segunda-feira, dezembro 04, 2006

Polaroides














O mesmo olhar envolvido de tantas e tantas memórias. A minha segunda cidade, envolta pelo mesmo nevoeiro que tantas e tantas vezes me acompanha de manhã, a centenas de quilómetros das margens daquele rio tão grande, mas tão grande que atravessa o meu coração de um lado ao outro. De um lado, aqueles socalcos que tanto frio, dores nas costas, mãos gretadas me deram ao longo da minha juventude, mas que ao mesmo tempo me deram manhãs inesquecíveis, tardes turvas de chuva e noites repletas de estrelas tantas que parecia que nunca as iria contar todas. Naqueles socalcos nasce o tempero dos meus dias, o sangue que escorre para dentro do meu copo. Lá no alto das Laceiras, o tempo passava mais devagar e as nuvens passavam tão baixo que quase as podia tocar. E eram brancas, tão brancas como aqueles cabelos desgrenhados que me ensinaram a ver o Sol através dos ramos das suas filhas, as suas filhas ancestrais. Do outro lado, a foz. Todos aqueles passeios pela marginal, uns de dia, ao som das ondas, outros de noite, com as luzes da cidade ao longe. As brincadeiras na areia fria, rodeados de nuvens e névoa, mas com a alma quente daqueles que me viram nascer. Ainda me lembro da mercearia, da gare dos eléctricos, da casa antiga de fundações mas jovem com a nossa presença e com a presença daquela jovem cujas rugas conhecia centrímetro por centrímetro. Quando pegava naquelas mãos, esquecia tudo o resto, o mundo era ali, naquelas mãos cheias de sabedoria. Tudo se passava na casa antiga. E depois surgiu a quinta fornada. E as visitas, apesar de mais espaçadas, eram sempre feitas de risos, alegria e a inocência que só as crianças verdadeiramente crianças possuem. E quando não tínhamos o rio ou o mar, bom, então a minha primeira cidade dava-nos os repuxos que saltavam das suas entranhas de mármore. E éramos felizes, na nossa despreocupada vida, vivendo os sítios e os momentos juntos como se fossem únicos. Obrigado, prima, pela tua objectiva que tantas e tão boas recordações me lembram vidas passadas.

5 comentários:

Anónimo disse...

é de facto bom recordar vidas passadas, mas às vezes fica uma melancolia...
:)

Anónimo disse...

Hello Nuno!!
:)
Obrigada pela passagem pelo miúda!
De facto o tempo não tem sido gasto em festas antes fosse...
Quanto ao recordar vidas passadas... no comments!
Este fim-de-semana passei por Coimbra.
Ficou uma saudade, principalmente ao ouvir a RUC ao vir-me embora...
**

Anónimo disse...

passei por aqui por acaso e não é por acaso que o blog é interessante...parabéns

A disse...

Ontem li este teu texto e vieram-me também algumas recordações à memória e daquelas que já não voltam e constituem aquilo que normalmente se designa por Infância Feliz :)

apenas porque é Natal
apenas porque são boas memórias
apenas porque há pessoas que já partiram
apenas porque me apetece

....

O B R I G A D A.

Adorei mesmo e muito embora pareça um daqueles comentários "ah e tal, escreves bem e tal"... (d)escreves bem muitíssimo bem o que vai por dentro de um ser saudodo... com histórias para contar.

Gosto de ti porra!
(é o espírito de Natal a apoderar-se, raios...)

Beijos

Nuno Guronsan disse...

Olhem, não sei o que diga...

Obrigado pelas gentis palavras, e apenas quero que saibam que estas são memórias sempre com um sorriso parvo ao canto da boca. Deve ser da época...

Obrigado outra e outra vez.