domingo, dezembro 30, 2007

Em repeat

"You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you."

(...siga para 2008...)


Epígrafe para a nossa solidão

"Cruzámos nossos olhos em alguma esquina
demos civicamente os bons dias:
chamar-nos-ão vais ver contemporâneos"

Ruy Belo


O ano acaba amanhã

Uma fotografia a preto e branco.
Era isso que acompanhava o teu postal de Natal. Apenas e só.
Confesso que não estava à espera. De rigorosamente nada. Afinal, não era como se tivéssemos ficado um par de bons amigos. Muito pelo contrário. Assim de repente, não me lembro de um ódio mais visceral que me tenha acompanhado durante a minha vida. E não minto se disser que do teu lado as palavras que poderias escrever sobre nós não seriam muito diferentes daquelas que agora aqui deixo. E mesmo assim deste-te ao trabalho de me mandar aquilo.
Uma fotografia banal. Uma fotografia de uma rua que podia ser a rua de uma qualquer cidade, ou vila, ou aldeia, de um qualquer país não identificado.
Só tu e eu sabemos o que aquela rua significou. Só no passado. Hoje significa pouco mais que nada.
E mesmo assim colocaste-a num envelope e mandaste-a para mim.
Poderia ficar a questionar-me para todo o sempre. Mas no fundo, ou mesmo à flor da pele, sei perfeitamente porque o fizeste. Porque, como já aqui escrevi, o teu ódio por mim parece não conhecer limites nem prazos de validade. E para ti, o rodar da faca, o fluir do sangue, a estocada final, veio dentro de um envelope, qual presente envenenado. E olhando para o preto e para o branco, quase consigo ouvir o teu riso, o riso de alguém que sabe que se antecipou ao meu próprio desejo de te magoar. Sim, é verdade, eu próprio queria ter feito isto. E não fosse o infindável labor destes dias, seria isso mesmo que eu teria feito. Assim, resta-me ficar aqui, consumido pela minha dor e imaginar-te troçando de mim, de nós, de tudo aquilo que ficou para trás das nossas costas.

Seria tão fácil rasgá-la, mas acho que a vou colocar naquela moldura que me ofereceste o ano passado. Afinal de contas, nunca fizeste nada ao acaso, nem mesmo quando tiraste a fotografia...

Instantâneo de Natal - XVI


Restelo, Lisboa

sábado, dezembro 29, 2007

Os amigos

"Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor"

José Tolentino Mendonça


sexta-feira, dezembro 28, 2007

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Terapia escandinava

"Can you hear the beat of my heart?..."



Pudera, depois de quarenta piscinas em pouco mais de meia hora... Até do outro lado do planeta se deve ouvir perfeitamente... Ou então é o excesso de glucose a falar...


sábado, dezembro 22, 2007

"Porque é que não cresces, porra?"


Porque, e fazendo uma analogia armada ao pingarelho, gosto de preservar uma moldura temporal daqueles por quem tenho afeição. Mesmo que passemos a noite a falar de limoeiros... Obrigado.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Prenda de Natal

Gostava de manter a tradição, por isso tinha colocado a árvore na sala, decorando-a com todas as pequenas preciosidades que Beatriz tinha feito com as suas próprias mãos, naquele primeiro Natal longínquo, passado em conjunto. De certa forma, enquanto fazia o pequeno ritual que iniciava todos os Natais desde então, de certa forma, pensava ele, sentia-a mais próxima de si, quase conseguindo ouvir a sua voz e o seu riso que ecoava por toda a casa, suplantando de uma forma doce e delicada todas as músicas que pairavam por ali, naquela época do ano. Mesmo assim, aquela era a altura do ano em que o seu coração mais se apertava com a ausência de Beatriz. Tinham vivido uma vida inteira unidos por um amor interminável e agora ele tinha de seguir essa vida por si próprio, sem a outra metade de si mesmo. Não havia mágoa, apenas uma inabalável saudade.

Ao lado da lareira, as luzes da árvore brilhavam como pequenos pirilampos perdidos. Era altura de preparar a mesa da consoada. Não tardariam a chegar os seus filhos, noras, genros, netos e uma pequenina bisneta que iluminava toda aquela enorme casa. Todas aquelas pessoas que continuavam a fazer do Natal a sua altura preferida do ano. Mesmo sem Beatriz. Mas ao mesmo tempo, em todas aquelas caras que se reuniam à volta da mesa, comendo, bebendo, conversando, rindo e sim, mesmo por vezes chorando, em todas elas acabava por ver a presença da sua esposa, na felicidade que ela sentia de cada vez que a família se reunia para partilhar todas as recordações de mais um ano, enquanto presentes eram abertos e cumplicidades partilhadas. Uma e outra vez.

A mesa estava pronta, só faltavam os convidados. Enquanto esperava, ia olhando para as paredes de tanto tempo, onde fotografias e mais fotografias de Beatriz se tinham acumulado ao longo dos anos. Dos momentos bons e de outros menos bons. Desde o seu casamento até à sua primeira gravidez. Aquela pequenina alma que apenas tinha vivido com eles alguns dias até ao momento em que se tinha extinguido. Miguel. O seu primeiro filho. Quantas alegrias ou tristezas poderia ele ter trazido consigo. Até onde poderia ter chegado. Assim não haveria de acontecer. Na altura, foi a primeira vez que sentiu a dor como nunca a tinha sentido. Por Miguel e por tudo aquilo que passou com Beatriz. De uma coisa tinha a certeza, foi nesse momento que o seu amor se revelou verdadeiramente e soube que iria passar todos os seus dias ao lado daquela mulher generosa, viva, feliz como poucos. E com o passar dos anos, todas as ramificações que deles os dois tinham brotado, eram expressões de felicidade do amor que sentiam um pelo outro. Todos os dias.

Era por tudo isto que continuava a celebrar o Natal e cada vez com mais entusiasmo. Porque, para lá dos presentes, das rabanadas, do vinho do Porto com que todos os anos brindava, das luzes de Natal, da confusão generalizada à mesa, para lá de tudo isso, o Natal acabava por ser a ocasião em que sentia Beatriz mais próxima de si, na sua alma e na de todos os que entravam por aquela porta e se juntavam à festa. E era por isso que agora, no momento em que a campainha tocou, o seu sorriso se tornou ainda mais largo e uma pequenina lágrima rolou pela sua face abaixo. O Natal tinha acabado de chegar. E mais logo, seria a altura em que mais uma vez recitaria o poema preferido de Beatriz, aquele que todos eles já sabiam de cor e que sabiam ser a memória mais bonita que tinham daquele anjo que tinha passado pelas suas vidas...

