sexta-feira, agosto 17, 2012

Cinco dias

Nunca é tempo suficiente. Fica sempre algo por dizer, por fazer, por pensar, por sonhar. Quando o tempo se esgota, olha-se para trás e fica-se sempre com a amarga desconfiança que o tempo passou demasiado depressa. Que toda a mistura de memórias felizes eternamente guardadas nos recantos da alma com todas as lágrimas que se vai derramando escondidos da multidão deixa sempre uma névoa sobre nós. Os reencontros, as cumplicidades, as mesas cheias de caras risonhas, tudo isso não tem preço e faz com que o mundo seja a nossa ostra. Esses momentos já ninguém me tira, e felizmente preencheram tantas horas que quase parecia que tinha recuado no tempo, até aos dias em que as férias duravam e duravam. Tantos abraços, tantos beijos, tantos olhos a brilhar na minha frente, tanta história que atravessa quase trinta e seis anos de vida "conjugal". Como é que se explicam tantas e tantas afinidades? Como é que se explica que se dobre uma esquina quase a correr para esconder as lágrimas de alguém que chora já uma despedida que nunca se sabe se será a última? Como é que se explica que perante pessoas que sempre conhecemos de outra maneira, tenhamos que manter um débil sorriso e pensar que o dia de amanhã vai trazer melhoras? Se calhar não se explica. Se calhar só o nosso coração percebe o porquê de amarmos todas estas pessoas. E depois há toda aquela terra. Uma terra que noutros tempos conhecemos tão bem e que agora apenas conhecemos a sua geografia física. Que sentimos um peso no peito quando entramos no jardim das tabuletas e de quase todos os cantos sentimos os olhos de tantas e tantas pessoas que nos conheceram, que nos amaram. É o local mais triste que conheço hoje em dia. Mas depois basta passar o portão, descer uns quantos metros de pedras calcetadas e entrar numa casa construída com suor e traballho, ver as uvas a pintar, sentir o cheiro dos grelhados, e ter um encontro imediato com o sagrado coração, versão tresloucada e ovelha negra da família. E tudo está bem, mesmo do outro lado da encosta onde sabemos que sim está bem, que sim tem imensas saudades de nós, e que sim os nossos encontros serão a partir de agora um enorme turbilhão de emoções que iremos guardar dentro de nós até ao final dos nossos dias. Que esse dia esteja bem longe é que o desejo mais.



5 comentários:

Ana M. disse...

Sofres de saudade antecipada, sofres por tanto amar e por no alto da tua própria idade (quase a meia idade) sentires as marcas que as vidas dos outros vão deixando em ti. Que deixaram em ti. Que deixarão um dia em ti.

A saudade dói para sempre, meu caro Nuno, mas o Amor... ahhh esse é eterno! Ultrapassa para lá de todos os limites do tempo e faz um ateu querer acreditar em Deus.

(Nunca voltes onde foste feliz e eu já lá levo quase dois anos)

LMGS disse...

"Crescer" tem destas coisas, querido amigo. É o percurso da saudade que deixamos e que nos deixam os outros que nos serve de medida para avaliar a forma como vivemos. Um abraço "beirão", porque felizmente na nossa estás presente, e deixas saudades...

Nuno Guronsan disse...

Meus amigos, as vossas palavras, como de costume, deixam-me sem as mesmas. Sois ambos, à vossa maneira e de formas que a razão desconhece, duas lindas "marcas" no meu coração de meia-idade. E as saudades que sinto de vocês merecem muito mais do que apenas cinco dias. Mas se tivessem que ser, que fossem tão intensos como estes que aqui deixei.

Beijos e abraços enormes, meus Amigos!

Ana M. disse...

Vê se te deixas de cenas e vens cá para deixares saudades pela ilha verde ;)

Beijo imenso

Nuno Guronsan disse...

Eu sei, eu sei. Estou em falta para contigo e com as ilhas. A ver se me "espalho" de saudades por aí.

:))

Beijo grande, minha redondinha fofinha :))))