quarta-feira, dezembro 31, 2014

Amanhã é já ali

     "É o último dia do ano, os homens pensam no que aconteceu
ensaiando balanços de dinheiro, amores, sucessos e também fra-
cassos. São poucos os que se alegram, maior a ânsia, imensa a espera.
     Alguns imaginam vidas de caminho, atrás do que lhes falta,
como se o futuro fosse lugar e a felicidade um pouco de terra
que os pés pudessem pisar. Carregam a vida como a um cavalo
cansado que tem de andar sempre, à força de esporas e maus
tratos, à força de sonhos já muito sonhados.
     Só o presente é lugar, e fica aqui, no ponto exacto em que as
memórias se sublimam em desejos."

Nuno Camarneiro


terça-feira, dezembro 30, 2014

vi, ouvi e li

gravity, alfonso cuarón
the desolation of smaug, peter jackson
wild at heart, david lynch
grand budapest hotel, wes anderson
hunger, steve mcqueen
12 years a slave, steve mcqueen
o congresso, ari folman
paradise now, hany abu-assad
the maltese falcon, john huston
gone girl, david fincher
uivo, eduardo morais
paris, texas, wim wenders

.......................................................................

flora, moullinex
emmaar, tinariwen
a bunch of meninos, dead combo
artificial sweeteners, fujiya & miyagi
i never learn, lykke li
things are really great here, sort of..., andrew bird
familiars, the antlers
pelo meu relógio são horas de matar, mão morta
popular problems, leonard cohen
legao, erlend øye
banda do mar, banda do mar
diabo na cruz, diabo na cruz

.......................................................................

claraboia, josé saramago
o pintor debaixo do lava-loiças, afonso cruz
o hipopótamo de deus, josé tolentino mendonça
e a noite roda, alexandra lucas coelho
o deus das moscas, william golding
slaughterhouse 5, kurt vonnegut
all the pretty horses, cormac mccarthy
the hundred-year-old man who climbed out of the window and disappeared, jonas jonasson
the perks of being a wallflower, stephen chbosky
o livro da consciência, antónio damásio
o tempo morto é um bom lugar, manuel jorge marmelo
william shakespeare's star wars, ian doescher


quarta-feira, dezembro 24, 2014

desejos de Natal

     "E ao ouvir os sonhos de Tuahir, com os ruídos
da guerra por trás, ele vai pensando: «não inventa-
ram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de
explodir os homens sem lhes matar. Uma pólvora
que, em avessos serviços, gerasse mais vida. E do
homem explodido nascessem os infinitos homens
que lhes estão por dentro»."

Mia Couto

 

domingo, dezembro 21, 2014

Report from a besieged city

"Too old to carry arms and to fight like others—

they generously assigned to me the inferior role of a chronicler
I record—not knowing for whom—the history of the siege

I have to be precise but I don't know when the invasion began
two hundred years ago in December in autumn perhaps yesterday
     at dawn
here everybody is losing the sense of time

we were left with the place an attachment to the place
still we keep ruins of temples phantoms of gardens of houses
if we were to lose the ruins we would be left with nothing

I write as I can in the rhythm of unending weeks
monday: storehouses are empty a rat is now a unit of currency
tuesday: the mayor is killed by unknown assailants
wednesday: talks of armistice the enemy interned our envoys
we don't know where they are being kept i.e. tortured
thursday: after a stormy meeting the majority voted down
the motion of spice merchants on unconditional surrender
friday: the onset of plague saturday: the suicide of
N.N., the most steadfast defender sunday: no water we repulsed
the attack at the eastern gate named the Gate of the Alliance

I know all this is monotonous nobody would care

I avoid comments keep emotions under control describe facts
they say facts only are valued on foreign markets
but with a certain pride I wish to convey to the world
thanks to the war we raised a new species of children
our children don't like fairy tales they play killing
day and night they dream of soup bread bones
exactly like dogs and cats

in the evening I like to wander in the confines of the City
along the frontiers of our uncertain freedom
I look from above on the multitude of armies on their lights
I listen to the din of drums to barbaric shrieks
it's incredible that the City is still resisting
the seige has been long the foes must replace each other
they have nothing in common except a desire to destroy us
the Goths the Tartars the Swedes the Emperor's troops regiments of
                       Our Lord's Transfiguration
who could count them
colors of banners change as does the forest on the horizon
from the bird's delicate yellow in the spring through the green the red
                       to the winter black

and so in the evening freed from facts I am able to give thought
to bygone far away matters for instance to our
allies overseas I know they feel true compassion
they send us flour sacks of comfort lard and good counsel
without even realizing that we were betrayed by their fathers
our former allies from the time of the second Apocalypse
their sons are not guilty they deserve our gratitude we are so grateful
they have never lived through the eternity of a siege
those marked by misfortune are always alone
Dalai Lama's defenders Kurds Afghan mountaineers

now as I write these words proponents of compromise
have won a slightly advantage over the part of the dauntless
usual shifts of mood our fate is still in the balance

cemeteries grow larger the number of defenders shrinks
but the defense continues and will last to the end
and even if the City falls and one of us survives
he will carry the City inside him on the roads of exile
he will be the City

we look at the face of hunger the face of fire the face of death
and the worst of them all—the face of treason

and only our dreams have not been humiliated"

Zbigniew Herbert



quarta-feira, dezembro 17, 2014

Terra Sonâmbula

        "Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem,
conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças
desobedecem, entre a vontade de serem nada e o
gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória,
me apago a mim. No fim destes escritos, serei de
novo uma sombra sem voz."

