segunda-feira, março 26, 2012

Viagens com o Charley

"Há ocasiões que uma pessoa guarda como tesouros por toda a sua vida, e tais ocasiões estão gravadas, clara e rigorosamente, na substância da recordação total. Sentia-me muito feliz nessa manhã."

John Steinbeck


Memória

Ferreiros, Laceiras e Cavaleiros. Estas três "terras" vieram-me hoje à memória enquanto atravessava um campo de oliveiras quase dentro de Portalegre. O mesmo cheiro a terra cultivada, o mesmo cheiro a oliveiras a crescerem, tudo a recordar-me os inúmeros dias passados nessas três "terras", sempre caminhando atrás do meu querido avô, sempre escutando as suas palavras, e lembrando-me dos dias em que ele ainda subia às oliveiras com uma vara às costas. Memórias boas, muito boas mesmo, mas que não evitam que algumas gotas de tristeza sejam derramadas sobre o meu coração. A saudade não tem tempo nem lugar, apenas existe, sempre.


Fronteira

Hoje foi dia de encher o depósito do pólo em Espanha.

Eu sei, eu sei, sou uma besta anti-patriótica por não comprar cá dentro do rectângulo. Sim, eu sei, sou um sacana que apenas se interessa em poupar o vil metal, que não compreende que a diferença entre gasolina a 1,491 € do outro lado da fronteira e gasolina a 1,739 € no posto de abastecimento aqui ao pé de casa se deve aos mercados, e às taxas de juro, e ao preço do barril de petróleo, e não às supostas filhas-da-putice das empresas gasolineiras que operam cá na nossa terra. Sim, eu sei que provavelmente ainda estou a contribuir para um possível aumento do desemprego com o fecho de mais postos de gasolina, independentemente de achar que há cartéis e coisas afins neste mercado, e independentemente da bomba espanhola onde vou empregar espanhóis e portugueses, e quase que jurava que há por ali uma moça galega que adora dizer xxxxx isto e xxxx aquilo. Eu sei, eu sei, sou um cabrão incorrigível e que devia preocupar-me mais com a nossa economia, mas em meu favor digo que ainda não encho o pólo com três ou quatro jerricans de gasolina, nem encho o porta-bagagens com sete ou oito bilhas de gás. Sim, que o gás também é mais barato, vá se lá compreender. E realço a palavra ainda, de modo que podem ir preparando mais palavrões para me linchar em praça pública.

Mas, calma, tenham calma, meus caros vilipendiadores, que estas coisas não ficam sem o devido castigo. E esse, mais tarde ou mais cedo, acaba por cair em cima de quem o merece. Portanto, toma lá duas operações stop no espaço de quatro quilómetros, uma do nosso lado e outra do lado de lá. É verdade, hoje houve encontro imediato com a GNR e com a Guardia Civil, uma maravilha. Mas são tão parecidos que até podiam ser gémeos separados à nascença. Pediram-me impiedosamente os documentos, fulminando-me com os seus olhares suspeitos. Isto até me deixar rir com uns e com outros. Do lado de cá, ri-me com o senhor agente pois a foto da minha carta de condução ainda foi nos tempos da barba, de modo que tive de tirar os óculos escuros para o senhor perceber que em tempos tive mesmo aquele aspecto. Depois de quatro quilómetros, ri-me com o señor agente pois disse-lhe que nem há cinco minutos tinha sido mandado parar, ao que o senhor me respondeu com risos de "nuestros colegas portugueses tambien tengan que trabajar" ou algo do género, que eu não falo espanhol.

Portanto, este vosso pouco patriota amigo, que se dá ao desplante de conduzir vinte e poucos quilómetros para ir à bomba espanhola mais próxima, já teve o seu duro castigo e com toda a certeza que os agentes policiais, portugueses e espanhóis, estarão atentos às minhas movimentações gasolineiras. Há que andar na linha senão ainda lá sai uma carga policial sobre a minha pessoa. E eu que não sou jornalista, e sim um porco capitalista ao soldo do grande capital estrang..., quer dizer, pequeno capital nacional. Ou algo assim.


Para vosso conhecimento, já devo ter passado a fronteira tantas vezes que já nem recebo a mensagem de boas-vindas da vodafone espanhola. Uma vergonha. Não há como a nossa pátria.


domingo, março 25, 2012

Declaração de intenções domingueiras parte 2

Umas breves palavras para a posteridade. Caso a malta hindu ou os amigos cristiano-esotéricos (sim, eles existem) tenham mesmo razão nas suas crenças, queria desde já dizer que na minha próxima reencarnação eu quero ser um cão. Não interessa a raça, o tamanho, a cor, apenas quero ser um canis lupus familiaris. É só.




(A culpa é do Steinbeck, das duas almas que me ofereceram o Steinbeck, e finalmente de um cão que hoje se aproximou de mim no jardim. Culpados, todos eles.)



Declaração de intenções domingueiras parte 1

Era só para lhe dizer, menina Victoria, que de cada vez que a ouço cantar uma dessas porcelanas musicais que a sua banda nos oferece, me deixo perder de amores por si mais um bocadinho. Espero que saiba o que isto significa e que faça alguma coisa de modo a eu não ficar eternamente perdido. Obrigado, menina Victoria.




