"Não
há barco que de noite não seja negro. E não há dia que em certo momento
não se confunda com a noite. E mesmo com os pés em cima de chão que não
balance corres sempre o risco de naufrágio. Estar vivo é estar num
barco, sim, e a cor dele, a tinta, se raspares bem, debaixo de mil
outras, é sempre a mesma: o barco é negro, meu caro, não te iludas,
sempre negro, sempre negro.
(Mas enquanto os elementos naturais e os elementos malvados não rasparem as tintas alegres, aproveita, meu caro. Por exemplo, hoje, ali, do outro lado da rua, parece que querem começar um baile. E já te enviaram o convite.)"
Gonçalo M.Tavares in "Amália por Júlio Resende"
(Mas enquanto os elementos naturais e os elementos malvados não rasparem as tintas alegres, aproveita, meu caro. Por exemplo, hoje, ali, do outro lado da rua, parece que querem começar um baile. E já te enviaram o convite.)"
Gonçalo M.Tavares in "Amália por Júlio Resende"
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