a educação sexual ou o acompanhamento de grávidas "com dúvidas", chamemos-lhe assim. Serei igualmente crítico se desta vez o Sim ganhar e tudo permanecer na mesma, é preciso não haver desresponsabilização da nossa sociedade neste ponto. Tanto eu como tu, meu amigo, somos cristãos mas eu discordo da posição que a Igreja tem assumido neste assunto, como em outros também relacionados com este assunto. Acho que é necessário uma maior abertura de espírito, e não me parece que o Sim neste referendo seja um "retornar à Idade Média", como já ouvi da parte de alguns sectores da Igreja. Também aqui provavelmente discordamos mas isso também se deverá aos nossos diferentes percursos à volta da nossa religião, certo? Para finalizar apenas gostava de mencionar duas coisas que subscrevo inteiramente. Primeiro, e nas palavras do meu leitor Stephen King,

"Mas espero que o sim vença desta vez. Inquivocamente. Embora ache que a Assembleia da República, com a reserva de lei que lhe assiste devesse legislar nesse sentido, sem referendos. Esta é uma questão de saúde pública, de dignidade humana, de uma escolha tão pessoal relativa a algo tão íntimo que qualquer intervenção moralizante ou legislativa é, no mínimo, inaceitável."

E em segundo, nas palavras do nosso (meu e teu) amigo Suburbano,

"As mulheres portuguesas não querem ir a correr para os hospitais fazer abortos. Nem a liberalização legal desta matéria impõe qualquer tipo de comportamento a uma portuguesa que seja. Apenas se pretende ter uma lei que o permita fazer até às 10 semanas, sem que isso seja uma violação da lei do país, da lei moral de alguns e motivo de chacota ou descriminação, até porque muitas vezes colocam em risco a sua própria vida."

Amigo, espero que não vejas este escrito como uma confrontação mas sim como um esclarecer da minha posição perante ti. Nunca escondi o facto de que defendo o Sim no referendo, mas não quero que os meus amigos (extra-blogoesfera, porque também há vida lá fora) que não concordam comigo pensem que me estou borrifando para as suas opiniões. Isso seria uma mentira. No dia 11 de Fevereiro, eu irei votar no Sim e tu no Não. E quando sairmos das urnas, iremos ao café, pôr a conversa em dia e mostrar a todos que a amizade dura muito mais que todas estas palavras...

terça-feira, janeiro 16, 2007

Fácil de entender

Trata-se de afinidades. Pontos de contacto entre pessoas que muitas vezes não estariam sequer na mesma sala mas que, devido a uma pequenina coisa à qual se encontram ligados emocionalmente, muitas vezes os unem para o resto da vida (ou pelo menos por uns anos). A questão é sempre se a amizade vive apenas desse pequeno ponto de contacto (muitas vezes com uma limitação estritamente temporal) ou se decide enveredar por todas as outras características das pessoas, infiltrando-se assim a tal ponto que se torna impossível escapar a uma amizade genuína. Normalmente são estas últimas as que vamos recordar ou ainda viver quando tivermos 60 ou 70 e tal anos. Essas serão as amizades que sabem tudo sobre nós, para as quais não temos segredos, com as quais vivemos muitos episódios do "nosso" livro, sem as quais já não conseguiríamos conceber a nossa vida. Mas gostava de pensar que, lado a lado com as nossas amizades eternas, também fosse capaz de recordar as amizades efémeras, as que não resistiram a factores como tempo, espaço, mentalidade, disponibilidade, todas aquelas coisas irritantes que se metem pelo meio do nosso quotidiano. Porque em determinado ponto também foram pessoas nas quais me apoiei ou às quais dei o meu apoio e apesar dos seus capítulos terem sido mais curtos, não é por isso que não as gostaria de ter junto a mim naquela altura em que, segundo dizem, a nossa vida passa pelos nossos olhos numa fracção muito pequena de segundos. Assim mesmo, lado a lado, as amizades que nunca tiveram oportunidade de crescer (seja porque razão tenha isso acontecido) e as amizades que provavelmente nasceram de um acaso feliz e que se tornaram em partes de mim (seja também porque razão isso tenha de facto acontecido). E é claro, há sempre aquelas pessoas que sempre estivémos destinados a conhecer e cuja amizade não é uma acaso feliz, simplesmente é. E isso, a mim, basta-me.

(A foto ali ao canto é de uma pessoa amiga, na casa doutra pessoa amiga. Por acaso é aquela, mas podia ser uma das milhentas que habitam todos os albúns de fotografia que existem cá por casa. Bom sinal, não é?)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Sátiro

substantivo masculino


1.
MITOLOGIA semideus dos pagãos, com pés de bode, que tinha por hábito escarnecer de toda a gente;

2.
figurado indivíduo devasso e cínico;

(Do gr. sátyros, «id.», pelo lat. sat]ru-, «id.»)


© Copyright 2003-2007, Porto Editora.


Não... à Sobranceria.

