segunda-feira, março 29, 2010

Os Meus Problemas

"As pessoas felizes são aquelas que têm vergonha de falar nisso. Em Portugal, dizer «Eu sou feliz» é como dizer «Eu sou rico» ou «Eu sou de boas famílias». É escandaloso. Pode dizer-se «Hoje estou bem disposto!», porque é como confessar uma anormalidade. É notícia. Dizer «Hoje estou mal disposto» é muito menos assunto de primeira página - é como a notícia «Homem mordido por cão no Rossio». Em contrapartida, a notícia «Hoje acordei bem disposto» é mais aliciante; como «Cão mordido por homem no Terreiro do Paço».

Ninguém tem pachorra para aquelas bestas sadias que estão sempre alegres e bem dispostas - é uma atitude de desrespeito perante a vida e a desgraça dos outros. Em Portugal, o que convém é andar mais ou menos. À pergunta altamente irritante «Então? Bem disposto?», não é lícito nem responder que não («Deixe-me soterrá-lo nalgumas misérias minhas»), nem responder que sim («Deixe-me enaltecer junto de si alguns dos meus triunfos pessoais mais recentes»). A resposta de protocolo é «Oh...», encolher os ombros, sorrir como quem diz «O que é que se há-de fazer?» e perguntar «Então e tu?», com ar de quem já sabe a resposta.

(...)

A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os Portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém. Acham que as pessoas felizes são esponjas-com-pernas, daquelas de banho, cor-de-laranja, muito alegres, que andam pelas ruas a chupar a felicidade toda às outras pessoas."

Miguel Esteves Cardoso


sábado, março 27, 2010

Mere Anarchy

"What I do know about physics is that to a man standing on the shore, time passes quicker than to a man on a boat - especially if the man on the boat is with his wife."

Woody Allen


quinta-feira, março 25, 2010

Palavras para Carlos Paredes

"(...) Nas cordas da guitarra improvisam-se criaturas. Monstros modestos avançam direitos em equilíbrio sobre uma corda minúscula. Um dedo: vê o dedo equilibrar-se na corda da guitarra: é um equilibrista de circo: pode cair, não cai. Tudo o que corre perigo e não cai provoca espanto. Vê os dedos, observa cada um dos dedos. Vê como se equilibram. Enquanto não cais, sê criativo. Aproveitar o facto de estar vivo para estar vivo duas vezes: a grande imaginação. (...)"

Gonçalo M. Tavares






quinta-feira, março 18, 2010

A folhear...

«Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco...E eu não compreendia isto. mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.»

Carlos Paredes








domingo, março 14, 2010

Mulher em Branco

"Para onde vão os amores que foram um dia.

A janela, onde já nenhum vento. A janela que um dia deixaram aberta.

Os amores que foram um dia e não voltam mais.

Ela olha-o. O coração é um bicho.

Olham-se ainda. E nunca mais se olharão assim."

Rodrigo Guedes de Carvalho


quinta-feira, março 11, 2010

O Vale dos Malditos

"Alguns dizem que antes de morrer todos os homens vêem o demónio; outros que vêem a sua vida toda, como se mergulhassem nas profundezas de uma bola de cristal.
Tom Stuart não via nada além da árvore."

Ana Teresa Pereira


(escrite simples e sem rodeios, uma história muito bem cozinhada, e pelo meio imensos flashbacks de rio bravo, silverado, shane, johnny guitar, imperdoável, high noon, e outros que tais... sou irremediavelmente incurável.)


terça-feira, março 09, 2010

Um buraco no coração




(ou como por muito que se tente, há coisas completamente inevitáveis...)

