segunda-feira, junho 28, 2010

Porque sim.

E porque em breve vai ser tempo de voltar a sonhar.



"People think dreams aren't real just because they aren't made of matter, of particles. Dreams are real. But they are made of viewpoints, of images, of memories and puns and lost hopes."



sábado, junho 26, 2010

Ondas Sonoras - XXXIX

"Durante los dos último años han abordado una propuesta multidisciplinar bautizada como 20 Hatz Proiekt (proyecto 20 dedos). Uno de sus nortes es la búsqueda de nuevas texturas y sonidos para la trikitixa y la txalaparta; esa totémica pareja de instrumentos vascos." (daqui)



Haja música desconhecida que nos proporciona maravilhosas descobertas. Iñaki Plaza & Ion Garmendia trouxeram consigo uma música de raíz tradicional basca, mas que está aberta a tudo o que seja sonoridades espalhadas por todo o globo, venham elas de sonoridades africanas ou indianas, ou de objectos reciclados de pvc que emitam sons que tão depressa não esquecemos. E ainda temos o prazer de ficar instrumentos como a txalaparta, a txitua, a alboka ou as harriak, com um som magnífico. Agradeça-se à organização do Festival Sete Sóis Sete Luas e marque-se novo encontro para a semana que vem!


quinta-feira, junho 24, 2010

quarta-feira, junho 23, 2010

Planespotting



Estava sentado a ver todos a fugirem. Dali conseguia ver tudo. A ponte completamente congestionada, carros e mais carros carregados de pessoas que tentavam fugir para o sul, em direcção à fronteira. Seria também esse o destino dos comboios que ao longe ouvia, o som da partida de cada vez que um arrancava, carruagens cheias, atulhadas de malas e pessoas e tudo o mais que não estivesse agarrado ao chão. E os aviões. Um após outro, com intervalos de tempo cada vez mais curtos entre partidas. Apenas partidas. Era estranho ver os aviões apenas afastarem-se do chão e nenhum deles aproximar-se da pista, como tantas vezes tinha ficado a ver da sua janela. Agora apenas os via partir. Não faltaria muito até que todos os aviões tivessem partido e o aeroporto ficasse vazio. Não haveria mais aviões, nem passageiros, nem trabalhadores, nem pilotos, nem malas, nem seguranças, nada, o aeroporto ficaria tão vazio que até as luzes da pista seriam apagadas, deixando o vazio mergulhado na escuridão para sempre. Qualquer ideia para um novo aeroporto, discussão que parecia já ter décadas e décadas, ficaria finalmente resolvida, pois nunca mais haveria necessidade de tal empreendimento. Desde o momento em que as altas instâncias políticas do país tinham feito o dramático anúncio, todos os problemas económicos, sociais, culturais, religiosos, enfim todas aquelas questões que enchiam os telejornais como balões de ar quente, tudo tinha ficado resolvido. Não mais se falaria do défice, do desemprego, da liberdade de imprensa, dos famosos, de Fátima, do nosso fado, do futebol, da selecção, tudo ficava arrumado ou, mais apropriadamente, enterrado. Assim voava a sua mente, ali com ele sentada, enquanto os últimos aviões também voavam, fugindo atabalhoadamente de um espaço aéreo cujos céus azuis celebravam as suas últimas horas de existência. E mesmo com todo este êxodo, não havia pânico. Da parte dele certamente que não, ou não continuasse ele ali sentado, no seu jardim preferido, observando atentamente todas aquelas coisas que ainda o rodeavam. Mas mesmo nos olhos de todas as pessoas que agora faziam a sua viagem para fora do país, nos seus gestos, na sua ânsia por um sítio que não estivesse condenado, não havia pânico. Na verdade, parecia algo natural, algo que inevitavelmente teria que acontecer, ou que já podia ter acontecido, mas que estava a acontecer agora, neste preciso momento. Ele quase conseguia visualizar as pessoas diante dos seus aparelhos de televisão, avisadas para a declaração anunciada, sem saber o seu conteúdo, sentadas enquanto o juízo final do país era relatado em frases analíticas e por faces cinzentas. Conseguia vê-las a lentamente desligarem os televisores, dirigirem-se aos quartos, fazendo as malas com aquilo que achavam serem os bens essenciais para a sua viagem, deixando tudo o resto para trás, desligando a água, o gás e a electricidade, como se apenas fossem de férias, como se para a semana estivessem de regresso a casa, e calmamente encaminharem-se para os seus carros, os seus autocarros, os seus comboios e para os seus aviões, caso tivessem a felicidade de possuirem o dinheiro suficiente para fazer face aos aumentos de 500% que se fizeram sentir no preço dos bilhetes assim que a declaração política tinha sido emitida. E com essa mesma tranquilidade, as cidades, as vilas e as aldeias do país foram começando a ser drenadas dos seus habitantes, movimentações massivas de pessoas que na sua grande maioria se dirigiam para a única fronteira terrestre que o país mantinha. Havia até quem pegasse nos seus barcos de pesca ou de recreio e se aventurasse em