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domingo, agosto 30, 2015

o prior de buarcos

      "Dizem-me que este tempo já não é para crença, que é
material e rude. Ah, filho, os tempos são sempre materiais e
vis; e o coração humano sempre da mesma idade - da idade
do mal e da dor."

Fernando Pessoa


 

domingo, fevereiro 09, 2014

Da alma.

Houve um momento no concerto de ontem à noite onde tudo ficou claro como a água. Onde as palavras, a voz, a guitarra portuguesa, o foco de luz que atravessava a escuridão, se juntaram à enorme alma que Camané coloca nas suas canções e encheram aquele palco de uma luminosidade como poucos conseguem trazer para a música. Foi gratificante ver a sala completamente cheia a aplaudir. Mais um bonito concerto que vou guardar no meu baú de memórias portalegrenses.

"Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou."


quinta-feira, dezembro 01, 2011

Viver.

E assim passou um ano desde que aqui estou a viver. Um ano repleto de tanta coisa para contar e escrever mas com pouco tempo para ocupar as páginas que ficaram em branco. A actividade profissional, as idas e vindas entre este lar e o outro, alguns devaneios turísticos intramuros, um devaneio turístico à la Relvas, as muito bemvindas visitas a este lar, algumas (ou muitas?) folgas repletas de pura nhoquice, tudo isto contribuiu para uma quase estabelecida falta de vontade para me sentar e escrever o que quer que fosse. E, no entanto, há palavras escritas, aqui e ali, perdidas nas páginas de outros, rabiscadas no momento, quem sabe um dia o que poderão dar. Mas um ano assim se passou. Nesta terra tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Houve dias em que 240 quilómetros significaram os mesmos sentimentos dos quase 10.000 quilómetros a que já estive um dia. Mas com ajuda de algumas almas que preenchem o meu coração, dias houve em que me sentia efectivamente em casa, sem necessidade de nada mais. Neste ano senti o meu ritmo abrandar. Senti-me a voltar uma década no tempo. A ir ao encontro de um espaço físico e emocional que já senti mas muito no passado. Viver aqui é uma experiência estranha para quem sempre viveu regularmente em sítios demasiado urbanos. É claro que me fazem falta algumas coisas que, por se viver numa grande cidade ou perto dela, damos por garantidas, estão sempre ali, podemos "pegar" nelas quando nos apetece. Aqui não há essas coisas. Mas também não há, ou quase não há, tudo aquilo que dia após dia exaspera qualquer ser humanos que tenha de viver nos grandes centros urbanos. Hoje caminho mais, ando muito menos de carro numa base diária, e, como já disse a algumas pessoas, apenas sinto saudades da minha família e dos meus amigos. São eles a carne e o sangue que me falta ao esqueleto. De resto, tenho aqui estabelecida a minha rotina, os meus momentos de ócio, e graças a algumas incursões num bom raio de quilómetros aqui à volta, conheço um pouco mais do meu país e, arrisco-me a dizê-lo, da parte boa, escondida e que vale a pena o esforço a descobrir. A minha pátria é a língua portuguesa, dizia Pessoa, e eu humildemente acrescento que a minha pátria são as oliveiras, os vales, as encostas das serras, os castelos, os rios, tudo o que me rodeia, e as pessoas. As pessoas. Aqui, nesta minha casa de um ano, as pessoas marcaram-me a ferros. Tenho tantas, tantas pessoas que conheci que davam um livro, literalmente. A sua simpatia, a sua pujança, a sua vontade de lutar e não desistir, o seu abraço, a sua sinceridade, perderia o resto do dia a descrever todas as formas como estas pessoas me receberam. Sempre me tive em conta como uma pessoa que gosta de estar com outras, mesmo nos meus dias de timidez adolescente, sempre me senti bem rodeado de outros seres humanos, mas a profundidade deste sentimento ficou bem mais real aos meus olhos depois deste ano. Tantos momentos que me chegam à memória, tantos segundos de profunda alegria por partilhar esta humanidade, esta gente do campo cujo coração é do tamanho deste país que vive dias tão tristes. Se houve chatices ou momentos de angústia? Claro que sim. Não é por todos falarmos a mesma língua, e eu que tanto inglês e portunhol falei neste ano, que nos ouvimos melhor. Mas passar de uma realidade onde todos os dias havia alguém descontente ou capaz de pegar em armas para nos enfrentar para uma outra onde isso ocorre tão esporadicamente que já nem me lembro quando foi a última, bom, nem sei propriamente como descrever o que isso significa para mim. Escrevo tudo isto para que haja registo, para que possa ler, onde quer que a vida me leve de seguida. Porque esta terra já faz um pouco parte de mim, e há que trabalhar para que continue a ser assim, há que continuar a merecer esta pequeníssima espécie de presente de natal fora de época que me foi entregue em mãos. Tal como tantas coisas que aconteceram nestes trinta e cinco anos de vida, continuo a não perceber porque tenho direito a estes acontecimentos tão bons e tão marcantes. Mas já que é o que tenho, continuemos assim, com a cabeça entre as orelhas, como diria o Sérgio. Obrigado. A emissão segue dentro de momentos.



terça-feira, março 15, 2011

Do desassossego.

Fiquei com vontade. Fiquei com vontade de passear em Lisboa ao fim do dia, com a luz moribunda do sol a banhar as águas turvas do Tejo. Fiquei com vontade de caminhar descalço nas praias da minha juventude, sentindo de novo a areia a envolver os meus pés, enquanto a água fria os vai lentamente afundando. Fiquei com vontade de voltar a escrever como já escrevi noutros tempos, apressadamente, com medo que as palavras caiam no abismo do pensamento, com medo que as palavras fujam de mim sem ficarem enclausuradas na tinta permanente de uma página. Fiquei com vontade de sonhar os sonhos intermináveis de criança, com a alma de um homem adulto que se deixa puxar para desejos labirínticos por mulheres esquivas e que sussurram palavras estranhas e que não me largam nem mesmo quando acordo. Fiquei com vontade de ler todos os livros que alguma vez me passaram pelas minhas mãos, abandonar-me nas suas páginas, embebedar-me com todas as palavras alguma vez escritas pelas mãos de sábios arquitectos da prosa e da poesia. Fiquei com vontade de cantar, de dançar, de voltar a dedilhar as cordas de uma guitarra e de ser capaz de escrever letras tão banais como sentidas, em canções que apenas existiram na minha cabeça. Fiquei com vontade de amar, de voltar a beijar os lábios dela, de sentir o meu coração explodir apenas com a sua presença, de ver o universo parar à minha volta apenas porque ela não está aqui, de sentir num abraço o seu corpo, de me prostrar aos seus pés, de declarar o meu amor sob a lua dela. Fiquei com vontade de tudo isto. E fiquei com vontade de viver para sempre, apenas para ver tudo isto concretizar-se...




"
O romancista é todos nós, e narramos quando vemos, porque ver é complexo como tudo."

Fernando Pessoa


sexta-feira, fevereiro 05, 2010

A criança que ri na rua

"A criança que ri na rua,
A música que vem no acaso,
A tela absurda, a estátua nua,
A bondade que não tem prazo
Tudo isso excede este rigor
Que o raciocínio dá a tudo,
E tem qualquer coisa de amor,
Ainda que o amor seja mudo."

Fernando Pessoa


(ainda na sequência do escrito anterior, na primeira página de um livrinho especial, escrito por uma pessoa especial. obrigado, continua por aqui e bem vivo.)


terça-feira, dezembro 16, 2008

Serviço de utilidade pública - XX


(Algures ao pé do Tejo. E não podia haver melhor explicação. A seguir.)