Mia Couto

 

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Um buraco no coração



(... ou como apenas nos apercebemos do frio da noite quando ele nos atinge o coração...)


sábado, novembro 22, 2014

O Tempo Morto É Um Bom Lugar

                                                            "Massagem subdér-
mica. Mesoterapia. Drenagem linfática. Termossudação. Pe-
eling. Branqueamento dentário. Modelação da silhueta. Body
pump. Talassoterapia. Pilates. Hidromassagem. Sauna. Que-
enax. Termodepilação. Fotodepilação com luz pulsada. Radio-
frequência tripolar. Pressoterapia. Bodyshape. Auriculoterapia.
Shiatsu. Cavitação. Epilação a laser de diodo. Pedicuro e ma-
nicure. Bikini waxing. Tudo praticamente de um dia para o
outro e sem pausa nenhuma (...)"

Manuel Jorge Marmelo



(Claramente nunca serei um famoso da reality tv. Ou então estou a precisar de um dicionário novo...)

segunda-feira, novembro 10, 2014

Uivo



Para uma imensa minoria, haverá sempre a saudade e a felicidade de recordar um tempo em que ouvíamos a voz do Mestre a indicar-nos o caminho da música que abria a nossa alma ao mundo. Uivo é uma bonita homenagem e recordação do que este homem significou para toda essa imensa minoria. Seja a que hora for e em que delta for, vão ver e prestem o vosso carinho ao verdadeiro Lobo.


quinta-feira, outubro 30, 2014

Alabardas

         "Boas noites, Boas noites. Dez
minutos depois o telefone de artur paz se-
medo tocou. Era felícia, Não procures en-
comendas assinadas pelo general franco,
não as encontrarias, os ditadores só usam
a caneta para assinar condenações à morte. E desli-
gou antes de que ele pudesse responder."

José Saramago


 

terça-feira, outubro 28, 2014

What...


"What are you thinking? What are you feeling? What have we done to each other? What will we do?"

 

segunda-feira, outubro 13, 2014

segunda-feira, outubro 06, 2014

Subi as escadas. Degrau a degrau, enfrentando a quase total escuridão apenas quebrada pela claridade invasora vinda das janelas. Vejo as teias de aranha, nos cantos e recantos das salas. O pó acumulado de um ano sobre as pastas, as mesas, as cadeiras. Um ano sem vivalma entrar naqueles espaços. Aqui e ali pequenos vestígios da presença humana. Uma garrafa de água, ainda com algum líquido, a tampa logo ao lado, repousando ao pé de um cinzeiro apenas preenchido de pó. Um caneta, seca de tinta, acompanhada de um dossier aberto numa página em branco e de um calendário atrasado de muitos meses. Entro num antigo arquivo, uma dezena de estantes repletas de dossiers que um dia terão sido pretos, agora cobertos de uma névoa que por aqui foi ficando até se instalar por inteiro. Leio as lombadas. Invocam diferentes departamentos, variadas funções, recuando no tempo, cinco, dez, quinze anos. Os mesmos anos dos cartazes motivacionais, promocionais e outros que tais que decoram as paredes. Tudo envelhecido antes do tempo, papel amarelado, tinta desbotada, na maior parte dos casos a esconder a humidade e as infiltrações do edifício. Fico com o olhar preso num livro, em cima de uma secretária, que parece lembrar-me outros tempos, mais inocentes, da minha própria infância. Sopro o pó que o cobre, abro-o e folheio as páginas. Nomes atrás de nomes, dias atrás de dias, horas de entrada, horas de saída. Assinaturas copiadas até ao fim da cada página. Reconheço um ou dois dos nomes, numa pequena imensidão de outras pessoas, homens e mulheres que passaram e trabalharam por esta casa. Retratos a caneta bic azul de um tempo que já pertence ao passado e não verá a luz do futuro. Algumas das estantes não aguentaram o desaparecimento das pessoas e deixaram-se desfalecer sob o peso dos papéis e mais papéis. Ali jazem, no chão de fórmica, inertes, derrotadas, esperando o momento em que serão depositadas num qualquer aterro ou compactador que as devolva à vida sob uma outra qualquer forma. Papéis em cima de papéis em cima de mais papéis. Espalhados por todas as salas. Sempre à espera de um olhar que os veja mais uma vez, que os veja como mais do que uma obrigação legal, imposição burocrática que teima em desaparecer. De que servem agora? Se alguém lhes ateasse fogo, quem precisaria mais deles? Para quê? Para acabarem aqui, tão derrotados como a empresa que aqui morou. Apenas isto resta, anos e anos de trabalho, suor, vitórias, lágrimas, derrotas, tudo isto para nada mais ficar. É tempo de limpar tudo. Varrer o chão, os papéis, as teias de aranha, as vidas que abandonaram este sítio e apenas continuaram fora destas quatro paredes. Aqui dentro acabou-se. Uma nova alma virá ocupar isto, mas agora é apenas respeitar o silêncio que aqui há e recordar os erros, lembrar por momentos o que aqui houve e trabalhar para que a história não se repita e pensar que a esperança pode ser muito mais que o nome de uma aldeia ou o nome de uma infeliz campanha publicitária. A esperança, ou melhor, a Esperança pode começar neste preciso segundo. Assim o esperamos.



quarta-feira, setembro 24, 2014

Stranger Than Fiction

"As Harold took a bite of Bavarian sugar cookie, he finally felt as if everything was going to be ok. Sometimes, when we lose ourselves in fear and despair, in routine and constancy, in hopelessness and tragedy, we can thank God for Bavarian sugar cookies. And, fortunately, when there aren't any cookies, we can still find reassurance in a familiar hand on our skin, or a kind and loving gesture, or subtle encouragement, or a loving embrace, or an offer of comfort, not to mention hospital gurneys and nose plugs, an uneaten Danish, soft-spoken secrets, and Fender Stratocasters, and maybe the occasional piece of fiction. And we must remember that all these things, the nuances, the anomalies, the subtleties, which we assume only accessorize our days, are effective for a much larger and nobler cause. They are here to save our lives. I know the idea seems strange, but I also know that it just so happens to be true. And, so it was, a wristwatch saved Harold Crick. "


segunda-feira, setembro 15, 2014

the perks of being a wallflower

"I walk around the school
hallways and look at the
people. I look at the teachers
and wonder why they're
here. Not in a mean way. In a
curious way. It's like look-
ing at all the students and
wondering who's had their
heart broken that day... Or
wondering who did the heart
breaking and wondering why."