direcção ao mar, numa reedição de venturas passadas, ainda que agora a procura de novas terras se desenrolasse num pano de fundo de necessidade de sobrevivência e sem expectativas de regresso àquelas costas marítimas que em breve apenas fariam parte da memória colectiva de um povo que também ele seria uma realidade nos livros de história que porventura poderiam estar perdidos nas bagagens de uns quantos. Tantos séculos depois, o povo era devolvido novamente ao mar. Ou deveria dizer-se expulso para o mar? A ideia provocou-lhe um sorriso, algo que ele achou estranho. E não devia também ele estar a fugir? Não devia ele, por exemplo, estar num dos aviões militares que cruzavam os ares naquele momento, juntamente com outras centenas de pessoas que o exército tinha conseguido salvar? Não devia ele estar no meio daqueles homens, mulheres, crianças, idosos, políticos, carpinteiros, empresários, apresentadores de televisão, canalizadores, mecânicos, engenheiros, doutores, professores, engenheiros, militares, todas aquelas pessoas cuja única coisa que partilhavam era uma nacionalidade, uma identificação com uma terra onde tinham nascido, vivido e quase morrido, uma ligação quase inconsciente com pouco mais de noventa mil quilometros quadrados de uma terra que tinha agora apenas algumas horas mais de existência? Porque razão não se juntava ele aos milhões que agora já nada queriam com um terra prestes a cair num término sem volta? Não era por falta de crença naquele fim, ele sabia que as coisas apenas podiam acabar daquela forma, no seu íntimo sempre o soubera, pois não há nada que dure para sempre. Apenas sentia uma pontinha de incredibilidade por ver que o fim acontecia durante a sua existência, mas o que é que se podia fazer realmente? Acabou, está acabado. A questão era porquê ficar ali, sentado num banco de jardim, a fumar os últimos cigarros do seu último maço, a ver os grandes pássaros de metal voarem dali para fora, a ver o engarrafamento na ponte, não muito diferente de um dia normal de semana. Não queria fugir. Não queria passar a fronteira. Não queria voar para uma ilha paradisíaca num pacote de sete dias e oito noites. Nada disso. A única coisa que alguma vez o tinha feito feliz era aquele país. Ali tinha sentido as suas maiores alegrias e tinha sido atormentado pelas maiores tristezas. Nunca conseguiria escapar a tempo, é claro, muito menos agora que já não havia alternativa possível. Mas ele não queria. Nunca conseguiria viver fora dali. Teria que começar tudo do zero. Um novo país, uma nova língua, uma nova moeda, um novo bilhete de identidade, um novo emprego, novos amigos, novos inimigos, não, nada disso era para ele. Não. Preferia ficar ali, no seu sítio, a observar a desintegração final do país e, com ele, a da sua vida. Tinha sido uma vida engraçada, nem demasiado comprida, nem demasiado curta. Poderia ter feito mais alguma coisa com ela, mas para quê? Sentia-se feliz com o que tinha feito e agora era tarde para estar a pensar em tudo o que não tinha feito ou o que podia ter feito de forma diferente. Não, isso era para aquelas pessoas que acreditavam em reencarnações e afins, elas podiam ficar com esses pensamentos enquanto voavam dali para fora. Ele contentava-se com o que tinha, dentro de si moravam todos os anos, os meses, os dias, as horas, os minutos e os segundos que tinha passado com os pés assentes naquela terra que em breve deixaria de existir. Aquele banco de jardim seria a sua última morada e seria mais do que suficiente. E elevou os olhos para o céu onde viu o último avião a fazer pela última vez aquele trajecto aéreo que ele tantas vezes tinha visto. Parecia ser um daqueles aviões que levam quase novecentas pessoas de uma só vez. E pôs-se a pensar se aquelas novecentas almas o conseguiriam ver ali, no seu banco de jardim, se achariam absurdo aquela pessoa ficar para trás, abandonado à sua sorte numa terra com fim a termo certo. Será que sentiam pena por ele? Ou será que achavam que cada um cava a sua sepultura, e que se era isso que ele queria, em breve o havia de ter? E ele sentiu-se, de repente, sozinho. Será que seria o único a ficar para trás? Não haveria mais ninguém a sentir-se como ele? Ninguém? Bom, teria que ser assim, nada havia a fazer, não havia mais tempo para nada. Talvez para mais um cigarro, não? "Olha, parece que não." Puff. Foi-se.


terça-feira, junho 22, 2010

Escape

Diz a wikipédia,

Road movies traditionally end in one of five ways:

  • having met with triumph at their ultimate destination, the protagonist(s) return home, wiser for their experiences.
  • at the end of the journey, the protagonist(s) find a new home at their destination.
  • the journey continues endlessly.
  • having realised that as a result of their journey they can never go home, the protagonists either choose death or are killed.
  • the film ends without any implication of further jaunt.

