terça-feira, março 31, 2009

Fitas

(Inspirado por uma treta a dar para o lamechas.)

"Lembras-te quando o "Gallo" cantou e surgiram os moços(as) alentejanos? Assim se vê a força do PC! Por esta é que nos chamaríam comunas! (...) Só vais ao casamento se deixares o Luis em paz! Ele é meu, é todo meu, é meu até ao fim! Tenho dito!"

"Diverte-te muito nessa palhaçada que vais fazer (a benção) e tira uns retratos para a mitra gozar contigo eternamente. (...) Porta-te bem e não te esqueças de ser o meu primeiro cliente clínico!"

"Dizem que a universidade é a segunda casa de um estudante, mas tu exageras: os teus pais já não te devem conhecer e de certeza que já foste adoptado pelo sr. Belinhas. (...) Agora a sério: desejo-te o maior sucesso na vida (quase tanto como o meu), um bom salário (quase tão alto como o meu) e uma boa mulher (quase tão grossa como a minha)."

"Do cagório ficou fidelizado/adora lá pôr o recto/mas foi com muito gosto/que contigo fiz projecto (...) Viciados no vinho/agarrados ao tabaco/conjuntamente e com juizinho/oremos ao nosso ídolo Baco"

"... E até quando tentei ser forte e não chorar, apareceste sempre tu a oferecer um abraço e «prontos», as lágrimas rasgam os olhos."

"As desilusões, os exames, as orais, as apresentações, as más notas, tudo isso acabou, tudo passageiro... Esta importante fase da tua vida chegou ao fim. E será sempre com grande saudade que a lembrarás. E claro cá estarei eu para aturar a tua melancolia, a tua nostalgia. Pois tudo o que passou e foi bom, dá-nos esse maravilhoso sentimento: saudade."

"Com um riso absolutamente contagiante, possui um enorme coração que o torna num dos melhores amigos."

"Que de entre os pássaros da tua árvore, sejas aquele que voa mais alto."


É estranho voltar a ler algumas coisas. O passado tem destas partidas, prega-nos rasteiras e só depois de alguns anos vemos isso. Mas mesmo com algumas pessoas mais longe de mim, e outras que continuam aqui, ao meu lado, é sempre inesquecível abrir esta cápsula do tempo e ver que há algumas coisas, importantes, que não mudam, que permanecem, e que tempo algum é capaz de apagar. E no fim resta uma única tristeza. A enorme saudade da pessoa que escreveu a última frase que aqui deixo transcrita. Obrigado, A., por me teres feito abrir de novo a pasta de estudante.

quinta-feira, março 26, 2009

Kowalski-isms


Oh, I've got one. A Mexican, a Jew, and a colored guy go into a bar. The bartender looks up and says, "Get the fuck out of here."

Yeah. I'm surprised you're still around. I was always hoping you'd die off and they got someone in here that knew what the hell they were doing. Instead, you're just hanging around like the duop dego you are.

What are you spooks up to?

I'm no hero. I was just trying to get that babbling gook off my lawn!

You're wrong, eggroll, I know exactly what I'm talking about. I may not be the most pleasant person to be around, but I got the best woman who was ever on this planet to marry me. I worked at it, it was the best thing ever happened to me. Hands down. But you, you know, you're letting Click-Clack, Ding-Dong and Charlie Chan, just walk out with Miss What's-her-face. She likes you, you know? Though I don't know why!

Yeah... Yum Yum... yeah... nice girl... nice girl, very charming girl... I talked with her... yeah. But you, you just let her walk out right out with the Three Stooges. And you know why? 'Cause you're a big fat pussy. Well, I gotta go. Good day, pussycake.

I think you're an overeducated 27-year-old virgin who likes to hold the hands of superstitious old ladies and promise them everlasting life

Your birthday today, Daisy. This year you have to make a choice between two life paths. Second chances comes your way. Extraordinary events culminate in what might seem to be an anticlimax. Your lucky numbers are 84, 23, 11, 78, and 99. What a load of shit.

(E por tudo isto, durante boa parte do tempo só me conseguia lembrar do senhor que se segue.)