Stephen Chbosky

 

quarta-feira, setembro 03, 2014

"I'm so sorry for everything..."



Hoje tive uma ideia que já não me passava pela cabeça há muito tempo. Desde a altura em que era adolescente e tudo me parecia urgente, com o tempo a fugir por baixo dos meus pés. É uma ideia que normalmente me assusta de tão aterradora que é. Mas hoje, sentado num banco à beira-mar, sem vento e apenas com o cheiro da maresia, tenho que confessar que essa mesma ideia me pareceu acolhedora, confortável mesmo. É daqueles coisas que passam pela nossa mente, ainda que de forma fugaz, e o sentimento dura apenas alguns segundos, mas uma vez ocorrida e especialmente a forma como me senti em relação a ela, torna tudo muito difícil de interpretar. Lembro-me até de já ter escrito, ao longo dos anos, algumas palavras relacionadas com esta ideia. Mas mesmo quando o faço, acho que acabo por o fazer de uma forma distante e nunca com uma razão suficientemente forte para o justificar. Talvez não haja mesmo justificação. Acontece e pronto. Fim. E depois? Tão aterrador como a ideia em si, é não saber o que há depois. E não afasta a ideia que é uma história que fica a meio, sem a continuação normal dos dias. E como não sabemos o que acontece ao protagonista, esse mesmo fica na angústia de saber o que acontece a todos os outros, os que seguem pela estrada principal. Resumindo, tal como a ideia me deixa um pouco fora do meu normal ser, acontece que também não a consegui afastar o suficiente e ela acabou por cruzar-se comigo. No fundo sei porque é que isto acontece. Porque tenho demasiado tempo em mãos, porque os meus receios me têm rodeado mais vezes recentemente, e também porque me falta alguém. Alguém com quem a partilha fosse total, alguém que me desse a mão e se entregasse por completo a mim, alguém a quem eu me pudesse entregar na totalidade do meu ser. No meu âmago sei que isto poderia colocar ideias idiotas fora do meu cérebro. E que acabaria por ter nas minhas mãos algo mais importante que tudo o resto, algo que me reanimasse, me fizesse saltar o coração e seguir em frente. Um dia destes...


(Novembro de 2009. Toda uma outra vida que ficou lá atrás.)

"Baby, we'll be fine..."



 


terça-feira, agosto 26, 2014

Como diz ali mais abaixo...

... "um simples turista de passagem."


E o anonimato é realmente uma qualidade súbtil. Mesmo que com uma breve referência a "pratos" mais familiares e que nos lembram que o regresso também faz parte do ritual.

 

quarta-feira, agosto 20, 2014

Das palavras que me abraçam.

"as pessoas más não entendem a beleza. não constroem casas nas árvores, não andam de baloiço com os filhos ao colo, não se sentam na areia a ouvir as gargalhadas dos pequenos, não se embrulham com os caes numa obscenidade de beijos, não sabem o sabor da água salgada, não sentem o mar a acariciar a face, não sorriram ao outro, não ergueram sonhos, não brindaram aos amigos, não deram a mão à avó, não apreciaram o olhar do rosto rugoso da mãe, não provaram bolos saídos do forno, não subiram árvores para ver o mundo do alto, não ousaram tocar um dia as nuvens, não se deleitaram com a luz do luar, não se entregam em noites de amor, não comeram torradas a escorrer manteiga, não provaram o sabor da boca do outro, não dançaram ao som de musica imaginária, não deram a mão a ninguém. não quiseram. as pessoas más existem e não vivem."

(da minha querida amiga Polly Jean)

 

domingo, agosto 17, 2014

Um buraco no coração



(ou de como o passado ainda nos atormenta e nos lembra que nunca o poderemos alterar...)


sábado, agosto 16, 2014

Algo de bom...

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm3thAjUiklOlnCw6zgHXq3ATdKDMGyRhvWEkiAWuFLcCjO5AVMfgEHdcHjJaIJKm4-W80bfQBovfvQmmut6MKrG4kPLzWD9AyMAInKs_pG8-oMZEI12B9iLVb4AVI7fJnFbeF/s320/untitled.JPG 

(Foto de PenaBranca)


