quarta-feira, agosto 30, 2006

Across the universe

Mergulho no desconhecido. Já não é a primeira vez que o faço. Os saltos no escuro já não são novidade e, no fundo, é uma forma de ultrapassar os meus medos e ansiedades, que tantas e tantas vezes ficam soterrados debaixo de fórmulas matemáticas de como me relacionar com alguém. Já aprendi que fugir e esconder-me não resolve nada e apenas adia o inadiável. Então dou o passo em frente. Sou optimista, primeiro vai estranhar-se e depois vai entranhar-se, como no anúncio. E se, e se, e se... Suores frios, apertos no estômago, mil e um pensamentos a rodopiarem a velocidade estonteante na minha mente... E depois, e se não, e o que vão pensar, e será que eu vou conseguir... Porque é que as coisas mais complicadas de um ponto de vista funcional são aquelas que menos me custam? Porquê complicar? Sinto que já não estou em mim. Preciso de ar. Preciso de respirar. Vir à superfície e inspirar o precioso oxigénio que escasseia nos meus pulmões. Ir ao encontro de algo que me faça voltar ao meu equilíbrio, ao meu mundo real. Deixar para trás as águas turvas que acabei de percorrer e nas quais andei tanto tempo perdido. Na escuridão dessas águas, rapidamente me esqueci que havia um sítio para onde podia escapar. Ou será que apenas me estou a enganar? Será que as águas eram assim tão turvas? Ou pelo contrário, eram de uma frescura e luminosidade às quais já não estava habituado? A minha memória é mesmo assim tão curta? Será que não me lembro de como a vida era há meia dúzia de anos atrás? Fico inquieto e indeciso. Avanço para a margem ou recuo na direcção daquilo que em tempos conheci e que agora me parece tão estranho e surreal? É formidável a quantidade de vezes que consigo hesitar numa única decisão. E ainda me dizem que eu sou um aventureiro, que estou sempre pronto a largar tudo e ir atrás de uma miragem... O que sabem eles? Muito pouco, penso eu. De uma ignorância a toda a prova, no que toca às sensações que me percorrem. Esqueço, apago, escrevo de novo e olho na direcção oposta. A margem já não parece tão apetecível. Por um momento lembrei-me de como era ser assim, um estranho em terra estranha, sem porto de abrigo, sem um farol que me ilumine o caminho que me parece ser destinado. Mas depois, olho de novo, ao longe... Afinal não, não é uma terra estranha, apenas modificada mas com as mesmas pessoas (quer dizer, outras completamente diferentes mas apenas no aspecto), os mesmos prédios (ok, mais pequenos), as mesmas mesas e as mesmas comidas e as mesmas bebidas (perdeste o juízo, definitivamente...), e no fundo, estou a entrar na mesma casa, apenas por uma porta lateral que não conhecia. Definitivamente, a vida ainda me guarda algumas supresas, mesmo quando não me sinto inspirado por ela...

7 comentários:

PenaBranca disse...

Amigo, quem não arrisca não petisca. E quem não come, morre de fome. Não tenhas medos, salta à água... mas leva uma botija de oxigénio. E uma maneira para contares como foi a viagem. Já sabes, cá estaremos para te acolher e dar um abraço de consolo ou de parabéns consoante for a experiência.

cuotidiano disse...

O meu Pai era psicanalista e teve de tratar(psicologicamente)muitas cabeças depois de "mergulhos no escuro"

O meu Tio era neurocirurgião e também teve de tratar (fisicamente)muitas cabeças depois de "mergulhos no escuro"

Como eu desmaio quando vejo sangue, vou apenas parafrasear o António Variações: "Quando a cabeça não tem juízo, 'alguma' parte do corpo é que paga!"

Por estas e por outras, pensa bem e...cuidado, Amigo!

Sea disse...

Sem surpresas (das boas), é que a vida não tinha piadinha nenhuma. E essas (as surpresas), chegam sempre anonima e silenciosamente. ;)

A disse...

Parecerá agora um cliché, mas...

... a vida inspira-nos sempre.

A rodar num automóvel de bateria meio manhosa "Everybody Here..."

:)

Beijo - depois da maratona de escrita de hoje :)

A disse...

Ah, outra coisa: procura a faixa nº8 do Being There(1) de Wilco



:)

Patrícia disse...

Manda os medos à fava e vive. :) Cabeças rachadas cosem-se. Eu que o diga. Colecciono cicatrizes ;)

Beijos

Miss Kin disse...

Deita-te de costas, boia e deixa-te levar pela corrente...