segunda-feira, março 08, 2010

Já há muito tempo que não entrava no aeroporto. Já há muito tempo que não mergulhava naquela confusão de pessoas, malas, barulho. Não que as coisas tivessem mudado alguma coisa. Continuavam as filas de pessoas para o check-in. Continuavam as vistorias estranhas dos seguranças às malas e aos sapatos das pessoas. Já não faltaria muito para termos máquinas de raios x tão poderosas que nos despiriam até ao osso. E eram todas essas coisas que faziam com que cada vez mais detestasse andar de avião. Já não tinha paciência para aturar todo aquele circo, toda aquela desmontagem do que é ser um simples humano ou do que é que são os seus direitos. Felizmente a minha carreira profissional tinha tomado um rumo que me permitiu ir reduzindo as viagens aéreas ao mínimo e hoje em dia só mesmo por extrema necessidade é que me ausentava do país. Já ela estava no sentido contrário. Cada vez mais viagens, cada vez mais períodos fora do país, fora da nossa casa, fora das nossas vidas. Nos últimos tempos, tenho a sensação que conversámos mais vezes pelo telefone do que cara-a-cara. Aliás, ela passava horas e horas ao telemóvel. Agora estava precisamente a fazer isso. De um lado para o outro, inquieta, a falar incessantemente para o aparelho. Habitualmente não a costumava acompanhar até ao aeroporto, mas como estou em casa por estes dias aproveitei para a trazer até ali. Acho que o fiz por uma necessidade de aproveitar todos os minutos que ela está cá. Não que tenhamos falado muito no caminho. Ainda tentei puxar conversa, mas apenas consegui arrancar uma ou duas frases dela. “Estou nervosa. Este projecto é tão complicado e vai envolver tantas reuniões que nem sei bem por onde começar.” “Dizes sempre isso antes de começar todos os projectos e depois tudo acaba por correr pelo melhor. Se não te conhecesse diria que és insegura.” “Eu sei, eu sei. Mas a pressão ultimamente tem sido maior do que nunca. Os números assim o obrigam. E parece que até ao fim do ano irá haver mais dispensas.” “Despedimentos? Pensei que já tinham reestruturado tudo o que havia para reestruturar.” “Parece que não. Tudo aponta para que a estabilização só chegue no ano que vem.” “Com tanto tempo que passas fora, quase tenho vontade que também sejas dispensada.” “O quê? Não estás a falar a sério, pois não?” “Claro que não. Sabes perfeitamente que quero apenas o teu bem. Mas gostava de te ver mais tempo em casa, junto de mim. Não te sentes cansada de estar sempre fora?” “Claro... Mas daqui a uns tempos, haverá oportunidade para isso. Para recuperarmos todo o tempo que agora não temos. E se te custa a ti, a mim ainda mais. Mas por agora tem de ser...” Fiquei calado atrás do volante. Não quis que nos despedíssemos chateados. Já não havia nada de novo nas nossas palavras. Eu sabia isso, e ela também sentia isso. E no entanto, enquanto aguardava que ela acabasse aquele telefonema, a minha vontade era sair com ela dali. Ficar com ela. Só isso. Sentia saudades dos primeiros anos de casamento, quando estávamos sempre juntos, sem separações nem ausências. Mesmo quando o nosso filho nasceu, parecia que estávamos mais apaixonados do que nunca. O mundo estava lá fora, mas o nosso mundo eramos nós os três. Tinha tantas memórias felizes com ela. E agora sentia que há algum tempo que não criávamos para nós mais dessas memórias felizes. E não sabia muito bem como viver com isso. Não sabia como reagir, como dizer-lhe tudo aquilo que me passava pela mente, pois também não queria ela abandonasse tudo o que tinha construído para a sua carreira. Por isso sentia-me dividido ao meio e em cada confrontação que tinha com ela, acabava por me conter, por não deixar que tudo saltasse cá para fora. O telefonema tinha terminado. Ela veio ao meu encontro e eu passei-lhe o trolley. “Desculpa. Estiveram a dar-me instruções de última hora. É sempre a mesma coisa.” “Não faz mal. Ainda tens tempo para um café?” “Acho que não. Ainda tenho de passar pela segurança e já sabes como eles atrasam as coisas...” “Bom, então boa viagem.” “Obrigado. Ligo-te quando chegar. Vais estar por casa?” “Sim, é o mais provável.” “Espero que as duas semanas passem a correr.” “Eu também.” “Amo-te.” “Eu também te amo.” Beijamo-nos e eu seguro-a nos meus braços. Tão depressa a estou a beijar como a seguir ela já está nas escadas rolantes a dizer-me adeus. Apercebo-me que ela vais mesmo fazer-me falta. Que precisava que ela estivesse comigo e não no ar, a milhares de quilómetros do chão que podíamos estar a caminhar, juntos.



