segunda-feira, junho 19, 2006

Jura???

De facto, para mim que tenho que lidar com frases do género "é preciso motivar os operadores, dar-lhes formação, pô-los a vestir a camisola da empresa, sim, porque este ano os aumentos não vão ultrapassar os 2,5%...", e às quais normalmente respondo com "achas mesmo que os operadores querem ser motivados dessa forma?, será mais importante formações que por vezes estão desfazadas da realidade (e mesmo que não estejam) ou receber um aumento que permita ter outra qualidade de vida, poder descansar um bocado a calculadora e não ter que contar todos os cêntimos ao final do mês?", esta notícia que aqui vem não me surpreende muito. E ainda se fala na produtividade dos trabalhadores... Se nem se consegue "premiar" aqueles que de facto dão muito de si aos seus patrões, quanto mais pensar sequer naqueles que estão a mais. Sim, porque com esta história dos aumentos serem praticamente nulos, qual a diferença que existe no final do dia entre um trabalhador competente e um suficiente? O mais certo é o competente começar a pensar que não adianta nada pensar no contributo que faz para a empresa, para o sector, para o país, se o que recebe em contrapartida dos seus serviços pouco é mais do que uns 4 ou 5 euros que aquele que faz cinco pausas para o cigarro durante o dia, entra e sai ao segundo e está-se pouco marimbando para a empresa, se faz lucro ou não...

Portanto, a minha única reacção à notícia é... Jura???

"As reivindicações salariais estiveram na origem de mais de metade das 126 greves registadas em 2005 e que resultaram em 27.333 dias de trabalho perdido, segundo dados da Direcção-Geral de Estudos, Estatística e Planeamento (DGEEP), divulgados esta segunda-feira."

(in Diário Digital)

5 comentários:

M. disse...

Como é que era o ditado? Casa onde não há pão... :-S

Os salários não são o único problema laboral português, mas são o mais visível e aquele que afecta as pessoas onde mais lhes dói: no bolso. Mas aumentos de salário não resolvem nada. Têm que fazer parte daquele conjunto de medidas que tão bem conhecemos e que ninguém toma...

Nuno Guronsan disse...

Não discordo que haja pessoas que não são única e exclusivamente movidas pelo dinheiro (aliás se assim fosse, há muito que o mundo já teria implodido), mas para outros que têm família para alimentar e vestir e um empréstimo de habitação para pagar (com taxas de juro que não param de subir), se calhar não se importavam nadinha de trocar as milhentas horas de formação por um aumento salarial que não pareça grande apenas em percentagem. Aliás, é esse normalmente o problema de quem elabora as grelhas salariais, olham apenas para os valores relativos e muito poucas vezes para os absolutos...

João Dias disse...

A questão da produtividade é uma das maiores farsas do mundo actual, porque houve um aumento de produtividade brutal nos últimos anos (o Cravinho disse os números mas não me lembro) e não houve uma justa correspondência em aumentos salariais.
A questão tem duas realidades diferentes, a das grandes e mega-empresas e das pequenas e médias. As "empresas modelo" que são geralmente as grandes e mega são as principais responsáveis pelas assimetrias sociais, um dos factores decisivos é o da deslocalização, da desregulamentação e da não taxação do lucro.
Se uma empresa cresce e só os accionistas, os gestores, proprietários sentem os benefícios que raio é que motiva o resto da sociedade o crescimento de uma empresa?

Jura???
:-)

José Raposo disse...

Concordo totalmente aqui com o João Dias. Aliás no caso português as pequenas e micro empresas continuam a ser uma parte muitíssimo substancial do tecido empresarial português e não parece que alguém se lembre delas mas sim das tais mega e giga empresas.

Nuno Guronsan disse...

Concordo com vocês, João e José, e assino por baixo enquanto trabalhador de uma mega e giga empresa que já foi há muitos anos atrás uma PME e sofre do mal da amnésia que atravessa, na minha opinião, a sociedade portuguesa.