segunda-feira, dezembro 29, 2008

O silêncio

Tudo o que eu sempre quis
Tudo o que eu sempre precisei
Está aqui, nos meus braços
Palavras são desnecessárias
Elas apenas podem magoar

(Porque no nosso íntimo voltamos sempre às coisas que nos devolvem o conforto de outros tempos. Tempos em que fomos mais felizes do que nos apercebemos na altura. É bom relembrá-los, sem amargura pelo que entretanto passou, sem arrependimentos nem desejos de ter feito as coisas de outra forma. Apenas ficar a sonhar acordado, embalado pelos mesmos sons de antigamente. Hoje lembrei-me de ti, meu amor.)

domingo, dezembro 28, 2008

In the year 2009

"Perto do Martim Moniz, um taxista elucidou-me: isto vai ser bom é para o Brasil, a Rússia e a Índia. Os chineses também estão muito confiantes em 2009, que no Zodíaco Chinês é o Ano dos Tecidos Baratos e dos Brinquedos à Base de Chumbo."

Filipe Homem Fonseca


"As obras nas escolas vão também ser mais céleres, em vez de durarem anos. Em 2009 acabarão as aulas ao som desses primos afastados dos rouxinóis, os berbequins. A nova equipa ministerial saberá que a indisciplina é provocada por muitos factores, mas que alguns são tragédia anunciada: prevê portanto acabar em breve com as aulas em salas sem condições, e também com a invenção de matérias absurdas só para manter as crianças sob controlo, fazendo das aulas mais jaulas que aulas. Das aulas saem, com sorte, cidadãos; das jaulas, não nos queixemos se saírem feras".

Rui Zink


"Digo «manigananciosos» porque, nesta previsão política profissional, há medidas iguais de manigância e de ganância. É que as listas de previsões são também as wishlists dos autores, os previdentes. Não são dirigidas ao Pai Natal mas ao Bebezinho do Ano Novo: «Querido Bebezinho do Ano Novo, o que eu queria que acontecesse em 2009 era que o PSD fosse reduzido a escombros para eu tomar conta dele e que o Manuel Alegre conseguisse reunir ainda mais esquerdistas inúteis para tirar votos ao mau do Sócrates e que os preços das coisas subissem muito para ver se este estúpido deste povo percebe que é altura de ser eu a mandar nesta merda, se fazes favor. Obrigadinho e vê lá isso, compinchinha do meu coração aflito!»"

Miguel Esteves Cardoso


Em breve...

Que fique bem presente que eu continuo a preferir Não metas o meu guarda-chuva no meu anús. Se bem que Macacos me mordam também era uma bonita homenagem à nossa "grua"...


Puxar frentes

Dia 26 de Dezembro.
É chegada a altura de arrumar a casa. Recolher os brinquedos que ficaram sentados na prateleira, abandonados por todas as mães e pais natais que não acharam que os mesmo se adequassem às suas crianças. Ficaram ali, expectantes, com a angústia de permanecerem ali até ao último minuto da possível compra de Natal. Neste dia pós-natalício, parecem envelhecidos, com o seu espírito quebrado por não terem alguém que brinque com eles. É impossível não sentir algum tipo de compaixão por estes brinquedos excluídos da sua primordial função. Eles sabem que não irão parar ao contentor do lixo nem nada que se pareça, mas não deixa de ser triste vê-los lentamente a passarem do palco principal de adoração para o corredor secundário da sua família de brinquedos ditos normais, aqueles que se conformaram à sua posição diária de prateleira secundária. Termina assim a loucura das crianças a correrem de um lado para o outro, dos pais a fazerem contas de cabeça, das filas intermináveis para embrulhar aquele que todos pensamos ser O brinquedo, aquele que vai tornar o Natal daquela criança o mais perfeito de sempre. Enquanto as iluminações de Natal se vão apagando, os brinquedos vão também eles entrando no seu período de escuridão, de anonimato dentro do grande universo do hipermercado. Até daqui a doze meses, quando as esperanças de cada um deles ser adquirido se irão mais uma vez renovar e toda a névoa que agora os parece cobrir se irá mais uma vez dissipar e torná-los mágicos aos olhos daqueles que sonham mais alto...