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sitio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.

Procuremos o rastro de uma casa,

a cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.

Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.




terça-feira, dezembro 18, 2007

"Ninety orbits around the sun..."





Congratulations, sir Arthur, and may you live as long as the stars over our heads.


segunda-feira, dezembro 17, 2007

Instantâneo de Natal - XI & XII




















C.C. Allegro, Alfragide

O Vendedor de Passados

"Passa-se com a alma algo semelhante ao que acontece à agua: flui. Hoje está um rio. Amanhã estará mar."

José Eduardo Agualusa


terça-feira, dezembro 11, 2007

domingo, dezembro 09, 2007

Domingo, de manhã

Palavras de Anselmo Borges que me fazem ter alguma esperança.

"Crer, acreditar, significa entregar-se confiadamente a Deus. E agir em consequência.

(...)

Na Escritura diz-se que os demónios também acreditam em Deus. Mas isso não faz com que eles se tornem bons.

(...)

e neste sentido, o cristianismo está para lá da confessionalidade religiosa, surge como verdadeiramente universal. Trata-se de fazer bem àquele que precisa, independentemente de tudo, e até da sua religião.

(...)

O mais importante é o amor entre os seres humanos, é fazer o bem, e fazê-lo de modo verdadeiro, e eficaz - não falo da pequena caridade, mas da transformação das estruturas sociais, políticas, económicas, de tal modo que todos os homens possam realizar a sua humanidade.

(...)

Um Deus em nome do qual se fazem guerras é um Deus abjecto. Um Deus que às vezes se anuncia contra a ciência é um Deus no qual não se pode acreditar. Um Deus que se confunde frequentemente com o dinheiro é um Deus idolátrico. Um Deus que humilha, que discrimina, que escraviza, que impede as pessoas de se cumprirem como homens e mulheres, que deus-ídolo é este? É então preferível ser ateu.

(...)

A Igreja, que é universal, tem alguns problemas pela frente. Um deles tem a ver precisamente com as mulheres. É preciso que se reconcilie com as mulheres.

(...)

A Igreja Católica não pode pregar os direitos humanos fora dela, quando não os pratica no seu seio.

(...)

Mas o fundamentalismo é anti-religioso, no sentido profundo da palavra.

(...)

Nenhum homem nem nenhuma mulher, nenhuma religião, nenhuma política, nenhuma ciência, nenhuma filosofia possui o fundamento. É ao contrário: é o fundamento que nos possui.

(...)

Por vezes há religião a mais, sim.

(...)

As palavras das celebrações têm de ser vivificantes, têm de poder dar um horizonte de sentido à vida das pessoas, que é tão complexa. Palavras vivas contra a banalidade, contra o consumismo, contra o rasteiro e a superfície.

(...)

O cristão não pode pretender converter o budista, nem o inverso. Porque não dialogamos os dois para nos convertermos ao mistério, e sairmos reforçados, o cristão mais cristão, e o budista mais budista? É para aí que devemos caminhar. E deste diálogo inter-religioso fazem parte os ateus. Porque são quem tem uma melhor situação para denunciar o execrável, a desumanidade da religião. Os ateus obrigam-nos a repensar, a acordar.

(...)

A paixão por Deus tem de se traduzir em compaixão pela humanidade."


Pelo meio destas palavras também estou eu. E deve estar também aquele casal de ontem, com idades para serem meus avós, e cujas palavras me deixaram a mim sem as ditas cujas, fazendo-me um pouco mais feliz, no meu íntimo.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Instantâneo de Natal - VII


Praia da Torre, Oeiras

Nevoeiros

E depois venham falar-me em introspecção.
Em olhar através da janela e apenas ver a chuva a bater no vidro enquanto sentimos um calafrio a percorrer a totalidade da nossa espinha dorsal.
Pensar no que é que realmente fizémos da nossa vida até este momento no tempo, se estamos realmente satisfeitos com isso ou não, ou o que é que nos aguarda ao virar da esquina.
Recordar aquela paixão, aquele amor que nos deixou vazios por dentro no exacto segundo em que terminou e pensar que se calhar, por um mero acaso, até podíamos ter salvo os nossos corações, o meu e o dela.
Que a realidade é dura e por vezes cospe-nos na cara e nós não queremos dar a outra face, mas acabamos por cometer os mesmos erros, uma e outra vez.
Que o tempo de pensarmos que podemos mudar o mundo está morto e enterrado.
Que poderia ser tanto mais fácil se simplesmente baixássemos os braços e nos rendéssemos, parássemos de tentar remar contra a forte maré em que estamos e nos deixássemos apenas envolver pelos nossos inocentes sonhos de infância.
Pensar que a memória é algo de inútil quando só nós a utilizamos e mais ninguém.
Pensar que estamos a ficar mais velhos e que não ganhamos rigorosamente nada com isso.
Pensar que a vida nos traiu em algum ponto de viragem da nossa vida e que em vez de olharmos para nós, mandamos as culpas para cima de alguém que nem sequer sabemos se realmente existe.
Que somos uns coitadinhos que não merecem compaixão de ninguém, muito menos amor.

E depois venham falar-me em introspecção.
Quando já foi tudo explicado por este senhor. Sem espinhas e sem meditações.


terça-feira, dezembro 04, 2007

Instantâneo de Natal - V


Lourel, Sintra

Mágoa

substantivo feminino


1.
efeito de magoar; nódoa ou marca produzida por contusão;

2.
tristeza; desgosto; amargura;

3.
dor de alma;

(Do lat. macùla-, «mágoa»)

(in Infopédia)

(o sublinhado a vermelho é da minha autoria.)

domingo, dezembro 02, 2007

Da verdade do amor

"Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito

pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados

não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor"

José Tolentino Mendonça


(Isto faz-me lembrar um grande amigo meu que, espero, tenha encontrado a sua própria versão da verdade do amor e que a mesma cresça, sem rumor mas com o enorme brilho a que ele tem direito.)

