terça-feira, junho 20, 2006

Bolas e mais bolas

A propósito da estreia da série "The L Word" ontem à noite na 2:, questionei-me porque razão esta série mereceu o estatuto de levar com a famigerada bolinha vermelha no canto superior direito. Porquê? Ok, para não pensarem que estou a ser um machista egocêntrico que só pensa em fantasias a três, questiono porque é que outras séries como "Sete Palmos de Terra" ou "Anjos na América", que eu me lembre, também levaram com a bolinha em cima. São séries que expõem e mostram por dentro a dificuldade de prosseguir uma relação amorosa (seja ela homossexual ou heterossexual) na nossa sociedade de hoje, cada vez mais preconceituosa e cada vez mais proibitiva. Porque razão merece isto uma bolinha vermelha? Pelos momentos de sexualidade sempre latentes? Que eu saiba não assisti a nada explícito. Pelo facto de a sociedade portuguesa ainda não estar preparada para assistir a cenas mais íntimas entre pessoas do mesmo sexo? Cresçam e apareçam, como dizia o outro. Se queremos começar a colocar bolinhas vermelhas com alguma justiça, então podem começar por programas que mostram cenas de violência, de guerra, de morte, e que, na maior parte dos casos, nos entram pela casa adentro sem que sequer notemos. É apenas mais uma notícia do telejornal, mais um genocídio algures em África, mais uma execução no Iraque, mais um tufão algures na Ásia. Se quisermos ir ao extremo, então o Jornal Nacional da TVI merecia uma bola vermelha enorme, que fosse capaz de tapar o ecrãn inteiro e nos poupasse o imediatismo fácil. De facto, às vezes não há pachorra nenhuma...

15 comentários:

a miúda disse...

A verdade é que a televisão portuguesa gosta de chocar (ou pelo menos parece esforçar-se por isso) mas não no bom sentido, não no sentido de mudar mentalidades, de mostrar às pessoas que existem outras realidades tão normais como a nossa, mas simplesmente diferentes.
Não tive oportunidade de ver a série, ontem, mas penso que será interessante ver de que forma vai ser comentada pelas pessoas.
Quanto às bolinhas vermelhas estou contigo, O Jornal Nacional com bolinha vermelha, isso é que era!

Nuno Guronsan disse...

No caso em questão não será tanto o canal em si, mas sim a entidade que regula a televisão e que decide que programas levam bolinha ou não. Ainda gostava de saber que tipo de pessoas farão parte desse majestoso painel..

José Raposo disse...

Meu amigo, as nossas sociedades existem numa lógica de glorificação da violência ao longo dos tempos. Já a intimidade sempre foi isso mesmo... intimidade pecaminosa, suja e fonte de todos os males da civilização. Daí a bolinha

Nuno Guronsan disse...

Obrigado, amigo, de facto onde é que eu tinha a cabeça... Violência boa, intimidade má. Agora já não me esqueço!

a miúda disse...

Sim Nuno tens razão, de facto, apesar das bolinhas, a 2 acaba por ser o único canal a diferenciar-se dos restantes.
Quanto à intimidade, apesar de poder não parecer à primeira vista, o Tuga é completamente avesso à intimidade, a não ser que seja numa linha de ridicularizar ou destapar os telhados de vidro dos outros!
Mas se calhar sou eu que estou demasiado crítica nos últimos tempos...

M. disse...

Ora aí estão três brilhantes exemplos de boa televisão!

Mas repletos de sexo velado, gente maluca e (sinal da cruz, já!) malta que vai para a cama com malta do mesmo sexo [ia usar a f-word, mas não quis conspurcar-te o blogue ;-)].

Sabes, Portugal cresceu em aparência muito depressa, mas continua a viver no mesmo rame-rame de há 30 anos. Há coisas que não se veêm, não se dizem, não se (admite que) fazem... Uns falsos-púdicos, é o que somos!

Nip Tuck na RTP1, às 21h, já!! ;-)

Nuno Guronsan disse...

Miúda,
críticas desse género são sempre bem-vindas e necessárias. O país precisa de acordar e urgentemente!

M.,
conspurca, conspurca ;))) A verdade é que esta questão lembra-me um episódio da nossa televisão que ficou para a história, a primeira vez que o filme "O Império Dos Sentidos" passou cá. Lembras-te do falatório? Das pessoas que afirmavam não ter visto o filme mas sabiam exactamente quais as cenas censuráveis? Pois é, gostas pouco gostas, e em tantos anos que passaram, essa atitude continua a imperar. Por isso dou já uma sugestão de filme:
9 Songs, na RTP1, às 21:00, já!

Patrícia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Patrícia disse...

Quando eu vir casais homossexuais namorar (incluo aqui a mão na mão, os abraços, os beijos, as manifestações de carinho) na rua como casais (e muito menos do que isso) heterossexuais, sentir-me-ei orgulhosa de ter nascido pessoa e não animal irracional... A igualdade de direitos poderá até, um dia (num novo milénio), ser atingida, mas duvido muito que a visão da sociedade mude. E se a homossexualidade fosse a única so called "aberração" para os olhinhos das pessoas "normais"... :(

Nuno Guronsan disse...

O que é essa coisa de pessoas "normais"??? Não conheço e nunca vi...

Patrícia disse...

Sorte a tua... Eu estou farta de levar com elas...

Nuno Guronsan disse...

Por acaso estava a parafrasear uma amiga minha que sempre que está reunida com o resto do pessoal, nos manifesta a sua ambição de conhecer pessoas "normais"... Nós bem lhe tentamos dizer que essa espécia já não existe mas ela vem sempre com a mesma conversa... Deve ser falta de espelhos lá em casa. ;)))

Patrícia disse...

Tudo depende do conceito de normalidade de cada um de nós... Certo?

Nuno Guronsan disse...

Whatever...
Não me leves a mal, Patrícia, mas esta conversa à volta da normalidade já deu azo a muitos "plenários de café" com amigos meus e, francamente, já não tenho muita paciência para ela. Olha, sejam como bem entenderem, desde que não chateiem ;)))
Beijos.

Patrícia disse...

Oh, podes estar descansado, não te aborreço com o assunto gasto. :) Já fiz a anotação mental! ;D

Beijo