terça-feira, outubro 31, 2006
segunda-feira, outubro 30, 2006
Infância perdida
"Mais uma greve no metro? Pois, não dão aumentos..."
"O quê, vou ter que começar a pagar portagem naquela estrada? Sempre a sacarem..."
"Hoje fui marcar consulta às 6 da manhã e mesmo assim não tive marcação..."
"Graças ao ministério da Educação, vou ter que dar aulas para trás do sol posto..."
"Aumento de 2 euros? Só podem estar a gozar..."
"É pá, tornei a não ganhar o Euromilhões. Sai sempre aos outros..."
A importância de tudo isto? Perguntem ao Mark.
"He last ate the day before. His broken wooden paddle was so heavy he could barely lift it. But he raptly followed each command from Kwadwo Takyi, the powerfully built 31-year-old in the back of the canoe who freely deals out beatings.
"O quê, vou ter que começar a pagar portagem naquela estrada? Sempre a sacarem..."
"Hoje fui marcar consulta às 6 da manhã e mesmo assim não tive marcação..."
"Graças ao ministério da Educação, vou ter que dar aulas para trás do sol posto..."
"Aumento de 2 euros? Só podem estar a gozar..."
"É pá, tornei a não ganhar o Euromilhões. Sai sempre aos outros..."
A importância de tudo isto? Perguntem ao Mark.
"He last ate the day before. His broken wooden paddle was so heavy he could barely lift it. But he raptly followed each command from Kwadwo Takyi, the powerfully built 31-year-old in the back of the canoe who freely deals out beatings.
“I don’t like it here,” he whispered, out of Mr. Takyi’s earshot."
Mais um passo
Primeiro dia de trabalho depois de um período de férias mais que merecido.
Rever as caras do dia-a-dia, sorrir por ver a grande maioria.
Constatar que há poucas mudanças, o que é bom continua a ser bom, o que é mau permanece incessantemente mau. Contudo, foi um bom regresso.
Mas o melhor foi chegar a casa, ligar o computador, descarregar o mail e descobrir que por muito pequeno que seja o nosso esforço, acabamos de ajudar a dar mais um passo para algo que acredito sinceramente que possa contribuir para um mundo melhor.
"Depois de três semanas de campanha em Nova Iorque e mais de três anos de acções por todo o mundo, a Campanha Controlar as Armas obteve uma grande vitória a 26 de Outubro de 2006, quando 139 Governos votaram a favor da Resolução da ONU para o começo dos trabalhos sobre um Tratado Internacional de Comércio de Armas (ATT).
Não teríamos atingido este marco histórico sem o apoio de mais de um milhão de pessoas que se juntou à Campanha "Um Milhão de Rostos", os milhares de activistas creativos e dedicados que trabalharam na campanha e todos os membros e apoiantes que participaram e colaboraram com as nossas acções.
Ainda temos um longo caminho pela frente até o Tratado se tornar, efectivamente, uma realidade. Porém, este é um momento de celebração e recompensa pelo esforço e tempo dispendido por todos aqueles que contribuíram para esta vitória.
Deixamo-vos com os mais sinceros agradecimentos e esperamos que esta notícia seja, de algum modo, uma justificação do vosso apoio e trabalho para esta campanha."
Mais informações na Amnistia Internacional Portugal.
Rever as caras do dia-a-dia, sorrir por ver a grande maioria.
Constatar que há poucas mudanças, o que é bom continua a ser bom, o que é mau permanece incessantemente mau. Contudo, foi um bom regresso.
Mas o melhor foi chegar a casa, ligar o computador, descarregar o mail e descobrir que por muito pequeno que seja o nosso esforço, acabamos de ajudar a dar mais um passo para algo que acredito sinceramente que possa contribuir para um mundo melhor.