quando menos se espera...

... entra-se numa sala, admira-se aquilo que a arte nos pode oferecer, aproxima-se quase a medo e aí sim, é-se completamente arrasado pela beleza que um simples carvão pode conter.



sábado, março 06, 2010

Intervalo

Na sala de espera desespera-se. É um lugar comum mas que na realidade acaba mesmo por acontecer. Tenta-se desviar o olhar das paredes brancas que nos rodeiam, apanhar com o olhar algo que nos faça esquecer que temos de esperar. Hesita-se no momento de pegar numa das revistas que revestem a mesa à nossa frente. Deixa-se de hesitar quando se repara que a revista mais recente já completou um ano de permanência naquela mesa.

A recepcionista cruza o seu olhar com o nosso. Um mero segundo de uma empatia que na realidade nada tem de sincero. Até porque ela já conhece o fim do guião. Já sabe muito bem se o tempo de espera vai parecer uma eternidade ou não. Ela sabe seguramente tudo o que se passa nos gabinetes por trás de si. Com um bocadinho de pessimismo até se consegue vislumbrar um esgar de sadismo por cima dos seus óculos de design imperfeito. Como que a regozijar-se da minha condenação à permanência naquela sala de espera. Os olhares já se cruzaram há muito, mas o arrepio na espinha ficou.

Olhamos para a única janela na sala. Vemos os carros a passarem, ininterruptamente, em marcha apressada para outros sítios. Com o avançado da hora é mais que certo que quase todos se devem estar a dirigir para casa. Sem nada que os prenda nem salas de espera de paredes brancas no seu presente. Talvez se houvesse mais alguém ali, alguém com quem dividir a angústia, talvez aí o sentimento de solidão e/ou impotência (o que acharem mais claustrofóbico), talvez esse sentimento não fosse tão intenso, tão tsunâmico a invadir todos os recantos da alma.

A partir de certa altura, já não se sabe para onde mais olhar. Fica-se com o olhar perdido, entre a biqueira dos sapatos, os poros das costas das mãos, os ponteiros inertes do relógio de pulso, os ponteiros inertes do relógio de parede, único objecto que se atreve a perturbar o branco das paredes. O tempo não conhece salas de espera. Recusa-se aliás a entrar nas mesmas. Uma fobia antiga, certamente, vinda de tempos imemoriais em que as salas de espera tinham um aspecto ainda mais massacrante do que esta.

A ânsia de que algo aconteça começa a pregar-nos partidas, quais miragens em que se pensa ouvir uma porta a abrir, ou uma voz a chamar pelo nosso nome. De tal forma que após horas e mais horas quando realmente a recepcionista chama por nós, pensamos que não pode ser verdade, que mais uma vez nos encontramos no deserto e que nada naquele som é real. E assim só se reage à terceira vez que o nosso nome é pronunciado. Levantamo-nos e vamos até à secretária. E a senhora olha-nos nos olhos e dita a sentença.

«Lamento imenso, mas o senhor doutor hoje já não o consegue atender. Quer marcar nova reunião para a semana que vem ou aceita desde já esta arma branca para cortar os pulsos?»

Com um sentimento de alívio e sem mais esperar, tiro-lhe a arma das mãos...

