quarta-feira, fevereiro 26, 2014

O profundo silêncio das manhãs de domingo

"O ideal, já se sabe, é que pudéssemos todos che-
gar a ser felizes. A maior parte dos vivos tem, porém,
de se contentar com a infelicidade de não chegar a
ser feliz. Sendo assim, talvez haja na ideia de uma
bela infelicidade algo de redentor, como uma espécie
de meta de consolação. Não sendo possível atingir a
felicidade, é ainda assim aceitável viver infelizmente
- se formos capazes de plantar na nossa infelicidade
um instante de doce melancolia, algo como o raio de
sol que vem tornar suportáveis as manhãs de chuva."

Manuel Jorge Marmelo

 

sábado, fevereiro 15, 2014

Pré-aviso

Hoje há mais uma sessão de vai e vem. Tornaram-se também parte da rotina dos últimos quase quatro anos de interior continental. É um par de horas que normalmente passa num instante, a mais das vezes ao som de memórias musicais de outros tempos. Talvez que a lembrar que a vida por aqui deixou, há muito, de ser uma simples linha recta, com mais curvas e contracurvas que a antiga estrada de Lamego. Vou provavelmente ter a companhia da chuva e das nuvens cinzentas que ultimamente cavalgam os nossos céus. Seja. Não é a primeira vez e não será certamente a última. As chegadas a "casa" compensam sempre os rigores das viagens, o calor dos corações que nos amam é o melhor bálsamo para melancolias e demais devaneios mentais. Vou, como também já começa a ser tradição, com a esperança de encontrar amizades várias. Dos mais diferentes recantos da minha vida, mas com a base comum de fazerem parte do meu ser. Já sei que não vou conseguir estar com todos e alguns não vão conseguir estar comigo. Faz parte. Não há problemas nem chatices, haverá mais oportunidades e não será pela falta de vaivéns. Por enquanto tem e será assim. No futuro logo se vê. É andar por aqui e assitir aos próximos capítulos. E ir gravando uns instantâneos e andar sempre com a caneta e o caderno atrás, nunca se sabe quando é que as palavras certas se poderão atravessar no nosso caminho. E é isto. Bater a porta, rodar a chave, destravar e carregar no acelerador. Vêmo-nos desse lado.


domingo, fevereiro 09, 2014

Da alma.

Houve um momento no concerto de ontem à noite onde tudo ficou claro como a água. Onde as palavras, a voz, a guitarra portuguesa, o foco de luz que atravessava a escuridão, se juntaram à enorme alma que Camané coloca nas suas canções e encheram aquele palco de uma luminosidade como poucos conseguem trazer para a música. Foi gratificante ver a sala completamente cheia a aplaudir. Mais um bonito concerto que vou guardar no meu baú de memórias portalegrenses.

"Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou."


quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O pintor debaixo do lava-loiças

"Todos os jardins da nossa infância são o jardim
do paraíso. A pele suave desses tempos em que se
corria com as pernas arqueadas soltando uma espé-
cie de luz pela respiração. Ríamos a correr para os
braços dos adultos numa entrega absoluta. Eles, os
adultos, atiravam-nos ao ar e apanhavam-nos com
mãos ásperas, e, talvez por isso, quando crescemos
nunca mais deixamos de, esporadicamente, sonhar
que voamos. E de sonhar com gigantes e anões, pois
eram essas as nossas proporções".

Afonso Cruz