terça-feira, janeiro 23, 2007

À Mesa

O que se faz quando se está à mesa com pessoas que conhecemos há anos mas que ao mesmo tempo já não conhecemos de todo? Pessoas com as quais passámos alguns dos melhores momentos da nossa vida mas que agora apenas encontramos casualmente e que só estamos à mesma mesa devido à "carolice" de um de nós (normalmente é sempre o mesmo coitado) que se lembra, de tempos em tempos, de combinar estas coisas? Todos nós temos um passado em comum, mas o presente (ou o futuro) afastam-nos naturalmente. Uns casados, outros solteiros, outros ainda casados e com filhos, e um ou outro recém-divorciado. Uns com sucesso no trabalho, outros assim-assim,e um ou outro no desemprego. Uns felizes, outros menos felizes. Uns a manterem o espírito de outrora, outros a percorrerem outros caminhos e há ainda aqueles que se encontram completamente perdidos. As caras são as mesmas, todos eles são ainda demasiado "novos" para já mostrarem as cicatrizes que a vida lhes vai deixando. As palavras encontram-se enraizadas no passado, em acontecimentos cuja recordação se vai repetindo uma e outra vez, por mais vezes que sejam alguns nunca se sentem aborrecidos ou enfadados. Mas e o presente, será que não há palavras sobre o presente?

.....

(umas horas mais tarde)

.....

O presente é aqui. É agora. É nas palavras cuja repetição nos recorda porque estamos aqui todos juntos. É nos pequenos nadas que nos fazem cúmplices, mesmo que o tempo e os dias não nos deixem repetir essas mesmas cumplicidades com mais regularidade. É nos afectos que temos uns pelos outros e que não temos vergonha de os mostrar. É nos brindes que fazemos, nas danças que partilhamos, nas músicas que cantamos a plenos pulmões, porque não sabemos quando vamos estar novamente juntos e queremos escrever com urgência, com as emoções à flor da pele, mais um capítulo da nossa existência em comum. Hoje um de nós não está cá, uma pessoa de família que morreu. Na ânsia de o termos connosco, invocamos o seu nome, a nossa amizade por ele, as mil e uma histórias que cada um tem para contar e que o involvem também a ele. Porque é assim que ainda nos sentimos, quase irmãos, quase como uma família alargada, por muito que os nossos dias sejam diferentes daqueles vividos há uma década atrás. Nada disso importa. Apenas as nossas almas, que saem desta mesa bem mais cheias do que as nossas barrigas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sabes bem como me identifico com tudo isto... beijos

sonialx

A disse...

Não me digas que fizeste um jantar de reunião da Companhia dos Valerosos Combatentes da Guerra do Ultramar?

(sim sim, que eu bem vi a tatuagem tímida por debaixo da camisola que dizia "Angola, Amor de Mãe")

:D

_______________ just kidding (lembrei-me desses almoços que o meu pai costuma fazer quando li o teu post)


e logo depois lembrei-me das viagens que faço insistentemente a Coimbra para ver amigos de longa data, com os quais não existe essa barreira construída pelo tempo.

e claro que adorei o teu post.

(como de costume - sabes que gosto destes assim mais lamechóides porque eu sou toda lamechóide)


Mil beijos