Clone


(Este podia ser eu, mas não é. Até porque eu não gosto muito de acessos condicionados.)

Espelho

Era a sua obcessão. O seu televisor privado. A única forma que reconhecia como a sua aproximação às demais pessoas que o rodeavam todos os dias. Ali, ao olhar pelo espelho retrovisor, era quanto se sentia mais humano, mais real. Era capaz de ficar a olhar horas e horas para aquilo que se passava nos automóveis que passavam atrás de si. Devia ser por isso que tinha escolhido aquele emprego, que lhe permitia passar grande quantidades de tempo atrás do volante e diminutos minutos no escritório, onde teria que comunicar com palavras verdadeiras com os seus outros colegas. Ali, dentro do carro, não era obrigado a isso, podia contentar-se em ler os lábios e as conversas das pessoas no seu espelho retrovisor. O seu "horário nobre" eram os engarrafamentos, quando ficava parado num mar interminável de veículos e podia ver ainda mais atentamente os seus "programas retrovisivos". Um casal que discutia e gritava, enquanto invocava razões e mais razões para um deles ficar com a custódia da criança que chorava compulsivamente no banco de trás. Uma outra criança que contava à mãe como tinha corrido o seu primeiro dia de escola e como os seus novos colegas não o gozavam por andar numa cadeira de rodas. Um velhote que conduzia sozinho e ia cantarolando uma música antiga da Madonna. Um homem que falava ao telemóvel e dizia à pessoa do outro lado que mais uma vez se tinha esquecido de tomar a vacina da insulina, enquanto deitava pela janela um invólucro vazio de um Mars. Um outro casal que não dizia uma única palavra, os olhares distantes um do outro, tentando evitar qualquer troca de emoções. Ou um outro casal ainda que falavam dos seus planos de sair da cidade, ir para uma pequena terra no interior e começar toda uma outra vida, quem sabe com filhos ou, na melhor das alternativas, com gatos e cães. Tudo aquilo ele observava e sentia como se fosse a sua própria vida que estivesse em jogo em todas aquelas pessoas e palavras que passavam pelo espelho. Umas vezes reencontrava-as, num outro engarrafamento, num outro mês ou ano, a maior parte das vezes transformavam-se em fantasmas do seu passado, que o atormentavam em sonhos pela noite dentro. Tal como as sombras escuras que não conseguia distinguir quando tinha que conduzir à noite. Era o fecho da emissão. A mesma só seria retomada no dia seguinte, quando novas personagens surgissem no seu pequeno televisor que apenas via a vida lá atrás. Enquanto a sua própria vida se esfumava e ele não era obrigado a ter de vivê-la, aquela coisa indefinível e sem forma que ele próprio não sabia como lidar e com a qual não queria mesmo viver. Mas, como alguém diria, "assim é a vida: atenção ao prazo de validade."

RC)


domingo, novembro 25, 2007

Recorrente

(press play)



Retirou a faca enquanto ouvia o som característico da lâmina dilacerando a carne. Olhou para o sangue vermelho e espesso que pingava abundantemente da sua arma. Tinha de admitir um certo prazer secreto em ver as pequenas gotas libertarem-se da lâmina e tombarem indefesas sobre o solo. Era um pequenino pormenor mas que era bem mais saboreado que a torrente de sangue que corria da ferida aberta. O mesmo acontecia com a vítima. Preferia sempre o momento em que chegava o último sopro de vida a todo o esgar de dor que sucedia até à altura em que tudo ficava inerte. E normalmente bastava apenas um gesto da sua lâmina. Não mais que um gesto. Não gostava de actos repetidos. Pelo menos não sobre o mesmo pobre coitado. Porque no fundo não passava disso mesmo, um acto de pena, ou melhor de compaixão. Sentia que a morte que a sua faca lhes trazia era uma espécie de redenção, um fim para todos os pecados imundos que tinham cometido durante as suas patéticas vidas. E no fim de contas era uma morte mais sublime do que uma estúpida bala entre os olhos. No início tinha sido assim, mas detestava toda a nuvem de restos de sangue e massa encefálica que todo o acto deixava por terra. E as lâminas tinham sido sempre o seu fascínio. E o sangue com que as brindava era uma obra de arte difícil de reproduzir. E em vez de servirem para cortar pulsos, serviam muito melhor para cortar aqueles estúpidos relacionamentos em que se deixava envolver, uma e outra vez. Ela sempre tinha adorado analogias...


Instantâneo de Natal - III


Chiado, Lisboa

quinta-feira, novembro 22, 2007

Sûr le pont

Elle était lá. Sûr la place oú tant de fois je l'avais trouvée. Ou tant de rencontres étaient arrivées. Sûr le pont. Mieux disant, sûr sont pont. Ou sûr le pont qu'elle disait être sien. Elle disait que c'était le seul endroit oú elle se sentait en paix, loin de tout et de tous, y compris ce narrateur. C'est vrai, c'était aussi pour ce pont qu'elle fuiait de moi, exactement comme c'était arrivé ce jour lá. Ça n'intéressait pas combien de fois je lui déclarais mon amour, ça n'intéressait pas que mon coeur battait plus fort à chaque fois qu'elle était avec moi, ça n'intéressait pas que j'ai tout abandonné et soit venu dans cette ville éloignée seulement pour être avec elle, pouvoir l'embrasser ou tout simplement réspirer le même air qu'elle. Rien de celà n'était important. Si elle trouvait pour une seconde que mon amour n'était véritable, que j'étais amoureux d'une autre femme, que je ne lui donnais toutes les secondes de mon vivant, elle se lançait en une évasion galopante, à destination toujours marquée par ce pont. Donc j'ai arreté de toujours courir dérriére elle, je savais que ce n'était pas une évasion dans le vrai sens du mot. Quand ont veut être retrouvé, on ne s'enfuit pas, n'est-ce pas? Et elle était lá dans la même position de toujours, comme si s'était encore une de ces statues qui ornaient les deux côtés du pont. Mains acrochées aux pierres millénaires du pont, cheveux au vent, en voyant le soleil se coucher á l'horizon du fleuve. Et c'était sûr cette même place qu'elle fesait partie de moi. C'était lá que je la voyait comme la plus belle des visions que jamais je n'aurais vue. Et en même temps, sachant qu'elle était venue lá parce qu'elle n'avait pas supporté ma présence, cétait aussi lá que mon coeur était le plus ravagé. Même en sachant quel serait le résultat de toute cette mise en scéne. Même en sachant qu'elle serait bientôt à nouveau dans mes bras, même comme ça mon coeur souffrait et mon âme devennait comme folle. Et ces brefs moments, entre mon arrivée au pont et le moment oú elle s'apperçu de ma présence c'étaient comme des couteaux qui transperçaient ma poitrine. Et c'étaient des cicatrices que même la répétition de sa course en ma direction ni revoir ses larmes n'effaçaient tout mon amour pour elle. Que même comme ça persistait et fesait semblant de ne pas entendre tous les appels que mon cerveau donnait pour s'enfuir de ce pont, de cette ville, de cet amour que je savais me consommait un peu plus tous les jours. Et que probablement me rongerait jusqu'à la fin de mes jours, autant de fois qu'il faudrait marcher jusqu'á ce maudit pont. Autant qu'elle me laisse l'aimer sans limites...



