terça-feira, novembro 14, 2006

Como tornar-se doente mental

"Se o leitor quiser ser fóbico, existe uma palavra que tem de retirar do seu dicionário: medo. Você está com as pernas a tremer, o peito afogueado, o coração a bater insuportavelmente, os pêlos eriçados, desfaz-se em suores frios, tem os olhos arregalados, mas não tem medo. Tem antes uma fobia, um ataque de pânico (passe o estúpido nome que os psiquiatras lhe deram), uma crise nervosa, mas medo, nunca.

[...]

Em tudo o resto você pode continuar a arriscar, mas uma boa parte das suas possibilidades vitais fica definitivamente arredada do horizonte. Tanto assim é que nem pensa muito nisso, a não ser que um percalço ou a insistência de um amigo ignorante dos seus tabus o leve a encontros inesperados. Esgotadas as suas evasivas, aí está o "inimigo", à frente dos seus olhos. Trata-se, para o comum dos mortais, de uma coisa banal, uma ridicularia que qualquer um vence sem problemas. Para si é uma coisa sagrada, que teme mas simultaneamente o fascina, como se fosse uma fronteira franqueável da sua vida. Repulsa e desejo, diria um psicólogo; porém, para si, continua a ser um problema topográfico, uma fronteira. Uma fronteira que talvez pudesse ultrapassar. Cuidado, porém, porque, se o fizer, não sei onde irá parar. Conheci um homem que, vencido o medo dos ratos, se tornou pegador de toiros."

11 comentários:

PenaBranca disse...

ok, será assim que eu vencerei a minha claustrofobia? é que às vezes penso que a minha cabeça é demasiado pequena, qual elevador, e que subitamente me saltam as pupilas das órbitas. pobres elas e pobres de mim. e agora?

Nuno Guronsan disse...

Eu depois empresto-te o livro. ;)

Miss Kin disse...

Ui Nuno, de onde tiraste isto???? Haverá por aí uma dica para acabar com as minhas vertigens, q ñ me permitem avançar nas pistas de ski!

cuotidiano disse...

Não me lembro quem é que falava no "medo até de ter medo". Mas "falava bem" já que, de facto, esse é o pior medo de todos - paralisa!

Um abraço

Nuno Guronsan disse...

Ainda agora comecei a ler o livro, mas assim que li estas passagens fiquei logo "agarrado". o livro chama-se "Como tornar-se doente mental" e é de J.L. Pio Abreu (têm um link na secção dos Espaços Apalavrados).

Sofia Viseu disse...

Muito promissor o livro!
Melhor do que “tornar-se” doente mental deve ser “parecer”. “Ando doida” para experimentar as dicas que apareceram aqui há uns tempos numa mensagem de mail: “Desenvolve um estranho medo de agrafadores”; “No verso de todos os teus cheques, escreve, ‘referente a suborno’ ”; “Termina todas as tuas frases com, ‘de acordo com a profecia’ ", …

Anónimo disse...

Então, não há opinião, reflexão, comentário ou outra coisa qualquer sobre o Benfica. Gente de merda, faz um clube de merda.

Anónimo disse...

Há quem tenha medo do próprio nome!

Ora ainda bem que sugeres um livro, o meu está quase no fim e ontem quando o vi sumir-se entrei em pânico!

Nuno Guronsan disse...

Ena! Um anónimo clubístico! Que fixe, este post estava mesmo a precisar de um verdadeiro doente mental!

Ms d., o livro em breve irá para o bookcrossing. Quem sabe se mo pedires? ;)

Anónimo disse...

Cristal:

Recebi um email do género (como parecer um doente mental num hipermercado) aqui ficam as minhas preferidas:
-Quando alguém anunciar seja o que for no altifalante, deita-te no chão, em posição fetal, e grita:"NÃOOO! As vozes! Outra vez as vozes! NÃOOO..."
-Vai ao apoio a clientes e pergunta se te podem reservar um pacote de M&Ms.

A ideia do cheque é genial! Acho que vou fazer um carimbo!! :) Se calhar voltar a usar cheques também dava jeito!

Sofia Viseu disse...

:D