(Archie Bunker-isms)


No fundo é apenas uma questão de conhecer o coração de alguém e ver para além daquilo que apenas ouvimos o outro largar da boca para fora. No fundo, acho que é isso.

PS - Clint Eastwood can do no wrong. Period.


quarta-feira, março 25, 2009

Dieta - II

O gang dos bróculos deixou mais marcas do que se pensaria. Vivemos em tempos violentos e todo o cuidado é pouco ao cruzarmo-nos com espécies tuberculas esverdeadas...


terça-feira, março 24, 2009

Dieta

E quando fui a ver, ali estava eu, com o sol ainda timidamente a aparecer, e eu ali, no centro, rodeado por um gang de bróculos com ar bastante ameaçador. De cada passo que davam, parecia que aumentavam de tamanho, ou então seria eu que estava a diminuir perante o seu avanço. Não conseguia perceber que tinha eu feito para merecer isto. Os bróculos pareciam ser às centenas, quem sabe mesmo aos milhares. E todos eles exclamavam, "não tens vergonha? não vês que entraste numa espiral horrível de consumo de carne e mais carne? e os vegetais, ficam para quem? e as proteínas e as vitaminas e todas as outras inas que precisas, vais renegá-las? tens de comer mais vegetais, TENS DE COMER MAIS VEGETAIS!!!". Procurando uma saída para aquele círculo vegetariano enverdecido que me apertava, cheguei à conclusão que só havia uma coisa a fazer. E foi assim que, trincando bróculo atrás de bróculo, fui abrindo caminho com os dentes e com a maionese que convenientemente estava no bolso das calças. Fui comendo e comendo e aos poucos apercebi-me que ou era a sede de vingança ou estava mesmo a apreciar o sabor daqueles bróculos tenrinhos. E fui comendo, comendo, comi há muito já não comia, até que apenas um único bróculo restava, e agora que era apenas um, parecia que os papéis se tinham invertido, eu parecia quase um gigante louco e esfaimado, e o pequeno bróculo suplicava, "por favor, já chega! já percebemos que também gostas de vegetais, que a tua dieta é mesmo equilibrada, chega, poupa-me, sou apenas um pequenino bróculo, mal encho a cova de um dente.". E sim, provavelmente não valia a pena devorar mais aquele pequeno vegetal. Mas quando dei por mim, já lambia os dedos depois de mais uma última trincada. Limpei os beiços e arrotei ruidosamente, com uma sensação de satisfação como poucas.


(à noite)
Então o que é hoje o jantar?
Lombos de pescada. E bróculos.


... quase não conseguia chegar à casa-de-banho...

segunda-feira, março 23, 2009

Janelas abertas


Cada vez mais me convenço que a vida é um sítio estranho mas imensamente bonito... E o que seria de mim sem sábados ou domingos como estes? Haja fôlego para caminhar e sorrir sempre...

quarta-feira, março 18, 2009

O Amante

"Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se-me à entrada de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: - «Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que daquele que tem agora, devastado.»"

Marguerite Duras


(tenho saudades dos nossos pequenos-almoços envolvidos pelo sol...)

terça-feira, março 17, 2009

Abstinência (not!)

"He went to the bottom, put his soul on fire"

Sempre tive conflitos com despertadores. O som emitido logo pela manhã sempre me irritou os nervos, logo eu que nem sequer sou daqueles indíviduos que com cada novo acordar, quase parece que o céu desabou nas suas cabeças, ou que as portas do Inferno ficaram abertas, libertando todos os demónios matutinos. Mas mesmo com um acordar normalmente pacífico, sempre tive vontade de arrebentar os despertadores a tiros de caçadeira (isto deve ser a minha alma suburbana a trabalhar...).

Até ao dia em que as novas e maravilhosas tecnologias me permitiram acordar quase todos os dias com aquele som de baixo cavernoso, o saxofone exterminador de insónias e a guitarra possuída pelo espírito maligno de Ennio Morricone.

Nesse dia, e apesar de acordar por vezes com calafrios e os olhos a saltarem das órbitas e o sentimento de que a escuridão do quarto me vai devorar, nesse dia, dizia eu, acabei por me atrasar muitas menos vezes do que acontecia antes. E o facto de a cama já não me deixar voltar para o outro lado e ameaçar-me com impropérios vários também acaba por ajudar.