Na choldra

Estão a ver a imagem aqui de cima? Estão a reconhecê-la?
Pois a parte que eu mais gosto deste genérico é mesmo o final, quando o Pai Natal fica atrás das grades, ou pelo menos é assim que a minha retorcida visão vê o logotipo da rtp. Quase que me dá vontade de imaginar outras personagens atrás daquelas grades fictícias e ao mesmo tempo entoar uma versão alterada de uma música dos Delfins,

Soltem os pais natais
Soltem os pais natais
Por todo o mundo há pais natais
Por todo o mundo.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Para os corações mais empedernidos




No fundo, é uma questão de fé. Em acreditar e não desistir.
E sempre a brilhar, dentro de nós.

(Com agradecimento e inspiração vinda de um especial intruso)

domingo, dezembro 21, 2008

Natal

Francisco acordou com um arrepio. Sentiu a sua alma enregelar-se e acordou. E à sua volta apenas viu um manto branco que cobria todas as superfícies do seu quarto. Caía neve no seu quarto. Por momentos pensou que ainda estaria a dormir, perdido num dos muitos sonhos extravagantes que costumavam povoar o seu universo de sono. Mas depois sentiu os flocos de neve a caírem nos seus cabelos. Passou a mão pela mesa de cabeceira e, reacção imediata, os pelos do seu braço ficaram todos eriçados, quais deputados no parlamento a votarem um qualquer orçamento de estado. Sim, era verdade, estava mesmo a nevar no seu quarto.

Levantou-se e procurou no guarda-fatos o seu roupão, enquanto os seus dentes batiam uns nos outros ao ritmo de uma rumba. Uma vez enfaixado no seu roupão, começou a percorrer a casa, deixando um rasto no tapete branco que acolchoava a mesma. No quarto, o mogno dos móveis tinha ficado desaparecido naquela avalan
cha de neve que insistia em cair do tecto. No hall, ainda se conseguia ver um breve vestígio dos sapatos de Francisco, no sítio onde tinham ficado inertes depois de mais uma ronda do seu dono pelos bares da cidade. Parecia que alguém ali tinha caído e a neve o tinha soterrado. Neve que continuava a cair, em suaves flocos que se agarravam a todas as superfícies da casa. Curioso, Francisco abriu a porta da casa-de-banho e quase, quase sentiu vontade de mergulhar na banheira que transbordava de neve. Mas podia-se dizer que aquilo o tinha despertado realmente para a realidade da situação que ali se passava.

Afinal, estava a nevar dentro da sua própria casa. Isto não era normal. A neve só é suposto cair lá fora. Nem sequer tinha buracos no tecto por onde todo aquele manto branco pudesse entrar. Seria aquilo um castigo divino? Sim, ele sa
bia que não era propriamente um santo de sacristia, mas teria o pecúlio dos seus pecadilhos atingido um tal montante que merecesse uma praga de neve? Foi até à janela da sala, tropeçando nos montículos brancos que outrora tinham sido sofás e poltronas. E aí o seu espanto foi ainda maior. Lá fora o sol brilhava e havia céus azuis. Em pleno Dezembro. Mas na sua casa, parecia que tinha sido teletransportado para as penhas douradas. Com as mãos na cabeça, sentado no chão, não sabia o que pensar, o que dizer ou o que quer que fosse necessário fazer.

A impossibilidade física de tudo aquilo tinha bloqueado o seu cérebro. Limitava-se a olhar o cair constante dos milhentos flocos que surgiam do nada. E, no meio da sua mente atormentada, algo lhe lembrou que aquele cenário tinha uma estranha beleza. Afinal de contas, tinha sempre vivido naquela cidade e poucas vezes tinha posto os olhos em tamanha quantidade de neve. Sim, haviam as viagens em tempo de
férias, mas normalmente acabava sempre por as passar numa outra qualquer cidade. Onde também não nevava. E assim ficou, a ver a neve cair, desamparado, sem solução à vista.