(Obrigado, Cláudia. Isto foi mesmo especial.)

terça-feira, novembro 20, 2007

[xv]

quando as serpentes regatearem o direito a colear
e o sol fizer greve para ganhar o salário mínimo -
quando os espinhos olharem as suas rosas alarmados
e os arco-íris estiverem seguros contra a velhice

quando um tordo não puder cantar nenhuma lua nova
se todas as corujas não tiverem aprovado a sua voz
- e qualquer onda assinar sobre a linha ponteada
senão um oceano é obrigado a fechar

quando um carvalho pedir licença á bétula
para criar uma bolota - os vales acusarem as suas
montanhas de terem altitude - e março
denunciar abril por sabotagem

então acreditaremos nessa incrível
humanidade inanimal(e não antes)

e.e. cummings


Instantâneo de Natal - II


(Saldanha, Lisboa)

segunda-feira, novembro 19, 2007

Esplanadas

"Um sofrimento parecia revelar
a vida ainda mais
a estranha dor de que se perca
o que facilmente se perde
o silêncio as esplanadas da tarde
a confidência dócil de certos arredores
os meses seguidos sem nenhum cálculo

Por vezes é tão criminoso
não percebermos
uma palavra, uma jura, uma alegria"

José Tolentino Mendonça


quinta-feira, novembro 15, 2007

Screwdriver Darts

Paul Auster escreve livros.
Paul Auster realiza filmes.

Quando se lê um livro de Auster, percebe-se que ele também faz filmes. Quando se vê um filme de Auster, percebe-se imediatamente que ele também escreve livros.

Quem gosta de ler os seus livros, também vai gostar de ver "A Vida Interior de Martin Frost", pois vai ser confrontado exactamente com o mesmo universo Austeriano que percorre as páginas dos seus livros. Pequenos momentos do quotidiano na vida de pessoas perfeitamente normais que, por um instante ou por uma eternidade, são confrontados com factos fora do comum. E acabamos no lugar no protagonista, tentando descobrir o sentido por detrás de todos os eventos que lhe/nos acontecem. Tal como Martin Frost, também queremos saber quem é Claire, de onde ela veio e como é que conseguiu deixá-lo/nos completamente apaixonados por ela.

Quase que se podia dizer que entrámos na Auster Zone, onde nada é realmente assustador, quanto muito intrigante e de certeza absoluta inesquecível.

quarta-feira, novembro 14, 2007

"A Partir de Amanhã"

"Desafiada pelo Teatro Maria Matos a criar uma peça para o espaço do mm Café, Cláudia Gaiolas encena e interpreta um monólogo que Tiago Rodrigues escreveu para a actriz. O ponto de partida para a criação deste espectáculo é a ideia de "agenda", de organização do tempo, de lista de sonhos, direitos e deveres, de como as leis que criamos para organizar a nossa vida podem ser as ferramentas da felicidade e, ao mesmo tempo, as paredes de uma prisão."

Curiosa esta sinopse. Porque, para além da interpretação agradável da Cláudia e de um texto escorreito e engraçado do Tiago, fico com a sensação que tinha mesmo que assistir a esta peça por estes dias. Mais não seja pela maneira como tenho olhado de fora para esta vida que sigo, dia após dia, e como a vista não me parece nada má. Sinto que tenho conseguido explicar melhor (àqueles que interessam) aquilo que normalmente são apenas sinápses, passando de um neurónio para outro. As conclusões que ficam já não são novidades para mim, apenas muito provavelmente para aqueles com quem as tenho partilhado. É que mesmo que por um infímo momento fique a ideia do "mereço mais" ou "tenho potencial para mais", a verdade é que gosto de ter os pés bem assentes na terra, por mais que em algumas alturas seja uma terra agressiva e cheia de pedregulhos para percorrer. É que, do outro lado da esquina, os pés também vão percorrendo a areia dos dias, aquela que é feita de pequenos estilhaços de felicidade... Como o dia de ontem ou a noite de hoje... Simples mas verdadeiros...


domingo, novembro 11, 2007

Sondagem Cinzenta - VIII


Tirem as vossas próprias conclusões. O meu voto foi para a penúltima opção, muito por causa de uma visita às Nações Unidas onde vi números que tão facilmente não irão sair da minha cabeça...

quinta-feira, novembro 08, 2007

Instantâneo de Natal


(Tapada das Mercês)


A fazer-me recordar dois pequenos textos que muito gostei de escrever. Um aqui e outro acolá.

quarta-feira, novembro 07, 2007

terça-feira, novembro 06, 2007

Ondas Sonoras - XXX




O rapaz tem 21 anos e toca uma quantidade infindável de instrumentos como trompete, piano, acordeão, bandolim e percursões várias. E também canta, num timbre esquisito para uma pessoa tão nova mas que acaba por fazer todo o sentido no contexto musical envolvente. E que contexto... Apenas consigo dizer que a música de Zach "Beirut" Condon me transporta para outros sítios. Sítios longe daqui, onde podemos dar largas à nossa felicidade, aos nossos amores, às nossas vozes e às nossas danças. Sítios onde podem haver festas ciganas, ou um pôr do sol junto ao Sena, com um copo de vinho na mão. Ou simplesmente lembrar-nos aquela vez em que demos a mão à pessoa que amávamos e dançámos até ao fim da noite... Escusado será dizer que as músicas de Beirut têm passado horas e horas na aparelhagem, a acompanhar este sol desavergonhado de Novembro...

quinta-feira, novembro 01, 2007

Sinceridade

substantivo feminino


1.
qualidade do que é sincero; franqueza;

2.
honestidade; lisura; lhaneza;

3.
verdade;

(Do lat. sinceritáte-, «id.»)

