(Anselmo Borges, in Diário de Notícias)
"Judas Iscariotes sempre foi visto no mundo cristão como um traidor. Mas, agora, a tradução e análise de um manuscrito com mais de 1700 anos ameaça tornar o mau da fita no discípulo preferido de Jesus Cristo. As revelações foram feitas ontem pela National Geographic Society, numa conferência de imprensa que deu a conhecer ao mundo, pela primeira vez, algumas páginas do famoso Evangelho de Judas."
(in Diário de Notícias)
A propósito do filme Mary. Neste momento da minha vida, revejo-me muito no personagem Ted Younger (representado por Forrest Whitaker). Porque será que apenas buscamos o divino/espiritual/fé, nas suas variadas formas e feitios, apenas quando tudo parece estar contra nós e nos vemos dentro de um "buraco" que não parece ter fundo? Contra mim falo, pois nos últimos anos é exactamente isso que me tem acontecido. Tenho que reconhecer que o meu afastamento da Igreja (que não dos princípios que sustentam a minha fé cristã) se em deve em grande parte a mim, mas também à forma como os homens (que como seres humanos, sejam bispos ou leigos, também erram) têm conduzido a instituição Igreja. Se a fé cristã passa por amarmos o próximo (seja homem ou mulher, da nossa religião ou não), sermos humildes (e não nos acharmos senhores absolutos da verdade), sermos honestos e defensores da verdade, não deixarmos a violência e o ódio tomarem a nossa alma como refém, e despojarmo-nos daquilo que não nos "completa", que interessa quantos evangelhos existem e se são escritos por um homem ou por uma mulher, ou mesmo por aquele que é considerado o maior traidor da história?
Porque será que, enquanto seres humanos, não nos preocupamos tanto em saber que dons temos dentro de nós ou porque é que somos como somos, ou ainda porque razão não tentamos ter um real impacto no mundo que nos rodeia? Porque é que um país, uma fronteira, uma religião, um poder sobre os outros, pode ser algo que mais nos motiva? E porque é que se usam desculpas como a religião só para se poder matar mais pessoas, pessoas que não conhecemos, que se calhar até são tão inocentes como aquelas que mataram do "nosso" lado? Será porque não rezam ao mesmo Deus que nós? Ou será que é porque vivem num pedaço de terra que até gostávamos de ter? Custa-me a compreender que ao longo de todos estes milhares de anos que o Homem tem evoluido, ainda se continue a ter uma tamanha falta de tolerância para com o "próximo", seja ele católico, muçulmano, judeu, hindu, budista, agnóstico, ortodoxo ou ateu.
Mais uma vez, contra mim falo. Muitas vezes deixo-me ir por caminhos mesquinhos, de algum ódio, provavelmente, mas principalmente deixo que a minha alma seja infectada por aquilo que me rodeia. Não consigo ter forças para ter uma atitude diferente da das pessoas que passam ao meu lado. Tento manter-me fiel aos meus princípios mas mesmo assim sinto que às vezes os traio. E tudo isto para quê? Para quê tanto ódio, violência, inveja, malícia, arrogância, orgulho barato, quando no final de contas todos regressaremos ao pó? Não é a única certeza que temos nesta vida? Que a nossa passagem por este mundo é um mero segundo no tempo que dura este universo? Para quê sujá-lo com guerras, mortes, genocídios e outras atrocidades que o ser humano inventa, geração após geração?
Não espero que este texto faça sentido para todas as pessoas que o leiam. Espero, isso sim, que compreendam o sentimento que está por detrás destes desabafos. Não espero que os blogueiros do costume o comentem, mas sim que escrevam nos seus próprios blogues palavras que me façam sentir que não estou sozinho, que há mais gente a parar um pouco o ritmo das suas vidas e a pensarem naquilo que realmente "tiramos" delas e levamos connosco, para onde quer que nos dirigimos. Eu, pelo menos hoje, parei um bocadinho, olhei para o mundo, pensei, e chorei. E depois rezei. Para que nós, humanidade, ainda tenhamos uma réstia de esperança no destino que estamos a dar a nós próprios e aos nossos descendentes...