E se quando chegamos ao final da viagem, que supostamente seria a nossa casa, o local onde tudo faria sentido, nos apercebemos que já não é a nossa casa, mas sim uma casa qualquer, onde parece que entrámos sem sermos realmente convidados, que sabemos que não conseguiremos estar ali nem um segundo mais, pois a casa apenas nos lembra a morte de algo dentro de nós, e que com todos os pecados que carregamos aos ombros, a viagem parece continuar, ainda que seja de encontro a um sinal de estrada sem saída? E aí, o que é que realmente se pode fazer?

... Infelizmente a vida não é um road movie...


sexta-feira, junho 18, 2010

Sem intermitência

"Hoje estás aqui, amanhã já não estarás."

José Saramago



(Nem sempre era fácil ler as tuas palavras que se estendiam por quilómetros e quilómetros. Na verdade, cheguei mesmo a ler livros teus que me cansavam, me deixavam de rastos e chegava a jurar que nunca mais lia nada teu. Mas depois havia todos os outros livros, os que li e me deixaram maravilhado com a tua imaginação, com os teus sonhos derramados em páginas sobre a forma de palavras salpicadas de emoções tantas. Agora que recebeste também a tua carta de cor violeta, sinto que aldrabaste a morte e o seu abraço, pois teremos sempre os teus livros para nos lembrarmos de quem foste, tu e os teus defeitos e as tuas qualidades, tu e o ser que foste.)

segunda-feira, junho 14, 2010

Is your soul weighing you down?







Ela escapou-me. Bastou virar-lhe as costas por alguns segundos e ela já não estava ali. Corri atrás dela, desenfreado, fora de mim. Como é que ela se atrevia a deixar-me? Ali, sozinho e indefeso, incapaz de me proteger contra as amarguras que me esperavam ao virar da esquina. Seria quase uma cuspidela na minha cara, querendo castigar-me por tudo aquilo que ao longo do tempo lhe tinha dado. Tudo aquilo que fazia de nós a nossa essência. E que agora ela parecia disposta a renegar, procurando fugir para onde nada daquilo fosse realidade. Porque me tratava ela assim? Quase não sentia forças nas pernas e quase já não a via no labirinto das ruas da cidade. Porque me tratava ela assim? Tinha-lhe prometido que nunca seria capaz de me separar dela, mesmo naquelas alturas em ela me sufocava, quando eu já não conseguia respirar de tanta aflição, quando o nó do estômago me apertava com tal força que não sentia nada no meu corpo. E mesmo assim... Nem sequer se despediu. Nem sequer um até sempre. Nada. Rigorosamente nada. Espezinhava sem misericórdia toda a nossa vida em conjunto. Ela parecia voar para longe, afastando-se mais e mais, enquanto eu apenas tentava manter-me minimamente equilibrado à medida que sentia todos os meus músculos implodirem numa manobra conjunta para me fazer parar sem a alcançar. E depois deixei de a ver. E deixei-me encostar a uma parede e escorreguei até o meu corpo atingir o chão. E tão depressa como ela se tinha apercebido da sua condição de estar acorrentada a mim até ao fim dos nossos dias, assim tinha desaparecido para sempre da minha vida. Pensei que iria chorar convulsivamente. Pensei que não iria conseguir mais viver. Pensei que em breve todo o mundo poderia ler o meu nome numa qualquer lápide. Pensei em tudo e em nada. E quando me dei por mim, senti que nada disto se estava a passar. Que por mais que pensasse que a vida tinha terminado, o que realmente estava a sentir é que a vida estava apenas a começar. E que agora que ela já não estava ali, sempre comigo, sentia uma vontade de viver como nunca tinha sentido. Mesmo que estivesse incompleto, como estava. E no meu íntimo algo me dizia que ainda não tinha sido a última vez que a tinha visto. Não conseguia perceber isto, mas a verdade é que enquanto também eu me afastava dela, apenas me conseguia lembrar de algo que tinha lido uma vez,

"O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende."



(Um filme bonito. Acho que é só isso que posso dizer. Ou então dizer que um dia gostava de escrever uma história assim. De um humor agreste, de uma humanidade desconcertante, de um mundo que quase não nos deixa espaço para descobrirmos quem realmente somos. Gostava mesmo de escrever coisas como esta bonita história. Vou vê-lo outra vez, para ver se aprendo alguma coisa...)




segunda-feira, junho 07, 2010

Um buraco no coração





(ou como por vezes apenas apetece desviar o olhar e não pensar em mais nada...)


domingo, junho 06, 2010