Mostrar mensagens com a etiqueta JP Simões. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta JP Simões. Mostrar todas as mensagens

domingo, novembro 09, 2008

Ondas Sonoras - XXXV

JP Simões lembra-me, a tempos dispersos, o meu avô.
Espero que ele compreenda que isto se trata de um elogio. Digo isto pois ambos são contadores de histórias, o meu avô antes de ser meu avô, o JP antes de ser músico. E como contadores de histórias conseguem prender a atenção de todos aqueles que gostam de uma boa história, seja à volta de uma lareira antiga, no caso do meu avô, seja à volta de um palco espartanamente iluminado, no caso do JP. Bastava ver o público, sentado à volta das mesas, a chegar-se à frente para ouvir melhor as histórias de JP e a doçura com que ele debitava cada palavra cujo som parecia vir de tempos imemoriais, facto beneficiado pela estrutura (quase) a solo do concerto.
Ok, se calhar estou a romancear demasiado a coisa e daqui a bocadinho já pareço um artigo do jornal de negócios (privada, eu sei). Bom, digo apenas que o concerto foi bonito, íntimo e de amigos para amigos, mesmo aqueles que são desconhecidos ou estavam ali pela primeira vez. Foram bonitas as cumplicidades entre músicos e entre JP e o público presente. E as histórias de imigração, provas de poder perante a amada, prostituição, conjûges de mãos dadas com dores... de testa, acompanhadas apenas de guitarra acústica, piano e flauta, são realmente deliciosas e por isso valeu mesmo a pena estar ontem à noite, naquele jardim de inverno (estaríam a pensar em ti, Gi?). A repetir.



quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Fotos do Fogo


"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."


David Mourão-Ferreira


E foi tão bom rever-vos, meus amigos. Mesmo no meio da escuridão e das trevas que consigo traziam Noémia, Mariana, Octávio e todos os outros, almas demasiado condenadas pelo simples facto de terem existido num tempo diferente, tormentoso. No fim restou a minha ternura pela noiva, o meu coração despedaçado pelos gritos de Octávio, e a angústia por um dia ver os meus princípios tão amargurados como os de Noémia e Mariana. E que bonito que foi, meus amigos. O fogo que vos corre pelas veias merece bem um palco assim, ganho à partida. Do fundo do meu coração.



terça-feira, agosto 07, 2007

À Noite

Estavas à esquina.
Debaixo da luz mortiça do candeeiro, a tua sombra parecia aumentada mil vezes.
Parecia que estavas a guardar-me o lugar.
Puro engano.
Sim, esperavas, mas não por mim.
Os teus supostos encantos recaíam sobre a figura enfezada do vizinho de baixo.
Sabia disso, pois ainda a noite passada os vossos lábios tinham-se tocado sob essa mesma luz branca da esquina.
E estranhamente, tinha vindo a pensar em ti durante a viagem do costume.
Não sei porque surgiste no meu pensamento, mas a verdade é que assim aconteceu.
Não, não é mera conversa de engate.
Simplesmente aconteceu.
E agora eis-te aqui, sozinha, sem aquele pobre coitado ao pé de ti.
E eu estaciono, lentamente, quase como se estivesse a pôr-me aos teus pés.
Deslizo ao longo do passeio, atravessando a tua sombra enorme.
Sorris.
Um sorriso de cortesia.
Enquanto vais esperando, e esperando.
Penso que é uma pura perda de tempo.
Tudo, a tua presença, ali ao lado do candeeiro, a tua presença, na minha mente.
É altura de ir para a casa.
A casa só e abandonada, que me espera.
Tal como tu, esperando.
Por pobres coitados, eu e o vizinho de baixo.
Apenas pobres coitados, desesperados.




sexta-feira, março 16, 2007

Ondas Sonoras - XXVI

(balão de oxigénio para um blogue meio moribundo)

Calor em Março. Sol intenso que nos aquece o corpo. Só posso encontrar uma explicação para estes fenómenos pré-veraneantes. E tudo se deve a um único homem. Um homem que decidiu lançar raízes tropicalistas neste rectângulo tão cinzentão. Neste disco respira-se o Brasil do samba, mas não o samba frenético que costuma invadir os nosso ecrãns de televisão por alturas do Entrudo. Este é um samba elegante, que se insinua no aproximar dos corpos, nos copos que passeiam de uma mão para a outra, num ligeiro menear de ancas, só o suficiente para irmos degustando a música do senhor JP Simões. E como se isso não bastasse, ainda nos deixa a inquietação do senhor José Mário Branco. A inquietação que nos deixa quase sem respiração. E o resto? Músicas com M grande... Eu estou apaixonado por esta. Não me canso de a ouvir. Sempre em repeat, como no éter...