domingo, junho 25, 2006

Domingo é dia da Família

"Esta é a minha mamã Marta. E esta é a minha mamã Cláudia." O Pedro tem cinco anos e encarrega-se das apresentações. Na história da sua vida não há um pai. O Pedro tem duas mães.

[...]

A ideia de que a maternidade está vedada aos homossexuais é explicada pela psicóloga Isabel Leal no seu livro Psicologia da Gravidez e da Parentalidade: "A expectativa da comunidade em geral é a de que os indivíduos homossexuais, homens ou mulheres, uma vez reconhecida e assumida a sua orientação sexual, abdiquem voluntariamente e em nome não se sabe bem de que valores (os mais invocados costumam ser o do direito das crianças) de virem a ser pais e mães." Para Isabel Leal, o que motiva esta assunção é um de dois aspectos: "Ou um preconceito tenebroso e encapotado ou uma ingenuidade confrangedora."

(in Diário de Notícias)

Como já disse por aqui, aquilo que acho mesmo importante nesta questão é a criança e a forma como é educada, protegida e, essencialmente, amada. Há pais bons e pais maus, independentemente da sua orientação sexual, e é por essa razão que não pode haver descriminação. Que interessa se a criança tem um pai e uma mãe, ou dois pais, ou duas mães? Se eles gostarem da criança e não a maltratarem, porquê continuar a insistir em preconceitos bacocos que já não têm qualquer aplicação na sociedade que temos hoje? Custa-me compreender que haja pessoas que elevem a voz contra a paternalidade/maternalidade homossexual e depois não condenem com a mesma veemência a violência física e/ou psicológica que algumas crianças sofrem às mãos dos seus pais heterossexuais. Isso sim é que seria ter uma consciência de verdadeira protecção à criança!

8 comentários:

Anónimo disse...

O facto de ser por principio contra a adopção de crianças por casais homossexuais não implica que não critique e condene os casais heterossexuais que maltratam os seus filhos (biológicos ou não).

Nuno Guronsan disse...

Pois eu acho que seria muito mais importante actuar sobre as crianças maltratadas do que estar preocupado com o facto de os casais homossexuais poderem ou não adoptar/conceber filhos. Qual é o drama? Não poderão ser tão bons pais/mães como os heterossexuais? Não serão também eles capazes de criar um ambiente de amor e respeito pelos direitos dos seus filhos? Sinceramente não percebo qual é o grande problema. E não, não acho que a "ir contra a normal concepção de família vigente" seja uma justificação aceitável. Por favor, arranjem uma desculpa credível, ao menos.

Anónimo disse...

Na questão das prioridades estou de acordo contigo.
Quanto aos homossexual serem bons pais ou boas mães, não ponho isso em causa, não será a orientação sexual de uma pessoa que fará a sua paternidade/maternidade ser mais ou menos "competente", o problema é que num casal homossexual uma criança só terá duas boas mães ou dois bons pais e na minha opinião uma criança deverá ter um pais e uma mãe, bons desejavelmente.

Patrícia disse...

Pois, Miguelinho, o problema é que começa a ser difícil ter um bom pai ou uma boa mãe, portanto... No que toca ao amor e à educação, o que importa é que existam e estejam sempre presentes. Não há nada na homossexualidade dos pais que possa impedir uma criança de ser feliz, a não ser que os pais estejam a tentar sufocar a sua verdadeira essência em nome dos princípios da sociedade e das "famílias exemplares"...

Já escrevi um texto no meu blog sobre a questão do casamento e da adopção por homossexuais, e este post do Nuno vem ao encontro do que penso. Não posso aceitar que um casal seja desrespeitado ou lhe sejam roubados os direitos mais básicos apenas porque não se podem reproduzir...

Nuno Guronsan disse...

Miguel, a minha opinião passa, essencialmente, pelo primeiro parágrafo do comentário da Patrícia. O facto de haver um pai e uma mãe não garante automaticamente a felicidade e o bom crescimento da criança. Portanto, para quê a descriminação?

Anónimo disse...

Patrícia o problema de ter não um bom pai e uma boa mãe já não é de hoje.
Não estou assim tão certo que a homossexualidade dos pais não possa interferir na felicidade da criança, nomeadamente fora do ambiente familiar.
Fonsas em nenhum dos meus dois comentários ao teu "artigo" podes-te ler qual a heterossexualidade dos pais é a única garantia para a felicidade e boa educação de uma criança.
Não acho que o meu ponto de vista tenha algum tipo de discriminação em relação aos casais homossexuais, pois dentro da comunidade homossexual ha muita gente que também não concorda com a adopção por parte de casais homossexuais.

a miúda disse...

Eu sinceramente não percebo porque é que um pai e uma mãe são assim tão fundamentais. Quantas pessoas de pais separados ou orfãos de um dos pais, não cresceram só com um pai ou só com uma mãe? Quantas pessoas não viveram com avôs e avós em casa e tiveram dois pais e/ou duas mães?
Eu penso que o mais importante como dizem o Nuno e a Patrícia é o bem estar da criança, desde que a criança seja bem tratada e educada, para mim a questão de serem duas pessoas do mesmo sexo ou não, é secundária.
Agora a verdade é que enquanto a sociedade portuguesa continuar a ser preconceituosa como é, obviamente que será complicado para as crianças viverem nessas famílias não convencionais já que todos nós conseguimos ser extremamente cruéis.
Para mim a questão é acima de tudo uma questão de hipocrisia e necessidade de mudar mentalidades, quando isto acontecer então as crianças não sofrerão nada com a questão, antes pelo contrário.

José Raposo disse...

Por principio gosto de imaginar que as pessoas que são contra a adopção por casais homossexuais defende igualmente e com a mesma força, a violência ou abuso contra crianças. Parece-me até que na generalidade dos casos isso acontece e não me parecem relevantes os casos em que isso não acontece.

Parece-me que a orientação desta discussão deve ter como objectivo último o bem estar das crianças, sejam elas criadas por pais e mães "normais", por pais e mães divorciados, homossexuais ou familias monoparentais, ou até tias, avós ou primos. Mas o direito a um crescimento saudável em ambiente familiar não é um fim em si, mas antes um processo.

Claro que há na comunidade homossexual (se é que se pode dizer tal coisa...)quem não concorde com a adopção, mas existe na "comunidade" heterossexual quem não concorde em ter filhos e não é por isso que o direito a tê-los lhes está vedado.

Esta discussão, talvez intencionalmente, pretende sempre esquecer que existem milhares de crianças nascidas de relações em que um dos progenitores não é heterossexual. Casamentos/relacionamentos em que um dos progenitores se esqueceu de dizer alguma coisa importante ao outro... ou relações que apenas existem deliberadamente para a concepção de um filho, fugindo ao constrangimento legal.

E é sobre estas crianças que importa verificar se existe algum tipo de sofrimento excessivo para além do razoável numa vida normal, pelo facto de terem um progenitor homossexual ou ambos.

O termo de comparação é que não pode ser um determinado ideal de familia porque ele não existe na prática. O termo de comparação pode ter em conta os constrangimentos sociais, mas tem de os colocar ao mesmo nível dos restantes constragimentos sociais que as restantes familias tenham, e não pode colocá-los num plano mais elevado só por se tratarem de homossexuais.