Haja dEUS!

segunda-feira, março 16, 2009

Raízes

O táxi parou. O motorista virou-se para trás, disse que tinham chegado e apontou para o quadro que indicava a quantia a pagar. Ela deu-lhe uma nota, disse que podia ficar com o troco e saiu do carro. Ficou ali, na berma da estrada, parada, enquanto o táxi se afastava. Estava longe, muito longe de tudo a que estava habituada. Ali, parada, no meio de campos verdes a perder de vista, sentiu a usual sensação de desconforto que a assolava de cada vez que deixava a cidade. Mas desta vez era diferente, desta vez não haveria data de regresso ao apartamento onde tinha vivido desde que se lembrava. Desta vez vinha para ficar, mesmo que não soubesse onde era realmente esse local. Desde o momento em que tinha entrado no táxi que as estradas secundárias se tinham seguido umas atrás das outras, curvas e mais curvas serpenteando pelo meio de campos cultivados e montes perdidos, com a sombra das árvores a tombar sobre o asfalto. Agora estava ali, num ponto longínquo, fora do mapa, ou pelo menos assim lhe parecia. Não o podia confirmar realmente, pois não trazia qualquer mapa consigo. Aliás, não trazia mesmo nada nas mãos, para além da sua carteira e de um casaco que entretanto se tinha tornado obsoleto face ao calor que ali estava. Olhou em seu redor. Não fosse a estrada e não conseguiria reconhecer qualquer sinal de que houvesse presença humana naquele sítio. Sentia-se perdida e começava a desconfiar que o taxista se pudesse ter enganado. Mas ele parecia tão certo de conhecer o sítio que ela buscava. Enquanto pensava nisto, lembrou-se que ele lhe tinha dito que ainda teria que andar um bocado, pois não havia estradas para lá, até porque não era um sítio que a maior parte das pessoas procurasse avidamente. E assim, entrou pelos campos adentro, onde a vegetação lhe chegava até à cintura, parecendo-lhe que estava a desbravar um mar revolto, de água barrenta, castanha e opaca. Havia árvores, mas eram dispersas e quase não quebravam a monotonia do resto da paisagem. Deu por si a subir, lentamente, um pequeno monte e ficou agradada com a ideia, pois do seu cimo seria provavelmente possível ver mais além do seu actual horizonte, e talvez descobrisse finalmente o seu destino. Entretanto o calor não abrandava e em conjunto com o esforço da sua caminhada, algumas gotas de suor surgiram na sua face. Não o bastante para desistir dos seus esforços e em menos de nada ali estava ela, no cimo do monte. E o seu sentimento de isolamento cresceu ainda mais. Até onde os seus olhos podiam ver, nada nem ninguém parecia andar por ali. Nada nem ninguém. O desânimo era eminente. Tinha vindo de tão longe, percorrido tantos e tantos quilómetros e agora, que estava tão perto, nada. Até que subitamente, e quase como se tivesse surgido do interior do solo, lá estava. O seu destino. A sua árvore. Desceu o monte na sua direcção e perante a proximidade os seus pés praticamente ganharam asas. Não demorou muito tempo até que ela se encontrasse junto às raízes da árvore, que lhe parecia agora muito maior do que à primeira vista. Na verdade, o seu tronco maciço e enrugado, e os seus inúmeros ramos e folhas, quase tapavam por completo o sol que a tinha perseguido durante todo o caminho para chegar ali. Os seus olhos percorriam todas as ramificações da árvore. Aqui e ali acabou por descobrir mais pessoas, quase ocultas no seio verde da árvore. Homens, mulheres, de todas as cores, de todas as idades. Alguns quase indistinguíveis dos ramos onde se encontravam, outros ainda apenas meio assimilados. Sabia a razão para todos eles estarem ali, afinal, era a mesma razão pela qual ela própria também se tinha encaminhado para aquele local. Por isso não estranhou nem receou quando, lentamente dois dos ramos poderosos da árvore se começaram a dirigir para si. Quase como se de um baloiço se tratasse, pegaram nela e começaram a elevá-la bem alto, quase quase para a copa da árvore. Agarrada aos ramos que a transportavam, sentiu uma pontinha de felicidade ao ver o sítio que lhe estava determinado, dali iria poder ver o nascer do sol todos os dias, esse que era o momento preferido dos dias dela. E foi assim que, abraçada à árvore, começou a sentir aquela casca centenária a cobri-la, muito lentamente, como se alguém estivesse a aconchegá-la na sua cama, de volta ao seu apartamento. Sabia que muitas estações passariam até que a árvore conseguisse recuperar todos os pedacinhos do seu coração destroçado e devolver-lhe todo o amor que o seu coração tinha até então abrigado. Não era uma tarefa fácil nem rápida, mas ela sabia que isso iria acontecer, mais tarde ou mais cedo, e estava preparada para ali ficar até ter o seu coração de novo completo. E também sabia que nesse momento estaria pronta para descer da árvore e voltar a percorrer a estrada da sua vida. Agora apenas lhe restava saber que ali estaria em segurança, protegida e abrigada de toda a tristeza e desgosto que lhe tinha deixado o coração naquele estado. Podia descansar e contentar a sua alma apenas com um nascer do sol, e não precisaria de mais nada...

