Esta é uma carta a um amigo invisível, sem nome, se calhar sem existência. É uma carta sobre mim, sobre ti, sobre talvez todos que pensem um pouco sobre a sua direcção na vida.
Amigo, para onde vai a tua viagem que segues com tanto fulgor a tão elevada velocidade? Para onde te leva esse caminho que não tem indicações visíveis de destino? Vislumbras algo nessa vastidão de vivências, emoções e seres que se assemelha a um mínimo daquilo que procuras? Se calhar o problema é mesmo esse: andas sem rumo e nem tens ninguém que te guie; és membro de uma geração que foi apelidada injustamente de rasca, resultado da produção em massa que viveste num país que disso mesmo precisava para sair do seu marasmo mas que hoje acusa a falta da resposta à pergunta que não sabes formular. Quem és tu, afinal? Hoje és um bom exemplo do que um jovem pode ser: puseste as tuas capacidades à prova e venceste diversos desafios pessoais e profissionais, mas és o primeiro a falar da tua tristeza, da tua solidão, do algo que te falta sem saberes o que é. E não és o único, embora isso não te sirva de grande consolo.
Ou será que me engano e tudo o que tens e fizeste até hoje segue uma linha de escolhas conscientes? Então porque te queixas constantemente? Ou andas a tentar esconder o sol com a peneira, fazendo de conta que tudo está bem para ti mas no fundo sentes as dores das respostas não obtidas lá bem no fundo da tua alma.
Confesso que não te percebo. Pior que isso, confesso que nem me percebo a mim mesmo pois eu também ainda estou e estarei muito tempo à procura do meu lugar neste espaço da Terra que de cinzento nada tem.
“Quo vadis” já se perguntou há muito tempo atrás e é isso no fundo que te/me/nos pergunto. Acho que todas as pessoas passam por isso mais cedo ou mais tarde, mas ninguém nos livra do cálice de respondermos essa pergunta nós mesmos. Acho que é isso que torna a vida tão bonita, principalmente quando conscientemente nos damos conta que estamos a crescer e podemos influenciar o rumo das nossas vidas. A não ser que nem as coloquemos em questão e a vivamos como ela vier... o que é uma solução tão legítima quanto outra qualquer.
Ainda assim agradeço-te pela tua existência, meu amigo invisível, pois tens-me apoiado durante as minhas angústias. Tens-me ajudado a questionar-me, ajudado a colocar a minha vida em perspectiva, a permitir que eu próprio me tente definir. Espero que tenha conseguido retribuir à mesma altura. Só te peço uma coisa: não me acuses de pensar demasiado. É isso que tem ocupado as poucas células cinzentas que me restam durante os últimos meses (ou terão sido anos?).
Enfim, no fundo as minhas preocupações são resquícios do nada pois eu e tu e todos nós somos talvez apenas uma ínfima parte de um todo que talvez não conhecemos ou compreendemos mas que certamente não controlamos. Há quem veja nisso justificativo suficiente para acreditar numa religião qualquer. Há quem não acredite de todo nessa construção global e que afirme que cada um é para si o centro do seu universo. Pontos de vista...
E agora, já sabes para onde te leva a tua viagem?
6 comentários:
Nuno,
adorei ler o que aqui escreveste. Todos nós fazemos essa pergunta a nós mesmos. Todos queremos fazer da vida o que achamos melhor para nós. Umas vezes acertamos, outras não, só mais tarde nos apercebemos do que poderiamos ter feito e não fizemos.
A resposta para a questão que colocas... bem, essa é que poucos ou nenhuns a têm, a não ser no fim da caminhada...
Passa um bom fim de semana.
Beijo
Alexandra, gostava muito de ficar com os louros da prosa que aqui comentas, mas a mesma não foi escrita por mim e sim pelo meu colega "contribuídor" como se lê ali em cima.
Mas revejo-me um bocado no que ele aqui escreve, especialmente no que toca a "dores de alma" e na indefinição de saber para onde me dirigo.
Bravo, PenaBranca, excelente início!
“Uma certa madrugada
Eu por um caminho andava
Não sei bem se estava bêbado
Ou se tinha a morte n’alma
Não sei também se o caminho
Me perdia ou encaminhava
Só sei que a sede queimava [...]”
Vinícius de Moraes
Não. E, pelo meio, já perdi o "de onde vim".
Há alturas em que a vida são tamanhos "nada".
Nada faz sentido. Não surge nada de nós. Muito menos dos outros.
um grande, grande nada. A certeza, apenas, de um grande vazio.
Olha, Sea, neste momento o único nada que tenho é a inspiração para escrever aqui no Espaço. Esperemos que não dure muito...
Obrigado pela(s) visita(s)!
Pois o meu está a ser um grande nada mesmo... já me falha a vontade até para escrever...
Não agradeças. Não há nada para agradecer.
Enviar um comentário