Face a isto, apenas gostava de perguntar ao sr. bispo se já alguém da sua família ou do seu círculo de amizades passou por uma experiência de IVG. Se já teve que ouvir alguém a contar-lhe o drama que viveu só para tomar essa escolha. Se já teve que segurar na mão de alguém enquanto ela lhe relatava, com lágrimas nos olhos, a humilhação que é tomar uma decisão sobre um acto que ainda é considerado erradamente ilegal. Só quando me responder afirmativamente a estas minhas dúvidas existenciais, poderemos então falar sobre a barbaridade que são estas suas declarações...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

In Illo Tempore

Sinto-a como um casaco. O casaco que me acompanha há algumas décadas. O casaco que decidiram dar-me como a prenda mais preciosa que se pode dar a alguém. A princípio estranhei-o um bocado, parecia-me antiquado, demasiado grande para mim e muito pouco interessante. Mas depois fui aprendendo a gostar dele, comecei a conhecer-lhe as finas costuras, fui-me acostumando ao seu forro quente e protector e a descobrir todos os bolsos que possuía e que, de alguma forma, se relacionavam com tudo aquilo que vivia no meu quotidiano. Á medida que ia crescendo, parecia que o casaco crescia também, que se ia acomodando às mais diversas experiências que ia tendo e já não conseguia conceber a minha vida sem aquele casaco, o seu tecido embrenhado bem fundo no tecido da minha própria vida. Mas depois algo aconteceu. O casaco continuava a servir-me mas havia algo de diferente. Estava gasto e em alguns pontos começava-se a notar alguns buracos. A suspeita começava a lançar-se na minha mente, será que teria de deixar o meu casaco? O casaco que, de certa forma, me tinha acompanhado em tantos e tantos passos e caminhadas que dei e que, de repente, parecia que já não se adequava a mim? Depois comecei a notar que alguns dos bolsos se fechavam misteriosamente. Tentava meter lá a mão como tantas e tantas vezes tinha feito e... nada. Estava fechado para mim. Porque seria que o meu casaco me tratava assim? Eu que nunca tinha desistido dele, mesmo quando os buracos nas mangas ou nas costuras envergonhariam qualquer um. Nem mesmo quando o seu estilo já nada tinha a ver com o mundo em que me movimentava todos os dias, nem nessa altura me passou pela cabeça separar-me do meu casaco. Mas agora, numa altura em que precisava do calor e do conforto que me lembrava que ele me dava, parecia que todos os bolsos se fechavam e que o meu casaco não se sentia bem no meu corpo. Era altura de o guardar. Não para sempre, há demasiado de mim naquele casaco, mesmo que os outros não o compreendam. "Como é que alguém se pode afeiçoar a um casaco velho, caduco, fora de época e sem qualquer contacto com os nossos dias?" Seja. Poderão ter alguma razão. Mas eu acredito no meu casaco. Ainda acredito que um dia o possa voltar a usar novamente, que ele abra de novo os seus bolsos e que me possa novamente aquecer a consciência e o coração, como sempre o fez antes...

Não... à Hipocrisia.

"O presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental afirmou hoje que pelo menos 14% das mulheres que abortam sofrem de stress pós-traumático, citando um estudo norte-americano, numa iniciativa da plataforma «Não, Obrigada»."

(Diário Digital)

Portanto, nada melhor que combater o stress pós-traumático de um aborto (numa clínica ou num "vão de escada", ou será que os níveis de stress são iguais em ambos os casos?, pelo menos na perspectiva da plataforma do Não) do que manter uma lei que condena as mulheres à prisão só porque tiveram uma decisão que só a elas lhes compete. Sim, porque o cárcere não deve conduzir a nenhum tipo de stress pós-traumático, quase de certeza. E não me venham dizer que apenas meia dúzia de casos é que chegam realmente à barra dos tribunais, pois um só caso que lá chegue já é o suficiente para demonstrar o quão hipócrita e desumana é esta lei. Ou julgam mesmo que se o Não ganhar o referendo, as IVGs vão desparecer como por artes mágicas? Ou será que todos aqueles que agora se identificam como pró-vida vão passar a usar palas nos olhos depois do referendo?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Demasiado tempo no sofá...

É uma doença grave, muito grave. Quase que se pode dizer que será a nova maleita a atacar este século que ainda agora começou. Eu próprio me confronto diariamente com vítimas deste síndroma que parece não ter fim. Todos os dias vamos dar com as prateleiras cheias de coisas que não estavam lá no dia anterior. É preocupante. Os custos económicos estão perfeitamente à vista (como nos é explicado em pormenor durante a entrevista) mas há o custo humano que é inquantificável. Como poderemos atribuir um custo ao sofrimento destas pessoas, à vergonha que é ser exposto como portador desta doença tão terrível e para a qual ainda não se vislumbra uma cura? Em defesa deste pobres doentes, aqui deixo o meu tributo para as suas rápidas melhoras...

terça-feira, janeiro 09, 2007

"Ceia louca, louco mundo"