Assim que acabou de ler aqueles parágrafos já um pouco distantes, deixou ficar-se sentado, a olhar pela janela para o sol que se escondia.O sol. Seria sempre uma boa razão para manter o optimismo, especialmente naquele cenário campestre que o acompanhava. Olhou para o passeio. Algumas pessoas aproveitavam o fim de tarde para caminhar e receber um pouco de ar mais fresco nas suas faces. Da sua cadeira pensava, pensava como o tempo é realmente bem personificado na forma da ampulheta, os grãos de areia a escoarem sempre, sem se preocuparem com o que acontece à sua volta. Assim já se tinham passado mais de cinco anos desde o debate. Desde a troca de personalidades, ainda que momentânea. Era um tempo que, mesmo com todas as nuvens negras que teve, recordava com alguma saudade. Apenas alguma. Especialmente daquele tempo em que a sua troca de correspondência fluia com mais vigor, com mais facilidade, com mais, ousava dizê-lo, tranparência. Hoje em dia, mesmo estando mais vezes juntos, o debate era mais moderado, menos extremado. Sinal dos tempos, ou sinal de uma maturidade que já não deixava muito espaço para a impulsividade e emergência de outros tempos. Quando se viajava todos os anos e se deixava tudo para trás, sem remorsos ou outras âncoras que nos agarrassem. Se calhar era isso que precisava, voltar a viajar. Já não deixar a cidade nas costas, mas sim o campo bucólico e generoso, onde toda a gente se conhece e toda a gente tem um opinião para dar. Precisa de sair, ir para um sítio onde ninguém o conheça, um local onde se possa tornar de novo um anónimo, um simples turista de passagem. Sim, era mesmo isso. Provavelmente seria uma viagem a solo, só ele, sem a estimada companhia de outros tempos. Mas não seria isso que o demoveria. Aproveitou os últimos raios de sol para abrir o velhinho atlas lá de casa, ao calhas, como sempre...


segunda-feira, agosto 04, 2014

Nos nossos dias...


"I was born in a refugee camp. I was allowed to leave the west Bank only once. I was 6 at the time and needed surgery. Life here is like life imprisonment. The crimes of the occupation are countless. The worst crime of all is to exploit the people's weaknesses and turn them into collaborators. By doing that, they not only kill the resistance, they also ruin families, ruin their dignity, and ruin an entire people. When my father was executed, I was 10 years old. He was a good person. But he grew weak. For that, I hold the occupation responsible. They must understand that if they recruit collaborators, they must pay the price for it. A life without dignity is worthless. Especially when it reminds you day after day, of humiliation and weakness. And the world watches cowardly, indifferently. If you're all alone, faced with this oppression... you have to find a way to stop the injustice. They must understand that if there's no security for us there'll be none for them either. It's not about power. Their power doesn't help them. I tried to deliver this message to them but I couldn't find another way. Even worse, they've convinced the world and themselves that they are the victims. How can that be? How can the occupier be the victim? If they take on the role of oppressor and victim then I have no other choice but to also be a victim and a murderer as well. I don't know how you'll decide, but I will not return to the refugee camp."


terça-feira, julho 29, 2014

All The Pretty Horses


"That night he dreamt of horses in a field on a high plain
where the spring rains had brought up the grass and the
wildflowers out of the groud and the flowers ran all blue and
yellow far as the eye could see and in the dream he was among
the horses and the coursed the young mares and fillies over the
plain where their rich bay and their rich chestnut colors shone
in the sun and the young colts ran with their dams and trampled
down the flowers in a haze of pollen that hung in the sun like
powdered gold and they ran he and the horses out along the
high mesas where the ground resounded under their running
hooves and they flowed and changed and ran and their manes
and tails blew off of them like spume and there was nothing
else at all in that high world and they moved all of them in
a resonance that was like a music among them and they were
none of them afraid horse nor colt nor mare and they ran in
that resonance which is the world itself and which cannot be
spoken but only praised."

Cormac McCarthy

 

segunda-feira, julho 28, 2014

"Janela"

"A vida não é menos
incoerente do que os sonhos;
é apenas mais insistente."

José Eduardo Agualusa



Gostava de ter uma "janela" igual a esta. Não só na minha casa, mas permanentemente na minha vida. Parece que olhando através dela todos os problemas e angústias desaparecem como num passe de magia. O sol, o céu azul e o mar são todo o zen que preciso, nada mais. Eu e todos os indivíduos que aqui ocorrem. Como borboletas (ou traças) que correm na direcção da lâmpada descuidadamente ligada. Nas conversas, nos olhares, nas expressões iluminadas, percebe-se a nossa cumplicidade. Ainda que anónima. Uma ou outra pessoa sentada sozinha, a maioria em casais ou grupos de amigos. Os casais parecem enamorados, prescrutando ansiosos o horizonte que se vai tornando cada vez mais vermelho. Olho e lembro-me do livro do Agualusa, que acabei ontem à noite. E penso se o nosso destino é mesmo vivermos toda a nossa vida ao lado da mesma pessoa ou se, como Faustino, devemos viver vários e diferentes amores, o mesmo é dizer viver muitas vidas dentro da nossa aparente breve existência de carne e osso? Não sei responder. Neste preciso nanosegundo, a minha vida encontra-se tão longe destes dois caminhos distintos, que tenho dificuldade em sequer pensar no que me aguarda ao virar da esquina. É o defeito de ter o mar à minha frente. Desligo os meus neurónios, não penso em mais nada, apenas na calma que me rodeia, no sol que se esconde por trás do mar imenso, no céu em chamas que me cobre, nas trevas que se vão aproximando e me prometem embalar para um outro mundo, um mundo onde posso ser eu mesmo, sem pressões, sem ter de me esconder e fugir dos meus dias que passam a correr. A resposta é que sonho em ter uma vida como a de Faustino, exactamente igual e em todos os aspectos. Mas dentro de mim, também há um coração que secretamente anseia por ser como um dos casais à beira da minha "janela". Baixa a cortina, acaba o espectáculo, pago a conta e saio porta fora .