quarta-feira, março 11, 2009

Continuo a acordar...

... e haja muitos demónios a deixarem-me palavras tão bonitas como as que se seguem.

"Mas insensivelmente os lábios foram-se separando um pouco. Um dente. Subtil iluminado de pacificação serenidade alegria de ser - se te demorasses um pouco. E seres aí a vida rodeada de verdade por todos os lados. Um dente visível. Mas os lábios separaram-se mais e são agora um sorriso claro solar. E instintivamente deixei que se demorasse aí até eu poder reconhecer-lhe o esplendor. É um riso, não vou cometer a imprudência de o perder. Está na linha do céu e do mar, não vou. A juventude sem uma força excessiva de o ser. A confiança - não vou. O futuro dos séculos a quererem vir. A segurança contra o medo a vileza a degradação. A morte. Nem na realidade há nele futuro algum. Porque todos os séculos do futuro e do passado se conglomeram ali no instantâneo presente. O riso. Sem olhos nem face. Nem cabelos. Porque toda a sua ausência está lá. São olhos iluminados de uma festa terrível, cabelos de ar. Fixar-te para sempre, riso da minha pacificação."

Vergílio Ferreira

terça-feira, março 10, 2009

Acordei

A escuridão começa a dar lugar à luz. Não há mal que dure para sempre, como já se escreveu algures por este espaço. Agora só é preciso aguentar até ao final da semana, para sair de vez do casulo.

quinta-feira, março 05, 2009

Blues

Isto de ser confrontado com as nossas amarguras via éter tem muito que se lhe diga. Até porque o que foi dito até trazia consigo uma certa aura de pan-pipes que normalmente apenas causa o escárnio e mal-dizer. O problema... O problema acaba por ser o piloto automático. Se este não existisse, mesmo com obras de ampliação, lama e vidros a precisar de água, talvez o cérebro estivesse mais desligado ou mais concentrado no caminho, e assim não lhe desse para o denaveio súbito, acabando por fazer uma tempestade num copo de água que, sinceramente, já não bebia há algum tempo. E de repente a sede fez-se rio de lágrimas amargas, daquelas que preferimos não conhecer, mas que a vida madrasta nos faz questão de recordar, talvez para melhor sabermos que não há nada eterno, nem as tristezas nem as alegrias, tudo está sempre à beira de um precípicio, ou melhor, de uma montanha-russa que eventualmente nos devolva à casa de partida.

Estou ao lado.

E vou largar a oxigénio de lado.

Wrong time. Wrong theories. Wrong page.

quarta-feira, março 04, 2009

Sinal de vida

"Menina bonita bordada de flor
Eu vi primeiro, eu vi primeiro
todo encanto dessa moça"


(as pequenas palavras podem ser tão brilhantes como as mais complexas, é apenas uma questão de sabermos o que elas realmente significam na nossa cabeça, tão revolta como o vento que estou a ouvir neste preciso momento.)