"Falemos de mesas, as mesas onde se come, conversa e desconversa, onde se ama e desama. Praticam-se jogos de azar, governa-se e desgoverna-se o tal mundo que enlouquece. Há murmúrios, trocas de olhos, por vezes gritos.
Dão-se murros nas mesas. Por baixo, às vezes carícias brejeiras e toques subtis. Ainda por baixo (sempre por baixo) há os que conflituam e apanham das mesas apenas migalhas e as rascas da assadura, já que, os que as fazem e enchem não têm lugar à mesa.
Criam o banquete que os expulsa. Há também os que escrevem na pedra e no papel e, até, quem na casca da árvore inscreva letras e corações.
Os da música – os da Brigada – escrevem no Vento. Transformam o riso e a lágrima, ternuras e clamores, a alegria e a tristeza em partes do Vento que nos acodem aos ouvidos e entram na alma. Revelam as justas e injustas coisas do mundo, apontando as linhas da água e do horizonte, e já que – disse-nos o nosso Herberto Hélder – “todas as coisas são mesa para o pensamento” aceitemos os recados que a música ao vento entrega."

Louzã Henriques
Candal, Novembro de 2005

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Ondas Sonoras - XXII

Sessenta velas é muita chama para apagar. Mas acredito sinceramente que este senhor ainda tenha muito fôlego para isso e muito mais. Aliás, espero que em breve volte a presentear-nos com mais uma daquelas músicas memoráveis, que se "agarram" à nossa consciência e não a largam, ficando a pairar sobre nós. Feliz aniversário, Mr. Bowie (alias Major Tom, alias Ziggy Stardust, alias Aladdin Sane, alias Halloween Jack, alias Thin White Duke, alias Tin Machine, alias most influential artist ever) e que celebre ainda muitos mais. E como acredito (ou quero acreditar) que realmente podemos ser "heróis" de alguém ou de algo, nem que seja por um dia apenas, deixo aqui uma das suas mais memoráveis canções e uma das minhas preferidas.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

ADN

Onde anda o balde? Onde andam as limas? Onde anda o gelo? E as palhinhas, onde se meteram elas? Tenho saudades do ritual de preparação, da confusão na cozinha, dos risos induzidos por líquidos vários e pelas iguarias dispostas na mesa... Bem sei que depois de uma época de festas que durou um mês inteiro, eu devia estar em hibernação e pensar em tudo menos comida e bebida, mas é mais forte do que eu... E daqui lanço um apelo à Bucket Keeper, wherever you are, "WE NEED THE BUCKET!!!"

Pela Escolha.

"Apoiante do sim, o Movimento Médicos pela Escolha oficializa, na próxima segunda-feira, a sua entrada na campanha para o referendo ao aborto."

(Diário Digital)

Se excluirmos as próprias mulheres que têm recorrido à IVG por portas e travessas, os médicos são provavelmente a entidade que melhor conhece as situações degradantes em que por vezes o aborto é feito. Alguns tentam ajudar essas mulheres, pois sabem que se não o fizerem, elas irão bater a uma porta que lhes deixará marcas para o resto da vida. Alguns gostariam de poder eles próprios ajudar mas normalmente estão "amarrados" a leis éticas bacocas ou, pior ainda, a uma vigilância cerrada dos seus superiores ou iguais com mentalidades mais fechadas. Por estas razões, é de aplaudir que um grupo de médicos apoie declaradamente o fim de uma pseudo-criminalidade e se assumam como o futuro grupo de pessoas que assegurem o verdadeiro papel de apoio às mulheres que decidam optar pela IVG, num cenário pós-referendo. Pois é nesse cenário que temos que começar desde já a pensar, no dia seguinte, no dia em que teremos de exigir ao Governo que não se deixe adormecer e continuar a hipocrisia que existe desde o último referendo.

(Um obrigado especial a todos os que deixaram o seu comentário no escrito anterior.)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Pelo Sim.

"Se eu acreditasse que o Estado algum dia iria assumir o seu papel social de apoio às mulheres e famílias sem recursos; se eu acreditasse que as associações de "defesa da vida" (que aparecem quando se anunciam debates e desaparecem no dia a seguir aos referendos) iam cumprir o que prometem sobre solidariedade e promoção de uma "cultura de responsabilidade e de respeito pelo valor da vida"; se eu acreditasse que, fora do período de propaganda eleitoral, alguém neste país trabalhasse "na criação de condições para que todas as mulheres que engravidam possam ter verdadeiras alternativas de vida e não façam escolhas de morte", como leio num desses manifestos; se eu acreditasse que as 25 a 30 mil interrupções de gravidez ilegais que se fazem anualmente em Portugal deixassem de existir por via da educação sexual, do presumível apoio do Estado, e da conversa moralista das tais associações criadas por encomenda; se eu acreditasse, enfim, na bondade intrínseca das instituições, e no cumprimento dos deveres mínimos do Estado; se eu..."

(Artigo completo no Diário de Notícias)

Alinho as minhas palavras pelas de Pedro Rolo Duarte. Porque estou farto de hipocrisia e de viver num país onde o chamado "atraso" não acontece só nos níveis económicos mas principalmente nas mentes de pessoas que se julgam melhores que as outras. E já é tempo de deixarmos de viver no século passado e passarmos a pensar pelas nossas próprias cabeças e não condenarmos pessoas que são tudo menos criminosas. Basta!