(in Infopédia)


Definitivamente, prefiro a definição saída da pena de mestre Confúcio Costa,

“Senhor agente, a minha primeira intenção era, de facto, a de participar o ocorrido à polícia. Mas depois disseram-me que teria de o participar às autoridades competentes.”

E isto num dia onde, por um infímo segundo, acabei por trair a minha própria sinceridade.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Darfur - Bagdade - Cabul - ...

Páro e a minha respiração fica suspensa. Olho o teu rosto. Os teus olhos parecem dois enormes buracos negros, com o olhar perdido algures. Apenas tens sobre ti uma camisa suja e demasiado grande para o teu pequeno tamanho. Mesmo assim, por baixo dela, consigo contar todas as tuas costelas, pequeninas e estreitas, tal como a criança que és. Os teus braços elevam-se na minha direcção, procurando uma ajuda que tarda em chegar e que muito provavelmente vai chegar demasiado tarde. Sente-se que tens uma sombra de morte sobre ti, um peso enorme para um ser tão pequeno como tu. Fecho os olhos antes que as lágrimas façam sentir a sua presença.

A tua cara mudou. O tom da pele é agora muito mais claro e os teus olhos passaram a ser duas pequenas fendas numa cara pálida, num rosto sujo sob um cabelo desgrenhado. Percebo que alguém te limpou a cara, mas mesmo assim as manchas ainda são perceptíveis. As mesmas manchas vermelhas e negras que ensopam as tuas roupas. Fisicamente pareces estar ilesa, o sangue deve ser na sua quase totalidade de outrém, mas olhando-te, assim indefesa e com as lágrimas percorrendo a tua face, sei bem que tens cicatrizes, daquelas profundas que te irão acompanhar pelo resto da tua vida que ainda agora está a começar. Tento imaginar quem te terá defendido das balas, quem terá trocado a sua vida pela tua, e fico na dúvida se eu próprio seria capaz de tamanho sacríficio, de me imolar só para que tu pudesses viver mais um dia num país infernizado pela guerra. E desta vez as minhas lágrimas acompanham as tuas.

Deixei de ver a tua cara. Continuas a ser uma criança mas sem rosto. Esse foi tapado, por alguém com uma mente ainda mais tapada. Não sei qual é o teu aspecto por baixo dessa túnica fechada que te cobre até aos tornozelos. Há um pequeno rendilhado sobre os teus olhos que não os esconde completamente. Sinto um aperto no coração ao constatar que estou a olhar para uma criança que está numa prisão, atrás de grades feitas de tecido, que a vão enclausurando a cada dia que passa. Vejo-te sem liberdade, oprimida, impedida de ser uma verdadeira criança, daquelas que riem e brincam e correm e sorriem. Tudo sentimentos que nunca irás experimentar, apenas porque os teus genes ditaram para ti um sexo diferente daquele que te governa e explora com punho de ferro. Sinto asco e vergonha de pertencer a esse mesmo sexo que te obriga a crescer antes de tempo. Estendo a minha mão para ti, na vã esperança de te poder salvar de um destino implacável.

A minha mão toca no ecrãn do televisor. As imagens vão passando e mais crianças aparecem, de diferentes países e continentes, mas quase todas com o mesmo destino marcado. Fome, guerra, maus-tratos, descriminação, xenofobia, tudo isto elas sofrem na pele. E eu sinto-me impotente, ao ver as suas faces, dia após dia, reportagem após reportagem. E limito-me a chorar lágrimas amargas por elas. Por todas elas.

Morada certa


Foi provavelmente a última prenda de aniversário deste ano. E, sem dúvida, a mais original. Eu, pelo menos, não estava à espera de receber aquilo pelo correio. Mas fica desde já prometido, a prenda mais o destinatário vão visitar-te no ano que vem, dê lá por onde der. Porque a verdadeira amizade é aquela que é escrita com papel e caneta azul a sério, na parte de trás de um postal que cruza oceanos. Obrigado, adorei e adoro-te. Encontramo-nos no Peter's?

A Revoada

"Até os detritos do amor triste das cidades nos chegaram na reovada, e construíram pequenas casas de madeira, e fizeram primeiro um recanto onde meio catre era o sombrio lar para uma noite, e depois uma ruidosa rua clandestina, e depois toda uma aldeia de tolerância dentro da aldeia."

Gabriel García Márquez

Viagens no Scriptorium

"Sem ele, nós não somos nada, mas o paradoxo é que nós, as criaturas imaginadas por uma outra mente, sobreviveremos à mente que nos criou, já que, a partir do momento em que somos lançadas no mundo, continuamos a existir para sempre, e as nossas histórias continuam a ser contadas, mesmo depois da nossa morte."

Paul Auster

terça-feira, outubro 30, 2007

Chain-blog 3.0

Reza assim a incumbência que mestre Gi me passou.

1. pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica aleatoriedade, não tente escolher o livro;
2. abra o livro na página 161;
3. na referida página procurar a 5.ª frase completa;
4. transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada;
5. aumentar, de forma exponencial, a improdutividade, fazendo passar o desafio a mais 5 bloggers à escolha.

E o livro que está mais perto é um que não estou a ler de momento, apesar de já o ter lido quase todo há uns meses atrás, antes de ter feito um desvio para casa de uma pessoa amiga.