(Novembro de 2008. Escrito no único sítio que poderia fazer sentido.)


domingo, julho 27, 2014

O Congresso



"Ultimately, everything make sense. And everything is in our mind."


sábado, julho 26, 2014

Um sonho

"A tua amiga é louca???". Pois, Pai, tu nunca o saberás mas naquele momento tivémos a mesma reacção. A diferença é tu verbalizaste as palavras que te passaram pela cabeça enquanto eu me mantive em silêncio. Aliás, ultimamente acredito cada vez mais que ficar calado perante algumas situações mais parvas que me acontecem é o caminho mais acertado. E a profusão de coisas parvas a acontecerem começa a parecer uma tempestade perfeita, umas atrás das outras. E a paciência para as suportar reduz a olhos vistos. De modo que é melhor afastar-me ou, como ontem, apenas nada dizer. Não vale certamente abrir a boca para apenas conjurar ainda mais palavras, atitudes e sentimentos que realmente não fazem bem à sanidade mental de ninguém. E admiro a tua perspicácia, meu Pai, pois não conhecendo bem a pessoa em causa, ainda assim conseguiste fazer um diagnóstico bastante claro sobre o que ali se passava. Como se tua infinita sabedoria de quem já passou por tanta coisa, identificasses perfeitamente o que se passava no âmago daquela pessoa. Sinto que não te dou tanto crédito como deveria, mas depois de ontem acredito que tal não se repetirá. Digo mesmo mais, acho que vais passar a ser o meu próprio oráculo privado...


Acordei repentinamente. Ainda não havia claridade portanto ainda não seriam sequer seis da manhã. A memória do que se tinha passado começava a dissipar-se. Puxei da caneta e do bloco de notas da secretária e fiquei sentado na cama, a escrever sob a luz do candeeiro da mesa de cabeceira. A tinta ia enchendo as pequenas páginas do bloco, retendo tudo ou quase tudo do que tinha sucedido. Quando terminei, li todas as palavras e nada parecia fazer sentido. Poisei tudo, desliguei a luz e voltei a deitar-me, com esperança que o sono ainda chegasse antes do despertador.

quinta-feira, julho 24, 2014

Epitáfio

Caiste desamparada no asfalto quente da nossa rua. A rua onde morámos mais anos do que em outro qualquer lugar das nossas vidas. Quando me apercebi da tua queda já era tarde, tão tarde para te agarrar. Apenas tive tempo de largar a bengala que me amparava e prostar-me também caído ao teu lado. Os dois, lado a lado, jazíamos olhando nos olhos um do outro. O meu olhar perdido no teu olhar distante, perdido. Segurei a tua mão, numa vã tentativa de te tranquilizar, de te dizer sem palavras que a ajuda estava a caminho, que iríamos ser salvos deste chão que nos queimava a face. De te tentar esconder a verdade, crua e cruel. Que a ajuda chegaria tarde, pelo menos para um de nós. Que estes olhares e estas palavras que te sussurrava seriam as últimas coisas que alguma vez verias e escutarias. Que a tua vida terminaria ali, ao meu lado, mas não ao mesmo tempo que a minha. Que eu ainda iria ficar aqui, para te recordar, para te amar, para viver sem ti o resto dos meus dias. Que a tua respiração terminava aqui e agora, que a minha dor estava prestes a começar. Adeus, meu amor.



terça-feira, junho 03, 2014

Um passeio a Kobe

"Trinta e tal anos. Uma coisa vos garanto: quanto mais velha uma
pessoa fica, mais solitária se torna. Isto vale para toda a gente.
Mas talvez não esteja errado. O que pretendo dizer é que, de certo
modo, as nossas vidas não passam de uma série de etapas que nos
vão ajudar a conviver melhor com a solidão. Nestas circunstâncias,
não faz sentido amaldiçoarmos a sorte. Alémn disso, e pensando bem,
a quem podemos queixar-nos?"

Haruki Murakami

 

domingo, junho 01, 2014

Cotão


nome masculino

1.
lanugem de alguns frutos

2.
pelo que se desprende do pano pelo uso

3.
desperdício da

4.
partículas que se juntam às paredes e debaixo dos móveis, quando não limpeza

(Do árabe qu Tun, «algodão», pelo francês coton, «idem»)

(in Infopédia)

(realmente, não podia haver melhor simetria entre a casa real e esta casa virtual.) 


quarta-feira, maio 21, 2014

Vida e obra de um poeta

   "Hoje, nada sei de quem me amou ou ama. Nada me
reparte no tempo. Abro-me à unidade da vida - e amo o
passado e o futuro com um só fervor: completo. A geografia
não existe. Quem está em Joanesburgo e me ama ou possui
um breve poema rabiscado nas costas de um envelope, ou
quem me odeia em Roterdão e apenas tem algumas palavras
sem destinatário, nada poderá supor da minha lenta maturi-
dade. Esses papéis pouco valem, e esses sentimentos (de amor
e ódio). Vale quem sou. Ultrapasso as palavras escritas aos
trinta anos. O poema que agora escrevesse diria como estou
pronto para morrer, referiria enfim a excelência do meu corpo
urdido nas aventuras da solidão e da comunhão, e falaria de
tudo quanto auxilia um homem no seu ofício - a ferocidade
dos outros, o apartamento, ou o seu amor que, ferido pela
ignorância, se inclina para ele, para o seu trabalho, o desejo, a
expectativa. Morrerei como se fosse numa retrete de Paris -
só, com a minha visão, o pressentido segredo das coisas.
   E é na morte de um poeta que se principia a ver que o
mundo é eterno."

Herberto Helder

sábado, maio 10, 2014

Fome

"I have my belief, and in all its simplicity that is the most powerful thing."



 


quinta-feira, maio 08, 2014

Cinzento

"Poeiras de crepúsculos cinzentos.
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços,
Como brancos fantasmas, sonolentos...

