E depois venham falar-me em introspecção.
Em olhar através da janela e apenas ver a chuva a bater no vidro enquanto sentimos um calafrio a percorrer a totalidade da nossa espinha dorsal.
Pensar no que é que realmente fizémos da nossa vida até este momento no tempo, se estamos realmente satisfeitos com isso ou não, ou o que é que nos aguarda ao virar da esquina.
Recordar aquela paixão, aquele amor que nos deixou vazios por dentro no exacto segundo em que terminou e pensar que se calhar, por um mero acaso, até podíamos ter salvo os nossos corações, o meu e o dela.
Que a realidade é dura e por vezes cospe-nos na cara e nós não queremos dar a outra face, mas acabamos por cometer os mesmos erros, uma e outra vez.
Que o tempo de pensarmos que podemos mudar o mundo está morto e enterrado.
Que poderia ser tanto mais fácil se simplesmente baixássemos os braços e nos rendéssemos, parássemos de tentar remar contra a forte maré em que estamos e nos deixássemos apenas envolver pelos nossos inocentes sonhos de infância.
Pensar que a memória é algo de inútil quando só nós a utilizamos e mais ninguém.
Pensar que estamos a ficar mais velhos e que não ganhamos rigorosamente nada com isso.
Pensar que a vida nos traiu em algum ponto de viragem da nossa vida e que em vez de olharmos para nós, mandamos as culpas para cima de alguém que nem sequer sabemos se realmente existe.
Que somos uns coitadinhos que não merecem compaixão de ninguém, muito menos amor.
E depois venham falar-me em introspecção.
Quando já foi tudo explicado por este
senhor. Sem espinhas e sem meditações.