Uma hérnia discal e um restaurante


"Leben ist, was passiert, waehrend du dabei bist, andere plaene zu machen"


quarta-feira, março 21, 2012

Ondas Sonoras - XLI

Domingo passado. Mais de duas horas de músicas lindas, sons que ficam a morar na nossa cabeça indefinidamente, e uma voz, uma senhora, que continua a aquecer-nos o coração como poucos. Obrigado, por mais um concerto das nossas vidas, menina Leslie.






quarta-feira, março 14, 2012

Variações sobre a amizade...

... do Miguel Esteves Cardoso...


... do meu homónimo escritor preferido...

"É certo que tenho amigos destes. Felizmente. Algumas pessoas, que por razões que nem a elas nem a mim assistia poder alterar, só as posso ver de quando em vez, , porque vivem noutro país, noutra cidade, noutros enquadramentos. mas há pessoas que assumem esta posição quando nada o obriga a tal. Quero com isto dizer que o recorte das chamadas amizades próximas também vive de uma combinação entre rega e presença, e que, em alguns casos, se isso não acontecer, não se gera acrimónia ou desgosto, mas algo fica diferente. O que, no passado, já me entristeceu, porque verifiquei que os queria mais próximos, mais "quotidinizáveis", e não conseguia. Ou perdia-se o enquadramento.
Uns esqueceram-me, outros esqueci-me deles, e alguns permaneceram e permanecem, felizmente. Mas não julgo que a amizade de sempre, que aquele acervo precioso de com quem contamos, seja em que perspectiva fraterna for, esteja isenta de riscos quando a ausência é maioritária ou esmagadora.
No fundo, não é colocar em causa o que o MEC diz, mas simplesmente achar que as minhas empatias, e atrevo-me a dizer, mais algumas, sobrevivem à custa da vivência, da tal partilha dos nadas, da cumplicidade das histórias que depois se tem para contar. Acho eu...
A prova de que talvez eu esteja mesmo enganado, é que este meu amigo está longe, e de facto está perto. Mas se também o preferiria ver mais vezes, e desafiá-lo para as as jornadas fílmicas nas salas de cinema manhosas do Monumental? Também é verdade.
Ao menos Domingo lá estaremos."



... da minha calamidade preferida....

"um Senhor Malhumorado que conheci dizia que a Amizade e o Amor eram como as plantas.
Daqui, julgo que quem conhece as ditas, mais a terra e as fragas poderá tirar muitas ilações...
ele é o terreno, a água, o sol, o frio, mais ou menos luz, a fragilidade da cepa, a enxertia que se quer fazer, se são de fruto ou decorativas...se árvores para durar cem anos ou daquelas flores exóticas sem cheiro para adornar mesa de ministro."



terça-feira, março 13, 2012

Ira


"I'll be all around in the dark - I'll be everywhere. Wherever you can look - wherever there's a fight, so hungry people can eat, I'll be there. Wherever there's a cop beatin' up a guy, I'll be there. I'll be in the way guys yell when they're mad. I'll be in the way kids laugh when they're hungry and they know supper's ready, and when the people are eatin' the stuff they raise and livin' in the houses they build - I'll be there, too."


domingo, março 11, 2012

Fuga


Haja risos para animar a alma. Especialmente quando, vindo do nada, aparece algo que pouquíssimas pessoas na plateia terão realmente percebido. É o que dá ser o único a soltar uma gargalhada sobre a minha casa suburbana de tantos anos... :))

"Mas o papá gosta tanto do Cacém...."

sábado, março 10, 2012

Retomar velhos hábitos.

Hoje foi dia de dar uma volta até Marvão (nunca se pode visitar Marvão demasiadas vezes), e conseguir dar um salto até à Mercearia de Marvão. Sítio simpático e pequenino, mas com coisas interessantes para descobrir. E foi assim que lá comprei um pequeno caderno que me vai fazer retomar um velho hábito no qual já não pego há pelo menos uns vinte e poucos anos. A ver vamos o que vai sair disto...




quarta-feira, março 07, 2012

Ondas Sonoras - XL

Bad As Me. Old Ideas. E agora Wrecking Ball. Todos grandes discos, que muito têm rodado no sonoro aqui de casa. Contrapondo um famoso slogan de há uns anos, a tradição ainda é o que era. E estes senhores são como o vinho do Porto, cada vez melhores com o passar dos anos. Bem hajam.







domingo, março 04, 2012

Morreste-me

"As coisas e eu mexem-se, deslocam-se todas. Vou. Parto para o que sobra de ti e tudo são resquícios do que foste. Parto de ti, viajo nos teus caminhos, corro e perco-me e desencontro-me no enredo de ti, nasço, morro, parto de ti, viajo no escuro que deixaste e chego, chego finalmente a ti. Pai."

José Luís Peixoto



(Uma vez que te rendeste a todos os livros que fui acumulando nessa casa durante tantos anos, então vais ter de ler este. Para que, nas palavras do Peixoto, possas perceber o quanto gosto de ti, meu Pai.)