"At dawn, three days later, Radowitzky, in the uniform of a prison guard accomplice, walked through the prison gate."

in "In Patagonia", Bruce Chatwin, Vintage Classics Random House

E como espécie de tortura virtual, deixo o nome dos felizes contemplados a prosseguirem isto:
A Geometria das Palavras
Garden Of Delight
Now Boarding On Gate 7B
Psicologias da Treta
Resquícios do Nada

segunda-feira, outubro 29, 2007

Ao pormenor


E não me digam que não há algo de divino nisto... Mais não seja nas mãos de quem imaginou e pintou esta genuína obra de arte...

domingo, outubro 28, 2007

Fim da primeira parte

"queres que eu escreva, que te minta, que eu te diga mais como se o
resto fosse: tudo. Não escrevo. Dorme. Os meus rios não jorram desta
boca. As minhas mãos abriram uma na outra são poemas amedron-
tando os campos, repartindo. Não me chames. Eu morei aqui. Tenho
um quarto sem história num país ausente. Todas as manhãs canto
deitado na garganta, e ainda tenho medo. Todas as manhãs acordo e
emudeço. Nesta cidade os homens não chegam ao pescoço. Por isso
estalam nos sonhos, soberbos, por entre gatos parvos ruminando a
morte nas gavetas. Não quero biografia, quero memória. Não quero
a vida, quero o lugar do amor. E como as coisas demoram quando
de perto trazem: espaços, fracturas, certos castanhos acidentes. E esta
pequena falta de jeito para as coisas. As coisas.
Alguém encontrará o rosto no pão aflito. Parado, na noite. Abrindo,
a noite.
Ou não saber dizer: eu oiço mãos que tombam no silêncio."


domingo, outubro 21, 2007

31 mais vinte e dois

Um enorme obrigado às vinte e duas almas que partilharam a noite de ontem comigo. Vocês podem não saber, mas grande parte da minha vida está "presa" a todos vocês. E por isso torno a dizer obrigado, porque tudo o mais pode ficar sem palavras...


sexta-feira, outubro 19, 2007

Pouco (muito pouco) inteligente


A nova face da Esquerda


31 menos dois

Hoje sonhei. Sonhei que segurava um fio de cordel. Um longo e infindável fio de cordel. Comecei a puxá-lo, com a curiosidade infantil que apenas as inocentes crianças possuem. Queria saber onde me levaria. Se atravessaria vales e montanhas cobertos por oliveiras frondosas e cobertas de fruto. Ou seria que o fio me levaria para um complexo labirinto, onde teria que enfrentar os meus próprios Minotauros pessoais, transformando o meu sonho num horrível pesadelo? Por momentos quis acreditar que, na verdade, o fio de cordel me levaria aos céus, para lá das nuvens, rodeado das almas de todos aqueles que já me deixaram. Mas no momento seguinte também imaginei que o fio descia até às profundezas dos oceanos e que eu descia com ele e que conseguia respirar sob toda aquela água e que finalmente entendia a pequena gota de água que eu próprio representava no grande esquema arquitectónico que é este planeta. Afinal de contas, continuava a puxar o fio e ele apenas me levava através da escuridão, da noite fria. Mas não sentia medo, de alguma forma que eu não compreendia o facto de ter o fio nas minhas mãos dava-me a tranquilidade que porventura me faltava quando estava acordado. E assim prossegui durante o que me pareceram horas e horas, até que cheguei a uma porta. O fio estava amarrado à maçaneta. Rodei-a e entrei para um enorme espaço cheio de uma luz que me magoava os olhos. E depois consegui ver através da luz o que estava ali e soube que era mesmo para mim. E sorri, um sorriso como há muito não via na minha face. E no segundo seguinte acordei. Estava na minha cama, no meu quarto. E a única réstia do meu sonho era o sorriso que ainda guardava comigo e a vontade de me virar para o outro lado e regressar ao meu sonho...

quarta-feira, outubro 17, 2007

Ondas Sonoras - XXIX ...

... ou, se preferirem um termo menos pretencioso, trata-se apenas de um som recorrente que teima em não largar a minha massa cinzenta, quase forçando as palavras a aparecerem nos meus lábios sem que eu me aperceba disso. Talvez pela onda positiva em que me envolve a canção e me faça recordar o sol a bater na minha face e o cheiro da maresia a entrar pelas narinas adentro. Estou mesmo a precisar de um descanso, e se possível, pode mesmo ser com esta banda sonora a passar em fundo...

"There's a big
a big hard sun
beating on the big people
in the big hard world..."



segunda-feira, outubro 15, 2007

I wanna be Hank Moody

"Hell-A Magazine blog number 1. Hank hates you all. A few things I've learned on my travels through this crazy little thing called life. One, a morning of awkwardness is better than a night of loneliness. Two, I probably won't go down in history, but I will go down on your sister. And 3, while I'm down there it might be nice to see a hint of pubis. I'm not talking about a huge 70's Playboy bush or anything. Just something that reminds me that I'm performing cunnilingus on an adult. But I guess the larger question is why is the city of angels so hell bent on destroying it's female population."



31 menos seis

Os dias passam demasiado depressa ou é simplesmente o tempo útil que tem escasseado? O cansaço não deixa pensar e acaba por entorpecer tudo o resto. É mais fácil ceder pura e simplesmente do que entrar em conflitos perpétuos que não deixam vislumbrar qualquer desenlace favorável? Porquê, mas porque é que existem palavras como escrúpulos, responsabilidade e sentido de equipa de trabalho? Sei que, pelo menos neste momento, seria muito melhor se essas palavras não existissem. Sei que sem essas palavras hoje já estaria momentaneamente em paz e com algum tempo para as utilidades da vida. Até lá resta-me juntar todas as minhas forças e levar a façanha a bom termo. Não será a solução de todos os problemas, nem de longe, mas será um passo de gigante. E quem sabe o que o futuro me aguarda ao virar da próxima esquina temporal. O optimismo não pode esmorecer? Pois não, nem nos momentos mais negros ou desesperados, um sorriso é sempre uma arma. Estou-me a repetir, sei que já escrevi isto noutra altura, noutro ano, noutro momento menos bom. É preciso ir atrás, ler a história desde o início, é a melhor de forma de compreender, de perceber o que reside por aqui. As palavras podem ser estranhas, confusas, e não revelar quase nada, mas no fim da história tudo é perceptível. Tudo se resolve por si mesmo, o suspense acaba e a claridade invade aquilo que não passa de um canto cinzento para mostrar que isso é apenas o começo. E agora vou até lá fora, que isto é claramente falta de cafeína ou outro tipo de substâncias enebriantes...