"Depois de três semanas de campanha em Nova Iorque e mais de três anos de acções por todo o mundo, a Campanha Controlar as Armas obteve uma grande vitória a 26 de Outubro de 2006, quando 139 Governos votaram a favor da Resolução da ONU para o começo dos trabalhos sobre um Tratado Internacional de Comércio de Armas (ATT).
Não teríamos atingido este marco histórico sem o apoio de mais de um milhão de pessoas que se juntou à Campanha "Um Milhão de Rostos", os milhares de activistas creativos e dedicados que trabalharam na campanha e todos os membros e apoiantes que participaram e colaboraram com as nossas acções.
Ainda temos um longo caminho pela frente até o Tratado se tornar, efectivamente, uma realidade. Porém, este é um momento de celebração e recompensa pelo esforço e tempo dispendido por todos aqueles que contribuíram para esta vitória.
Deixamo-vos com os mais sinceros agradecimentos e esperamos que esta notícia seja, de algum modo, uma justificação do vosso apoio e trabalho para esta campanha."
Mais informações na Amnistia Internacional Portugal.
domingo, outubro 29, 2006
A Rejeitada
Saiu para a rua. Sentiu o ar cortante da manhã que ainda não é manhã porque a estrela que nos aquece ainda não tinha surgido no horizonte. Apertou contra si a camisola de lã que tinha recebido pelos anos, que a sua mãe tinha escolhido de propósito para ela. Não resultou, havia um pequeno sopro de ventania que ajudava o frio a penetrar os tecidos e que chegava até à sua pele. Decidiu fugir para dentro do carro. Entrou e pôs as mãos sobre o volante, quase numa súplica em busca de orientação. Não sabia para onde ir, só sabia que queria estar longe dali, num sítio onde ninguém se lembrasse de a procurar. Olhou para o espelho retrovisor. Ainda havia alguns vestígios de maquilhagem na sua face. Pequenos rios de tinta preta que atravessavam a sua cara. Por contraste, os seus olhos irradiavam vermelho, raios vermelhos de quem derramou demasiadas lágrimas. Pegou no lenço e tentou limpar os restos de maquilhagem que a desfiguravam. Arrancou. Já tinha destino. Já sabia para onde queria ir, onde queria estar. O carro deambulava pelas ruas, quase em piloto automático. Era muito cedo ainda para engarrafamentos, acidentes ou descontrolos psicológicos de pseudo-condutores, as ruas encontravam-se vazias à excepção do seu carro. Abriu um pouco o vidro. O vento fazia os seus cabelos dançarem de um lado para o outro, à medida que revia todos os acontecimentos na sua cabeça. Perguntava-se como tinha deixado as coisas chegarem aquele ponto, como podia ela ter continuado aquela farsa quando já sabia perfeitamente que tudo tinha chegado a um ponto sem retorno. Tinha-se enganado a ela própria. Ela, que sempre tinha sido o supra-sumo da objectividade, tinha-se deixado enredar nas próprias teias daquilo que condenava nos outros. A raiva fê-la pisar ainda mais o acelerador, quase perdendo o controlo do carro. Não, ainda não era a altura. O céu ainda agora principiava a clarear, mas a noite ainda não se tinha refugiado por completo. Não sabia bem o que sentir, se raiva, se tristeza, se desespero, ou se todas aquelas amostras de emoções não passavam de um camuflar do total estado de indiferença em que parecia estar envolvida. Ainda podia voltar atrás? Sim, era muito simples fazer meia-volta mas, ao mesmo tempo, algo lhe dizia que não, já era tarde demais, os dados já estavam lançados, na sua mente a decisão já estava tomada, "já estás conformada". Parou o carro. Tinha chegado. Tantas e tantas vezes tinha ali estado para ver o nascer do sol. De certa forma, aquele local era-lhe mais familiar do que todos os outros por onde tinha passado na sua vida. Ali tinha visto o nascer do sol com os seus pais. Ali tinha visto o nascer do sol com o seu primeiro namorado. Ali tinha visto o nascer do sol com o seu primeiro verdadeiro amor. Ali tinha visto o nascer do sol com o seu marido. Ali tinha visto o nascer do sol com o seu filho. Não mais veria o nascer do sol ali, naquele pedaço de terra cuja poeira sempre a acompanhou, agarrada a ela, quase a recordá-la que seria ali que tudo terminaria. Saiu do carro. O vento estava forte naquele dia. O sol começava a surgir no horizonte que ela sempre contemplara com um misto de curiosidade e temor. Apenas permitiu que uma única lágrima lhe corresse pela face. E depois começou a caminhar. E caminhou até não ter mais chão para caminhar...
Ritual
adjectivo 2 géneros | ||||||||||||
| ||||||||||||
substantivo masculino | ||||||||||||
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(Do lat. ritu |
© Copyright 2003-2006, Porto Editora. |
quinta-feira, outubro 26, 2006
quarta-feira, outubro 25, 2006
Sondagem Cinzenta - VII
E acabei eu por ir apenas até aqui ao lado... Comparada com Madrid, a Patagónia parece apenas um sonho bonito... Ficará para outra altura... Valha-me ao menos a movida madrileña... Alguém dos que votou conseguiu concretizar esse destino? Acusem-se!
terça-feira, outubro 24, 2006
De Besta a Bestial
Será que de repente tornou-se politicamente correcto não criticar o país onde vivemos? Justificar o mal-estar que grande parte da população sente com os sucessos alcançados de alguns? E logo num país onde a generalidade só se sente bem a falar mal de algo, e logo o nosso país que está ali à mão de semear, não podemos falar mal dele?
Concordo que se deve enaltecer o espírito empreendedor daqueles portugueses que conseguiram escrever histórias de sucesso. Também concordo que se fale das boas coisas que Portugal pode oferecer ao resto do mundo. Aliás, é esse o normal sentimento dos portugueses quando se encontram no estrangeiro, e porquê? Porque normalmente, por mais pequena que seja, encontram sempre alguma coisa no país de destino que não os satisfaz e que os faz lembrar de Portugal e de estar cá (comigo costuma ser quase sempre o café...). Mas, será que também devemos pôr umas palas nos olhos e fazer de conta que também não vemos as coisas que funcionam mal no nosso país, inclusivamente aquelas que até nem sequer nos afectam directamente? Devo ficar orgulhoso da modernidade do nosso país só porque vivo num centro urbano e acabei de saber que há mais um hospital de província que vai fechar, obrigando os utentes a deslocarem-se ao país vizinho? Não me parece coerente...
A realidade de Portugal, como em todos os países, tem sempre dois lados, aquele que nos deixa com uma pontinha de orgulho em ter nascido por estes lados, e o outro que normalmente nos deixa envergonhados ou zangados com o rumo que o país leva. Não nos deixarmos levar por patriotismos bacocos e fora de validade apenas porque se trata do nosso país parece-me ser essencial para o tornarmos melhor, principalmente naqueles aspectos que são fundamentais para qualquer ser humano, independentemente do ponto do planeta onde habitemos. Apenas da discussão de ideias pode surgir uma amostra de "bonança" e, para ser franco, preocupa-me quando há unanimidade em dizer que "Portugal é o maior" ou "Portugal é uma merda". Ambas são visões redutoras do que por este rectângulo se passa e por isso mesmo fico preocupado quando se coloca em causa a liberdade de expressão apenas porque estamos a comentar aquilo em que Portugal ainda deixa muito a desejar.
Portugal é o meu país. Não o escolhi mas sinto-me parte dele e onde quer que vá neste pedaço de rocha redondo levo um bocadinho do meu país no coração. Mas também vejo o que não gosto no meu país e não é porque também concordo que este país tem de se livrar do estigma pessimista que o assola que me vou calar perante as injustiças que ainda vão por aqui acontecendo. Era só o que me faltava!