Nesse momento, a campainha tocou. Algum vizinho a queixar-se da humidade, provavelmente. E como ia ele explicar aquele fenómeno? Noutros tempos seria acusado de feitiçaria. Agora, o mais certo era começarem a chamar-lhe profeta, demente, ou um pouco dos dois. Por outro lado, era um alívio saber que no m
omento em que abrisse a porta iria ter uma reacção que lhe permitiria saber se ainda se encontrava com toda a sua sanidade intacta, ou se em breve o seu guarda-roupa iria apenas consistir de camisas-de-forças, num quarto almofadado algures ali para os lados do Telhal.

Foi ver quem era. Ficou surpreso. Era Isabel, a pessoa do outro lado da porta. Havia alguns dias que já não se viam, e a última vez tinha tido um sabor amargo. Tinham ficado a um passo da separação permanente. Aliás, tinha sido essa a causa para o intensificar do seu deambular por bares e alcóol, numa tentativa de esquecer o impossível de conceber sequer a sua vida sem Isabel. Ainda tinha a vaga esperança de que a neve fo
sse um produto da sua alma alcoolicamente infectada. A campainha voltou a soar. Despertado dos seus pensamentos, abriu a porta e, ao ver que os olhos de Isabel tinham passado da sua triste figura e acompanhavam agora a incessante queda da neve, ficou com a clara certeza de que tudo tinha acabado de ficar mais complicado.

Isabel não conseguia dizer palavra que fosse. Foi entrando pela casa adentro, cruzando o seu rasto com aqueles que Francisco já tinha deixado. Via a palma da sua mão ficar coberta de neve. Via os seus longos cabelos negros salpicados de pequenos e brilhantes flocos. Olhava para Francisco, com as mãos nos bolsos do roupão, já
quase completamente coberto por uma fina camada de neve. Isabel abriu a boca e uma torrente de palavras saiu, com pressa de ser ouvida. O que se passava ali, nunca se viu tal coisa, não é possível neve aparecer do nada, e para mais dentro da tua casa, o que é que tu fizeste, lá fora está sol e quente, mal se consegue estar aqui com o frio, mas que digo eu, está a nevar dentro da tua casa, e tu não dizes nada, vais ficar aí parado, simplesmente a olhar para mim, Francisco, diz alguma coisa, o que é que se está a passar aqui.

Quando Isabel se calou, quando calou a sua angústia por não perceber o que se passava ali, nesse momento Francisco despertou, mais uma vez
, uma última e verdadeira vez. E segurando Isabel nos seus braços, apenas murmurou uma palavra aos ouvidos dela: perdoa-me. E repetiu-a, uma e outra vez, olhando Isabel nos seus olhos pretos. Perdoa-me, por tudo o que disse e o que fiz. Perdoa-me por toda a dor que te causei e que nunca mereceste. Perdoa-me por ter sido um idiota, um estúpido que nunca se esforçou por te compreender e por compreender o nosso amor. Perdoa-me, Isabel, perdoa-me antes que eu te perca e que a minha vida se torne ainda mais pequenina. Perdoa-me.

Isabel sentiu os olhos encherem-se-lhe de lágrimas, quando Francisco se calou. Não estava preparada para ouvir tudo aquilo. A culpada tinha s
ido a neve. A neve não estava no programa e tinha feito com que todo o discurso que trazia preparado se desvanecesse no vazio. Mas olhando Francisco, rodeado de branco, com aqueles olhos azuis que também vertiam agora lágrimas, sentiu que sim, que o perdoava, que o amor dela por ele continuava no coração dela, e que sim, que ele estava e estaria sempre, a partir daquele momento, a ser sincero. Acabavam as mentiras, as discussões e as dúvidas constantes. Acabava o punhal da dor no seu coração de cada vez que ele a amava. E momento contínuo, abraçaram-se, choraram e beijaram-se, beijaram-se como se o seu amor tivesse nascido naquele momento. Beijaram-se enquanto a neve continuava a cair sobre os seus corpos. E enquanto saíram porta fora, continuaram abraçados, com os olhos mergulhados um no outro. E enquanto saíram porta fora, a neve continuava a cair, indiferente ao amor que enchia os corações de Isabel e Francisco. E continuou a cair enquanto a porta se fechou, continuando os flocos de neve a tombarem, como cristais, na escuridão do apartamento...