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em misteriosos passos...
Perde-se a luz em lânguidos cansaços...
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que o teu olhar me deslumbrou...
Hora em que a tua boca me beijou...
Hora em que fumo e névoa te tornaste..."

Florbela Espanca

 

quarta-feira, maio 07, 2014

Humanidade desconstruída

"As lágrimas saltaram-lhe, os soluços fizeram-no estremecer.
Entregava-se agora a eles pela primeira vez na ilha; espas-
mos intensos e frementes de sofrimento pareciam puxar-lhe
violentamente todo o corpo. A voz dele elevou-se acima do
fumo negro perante os destroços inflamados da ilha; conta-
giados por aquela emoção, os outros garotos começaram tam-
bém a tremer e a soluçar. No meio deles, com o corpo imundo,
o cabelo emaranhado e um nariz gotejante, Ralph chorou
pelo fim da inocência, pelas trevas no coração do homem e
pela queda no vazio do verdadeiro e sensato amigo a que cha-
mavam Piggy."

William Golding

 

terça-feira, maio 06, 2014

A humanidade é algo de absurdamente desconcertante...



"How could I write a letter without ink or paper? There is nobody I want to write to 'cause I hain't got no friends living as I know of. That Armsby is a lying drunken fellow. You know this, just as you know that I am constant in truth. Now, master, I can see what that Armsby is after, plain enough. Didn't he want you to hire him for an overseer? That's it. He wants to make you believe we're all going to run away and then he thinks you'll hire an overseer to watch us. He believes you are soft soap. He's given to such talk. I believe he's just made this story out of whole cloth, 'cause he wants to get a situation. It's all a lie, master, you may depend on't. It's all a lie."


quarta-feira, abril 23, 2014

Nada a declarar.

Não escrevo.
Coloco apenas as palavras de outros, outros melhores que eu.
Isso basta-me, apenas isso e mais nada me basta.
Como alguém dizia, tenho a cabeça limpa.
E isso não é nada de mau, pelo contrário.
Há-de haver outros dias, outras alturas, outras épocas.
Em que as minhas palavras voltarão a aparecer.
Por agora, nada.
Nada a declarar.



Debaixo de algum céu

     "Talvez amemos só pelo que o amor nos traz, ou pelo que
podemos ser quando alguém nos ama. Seremos assim tão tortos?
É possível que só saibamos dar a nós mesmos? Orgulho, respeito,
altruísmo, abnegação. São coisas que atiramos porque sabemos
que hão-de voltar, como um pau que um cão nos há-de devolver.
     Já não sei nada, que se foda o amor, andamos todos para aqui
a estragar as vidas uns aos outros com os melhores propósitos.
«Eu sempre te amei», «És a mulher da minha vida». O caralho
é que és, o caralho é que amei. Quis prazer, como tu quiseste,
serenidade, certeza, posse. Sim, quisemos isso tudo e pensá-
mos que nos ficava de graça, uns beijos e algumas palavras, tudo
por amor, mas não se trata de amor. Trata-se de outra merda
qualquer que nos faz falta e não tem nome, é simplesmente
outra merda qualquer."

Nuno Camarneiro

 

segunda-feira, abril 21, 2014

e a noite roda

"Tu dizes que tens uma vida e eu apareci. Tu dizes que
julgavas ter uma vida e eu apareci. Tu dizes que julgavas
ter uma vida e eu apareci mas que fazer? Eu digo que
se não sabes terminemos, antes que tudo se torne pior."

Alexandra Lucas Coelho

 

domingo, abril 20, 2014

Maravilhosa e delirantemente WesAndersoniano...


"You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity. Indeed that's what we provide in our own modest, humble, insignificant... oh, fuck it."


sexta-feira, abril 18, 2014

Aquele que dá a vida

"Um touro preto é uma espécie de massa rebarbativa, com
uma obscura vida interna onde se imagina que circulam ima-
gens fundas e carregadas. É difícil discernir os teoremas que,
pela acção, vai demonstrar. E a maneira como o fará, com
suas improvisações e inspirações repentinas. Mas existe uma
fenda nesse sistema de energias, a ponta de um ferro, a imper-
ceptível abertura oferecida pelo destino à derrota e à morte.
Pois cada criatura subtilmente se conjuga com os impulsos da
destruição. Tecido de imperscrutáveis forças que de súbito se
animam. É um jogo cerrado, difícil."

Herberto Helder


quinta-feira, abril 17, 2014

O fado, à distância de um piano

Ontem tive o prazer de ouvir o piano do Júlio Resende. E prazer é uma palavra demasiado tímida para descrever a música que me foi dada a ouvir. Apenas sei que o fado também passa por ali, por um piano que parece possuído, choroso, alegre, revoltado, saudoso nas mãos do Júlio. E por tudo aquilo, acabei por me lembrar de palavas que já escrevi há uns anos, mas que fazem todo o sentido no meu coração, na minha alma. Não resisto a voltar a elas.



