terça-feira, julho 29, 2014

All The Pretty Horses


"That night he dreamt of horses in a field on a high plain
where the spring rains had brought up the grass and the
wildflowers out of the groud and the flowers ran all blue and
yellow far as the eye could see and in the dream he was among
the horses and the coursed the young mares and fillies over the
plain where their rich bay and their rich chestnut colors shone
in the sun and the young colts ran with their dams and trampled
down the flowers in a haze of pollen that hung in the sun like
powdered gold and they ran he and the horses out along the
high mesas where the ground resounded under their running
hooves and they flowed and changed and ran and their manes
and tails blew off of them like spume and there was nothing
else at all in that high world and they moved all of them in
a resonance that was like a music among them and they were
none of them afraid horse nor colt nor mare and they ran in
that resonance which is the world itself and which cannot be
spoken but only praised."

Cormac McCarthy

 

segunda-feira, julho 28, 2014

"Janela"

"A vida não é menos
incoerente do que os sonhos;
é apenas mais insistente."

José Eduardo Agualusa



Gostava de ter uma "janela" igual a esta. Não só na minha casa, mas permanentemente na minha vida. Parece que olhando através dela todos os problemas e angústias desaparecem como num passe de magia. O sol, o céu azul e o mar são todo o zen que preciso, nada mais. Eu e todos os indivíduos que aqui ocorrem. Como borboletas (ou traças) que correm na direcção da lâmpada descuidadamente ligada. Nas conversas, nos olhares, nas expressões iluminadas, percebe-se a nossa cumplicidade. Ainda que anónima. Uma ou outra pessoa sentada sozinha, a maioria em casais ou grupos de amigos. Os casais parecem enamorados, prescrutando ansiosos o horizonte que se vai tornando cada vez mais vermelho. Olho e lembro-me do livro do Agualusa, que acabei ontem à noite. E penso se o nosso destino é mesmo vivermos toda a nossa vida ao lado da mesma pessoa ou se, como Faustino, devemos viver vários e diferentes amores, o mesmo é dizer viver muitas vidas dentro da nossa aparente breve existência de carne e osso? Não sei responder. Neste preciso nanosegundo, a minha vida encontra-se tão longe destes dois caminhos distintos, que tenho dificuldade em sequer pensar no que me aguarda ao virar da esquina. É o defeito de ter o mar à minha frente. Desligo os meus neurónios, não penso em mais nada, apenas na calma que me rodeia, no sol que se esconde por trás do mar imenso, no céu em chamas que me cobre, nas trevas que se vão aproximando e me prometem embalar para um outro mundo, um mundo onde posso ser eu mesmo, sem pressões, sem ter de me esconder e fugir dos meus dias que passam a correr. A resposta é que sonho em ter uma vida como a de Faustino, exactamente igual e em todos os aspectos. Mas dentro de mim, também há um coração que secretamente anseia por ser como um dos casais à beira da minha "janela". Baixa a cortina, acaba o espectáculo, pago a conta e saio porta fora .

(Novembro de 2008. Escrito no único sítio que poderia fazer sentido.)


domingo, julho 27, 2014

O Congresso



"Ultimately, everything make sense. And everything is in our mind."


sábado, julho 26, 2014

Um sonho

"A tua amiga é louca???". Pois, Pai, tu nunca o saberás mas naquele momento tivémos a mesma reacção. A diferença é tu verbalizaste as palavras que te passaram pela cabeça enquanto eu me mantive em silêncio. Aliás, ultimamente acredito cada vez mais que ficar calado perante algumas situações mais parvas que me acontecem é o caminho mais acertado. E a profusão de coisas parvas a acontecerem começa a parecer uma tempestade perfeita, umas atrás das outras. E a paciência para as suportar reduz a olhos vistos. De modo que é melhor afastar-me ou, como ontem, apenas nada dizer. Não vale certamente abrir a boca para apenas conjurar ainda mais palavras, atitudes e sentimentos que realmente não fazem bem à sanidade mental de ninguém. E admiro a tua perspicácia, meu Pai, pois não conhecendo bem a pessoa em causa, ainda assim conseguiste fazer um diagnóstico bastante claro sobre o que ali se passava. Como se tua infinita sabedoria de quem já passou por tanta coisa, identificasses perfeitamente o que se passava no âmago daquela pessoa. Sinto que não te dou tanto crédito como deveria, mas depois de ontem acredito que tal não se repetirá. Digo mesmo mais, acho que vais passar a ser o meu próprio oráculo privado...


Acordei repentinamente. Ainda não havia claridade portanto ainda não seriam sequer seis da manhã. A memória do que se tinha passado começava a dissipar-se. Puxei da caneta e do bloco de notas da secretária e fiquei sentado na cama, a escrever sob a luz do candeeiro da mesa de cabeceira. A tinta ia enchendo as pequenas páginas do bloco, retendo tudo ou quase tudo do que tinha sucedido. Quando terminei, li todas as palavras e nada parecia fazer sentido. Poisei tudo, desliguei a luz e voltei a deitar-me, com esperança que o sono ainda chegasse antes do despertador.

quinta-feira, julho 24, 2014

Epitáfio

Caiste desamparada no asfalto quente da nossa rua. A rua onde morámos mais anos do que em outro qualquer lugar das nossas vidas. Quando me apercebi da tua queda já era tarde, tão tarde para te agarrar. Apenas tive tempo de largar a bengala que me amparava e prostar-me também caído ao teu lado. Os dois, lado a lado, jazíamos olhando nos olhos um do outro. O meu olhar perdido no teu olhar distante, perdido. Segurei a tua mão, numa vã tentativa de te tranquilizar, de te dizer sem palavras que a ajuda estava a caminho, que iríamos ser salvos deste chão que nos queimava a face. De te tentar esconder a verdade, crua e cruel. Que a ajuda chegaria tarde, pelo menos para um de nós. Que estes olhares e estas palavras que te sussurrava seriam as últimas coisas que alguma vez verias e escutarias. Que a tua vida terminaria ali, ao meu lado, mas não ao mesmo tempo que a minha. Que eu ainda iria ficar aqui, para te recordar, para te amar, para viver sem ti o resto dos meus dias. Que a tua respiração terminava aqui e agora, que a minha dor estava prestes a começar. Adeus, meu amor.