"A tua amiga é louca???". Pois, Pai, tu nunca o saberás mas naquele momento tivémos a mesma reacção. A diferença é tu verbalizaste as palavras que te passaram pela cabeça enquanto eu me mantive em silêncio. Aliás, ultimamente acredito cada vez mais que ficar calado perante algumas situações mais parvas que me acontecem é o caminho mais acertado. E a profusão de coisas parvas a acontecerem começa a parecer uma tempestade perfeita, umas atrás das outras. E a paciência para as suportar reduz a olhos vistos. De modo que é melhor afastar-me ou, como ontem, apenas nada dizer. Não vale certamente abrir a boca para apenas conjurar ainda mais palavras, atitudes e sentimentos que realmente não fazem bem à sanidade mental de ninguém. E admiro a tua perspicácia, meu Pai, pois não conhecendo bem a pessoa em causa, ainda assim conseguiste fazer um diagnóstico bastante claro sobre o que ali se passava. Como se tua infinita sabedoria de quem já passou por tanta coisa, identificasses perfeitamente o que se passava no âmago daquela pessoa. Sinto que não te dou tanto crédito como deveria, mas depois de ontem acredito que tal não se repetirá. Digo mesmo mais, acho que vais passar a ser o meu próprio oráculo privado...
Acordei repentinamente. Ainda não havia claridade portanto ainda não seriam sequer seis da manhã. A memória do que se tinha passado começava a dissipar-se. Puxei da caneta e do bloco de notas da secretária e fiquei sentado na cama, a escrever sob a luz do candeeiro da mesa de cabeceira. A tinta ia enchendo as pequenas páginas do bloco, retendo tudo ou quase tudo do que tinha sucedido. Quando terminei, li todas as palavras e nada parecia fazer sentido. Poisei tudo, desliguei a luz e voltei a deitar-me, com esperança que o sono ainda chegasse antes do despertador.
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