segunda-feira, março 13, 2006

Introspecção precisa-se

Ontem recebi um mail de um amigo meu que está fora do país, e no qual ele me colocava uma "simples" pergunta, "és feliz?".

Tenho que admitir que é uma pergunta recorrente no meu cérebro, especialmente em alturas como a actual, quando vejo alguns projectos ficarem adiados e algumas coisas que me deixam realmente feliz serem remetidas para o lado por outras que não passam de obrigações, coisas a que estou amarrado e não posso fugir. É claro que também é dificil saber propriamente o que me faz feliz. Será o Sol a entrar pela janela dentro? Um beijo ou uma carícia da pessoa que amo? Andar pelas ruas de uma cidade desconhecida? Acabar de ler um livro que me acompanhou durante várias noites? Lembrar-me de alguém que já não vejo há muito tempo e recordar os bons momentos que passámos? Acordar e sentir o início de mais um dia?

Não contente com estas pequenas definições de felicidade, fui ver o que os meus companheiros blogueiros acham da felicidade. A Poeira dos Dias diz que "queremos sempre apostar tudo num amor que nos preencha e complete, que nos faça crer na felicidade imaculada". Para a Menina Marota, a felicidade pode estar na ternura do envelhecimento. Para a Blue Notes, temos que "a consciente escolha pelas posições e assunções faz-me, no entanto, muito feliz". Há mesmo quem advogue que devíamos ter um indicador que medisse a Felicidade Nacional Bruta, como nos refere o Suburbano. Ou, pode ser uma coisa tão simples como "hapiness is a dog", by Navel.
E eu? Que posso ter eu escrito neste espaço (ainda recente) que me tenha deixado feliz, e já não me recorde? Bom, para além de ocasiões normalmente festivas, como o Natal e a passagem de ano, registei aqui no blogue como me senti feliz a caminhar na Grande Muralha da China, a profunda felicidade e alegria que senti numa reunião de amigos a milhares de quilómetros deste rectângulo onde habitamos, a alegria sentida com algo tão banal como um jogo de futebol e, mais importante do que tudo, a felicidade de ter conhecido uma das pessoas mais bonitas que alguma vez conheci ou poderei conhecer.

Tudo isto para chegar a uma conclusão: apesar de pensar muito na felicidade ou na busca da mesma, dou por mim sempre a concluir que mais que esta busca, para mim é importante sentir-me vivo, seja em momentos felizes, seja em momentos tristes, pois a tristeza é uma parte da vida, e que melhor forma de valorizar a felicidade do que sentir as dificuldades, obstáculos e as lágrimas da nossa vida? A melhor analogia que encontro é que, para mim, a felicidade é como uma árvore a crescer, cujos ramos expressam todos os sentimentos que nos trespassam, e aos quais podemos dar a importância devida e, ao mesmo tempo, podar ligeiramente aqueles que achamos desnecessários ou que não são tão importante para a busca eterna do ser humano...

(Obrigado aos blogues atrás mencionados, pelas suas palavras que também fazem parte do meu viver.)

13 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de desenvolver um indicador quantitativo que permitisse medir a felicidade. Na faculdade, em teoria de economia publica, havia uma funcao de utilidade, em que varios factores contribuiam para definir uma funcao individual e outros para a colectiva. Nao que isso me fizesse feliz, mas assim poderia identificar os factores que contribuem para a minha felicidade e simular impactos e consequencias. OK, vou dormir.

José Raposo disse...

Amigo, que tal um abraço??? se quiseres podemos marcar qualquer coisa hoje à noite com o resto do pessoal e mesmo que não tenhas tempo de tomar um café connosco vamos à tua porta só para te dar um abraço colectivo :))

Sobre este assunto da felicidade, eu elaborei uma daquelas equações fantásticas que fazem todo o sentido algures entre os 16 e os 19 anos.

Percebi nessa altura que a felicidade era uma espécie de coisa inatingivel ainda que já a tivessemos conseguido alcançar porque não iriamos jamais conseguir reconhecer o que seria a felicidade.

É um bocado simplista mas ainda me serve hoje em dia.

Anónimo disse...

Amizade é... vir um gajo de marte até aqui, só para dar um abraço ao autor pelos felizes artigos sobre a felicidade e, principalmente, porque sim (a razão acima de todas as outras).

Anónimo disse...

Queria dizer felicidade, saiu amizade, deve ser do adiantado da hora (em termos de horário de expediente, claro). Talvez também não fique mal...

Nuno Guronsan disse...

Obrigado, meus amigos, pelas vossas palavras que ficam aqui sempre muito bem. Mais não seja, é mais uma razão para ir mantendo este espaço com as minhas nóias e devaneios...

Anónimo disse...

No outro dia ouvi uma coisa bastante interessante "A felicidade é um meio e não um fim".
As opções que tu tomas na tua vida vão influenciar esse meio, pelo qual só tu és responsável.

Nuno Guronsan disse...

Caro Só, concordo com as tuas palavras apenas em parte, não considero que no mundo em que vivemos hoje sejamos só nós responsáveis pela nossa felicidade (que sim, poderá ser vista como um meio), há demasiados constrangimentos para que a nossa felicidade se resuma às nossas decisões. No fim do dia, depende da definição que cada um de nós dá à palavra felicidade, acho eu...

Anónimo disse...

Sem dúvida.
Deixa-me só dar-te um exemplo concreto do que eu quis dizer.

Se tu amas uma mulher, e namoras/casas (whatever) com ela. Se não fores feliz com ela (o meio) como podes pensar que no futuro ela pode levar-te a ser feliz (o fim)?

Um processo só te pode levar a ser feliz se tu fores feliz durante o processo. Não é suposto seguir-se um conjunto de regras para seres feliz. Nem pensar na felicidade como uma utopia, ou como um ideal, que se persegue mas nunca se atinge o seu pleno estado. Obviamente, desta forma, nunca estarás satisfeito nem te sentirás realizado.

Nuno Guronsan disse...

Em absoluto. Nunca me passou pela cabeça que pudesse sequer haver um manual de "como ser feliz", apesar de haverem milhentos livros sobre isso e de sentir que, por vezes, seria tudo mais simples se de facto houvesse essa panaceia...

Como escrevi no post, acho que depende de indivíduo para indivíduo. Cada um estabelece para si o que quer dizer ser feliz, se quer voos mais altos, ou se se contenta com momentos preciosos de felicidade que até podem acontecer todos os dias. Pela minha parte, e como nunca tive pretensões a atingir um ideal de felicidade que sempre tentou ser-me incutido por alguns dos que me rodeiam, gosto de pensar que sou mais um adepto da segunda via e que procuro a felicidade nos pequenos momentos que a vida nos vai oferecendo...

Anónimo disse...

Apoiado, my friend!!!

Navel disse...

I totally agree. Even knowing that happiness is unattainable, we should act as if it were, so that the path we build everyday is the happiest possible.
I don't believe in happiness, but happy moments. And those are important enough to make everything seem worth it :)

Nuno Guronsan disse...

I believe in your last two sentences;)

M. disse...

Estou com a Navel, também. Há, em concreto, pequenas felicidades que podemos (se nos deixarem, em parte) conquistar a cada dia. Sorrisos. :) Amigos. :) Paixões.:)

O conceito em si, em absoluto, será inatingível. Mas ainda bem. De contrário, de que é que andávamos todos neste mundo à procura??