Começou a ouvir as primeiras notas a ecoarem no silêncio do prédio. A vizinha de cima acabava de começar o seu "concerto" de final de tarde. Encostado no sofá, depois de mais um dia de trabalho, com a janela meio aberta, a deixar entrar alguma corrente de ar e aquela luz magnífica que só os fins de tarde de verão podem ter, no silêncio do seu apartamento, vai ouvindo as bonitas notas de um jazz de uma beleza em câmara lenta que a sua vizinha de cima toca de cada vez que os seus dedos encontram as teclas brancas e negras do seu piano. Naqueles dias quentes, acaba por ser a única coisa que o faz descontrair e arrefecer o espiríto. Imagina que ela toca apenas para ele, que as notas atravessam as paredes da casa com o único intuito de chegar aos seus ouvidos, a todos os recantos da sua mente, dando-lhe paz e sossego. Gosta mais das suas notas de verão. Mas também sente o coração reconfortado nas tardes chuvosas de inverno, quando a vizinha de cima toca peças clássicas, frias e minimais, das quais ele desconhece o nome do compositor. Nunca foi um conhecedor de música erudita e até quase que podia dizer que a mesma não o entusiasmava por aí além. Mas a combinação da contenção daquele piano, com as gotas de chuva a acariciarem o vidro da janela, e com o crepitar das pequenas labarelas na sua lareira, proporcionavam-lhe algo que não conseguia explicar. Talvez já morasse sozinho há demasiado tempo. Talvez os antigos pequenos momentos de solidão que apreciava se estivessem a tornar num vazio cada vez menos suportável. Talvez fosse apenas a sua cabeça a pregar-lhe partidas. Ou, naquele preciso momento, talvez o calor que vinha lá de fora fosse de tal forma abafado que a sua mente tivesse fugido para aquele antro de pensamentos esvoaçantes, ao som de um piano que não pedia permissão para se insinuar por toda a casa. Era engraçado que, de cada vez que tentava imaginar a vizinha de cima a tocar, apenas conseguia formar uma imagem mental das suas mãos a percorrerem o teclado, como se de uma peça de porcelana se tratasse. Não era porque não a conhecesse. Tinham-se cruzado umas quantas vezes, nas escadas, à entrada do prédio, em frente às caixas do correio. Algumas palavras de circunstância, bom dia, boa tarde, o tempo, as plantas da entrada, o carteiro que se enganava na correspondência, pouco mais. Nada sobre os concertos de piano. Tinha receio que ao mencionar algo sobre isso a deixasse desconfortável e o piano ficasse quedo e silencioso. Por isso, ele conhecia a sua vizinha de cima, sabia como eram as linhas e curvas do seu rosto, as formas do seu corpo, até o som da voz dela. Mas, naquele momento, sentado, no silêncio entrecortado pelo fluir das cordas do piano, a única imagem dela que lhe surgia era a dos seus dedos, movendo-se sem esforço, sentindo as teclas como se fossem extensões das falanges, as notas a sua voz. E se para apreciar a beleza sublime daquelas horas, daqueles verões, daqueles fins de tarde, se o preço a pagar fosse a solidão daquele apartamento que lhe servia de casa, pois então que fosse. Não se importava. Ouvir a sua vizinha de cima a tocar o piano era o amor que lhe chegava para incendiar o seu coração.


Piano negro, música iluminada

"Não há barco que de noite não seja negro. E não há dia que em certo momento não se confunda com a noite. E mesmo com os pés em cima de chão que não balance corres sempre o risco de naufrágio. Estar vivo é estar num barco, sim, e a cor dele, a tinta, se raspares bem, debaixo de mil outras, é sempre a mesma: o barco é negro, meu caro, não te iludas, sempre negro, sempre negro.

(Mas enquanto os elementos naturais e os elementos malvados não rasparem as tintas alegres, aproveita, meu caro. Por exemplo, hoje, ali, do outro lado da rua, parece que querem começar um baile. E já te enviaram o convite.)"

Gonçalo M.Tavares in "Amália por Júlio Resende"






domingo, abril 06, 2014

O gangster, o cangalheiro e o falso alentejano



Uns senhores. É isto apenas que tenho para dizer. Tenho de os voltar a ver em concerto, urgentemente. Um concerto do caralho, perdoem-me a expressão.


quarta-feira, março 12, 2014

É possível descrever a amizade

Sobre uma das minhas palavras predilectas.

"Mas é possível descrever a amizade? Quando nos con-
frontamos com a pergunta, sentimos que as dificuldades se
ampliam. Entramos num campo onde não há muitas decla-
rações exatas, até porque de sua natureza a amizade é implí-
cita, mesmo se contribui tão decisivamente para tornar a
vida explícita e vasta. Há uma ética da amizade, mas essa
não vem escrita, não é tutelada legalmente, e escapa ao ar-
bítrio dos pactos sociais. A amizade é singularíssima e
mune-se de uma desconcertante simplicidade de meios. O
traço mais universal da sua gramática é, talvez, o da pre-
sença: mas esta tanto se faz de muitos encontros, como de
poucos; de muitas palavras ou de um silêncio espaçado e
confidente; de um telefonema por dia ou por ano; de uma
ou de incontáveis atenções... O importante é que tudo isso
se torne, a dada altura, uma história que nos acompanha e
por onde o essencial da vida passa."

José Tolentino Mendonça

 

segunda-feira, março 10, 2014

Um buraco no coração



(..."this whole world's wild at heart and weird on top.")



quarta-feira, fevereiro 26, 2014

O profundo silêncio das manhãs de domingo

"O ideal, já se sabe, é que pudéssemos todos che-
gar a ser felizes. A maior parte dos vivos tem, porém,
de se contentar com a infelicidade de não chegar a
ser feliz. Sendo assim, talvez haja na ideia de uma
bela infelicidade algo de redentor, como uma espécie
de meta de consolação. Não sendo possível atingir a
felicidade, é ainda assim aceitável viver infelizmente
- se formos capazes de plantar na nossa infelicidade
um instante de doce melancolia, algo como o raio de
sol que vem tornar suportáveis as manhãs de chuva."

