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quarta-feira, agosto 01, 2012

Os teclados

"Tudo é o que tem de ser, vá lá a gente saber por que se morre."


Teolinda Gersão

 

terça-feira, julho 31, 2012

... chaos will ensue.

Eu e tu não nos entendemos. Tu e eu não conseguimos perceber o que cada um de nós quer desta vida. Poderia apenas ser um problema de linguagem, afinal somos de países diferentes, mas nem isso serve como desculpa. Até porque simplesmente deixámos de falar. Já nem sequer conseguimos ouvir-nos a explicar isto e aquilo e o que está errado e o que está ainda mais errado. Discussão após discussão conseguimos espremer todo o amor que tínhamos até quase nada restar. Continuamos juntos mas apenas estamos a partilhar o mesmo espaço físico, o espaço emocional implodiu. E aqui estamos, sentados a poucos centímetros um do outro, calados, e nas nossas cabeças a milhares de quilómetros um do outro. Um de nós devia dizer algo, devia pedir desculpa, devia pedir que o outro se desculpasse. Mas nenhum se move, nenhum abre a boca, permanecemos mudos e deixamos que a angústia nos consuma. No dia seguinte, alguém vai estar a fazer as malas, a arrumar as suas coisas e algumas das que vieram para esta casa pelas mãos dos dois. Vai ser o símbolo final, o símbolo de que o nosso amor não foi suficientemente forte. Imagino que ambos estejamos a pensar numa das nossas canções preferidas e que, realmente, todo o amor do mundo não foi suficiente e apenas podemos pensar que o amor, o nosso amor, não serviu realmente para nada. A tristeza é palpável mas nem isso nos leva a dizermos algumas palavras, alguma espécie de elegia a um amor que se prepara para ser enterrado definitivamente. Ficamos quietos, cada um no seu canto, calados, sem forças para fazer ou dizer o que seja. Até ao momento em que tu te levantas e sais porta fora e eu apenas consigo sussurar pela última vez o teu nome. Júlia...


quarta-feira, julho 15, 2009

O silêncio

"Voltou-se devagar, sentou-se de novo, recomeçou a escrever, parou pouco depois, atravessou a sala sem saber ao certo o que procurava, entrou na cozinha sem acender a luz - a tristeza, pensou de repente, a chuva enervante, a tarde vazia avançando, nada se possuindo jamais, o tempo como fumo. Recomeçar? A ilusão de recomeçar. A visão fascinada e ansiosa, a serena visão desencantada. Não há nada no amor, dissera-lhe, mas sentira que essa frase era talvez absurda e corrigira: há pelo menos o amor em si próprio, mas isso era também apenas uma frase e ele odiou-se por ter cedido a tentar transpor sentimentos em palavras, porque tudo era sempre tão errado, uma vez dito. Acendeu a luz da entrada e viu-se de repente no espelho - dois momentos sobrepostos no tempo, dois corpos sobrepostos, um corpo no limiar do declínio e um corpo jovem, apressado, trémulo, procurando ainda a sua própria forma. A coragem de enfrentar o nada e continuar vivendo. O desespero como uma forma de amor, a casa oca, parada, vazia da presença dela, um vazio em que ele sofria e chamava. Sentou-se de novo diante da folha de papel, voltou a levantar-se, encostou-se à janela. A chuva caía agora com mais força, uma chuva de verão, rebentando com violência no céu ainda claro. Até ao fim do mundo iria procurá-la, pensou, como um desafio, atravessaria o mundo debaixo da chuva até encontrá-la (...)"

Teolinda Gersão


quarta-feira, outubro 29, 2008

Cavalos nocturnos

"Lisboa ruiu. As ruas, as praças, os jardins, as fontes. O rio e o mar abriram brechas, engoliram barcos e navios, levaram o horizonte, o pôr-do-sol, as casas da marginal, os restaurantes, as esplanadas, as praias. Depois o mar e o rio desapareceram, o mundo rodou sobre si próprio e sumiu no espaço.
Um minuto depois de perder-te."

Teolinda Gersão