You can't always get what you want

A série Weeds já tem concorrência. Pelo menos nos Estados Unidos. E até podia tornar-se uma excelente aposta para a RTP2. Basta assistir às primeiras cenas do primeiro episódio para se perceber que temos aqui mais um excelente conjunto de actores com diálogos ainda mais excelentes. E que bom é ver o David Duchovny de novo numa personagem perturbada, se bem que desta vez nada tenha a ver com OVNIs ou fenómenos paranormais. Só os fenómenos normais decorrentes de viver numa terra tão "plástica" como Los Angeles. E depois começar a série com um clássico dos Stones e lá pelo meio ainda meter os Peeping Tom, é sinal mais que certo que a qualidade passa por aqui. Californication é para seguir com muita atenção...

quinta-feira, outubro 11, 2007

Lá de Cima - XV


Vilanculos, Moçambique

31 menos dez

Um dia que começa mal quando ainda nem sequer me levantei. Insónias atrás de insónias, farto de me virar na cama. Filas no caminho para o trabalho. Uma tarefa profissional que já me ocupou mais do que o tempo que gostaria e que mesmo assim vejo-me e desejo-me para a acabar. Discussões atrás de discussões e a impossibilidade de continuar bem-disposto para o resto do dia. Um almoço à pressa, sem companhia para uma conversa. Um sol fantástico lá fora e eu sem sequer o conseguir ver. Mais interrupções e documentos desaparecidos e o trabalho lá se atrasa mais um bocado. Saio fulo da vida. Chego a casa, abro a caixa do correio e... Levo uma estalada na cara completamente merecida.

"Creio que concordará que ninguém gosta de ver ou de ouvir uma criança chorar. Mas quando a desidratação provocada pela diarreia lhe rouba as energias até à última gota, deixando-a sem forças até para chorar, as lágrimas de uma criança são bem-vindas e um sinal de que estará a recuperar.

Todos os anos perto de 2 milhões de crianças morrem de desidratação diarreica.

Quando a doença ataca, a saúde das crianças pode deteriorar-se muito rapidamente devido a uma acentuada perda de fluidos vitais. A sua normal vivacidade desaparece, a pele depressa perde elasticidade, o olhar torna-se mortiço... Porém, um tratamento simples à base de sais minerais e açucar dissolvidos em água pura - os Sais de Reidratação Oral - pode salvar a vida da criança.

Os SRO salvam perto de 4.500 crianças por dia.

Embora os SRO salvem a vida de 4.500 crianças por dia, nas próximas 24 hors a desidratação diarreica será responsável pela morte de perto de 4.900 crianças. É uma perda de vidas humanas inaceitável quando existe uma solução simples e eficaz.

Um donativo de 25 , permite à UNICEF fornecer SROs suficientes para tratar 100 crianças."

Eu é que lhe agradeço, Manuel Pina.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Casual Monday










Como te compreendo...

31 menos treze

É engraçado como as palavras mais auto-biográficas que de vez em quando por aqui deixo, são normalmente aquelas em que tenho mais dificuldade em passar para o "papel". Pelo menos é a ideia com que fico depois de ter ido ver o arquivo morto deste espaço. E que sensação estranha fica depois de me confrontar com essas palavras interiores assim, expostas ao mundo...

Kafka à beira-mar

"Mentes limitadas, desprovidas de imaginação. Intolerância, teorias desfasadas da realidade, terminologia barata, ideias dogmáticas, sistemas rígidos, essas é que são as coisas que realmente me assustam. É isso que eu mais temo e mais detesto nesta vida. Claro que a questão de saber o que está certo e o que está errado é muito importante. Todos nós cometemos erros de julgamento que podem eventualmente ser corrigidos. Desde que tenhamos coragem para reconhecer que errámos, as coisas podem compor-se. Agora, espíritos tacanhos e intolerantes, sem imaginação, são como parasitas que transformam o hospedeiro, mudam de forma, sobrevivem e vingam. São uma causa perdida, e eu não quero vê-los aqui por perto."

quarta-feira, outubro 03, 2007

Ramble on

Estive quase, quase a escrever umas quantas palavras.
Mas depois lembrei-me que já estava a dormir. Sofregamente, como se não houvesse amanhã. Ou pelo menos como se amanhã não tivesse que me levantar com o raiar do sol.

Ok, agora já estou preparado para o Teatro Praga. Será que o Miguel Bombarda ainda está aberto?

Um carneiro, dois carneiros, três carneiros. Todos a saltar sobre bancos de jardim, daqueles verdadeiramente solitários, onde nem sequer um bencher se dignaria a descansar as nádegas e pensar nas fobias que o afligem.

Esqueci-me outra vez que já estava a dormir.

Até amanhã.

segunda-feira, outubro 01, 2007

O que me apetecia fazer...

... neste preciso momento, era ir pela estrada fora para bem longe daqui e, de preferência, sem rumo.


Mas, na verdade, esta semana não poderia estar mais distante deste fútil desejo. Vou estar a semana toda (e é mesmo toda) "acorrentado" a um trabalho do qual o fim não se consegue avistar. Mesmo com um prazo há muito definido mas cujo número de barreiras até ao mesmo aumenta de dia para dia...

Ainda falta muito para dia 16? Acho que vou começar a contagem decrescente...

