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domingo, janeiro 24, 2016

E o ano ainda agora começou...

Afinal parece que desta vez não se passaram anos e mais anos.
Voltei a entrar hoje nesta casa.
Vou tomar isto como um bom prenúncio.
Tudo vai correr bem.
Desde que haja amanhecer.





domingo, fevereiro 26, 2012

Como o vinho do Porto


"boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas"



bonito, bonito concerto. obrigado.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Visitas


Haja gente amiga a colar-se assim, à descarada. Serão sempre bem-vindos! :)


domingo, janeiro 08, 2012

Berma






Parecia cansado. Já não o via há alguns meses, mas não me lembro de o ver com um ar tão cansado. Ali, sentado à beira da estrada, com as canadianas a descansarem ao seu lado, com o sol da manhã a iluminar todas as rugas de uma face a caminhar para as setenta e seis Primaveras. Passei de carro, abrandando como sempre faço quando atravesso a aldeia, para responder a todos os acenos de gente que me conhece desde os meus primeiros passos. Ele não me acenou, talvez não me tenha reconhecido. Os seus olhos também já não o ajudam grande coisa, mas ele vai dizendo que não quer usar óculos, que para aquilo que a vida ainda lhe vai reservando dia após dia não precisa de lentes para nada. Chega para ler os livros que lhe restam na estante e para reconhecer as pessoas amigas que se chegam ao pé de si. Mas mesmo assim, ou talvez por isso, os seus olhos não escondam uma névoa da tristeza que é o livro da vida daquele homem. Vive sozinho já há uns bons dez anos, desde que a sua companheira de vida faleceu. É ele que o diz, a minha companheira envelheceu como eu e um dia achou que estava na altura, que o corpo dela já tinha vivido o suficiente, nem mais nem menos, só fiquei triste por ela me ter deixado sozinho com os outros vivos, aqueles que estão longe. É ele que assim o diz, uma pequena grande alfinetada a grande parte da sua família. Filhos e respectivas caras-metades há muito que trocaram a aldeia e o campo pela cidade, fazendo aquele percurso que tantos outros fizeram no seu tempo. Raramente o visitam e quando o fazem é quase de raspão. Os netos e netas também pouco lhe ligam, conhecia-os a quase todos e todas nos longos Verões que aqui passámos juntos, brincando até ao pôr-do-sol. Talvez que nuncam tenham sabido apreciar devidamente os seus avós, talvez porque estes nunca lhes fizeram as vontadinhas todas como os pais. Com o passar dos anos fui-me desligando de todos, vivemos em sítios diferentes, estudámos coisas diferentes e, na verdade, deixou de haver aquela empatia que em criança é tão fácil de acontecer. Apenas um dos seus netos ficou meu amigo, exactamente aquele que continua a visitá-lo, a ligar-lhe, a escrever-lhe. Passa cá todos os meses, e não raras vezes quando vou a passar de carro e o vejo sentado com o avô, conversando olhos nos olhos, mãos nas mãos, encosto o carro e junto-me a eles, a beber uma cerveja, a jogar às cartas, ou simplesmente a ver quem passa. Mas hoje estava sozinho, terrivelmente sozinho. E cansado. As pernas também já não são o que eram, as canadianas praticamente também se arrastam com ele. E no entanto, não se queixa. Diz que as coisas são como são, que não levou uma vida regrada para viver eternamente, viveu tudo aquilo que lhe dava prazer e sem arrependimentos, naquele pequeno mundo que sempre foi a sua aldeia. Sempre o conheci assim, prático e sem papas na língua, nada de romantismos balofos sobre o significado da vida. Isto de um homem cuja estante repleta de livros de poesia, filosofia, e outas "ias" sempre me deixaram com uma pontinha de inveja. Ele disfarça, diz que eram da sua companheira, que ele pouco os leu durante a vida, mas eu sei que não é bem assim, e sei até que ele sabe muitos daqueles poemas de cor, pois tantas e tantas vezes no meio de conversas comigo e com outras pessoas da aldeia lhe apanhei pequenos bocadinhos declamados e retirados daquelas mesmas páginas. Mesmo que hoje já não seja tão procurado pelas gentes da aldeia como outrora, será daqueles que nos vai fazer falta quando chegar a sua hora. Será um pedaço desta terra que também vai desaparecer para sempre, seis palmos debaixo da terra que o viu nascer. Eu vou sentir a sua falta também e quando penso nisto fico triste, muito triste. E é nisto que penso quando estou de novo a entrar de novo na aldeia e o vejo ainda sentado à beira da estrada, e nem penso duas vezes. Encosto o carro e vou ao seu encontro. E a minha tristeza vai-se dissipando à medida que me aproximo dele e à medida que sinto que ele me vai reconhecendo e que, ao de leve, começa a brotar um sorriso aberto nos seus lábios e que ele abre os seus braços para mim. É a forma de ele dizer, vem cá, meu amigo, que eu ainda não estou morto e ainda tenho alegria que chegue para nós e para o resto do dia.