(Fevereiro de 2010)


sexta-feira, março 05, 2010

quarta-feira, março 03, 2010

Afastei-me rapidamente da esplanada. Ou melhor, tentava afastar-me rapidamente mas sem mostrar a minha ansiedade para sair daquele sítio. Não o podia mostrar, pois sabia que os olhos dele ainda estavam nas minhas costas, ainda estavam em mim. Não tinha conseguido aguentar mais. Pensei que conseguia mas não era verdade. Tinha sido obrigada a dar uma desculpa para não ficar ali nem mais um minuto. “Desculpa não poder ficar mais tempo, mas tenho de ir ter com os meus pais. Prometi-lhes que hoje iríamos almoçar juntos, e como ainda tenho de atravessar a ponte... Desculpa.” “Não faz mal, a sério. Eu vou ficar aqui mais um bocado. Espero que em breve possas um dia destes ir jantar lá a casa.” “Claro que sim. Quando quiseres.” Palavras de circunstância. Palavras ocas de sentido. Não fazia questão absolutamente nenhuma de ir a casa dele. Nunca aguentaria estar à mesma mesa que ele e a mulher dele. Não agora, não agora que eu sabia o que sentia por ele. Não conseguia, não sou assim tão forte. Só estar ali, naquela esplanada com ele, tinha sido uma prova insuperável. E quando o vi a chegar pensei que ia ser possível, que ia esconder o que realmente sentia e que iria continuar a ser a amiga que sempre fui para ele. Que ele não ia perceber nunca. Estava com melhor aspecto do que da última vez que o tinha visto, mas mesmo assim notava-se que ainda não tinha recuperado completamente. “Estás bem? Não pareces muito bem.” “Não dormi muito bem esta noite. Demasiadas coisas na cabeça, quase não preguei olho.” “A tua mãe?” “Também. Eu sei que já passaram duas semanas, mas de cada vez que fecho os olhos, parece que estou outra vez no cemitério. Ainda não me habituei à ausência...” “É normal, acho eu. Não estamos feitos para lidar bem com a morte, qualquer tipo de morte. Temos demasiada consciência para isso. Demasiados neurónios. Que parece que nunca dormem.” “Achas mesmo isso?” “Acho. Já tive a minha conta de funerais para perceber que não sei o que fazer perante a morte de alguém. Seja alguém tão próximo como a tua mãe, ou seja um familiar de um amigo de outro amigo. A forma como a dor me afecta é diferente, claro, mas não deixa de haver uma dor, uma fragilidade que me atinge e que fica comigo nos dias seguintes.” “Não penso nela sempre, durante todo o dia. Mas nas alturas em que sinto a falta dela, a dor que sinto não deve ser muito diferente de alguém a apunhalar-me no coração. Parece que perco todas as forças e só me apetece fugir, desaparecer. Sinto-me só.” “Tens o teu filho, tens a tua mulher. Tens de pensar neles.” A minha voz fica diferente quando lhe digo isto. Parece quase falha, rouca. Tento tossir para disfarçar. Tiro o maço de cigarros da minha mala. “Eu sei. E é só por eles que não me deixo ir abaixo. Também é por isso que tirei uns dias, para estar com eles. Para estar com o meu filho. Sabes, ele sente muito a falta da avó, e isso nota-se em pequenas coisas que ele diz ou faz durante o dia. Mas ao mesmo tempo tem uma força de vontade como, provavelmente, eu nunca tive. Puxa por mim, arrasta-me para todo o lado, fartamo-nos de fazer coisas juntos. Acho que me tornei o melhor amigo do meu filho.” “Isso é bom. Quer dizer, não acho mal. Se calhar há muitos pais que gostariam de ter essa proximidade com os filhos e não o conseguem.” “Ele tem os amigos dele na escola, claro. Mas com a morte da minha mãe, acho que ele se sentiu na obrigação, não, sentiu que devia «cuidar» de mim. Sentiu que eu precisava