"O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) considerou "lícitos" e "aceitáveis" os estalos e castigos aplicados por uma responsável de um lar de Setúbal a crianças deficientes. Depois de o Ministério Público ter recorrido da decisão do tribunal de Setúbal, o Supremo não considerou existirem maus tratos, mas sim castigos normais."
(SIC Online)
Vejo tantas contradições à volta desta situação que apenas me apetece partir qualquer coisa. De um lado temos a geração dos nossos pais e avós que sempre acreditaram que uma palmada podia resolver muita teimosia e alguma rebeldia própria da idade, e que aqui surge personificada nas figuras do Tribunal de Setúbal e Supremo Tribunal de Justiça. No entanto, parecem "esquecer" que estamos a falar de crianças com características próprias, que podem não estar a fazer birra por não gostarem de sopa e que se calhar até precisam, necessitam de um tratamento que não à base de uns estalos bem dados, mãos amarradas ou de estarem fechados em quartos às escuras.
Por outro lado, e isto é diariamente confirmado quer no meu local de trabalho, quer no local de trabalho da minha mãe (uma escola primária), a maioria dos pais dos nossos dias são "contra" a palmada disciplinadora e evitam pôr a mão nas crianças, mesmo se estas se comportam como os pequenos filhos de Belzebu. No espaço de uma geração, passou-se do oitenta para o oito e hoje confronto-me com atitudes de pais que "compram" os filhos com presentes diários, deixam as crianças fazerem o que bem lhes dá na telha e ainda têm a lata de afirmarem que os seus filhos são "um bocadinho" mimados. Não há pachorra.
Mas voltando à notícia, há um facto que me deixa revoltado e outro esperançado. Primeiro, a revolta pela estupidez de
"o Supremo considerou não ter ficado provado que "a arguida castigasse repetidamente os utentes do lar quando tinham algum comportamento que considerava desadequado por lhe desagradar" nem que a funcionária "não acatava as orientações técnicas da psicóloga da instituição"."
E depois, temos a fantástica justificação para o comportamento da senhora,
""Aliás estaria excluída a própria negligência, atentas as condições pessoais e de saúde da recorrente, afectada com uma grave depressão, motivada pelas condições de trabalho que lhe eram impostas", conclui o colectivo no acórdão aprovado por unanimidade. A funcionária trabalhava 16 horas por dia, seis dias por semana, tendo a seu cargo 15 crianças deficientes, sem ter preparação profissional para desempenhar as funções de responsável do Lar, nomeadamente para lidar com deficientes mentais."
É claro que não podiam ter contratado uma pessoa competente para o cargo, com as qualificações necessárias, isso é que era bom. Mas o que me deixa esperançado é que também eu não tenho qualificações suficientes para aturar a minha chefe, estou francamente a milímetros de uma gravíssima depressão e não sei como irei reagir. Será que posso começar a aquecer as palmas das minhas mãos, sabendo que o Supremo irá defender o meu direito ao estalo?
2 comentários:
Amigo não me parece que a situação de que falas sobre o pais que tratam os filhos sem lhes tocar como se fossem filhos de belzebu, o façam dotados de qualquer espirito de humanismo em relação às crianças que se tenha consolidado ao longo dos anos.
Acho mesmo que as duas situações estão mais próximas do que parece à primeira vista. O que me parece que as une é uma espécie de desprezo que as pessoas têm em relação aos demais sejam eles crianças ou até os próprios filhos e isso gera por vezes acessos de loucura violenta ou simplesmente ignoram... Mas é preciso analisar a coisa com cuidado. Uma palmada de vez em quando não faz mal a ninguém
O que eu queria dizer era que, esses pais que não se ralam com aquilo que os seus filhos possam fazer, até podem nem ter esse espírito humanista de trazer por casa mas sentem-se constrangidos por a grande maioria da sociedade o ter e sentirem que os olhos dessa mesma sociedade estão sobre as suas cabeças...
Mas sim, tens razão, o sentimento de desapego e frieza de personalidade é deveras preocupante e é mais generalizado do que se calhar pensamos.
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