(Escrito nos dias 30 de Novembro e 3 de Dezembro de 2008)

sábado, dezembro 20, 2008

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Sniff...

... Ainda ninguém me ofereceu um par de meias.
... Ou uns boxers.
... Nem mesmo o inevitável Old Spice.

... Definitivamente é um Natal atípico.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Serviço de utilidade pública - XX


(Algures ao pé do Tejo. E não podia haver melhor explicação. A seguir.)


Ponto parágrafo

Porque é que as coisas têm de ser tão complicadas entre nós? Porque é que de um ponto minúsculo do nosso universo conseguimos fazer a maior tragédia grega das nossas vidas? Seremos masoquistas ou simplesmente doentes mentais? Será que algum dia chegaremos a viver aquela intimidade de ternura e carinho que vemos nos casais de idosos sentados nos bancos do jardim da nossa cidade? Será que algum dia nos perderemos mais vezes nos segundos dos nossos beijos do que nas horas dos nossos gritos acusatórios? Não era suposto sermos felizes ao lado um do outro, não era suposto o nosso amor aguentar tudo, não era suposto sermos o refúgio secreto um do outro? Porque é que acabámos por desistir e virámos as costas um ao outro? Era o nosso amor assim tão fraco?

Os melhores romances nascem do infortúnio das maiores paixões...

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Quatro estações











Venha o frio, venha o vento, venham os céus azuis, venham os céus negros, venha a chuva. Mas acima de tudo, venha o sol. E o marulhar barulhento e doce das ondas...

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Deuses caídos

"You could see the shadow of death in my face."


Um importante documento que nos lembra até que nulidade pode chegar o valor de uma vida humana quando encetamos qualquer tipo de guerra. E como na verdade nos deixamos levar por lideranças dementes até ao ponto de não podermos voltar atrás.




sexta-feira, dezembro 05, 2008

Redenção

Sempre gostei da ideia de redenção. De passar pelas mais desgraçadas provações, chegar ao infinito fundo da mais profunda tristeza e dor, para se conseguir atingir a renovada alma de um verdadeiro ser humano. Como se a ideia de um caminho sem obstáculos ou entraves, que nos obrigam a rever tudo aquilo que consideramos ser a nossa moral e a base dos nossos princípios, fosse na verdade aquilo que nos faz crescer e atingir todo um outro nível de humanidade. Acho que o filme Blindness consegue ser uma tela viva destas palavras. No nosso íntimo, sabemos que a sociedade, mesmo aquela que se diz avançada, se coze com fios demasiado frágeis e que ao mínimo abalo cedem perante os instintos primários de uma espécie que rapidamente tomou conta do planeta onde vivemos. Sabemos que à primeira tentação, o ser humano consegue trazer à superfície o pior de si, aquilo de que muitos pesadelos são feitos. E por vezes nem estamos assim tão distantes como num objecto cinematográfico. Por vezes, basta apenas ligar a televisão durante o noticiário. É por isso que Blindness consegue ser tão certeiro, tão real, tão intimidador. Porque nos revolve as entranhas, nos obriga a ver quando outros preferem virar a cara, porque é simplesmente um soco no estômago, mesmo que no final haja um pequena centelha de esperança em algo semelhante a um renascer das cinzas.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

A invenção do amor

"Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem e uma mulher um cartaz denuncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

...

É possível que cantem
mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas
Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua"

Daniel Filipe

(Obrigado pela partilha, minha querida amiga)

Inverno

Não sei se foi do facto de ter o sítio quase só para mim (as semi-celebs só chegaram depois), se foi da violência com que as ondas chegavam até à areia, o certo é que a inspiração fluiu como há muito já não acontecia. Estou contente com o resultado, mas como escrevi a alguém recentemente, sou o meu pior crítico, de maneira que ainda não é este ano que vão gastar as vossas economias a comprar um livro escrito por mim. Mas se escrevesse sempre assim (em breve...), sem dúvida que começava a fazer edições de autor e distribuía por todos os meus amigos e familiares, e poupava uma pipa de massa em prendas de Natal. Algo que, curiosamente, também comecei a fazer hoje. E lá começa a altura de fazer contas de cabeça...

:)