dele, para deixar a dor para trás.” “Ele tem um bom coração. E como todos os miudos de hoje, já é avançado para a idade. Já tem muito mais conhecimento guardado do que nós tínhamos com a idade dele.” “É a minha alegria, a minha felicidade.” “E a tua esposa?” Assim que o digo, puxo imediatamente pelo cigarro, quase o fumando de um só fôlego. “Está bem. Continua cheia de trabalho. Amanhã está outra vez de partida para o estrangeiro. Vai estar quase duas semanas fora. Deve ser por isso que a sinto distante. Durante a semana quase não temos tempo para falar e quando chega o fim-de-semana é o cabo dos trabalhos para a arrancar de casa. Eu quase que desisto. O nosso filho é que ainda consegue persuadi-la, de outro modo não viria connosco.” “O trabalho dela não é fácil. Muitas responsabilidades. É complicado. Imagino que esteja a passar por uma fase mais ocupada. Vais ver que daqui a uns tempos vais «tê-la» de volta.” “És capaz de ter razão. Pelo menos também espero que esta fase passe depressa.” Quem é que disse que as cartas de amor eram ridículas? As palavras que eu acabei de dizer é que são ridículas, idiotas. Porquê? Porque é que eu tinha de ficar assim? Porque é que eu não podia limitar-me a ser uma amiga, nada mais que uma amiga? Porque é que agora eu não conseguia estar aqui, à frente dele e pensar que sou apenas uma amiga de quem ele gosta como amiga? Porque é que me ponho a fazer filmes, e a sonhar acordada, e imaginar sequer que posso ficar com ele? Ele é casado, ele tem um filho, tem toda uma vida da qual eu apenas não passo de uma nota de rodapé. Sim, sou uma das amizades mais antigas que ele tem, e depois? Eu não quero ser amiga dele. Eu não quero ter estas conversas com ele numa esplanada algures na cidade. Eu não quero fingir nada. Eu quero acordar na mesma cama que ele. Eu quero sentir o calor do corpo dele junto do meu durante toda a noite. Eu quero que ele me beije. Eu quero que ele me abrace. Eu quero passear de mão dada com ele, junto ao mar. Eu quero a vida dele na minha vida. Eu quero... Eu já não sei o que quero. “E tu, como andas? Também pareces um pouco cansada.” “Nada de novo. E cansaço, só se for de demasiada vida social. Demasiadas saídas. Já não estou habituada.” “Eu já não sei o que é isso. Tens saído à noite? Para onde?” “Os sítios do costume. Já não tenho paciência para novos poisos. Os mesmos restaurantes, os mesmos bares. Tudo igual.” “E tens saído com quem?” “Amigas do escritório. Jantares tardios e copos até demasiado tarde.” “E novidades amorosas, há? Já há algum tempo que não te vejo com alguém.” “Não, nada. Acho que estou em vias de me tornar celibatária.” “Pois claro que sim.” “A sério. Estou farta de desilusões. Farta de aturar pessoas que não sabem o que querem. Olha, se calhar estou farta de amar.” “Espero que não. Ainda gostava de te ver com alguém que te mereça.” “Pois. Também não me importava. Mas acho que teremos de esperar sentados, os dois.” “Nunca se sabe. Acho que não deves desistir.” “Não, claro que não. Já sabes que isto é só da boca pra fora.” Não podemos parar com esta conversa? Se soubesses já te tinhas calado. Por favor cala-te. Não sabes como me está a custar aqui, impassível enquanto dizes essas coisas. Já não aguento, a sério que não. Preciso de sair daqui. Preciso de respirar longe de ti. Apago o último cigarro. Ponho os óculos de sol. “Desculpa não poder ficar mais tempo, mas tenho de ir ter com os meus pais.”



terça-feira, março 02, 2010

porque sim.

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"

Florbela Espanca