domingo, setembro 30, 2007

Do Contra

Ontem assaltaram o meu carro. Aliás, estava a chegar a pé a casa e interrompi o próprio assaltante em pleno acto, enquanto tentava desajeitadamente arrancar o meu auto-rádio do seu local de sempre. Informei o mesmo que estava a ligar para a polícia o vir prender uma vez que não restavam dúvidas que era mesmo o meu carro. Pareceu-me que só nessa altura o sr. assaltante percebeu que eu ali estava. Então, irritadíssimo, tirou a máscara de ski preta que usava e, agarrando-me pelos ombros, disse que aquilo era inadmissível, uma autêntica falta de respeito. Como é que eu podia interromper o seu assalto educado com as minhas ameaças e chamadas para a polícia. Que ele tinha deixado a sua mulher e os filhos sozinhos em casa (um grande sacríficio pessoal!), só para poder estar ali, a tentar arrancar o meu auto-rádio e o suporte do telemóvel. Que eu podia ter sido mais educado e não ter chegado naquele preciso momento do assalto. Que eu era doido e, com o devido respeito que eu lhe merecia, que ele assim não podia continuar o seu metódico arrombamento do meu carro. Sim, porque assaltar um carro tem as suas regras e as mesmas nunca, mas nunca devem ser quebradas. Mais, que eu precisava de aprender a lição para que este tipo de interrupções não se voltasse a repetir. E assim, com um movimento rápido, demasiado rápido para os meus olhos, deu-me com um pé-de-cabra na cabeça. Quando finalmente tomei de novo consciência, estava rodeado por agentes da PSP que me perguntavam o que se tinha passado e se eu me lembrava das feições do assaltante. Depois de tentar raciocinar uns momentos, informei-os que não, a culpa tinha sido minha e que da próxima vez apenas os chamaria depois de o carro estar reduzido a um monte de sucata, com todos os seus acessórios devidamente furtados. Ainda hoje, com o curativo na minha cabeça, continuo a pensar que fui de facto um bruto insensível e apenas desejava ter o contacto do senhor, para lhe poder pedir mais uma vez as minhas eternas desculpas...

Itinerário afectivo


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"And now have I not told you that what you mistake for madness is but over-acuteness of the senses? - now, I say, there came to my ears a low, dull, quick sound, such as a watch makes when enveloped in cotton. I knew that sound well too. It was the beating of the old man's heart. It increased my fury, as the beating of a drum stimulates the soldier into courage."

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domingo, setembro 23, 2007

Neverwhere

E tem sido assim que me tenho sentido, como se fosse uma personagem do Neil Gaiman, mas sem a parte mística ou fantástica associada. Simplesmente preso a uma triste realidade, escura e cinzenta. Mas atenção, sem sinais de demência ou frustação ou mesmo desespero. Não, está tudo normal na terra "cinzenta", apenas tem prevalecido uma enorme falta de vontade de ligar o computador ou escrever o que quer que seja. Preguiça, muito provavelmente, esse nefasto pecado mortal (pelo menos em termos bloguísticos). De vez em quando, pelo meio da grande maioria de coisas normais que preenchem os meus dias, lá vai aparecendo uma ou outra ideia, rapidamente apontada, mas guardada para dias menos ocupados do que estes últimos. Por estes dias nem televisão, nem livros, nem blogue. Apenas alguma música (posts em breve...) e uma infindável vontade de fechar as pálpebras e vaguear pela terra do sono. É triste mas é a verdade. Talvez que hoje seja a altura de regressar à terra dos vivos, ir apanhar sol, estar com os amigos e voltar a aumentar o número de dígitos na balança...


(Foto de PenaBranca, recebida no telemóvel e que, melhor do que as palavras, ilustra muitíssimo bem o que têm sido estes últimos dias. Haja cura!)

quarta-feira, setembro 19, 2007

O tomate é uma fruta?

É o que me estou a perguntar a mim mesmo, enquanto vou lendo os últimos posts do intérprete de pintxos e, ao mesmo tempo, acabo por recordar que devia ter prestado mais atenção às aulas do sr. Cleese. E, quem sabe, ter levado um tigre comigo para Buñol...





(Nota-se muito a falta de inspiração ou nem por isso?:)

terça-feira, setembro 11, 2007

Serviço de utilidade pública - XVI


A pedido de algumas boas pessoas, é favor clicar na imagem. Obrigado.

domingo, setembro 09, 2007

Estou?

Sim, sou eu.
Estás melhor? Ou pior?
Para ser sincera, nem eu própria sei.
Pelo menos já te levantas ou nem por isso?
Bom, neste preciso momento em que me ligaste tinha acabado de ir à casa-de-banho.
Sempre é melhor que nada.
Não sei, nada parece-me ser um estado extremamente atractivo.
Isso não és tu a falar, é o tumor dentro de ti.
Precisas mesmo de me lembrar que tenho essa coisa dentro de mim.
Tens razão. Desculpa. Não quis...
... ser inconveniente. Pois. Eu percebo.
O que eu queria dizer é que não te queria lembrar disso.
És apenas mais um. Por estes dias há muitos que não querem que eu me esqueça.
Estou a sair agora. Posso ver-te?
Ficarias muito chateado comigo se dissesse que preferia estar sozinha?
Sabes perfeitamente que não consigo ficar chateado contigo.
Não mintas.
Não estou a mentir.
Ficaste chateado quando não te contei sobre tudo isto mais cedo.
Chateado não. Triste sim.
Porque não confiei em ti?
Apenas porque não me contaste só isso.
Agora também já não interessa. Todos já sabem.
Gostava de pensar que sou algo mais que "todos".
E és. Por isso foi mais difícil contar-te.
Sim, claro.
É a verdade.
A verdade é sempre muito relativa.
Bom, se queres mesmo ver-me...
Sim, quero.
Podes vir, então. Mas não esperes encontrar-me bem disposta, não o estou.
Talvez que quando eu te deixe hoje, estejas melhor.
Tens qualidades terapeuticas, não o nego. Mas não tantas assim.
Pensei que me davas mais valor.
E dou. Muito mais do que aquilo que alguma vez sonharás.
E tu a dizeres que preferias estar sozinha...
Sou uma tonta, o que é queres?
Olha, lembras-te do que a minha avó costumava dizer?
A avó Beatriz?
Sim. Lembras-te?
Se não fossem os antibióticos era capaz de me lembrar...
Sempre que as coisas pareciam estar num beco sem saída...
Sim?
...virava-se para nós, com aquele sorriso lindo...
Sim?
e dizia, "Ora, não há mal que dure para sempre!"
Já me lembro. Agora que o dizes...
Lembras-te? A sério?
Sabes bem que adorava ouvir a tua avó...
Bom, então só temos que pegar nas palavras dela e fazê-las realidade.
Se fosse assim tão simples...
Se me deixares... só te quero ajudar.
Eu sei. Sou uma tonta.
Já disseste isso.
Então não digo mais nada. Não pelo telefone. Preciso de te ver.
Já estou no final do corredor. Em breve estarei a caminho daí.
Não demores.
Não vou demorar.
Até logo.
Até já.