quarta-feira, dezembro 13, 2006

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Ele tem 85 anos. Ela tem 87. A sua vida juntos já dura há uns 65 anos. À sua volta foram crescendo filhas, netos e bisnetos. Tiveram momentos de grande felicidade e outros de grande tristeza. Passaram vésperas de Natal onde pouca comida havia na mesa e contentavam-se com o calor da sua lareira. Outras vésperas houve onde éramos cerca de trinta pessoas naquela pequena cozinha, e parecia que o Natal era o momento mais feliz do ano. Lembro-me da alegria que sentia quando chegávamos e eles lá estavam, nas escadas da casa, com um sorriso tão grande como o meu. Apesar do passar do tempo, parecia que todos os anos aquela imagem se mantinha, perpetuada quase ad eternum. Mas afinal não, o tempo também os atingiu, as pernas foram falhando, e o cesto dos remédios foi aumentando de tamanho. Algumas das suas ideias começaram a chocar com as minhas, começava a sentir os primeiros sinais de um fosso de princípios que existia entre nós. Ela condescendia e prefiria conversar comigo sobre aquilo que nos aproximava. Ele levava a peito e preferia envolver-se em discussões sem fim comigo. Mesmo quando defendia os meus ideais com unhas e dentes, nunca conseguia faltar-lhe ao respeito, seria um crime. Hoje em dia, eles envelheceram um pouco mais e eu cresci um pouco mais. Ela continua a conversar comigo sobre as coisas pequeninas das nossas vidas e das quais gostamos. Eu gosto de ficar a brincar com as rugas das suas mãos. Ele está mais "quebrado", mas só com as coisas recentes. Fico horas a ouvir as suas histórias de quando era um jovem e vivia no mesmo país que eu mas num universo completamente diferente. Algumas das histórias já as sei quase de cor mas continuo a gostar de o ouvir recitar todos aqueles pormenores que se agarraram à sua alma e continuam a viver pela sua boca. Todos estes anos houve uma coisa que permaneceu e que nos une, os nossos sorrisos. Este Natal vai ser diferente, este Natal tenho a vossa companhia e vou recordar momentos antigos e viver momentos novos que sei que ficarão guardados na minha memória. Obrigado por existirem e sejam bem-vindos.

9 comentários:

gi disse...

lovely.

Anónimo disse...

speechless...
:)

cuotidiano disse...

Gostei muito do teu texto!

Na verdade, há muito que sentir, viver, partilhar, aprender com as pessoas de idade, infelizmente atiradas para o lixo na maior parte das vezes - e eles têm tanto para nos oferecer como aprendizagem de sermos, tão só e apenas, humanos... nem que seja para (re)aprendermos o gozo de abraçar alguém, em palavras, afectos, sentimentos ou também e principalmente em... abraços!


Um abraço para ti também


PS - Não sei se já disse, mas gostei muito do teu teu texto!

Nuno Guronsan disse...

E agora estou para aqui a corar. Parece que me continuo a surpreender com o impacto que meia dúzia de palavras escritas à pressa conseguem às vezes ter. A única coisa que posso dizer é que espero que o vosso Natal também vos traga "prendas" boas e um ainda que breve momento de paz.

Beijos, Miuda.
Abraço, Cuotidiano.

Anónimo disse...

Corar?! Não precisas, há quem consiga com meia dúzia de palavras maravilhar as pessoas, nem todos têm essa faculdade, nem sempre aqueles que a têm conseguem fazer uso dela. Mas o que interessa é que passaste a tua ideia de forma ternurenta, bonita e cheia de recordações nas quais certamente a maioria se revê!
O serem escritas à pressa tem por vezes mais vantagens do que desvantagens, significa que estamos na ânsia de brotar qualquer coisa cá para fora e invariavelmente a ideia, mesmo que tenha de ser reescrita devido aos eventuais erros ou desconexões, será normalmente muito mais interessante do que aquelas forçadas por inúmeras razões!
Revi-me e gostei!
:)

PS- Com a minha análise, até parece que sei do que estou a falar, mas não sei!!

SK disse...

A unica reacção possível é um silêncio de profundo respeito e admiração.
Humanidade a rodos.

Um forte abraço :)

A disse...

Bolas Guronsan....

Bolas....

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Talvez seja da altura do ano, da hora, das memórias, não sei, mas as lágrimas encheram-me os olhos.

As imagens dos meus avós e de Natais e de dias felizes, de noites a empaturrar comida e doces e doces e comida e os momentos que me arrependo de não ter passado com eles, sempre o tempo... mais tempo com eles.

Vivem cá dentro. Para sempre.
No que eles foram, no que sempre serão pois levo-os sempre comigo.

Um sincero Obrigado.

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Sublime.

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Beijos

Nuno Guronsan disse...

Espero não ter provocado demasiadas lágrimas. Não era essa a intenção. Era apenas reavivar memórias boas que tenho (e que pelos vistos são partilhadas com mais gente) e dizer-me a mim próprio para viver ao máximo os momentos que se apresentam agora, neste segundo. Obrigado pelas vossas palavras calorosas que me deixam um sentimento mais doce que qualquer confeito :)

Saudações natalícias a todos e todas!

Anónimo disse...

Custa a querer que haja famílias que não conhecem as sensações que acabas de descrever. Custa a querer haja quem delas não sinta falta...Custa saber que muitas delas não se irão repetir... Mas, em boa verdade, o que a vida leva, a vida trás... Em 1999 tive quatro avós comigo nessa noite mágica...em 2000 apenas dois...e a magia desapareceu...deixei que, aos poucos, ela desse lugar ao consumismo desenfreado. Mas este natal vai ser diferente. Este Natal marca uma viragem importante na minha vida. Vou passar o natal com o Amor da minha vida e certamente que teremos presente no nosso pensamento que um dia seremos nós a estar nas escadas, à espera de sermos contagiados com a alegria inocente de nossos netos….