Manuel Jorge Marmelo

 

sábado, fevereiro 15, 2014

Pré-aviso

Hoje há mais uma sessão de vai e vem. Tornaram-se também parte da rotina dos últimos quase quatro anos de interior continental. É um par de horas que normalmente passa num instante, a mais das vezes ao som de memórias musicais de outros tempos. Talvez que a lembrar que a vida por aqui deixou, há muito, de ser uma simples linha recta, com mais curvas e contracurvas que a antiga estrada de Lamego. Vou provavelmente ter a companhia da chuva e das nuvens cinzentas que ultimamente cavalgam os nossos céus. Seja. Não é a primeira vez e não será certamente a última. As chegadas a "casa" compensam sempre os rigores das viagens, o calor dos corações que nos amam é o melhor bálsamo para melancolias e demais devaneios mentais. Vou, como também já começa a ser tradição, com a esperança de encontrar amizades várias. Dos mais diferentes recantos da minha vida, mas com a base comum de fazerem parte do meu ser. Já sei que não vou conseguir estar com todos e alguns não vão conseguir estar comigo. Faz parte. Não há problemas nem chatices, haverá mais oportunidades e não será pela falta de vaivéns. Por enquanto tem e será assim. No futuro logo se vê. É andar por aqui e assitir aos próximos capítulos. E ir gravando uns instantâneos e andar sempre com a caneta e o caderno atrás, nunca se sabe quando é que as palavras certas se poderão atravessar no nosso caminho. E é isto. Bater a porta, rodar a chave, destravar e carregar no acelerador. Vêmo-nos desse lado.


domingo, fevereiro 09, 2014

Da alma.

Houve um momento no concerto de ontem à noite onde tudo ficou claro como a água. Onde as palavras, a voz, a guitarra portuguesa, o foco de luz que atravessava a escuridão, se juntaram à enorme alma que Camané coloca nas suas canções e encheram aquele palco de uma luminosidade como poucos conseguem trazer para a música. Foi gratificante ver a sala completamente cheia a aplaudir. Mais um bonito concerto que vou guardar no meu baú de memórias portalegrenses.

"Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou."


quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O pintor debaixo do lava-loiças

"Todos os jardins da nossa infância são o jardim
do paraíso. A pele suave desses tempos em que se
corria com as pernas arqueadas soltando uma espé-
cie de luz pela respiração. Ríamos a correr para os
braços dos adultos numa entrega absoluta. Eles, os
adultos, atiravam-nos ao ar e apanhavam-nos com
mãos ásperas, e, talvez por isso, quando crescemos
nunca mais deixamos de, esporadicamente, sonhar
que voamos. E de sonhar com gigantes e anões, pois
eram essas as nossas proporções".

Afonso Cruz

 

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Claustrofobicamente fenomenal



"I get it, it's nice up here. You could just shut down all the systems, turn down all the lights, just close your eyes and tune out everyone. There's nobody up here that can hurt you. It's safe. What's the point of going on? What's the point of living? Your kid died, it doesn't get any rougher than that. It's still a matter of what you do now. If you decide to go then you just gotta get on with it. Sit back, enjoy the ride, you gotta plant both your feet on the ground and start living life. Hey, Ryan, it's time to go home."


sexta-feira, janeiro 24, 2014

"I am fire... I am death!"


(Só por isto já valia a pena. Isto e uma série de orcs a serem chacinados, claro :)))


Normas e regulamentos

Quando cheguei à última página, lembrei-me de outros tempos, outros locais, outras hierarquias, resumindo outras "espécies" de pessoas. De como há tantas diferenças entre os cenários que quase dava para escrever um livro inteiro de como não fazer as coisas de forma correcta. Aliás, a única coisa que me passava pela cabeça enquanto lia parágrafo após parágrafo era que a minha vida anterior estava lentamente a tentar arrombar a porta da minha actual vida. Mas agora tudo à minha volta está muito diferente, e para bem melhor. Mesmo com algumas preocupações e ansiedades pontuais, muito melhor. E assim a única coisa que realmente podia fazer foi exactamente o que fiz, sorrir. Sorrir e pensar que fiz coisas que, à distância de uma fronteira, me parecem irreais e que, aqui, seriam ainda mais estranhas e inconvenientes. E voltei a sorrir e lembrei-me dos amigos e amigas do quotidiano que agora ficou lá atrás e que apenas os vejo de vez em quando no presente. E que eles e elas foram as melhores lembranças desse tempo de antigamente. E serão sempre. Era o que deveria dizer a trigésima norma, se ela existisse.


domingo, janeiro 05, 2014


Nunca, repito nunca haverá outro como tu. Dez anos antes de eu nascer fizeste magia futebolítica nos relvados da pátria mãe do futebol. Nunca haverá outro como tu. Descansa em paz.


quinta-feira, janeiro 02, 2014

Um buraco no coração


(ou como o meu coração ainda acredita em história de amor eternas...

"Legendary hearts
tear us all apart
make our emotions bleed
crying out in need")

Último capítulo.

Comecei o ano a acabar de ler um livro. E ao ler as últimas palavras trocadas entre Abel e Silvestre, apercebo-me lentamente que tenho uma parcela de cada um deles dentro de mim, na minha consciência. Dou por mim a torcer pelas intenções de Silvestre enquanto sei também que as coisas acabam por ser mais reais pelos olhos de Abel. No fundo, são os dois uma e única pessoa, não há muita volta a dar isto, o coração não é fácil de enganar, sei-o bem enquanto leio a última frase, que ficará a ecoar dentro de mim nos próximos dias deste novo calendário que agora começa...

"O dia em que será possível construir sobre o amor não chegou ainda..."

"you turn me good and god-fearing
well, tell me what am i supposed to do with that"