segunda-feira, junho 14, 2010

Is your soul weighing you down?







Ela escapou-me. Bastou virar-lhe as costas por alguns segundos e ela já não estava ali. Corri atrás dela, desenfreado, fora de mim. Como é que ela se atrevia a deixar-me? Ali, sozinho e indefeso, incapaz de me proteger contra as amarguras que me esperavam ao virar da esquina. Seria quase uma cuspidela na minha cara, querendo castigar-me por tudo aquilo que ao longo do tempo lhe tinha dado. Tudo aquilo que fazia de nós a nossa essência. E que agora ela parecia disposta a renegar, procurando fugir para onde nada daquilo fosse realidade. Porque me tratava ela assim? Quase não sentia forças nas pernas e quase já não a via no labirinto das ruas da cidade. Porque me tratava ela assim? Tinha-lhe prometido que nunca seria capaz de me separar dela, mesmo naquelas alturas em ela me sufocava, quando eu já não conseguia respirar de tanta aflição, quando o nó do estômago me apertava com tal força que não sentia nada no meu corpo. E mesmo assim... Nem sequer se despediu. Nem sequer um até sempre. Nada. Rigorosamente nada. Espezinhava sem misericórdia toda a nossa vida em conjunto. Ela parecia voar para longe, afastando-se mais e mais, enquanto eu apenas tentava manter-me minimamente equilibrado à medida que sentia todos os meus músculos implodirem numa manobra conjunta para me fazer parar sem a alcançar. E depois deixei de a ver. E deixei-me encostar a uma parede e escorreguei até o meu corpo atingir o chão. E tão depressa como ela se tinha apercebido da sua condição de estar acorrentada a mim até ao fim dos nossos dias, assim tinha desaparecido para sempre da minha vida. Pensei que iria chorar convulsivamente. Pensei que não iria conseguir mais viver. Pensei que em breve todo o mundo poderia ler o meu nome numa qualquer lápide. Pensei em tudo e em nada. E quando me dei por mim, senti que nada disto se estava a passar. Que por mais que pensasse que a vida tinha terminado, o que realmente estava a sentir é que a vida estava apenas a começar. E que agora que ela já não estava ali, sempre comigo, sentia uma vontade de viver como nunca tinha sentido. Mesmo que estivesse incompleto, como estava. E no meu íntimo algo me dizia que ainda não tinha sido a última vez que a tinha visto. Não conseguia perceber isto, mas a verdade é que enquanto também eu me afastava dela, apenas me conseguia lembrar de algo que tinha lido uma vez,

"O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende."



(Um filme bonito. Acho que é só isso que posso dizer. Ou então dizer que um dia gostava de escrever uma história assim. De um humor agreste, de uma humanidade desconcertante, de um mundo que quase não nos deixa espaço para descobrirmos quem realmente somos. Gostava mesmo de escrever coisas como esta bonita história. Vou vê-lo outra vez, para ver se aprendo alguma coisa...)




Sem comentários: