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quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Caim

"A eva e adão ainda restava a possibilidade de
gerarem um filho para compensar a perda do assassi-
nado, mas bem triste há-de ser a gente sem outra
finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber
porquê nem para quê. Para continuar a espécie,
dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa
razão última, embora não tenham nenhuma ideia
sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em
nome de quê terá a espécie de continuar como se
fosse ela a única e derradeira esperança do universo.
Ao matar abel por não poder matar o senhor, caim
deu já a sua resposta. Não se augure nada bom da
vida futura deste homem."

José Saramago 


quinta-feira, outubro 30, 2014

Alabardas

         "Boas noites, Boas noites. Dez
minutos depois o telefone de artur paz se-
medo tocou. Era felícia, Não procures en-
comendas assinadas pelo general franco,
não as encontrarias, os ditadores só usam
a caneta para assinar condenações à morte. E desli-
gou antes de que ele pudesse responder."

José Saramago


 

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Último capítulo.

Comecei o ano a acabar de ler um livro. E ao ler as últimas palavras trocadas entre Abel e Silvestre, apercebo-me lentamente que tenho uma parcela de cada um deles dentro de mim, na minha consciência. Dou por mim a torcer pelas intenções de Silvestre enquanto sei também que as coisas acabam por ser mais reais pelos olhos de Abel. No fundo, são os dois uma e única pessoa, não há muita volta a dar isto, o coração não é fácil de enganar, sei-o bem enquanto leio a última frase, que ficará a ecoar dentro de mim nos próximos dias deste novo calendário que agora começa...

"O dia em que será possível construir sobre o amor não chegou ainda..."

"you turn me good and god-fearing
well, tell me what am i supposed to do with that"


 

sexta-feira, junho 18, 2010

Sem intermitência

"Hoje estás aqui, amanhã já não estarás."

José Saramago



(Nem sempre era fácil ler as tuas palavras que se estendiam por quilómetros e quilómetros. Na verdade, cheguei mesmo a ler livros teus que me cansavam, me deixavam de rastos e chegava a jurar que nunca mais lia nada teu. Mas depois havia todos os outros livros, os que li e me deixaram maravilhado com a tua imaginação, com os teus sonhos derramados em páginas sobre a forma de palavras salpicadas de emoções tantas. Agora que recebeste também a tua carta de cor violeta, sinto que aldrabaste a morte e o seu abraço, pois teremos sempre os teus livros para nos lembrarmos de quem foste, tu e os teus defeitos e as tuas qualidades, tu e o ser que foste.)

segunda-feira, maio 17, 2010

As intermitências da morte

"Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."

José Saramago


sexta-feira, dezembro 05, 2008

Redenção

Sempre gostei da ideia de redenção. De passar pelas mais desgraçadas provações, chegar ao infinito fundo da mais profunda tristeza e dor, para se conseguir atingir a renovada alma de um verdadeiro ser humano. Como se a ideia de um caminho sem obstáculos ou entraves, que nos obrigam a rever tudo aquilo que consideramos ser a nossa moral e a base dos nossos princípios, fosse na verdade aquilo que nos faz crescer e atingir todo um outro nível de humanidade. Acho que o filme Blindness consegue ser uma tela viva destas palavras. No nosso íntimo, sabemos que a sociedade, mesmo aquela que se diz avançada, se coze com fios demasiado frágeis e que ao mínimo abalo cedem perante os instintos primários de uma espécie que rapidamente tomou conta do planeta onde vivemos. Sabemos que à primeira tentação, o ser humano consegue trazer à superfície o pior de si, aquilo de que muitos pesadelos são feitos. E por vezes nem estamos assim tão distantes como num objecto cinematográfico. Por vezes, basta apenas ligar a televisão durante o noticiário. É por isso que Blindness consegue ser tão certeiro, tão real, tão intimidador. Porque nos revolve as entranhas, nos obriga a ver quando outros preferem virar a cara, porque é simplesmente um soco no estômago, mesmo que no final haja um pequena centelha de esperança em algo semelhante a um renascer das cinzas.

sexta-feira, março 31, 2006

Levantado do Chão

"A França é um palheiro de pouco resguardo para o pouco dormir e um prato de batatas, é uma terra onde misteriosamente não há domingos nem dias santos. A França, é um derreamento de rins, duas facas espetadas aqui e aqui, uma aflição de cruzes martirizadas, uma crucificação num bocado de chão."