quinta-feira, dezembro 01, 2011

Viver.

E assim passou um ano desde que aqui estou a viver. Um ano repleto de tanta coisa para contar e escrever mas com pouco tempo para ocupar as páginas que ficaram em branco. A actividade profissional, as idas e vindas entre este lar e o outro, alguns devaneios turísticos intramuros, um devaneio turístico à la Relvas, as muito bemvindas visitas a este lar, algumas (ou muitas?) folgas repletas de pura nhoquice, tudo isto contribuiu para uma quase estabelecida falta de vontade para me sentar e escrever o que quer que fosse. E, no entanto, há palavras escritas, aqui e ali, perdidas nas páginas de outros, rabiscadas no momento, quem sabe um dia o que poderão dar. Mas um ano assim se passou. Nesta terra tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Houve dias em que 240 quilómetros significaram os mesmos sentimentos dos quase 10.000 quilómetros a que já estive um dia. Mas com ajuda de algumas almas que preenchem o meu coração, dias houve em que me sentia efectivamente em casa, sem necessidade de nada mais. Neste ano senti o meu ritmo abrandar. Senti-me a voltar uma década no tempo. A ir ao encontro de um espaço físico e emocional que já senti mas muito no passado. Viver aqui é uma experiência estranha para quem sempre viveu regularmente em sítios demasiado urbanos. É claro que me fazem falta algumas coisas que, por se viver numa grande cidade ou perto dela, damos por garantidas, estão sempre ali, podemos "pegar" nelas quando nos apetece. Aqui não há essas coisas. Mas também não há, ou quase não há, tudo aquilo que dia após dia exaspera qualquer ser humanos que tenha de viver nos grandes centros urbanos. Hoje caminho mais, ando muito menos de carro numa base diária, e, como já disse a algumas pessoas, apenas sinto saudades da minha família e dos meus amigos. São eles a carne e o sangue que me falta ao esqueleto. De resto, tenho aqui estabelecida a minha rotina, os meus momentos de ócio, e graças a algumas incursões num bom raio de quilómetros aqui à volta, conheço um pouco mais do meu país e, arrisco-me a dizê-lo, da parte boa, escondida e que vale a pena o esforço a descobrir. A minha pátria é a língua portuguesa, dizia Pessoa, e eu humildemente acrescento que a minha pátria são as oliveiras, os vales, as encostas das serras, os castelos, os rios, tudo o que me rodeia, e as pessoas. As pessoas. Aqui, nesta minha casa de um ano, as pessoas marcaram-me a ferros. Tenho tantas, tantas pessoas que conheci que davam um livro, literalmente. A sua simpatia, a sua pujança, a sua vontade de lutar e não desistir, o seu abraço, a sua sinceridade, perderia o resto do dia a descrever todas as formas como estas pessoas me receberam. Sempre me tive em conta como uma pessoa que gosta de estar com outras, mesmo nos meus dias de timidez adolescente, sempre me senti bem rodeado de outros seres humanos, mas a profundidade deste sentimento ficou bem mais real aos meus olhos depois deste ano. Tantos momentos que me chegam à memória, tantos segundos de profunda alegria por partilhar esta humanidade, esta gente do campo cujo coração é do tamanho deste país que vive dias tão tristes. Se houve chatices ou momentos de angústia? Claro que sim. Não é por todos falarmos a mesma língua, e eu que tanto inglês e portunhol falei neste ano, que nos ouvimos melhor. Mas passar de uma realidade onde todos os dias havia alguém descontente ou capaz de pegar em armas para nos enfrentar para uma outra onde isso ocorre tão esporadicamente que já nem me lembro quando foi a última, bom, nem sei propriamente como descrever o que isso significa para mim. Escrevo tudo isto para que haja registo, para que possa ler, onde quer que a vida me leve de seguida. Porque esta terra já faz um pouco parte de mim, e há que trabalhar para que continue a ser assim, há que continuar a merecer esta pequeníssima espécie de presente de natal fora de época que me foi entregue em mãos. Tal como tantas coisas que aconteceram nestes trinta e cinco anos de vida, continuo a não perceber porque tenho direito a estes acontecimentos tão bons e tão marcantes. Mas já que é o que tenho, continuemos assim, com a cabeça entre as orelhas, como diria o Sérgio. Obrigado. A emissão segue dentro de momentos.



quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Os discos dos outros

(Em espécie de homenagem ao Lenta Divagação, escrito pelo Sombra, do qual sinto falta e onde há um par de anos tive o prazer de participar com as minhas próprias Peças de Roupa.)

Segue o discurso na primeira pessoa do meu amigo PenaBranca, sobre os seus discos e algumas histórias à volta dos mesmos.




"Sei lá, 100 (discos) (...) uma grande porção de música portuguesa, alguma música do mundo (...) por força das muitas viagens que faço, tenho muita coisa estrangeira, mas depois também tenho muita coisa pop, e não sei quê, coisas mais, enfim, mais estranhas (...) vinil nunca tive gira-discos, ou melhor, avariou-se, nunca tivémos muitos discos, CD acho que já deixou de ser, enfim, o mp3 está a reinar mais pela portabilidade da coisa, mas ainda vou à loja comprar CDs (...) (a escolher) acho que me fico pelo CD, porque sempre fica, é algo real (...) (primeiras recordações musicais que te vierem à cabeça) as Doce, no Festival Eurovisão da Canção, por estar na Alemanha (...) certamente o Heino, aquela espécie de música, enfim, coisas horríveis que passavam em massa na televisão alemã (...) felizmente não ficaram grandes resquícios na minha memória (...) (o primeiro disco que tive) não faço ideia, eu na verdade tive discos bastante tarde (...) acho que foi um qualquer dos Madredeus, que eu comprei (...) lembro-me que foi um dos primeiros que comprei, na Feira da Ladra, quando estava na faculdade (...) o Lisboa certamente que sim, o Porto já não me lembro se comprei lá, mas foi um dos primeiros, sim (...) (cinco discos sem os quais a tua vida não seria a mesma) é pá, é pá, sei lá, tenho que me sentar em frente a eles e pensar."


"(...) Dá-me tempo para pensar, caramba (...) que raio de pergunta! (...) (os últimos discos comprados) foram os discos dos NOZ, os últimos a chegar, o L'homme le plus heureux du monde e o Tout doit disparaître, comprei na amazon (...) voltando à vaca fria (da pergunta anterior) (...) o Cinema é um deles, do Rodrigo Leão, acho que é uma coisa bastante gráfica, que me agradou bastante na altura (...) tenho este aqui também, que me faz lembrar uma viagem a Estugarda, precisamente, que é o 2RaumWohnung, Melancholisch Schön (...) Eu disse que havia música pelo mundo, isto surge a propósito de uma viagem ao Hawaii, e este é supostamente o mais conhecido cantor do Hawaii, chama-se Israel Kamakawiwo'ole, também conhecido como Iz, mas ele entretanto já bateu a bota (...)"


"O senhor Rabih Abou- Khalil, gosto deste (Em Português), bem como do Yara (...) tenho três dele (...) que levei comigo para o Japão, e gastei bastante a sonoridade da coisa (...) o Espírito da Paz, dos Madredeus, também, coisa que na altura me inspirou bastante (...) os Pink Martini, que me surpreendeu bastante, mais uma compra em claro, em branco da minha parte, sem saber o que era (...) são cinco, não é? (...) falta-me um, Sérgio Godinho, sim, claro, que era o Rivolitz, uma coisa alegre, enfim, tem de tudo um pouco (...) agora podia continuar com os outros todos, não era?"