sexta-feira, novembro 17, 2006

Serviço de utilidade pública - XII

Sempre sonhei ter umas orelhas como as do Yoda ou, mais refinadas, como as do Mr. Spock. Aquelas orelhas pontiagudas sempre me impressionaram e sempre ficaram na minha mente como o derradeiro sinal da enorme inteligência e postura zen daquelas personagens. O meu QI sempre ansiou por aquelas orelhas, sempre precisou de um símbolo, nem que fosse só para dar nas vistas. E o nariz? Desde que li o Gogól que tenho pesadelos com a fuga do meu nariz. Solução? Ter um nariz demasiado grande para que não possa fugir, uma coisa assim à Depardieu. Todos sabem que o raio do francês só é bom actor por causa daquela penca descomunal no meio da cara. As senhoras não resistem aquele nariz francês! E um transplante capilar? Quem me conhece sabe que herdei os sacanas dos genes cálvicos do meu velhote, de modo que não há-de demorar muito a sentir uma enorme corrente de ar no cimo do meu deformado organismo. O meu desejo era mesmo ter uma enorme carapa, ao melhor estilo hendrixiano. Enorme. Pelo menos com meio metro de altura. Algo assim como a Marge, mas sem ser azul (dá muito nas vistas). Os lábios não os queria maiores, pelo contrário, fininhos, quase inexistentes. Podia enxertá-los e oferecer o remanescente à Angelina (ouvi dizer que ela acha os dela ainda pequenos). Ah, e é claro que nenhuma remodelação plástica ficaria completa sem uma bela lipo-aspiração. Que bom seria aspirarem-me aquele excesso de banha que se passeia por este corpo tão longe da perfeição. E depois ainda ia pedir ao cirurgião que me guardasse toda aquela banha líquida num grande recipiente, para poder oferecê-la como prenda de Natal a uma pessoa por quem nutro muito carinho. Uma verdadeira prenda gordurosa, quase luzidia. O ideal para a minha mula, perdão, amiga. E depois... Seria a felicidade! Toda a minha vida iria tomar um rumo diferente. Finalmente ia conseguir ter muitos amigos e amigas (coloridos e descoloridos), o dinheiro jorraria aos montes, seria convidados para altos cargos... Isso sim, seria a vida que me estava destinada desde o início...

E o melhor de tudo, com grande audiências. Obrigado, TVI, por mais um momento gratuito de desgraça humana. Bem hajas! "Com um sorriso nos lábios e uma mensagem de esperança."

2 comentários:

José Raposo disse...

Apreciamos com preocupação que a eventualidade, meramente estatística, de ganhares o Euromilhões te levaria a fazer meia dúzia de operações plásticas. Mais um mês ou dois e estavas a contar a tua verdadeira historia à Oprah ou ao Dr. Phil e a explicares a toda a gente como o dinheiro tinha destruido a tua vida e que o teu nariz tb ameaçava cair...
Gostamos de ti assim, pobrezinho :)

Nuno Guronsan disse...

Pobrezinho não, classe média fachavor...