A propósito do filme "Alice", onde se vislumbra um pouquinho do Cacém e muitas imagens da linha férrea de Sintra, comecei a pensar nas transformações que o Cacém sofreu.
Para além das óbvias mudanças infraestruturais, com o desaparecimento de locais como o antigo mercado ou mesmo a minha escola primária (agora um parque de estacionamento, que de vez em quando serve de local de festas da freguesia) e o aparecimento de tudo o que esteja associado ao Pólis, há também mudanças a nível social.
Ainda me lembro de Verões onde as famílias saíam à rua e havia gente no jardim da avenida até às tantas, uns a jogar à bola, outros a namorar, outros simplesmente a conversar e aproveitar o calor. Mesmo nessa altura, achava um bocado estranho esse tipo de coisas no seio de um subúrbio como o Cacém, até porque era o tipo de comportamento que assisti desde muito cedo na terra dos meus pais, em pleno Peso da Régua. Talvez que o facto de haver muita gente a morar no Cacém proveniente desse meio rural explicasse essa situação e esse sentimento de vir para a rua confratenizar. Outro bom exemplo, que agora não acontece, era o relacionamento com os meus vizinhos, pois conhecia-os a todos e cheguei a ter boas relações de amizade. Em cada rua conseguia quase "regressar-se" a um estado de aldeia, onde todos se conheciam e compartilhavam o seu dia-a-dia.
Isto era há uma década (ou mais) atrás...
Hoje o Cacém está a viver uma 2ª geração, maioritariamente composta por casais jovens, alguns com filhos. O sentimento de insegurança parece-me ser maior, apesar de antes o tráfico de droga se fazer em pleno dia e ser uma constante. No entanto a insegurança de hoje passa mais pela pequena criminalidade e uma sensação de intimidação por parte de alguns grupos sociais (e não raciais,entenda-se). As crianças hoje também passam menos tempo na rua, pois há sempre algum ATL, ou creche, ou infantário, ou seja, as estruturas adaptaram-se aos pais que passam o dia inteiro no trabalho e não têm nenhum familiar que possa ficar com os filhos durante o período pós-aulas. A televisão, os DVDs, os jogos de consola, alguma preguiça dos pais, algum super-proteccionismo dos filhos, também poderão explicar por que é que mesmo ao fim-de-semana o Cacém já não tem tantas pessoas nas ruas.
In the end, tudo se resume à diferença entre a geração dos nossos pais e a nossa, que parece por um lado ter uma memória muito curta, e por outro tem que enfrentar uma sociedade muito diferente da de há 20 anos atrás. Será que se pode mesmo criticar esta atitude?