Concordo que se deve enaltecer o espírito empreendedor daqueles portugueses que conseguiram escrever histórias de sucesso. Também concordo que se fale das boas coisas que Portugal pode oferecer ao resto do mundo. Aliás, é esse o normal sentimento dos portugueses quando se encontram no estrangeiro, e porquê? Porque normalmente, por mais pequena que seja, encontram sempre alguma coisa no país de destino que não os satisfaz e que os faz lembrar de Portugal e de estar cá (comigo costuma ser quase sempre o café...). Mas, será que também devemos pôr umas palas nos olhos e fazer de conta que também não vemos as coisas que funcionam mal no nosso país, inclusivamente aquelas que até nem sequer nos afectam directamente? Devo ficar orgulhoso da modernidade do nosso país só porque vivo num centro urbano e acabei de saber que há mais um hospital de província que vai fechar, obrigando os utentes a deslocarem-se ao país vizinho? Não me parece coerente...
A realidade de Portugal, como em todos os países, tem sempre dois lados, aquele que nos deixa com uma pontinha de orgulho em ter nascido por estes lados, e o outro que normalmente nos deixa envergonhados ou zangados com o rumo que o país leva. Não nos deixarmos levar por patriotismos bacocos e fora de validade apenas porque se trata do nosso país parece-me ser essencial para o tornarmos melhor, principalmente naqueles aspectos que são fundamentais para qualquer ser humano, independentemente do ponto do planeta onde habitemos. Apenas da discussão de ideias pode surgir uma amostra de "bonança" e, para ser franco, preocupa-me quando há unanimidade em dizer que "Portugal é o maior" ou "Portugal é uma merda". Ambas são visões redutoras do que por este rectângulo se passa e por isso mesmo fico preocupado quando se coloca em causa a liberdade de expressão apenas porque estamos a comentar aquilo em que Portugal ainda deixa muito a desejar.
Portugal é o meu país. Não o escolhi mas sinto-me parte dele e onde quer que vá neste pedaço de rocha redondo levo um bocadinho do meu país no coração. Mas também vejo o que não gosto no meu país e não é porque também concordo que este país tem de se livrar do estigma pessimista que o assola que me vou calar perante as injustiças que ainda vão por aqui acontecendo. Era só o que me faltava!
segunda-feira, outubro 23, 2006
terça-feira, outubro 17, 2006
sexta-feira, outubro 13, 2006
Ainda não é tarde para aprenderem!
Ao deparar-me com isto, fiquei a pensar nas escolhas que o sr. W. terá autorizado às suas forças armadas presentes em Guantanamo. Aliás, algumas das frases que aparecem neste "jogo", quase que consigo imaginá-las a sairem da boca de Rumsfeld ou de Cheney...
Peregrino
Passo a passo. O homem continuava a caminhar. Passo a passo. O Sol aquecia-lhe o corpo dentro do fato preto que tinha vestido naquele dia. A gravata parecia-lhe ainda mais apertada. O suor escorria-lhe pela testa abaixo, caindo, como se de lágrimas se tratassem, nas lentes dos óculos. Ele limpava-os à gravata mas sempre a andar. Não podia parar. Não podia distrair-se. Não podia desviar-se do seu caminho. Parecia que já caminhava há muitos dias, que no céu já tinham passado muitos sóis e muitas luas. Mas não, olhava para o alto, e lá estava o céu, azul como nunca o tinha visto. Apenas o disco faiscante do Sol traía o horizonte que se erguia sobre a sua cabeça. Limpou a testa com um lenço e notou que estava cada vez mais perto do seu destino. Acelerou o passo, mas sem correr. Não podia correr. Seria desespero a mais. A sua dignidade ficaria quebrada, partida em mil bocados. Mas, pensando bem, que lhe interessava a sua dignidade? Aliás, que outra coisa interessava que não fosse aquela para onde andava? Passo a passo. Estava mais perto. Já lhe distinguia ao longe as suas formas. Ansiava por ela. Quase voava, naqueles sapatos de camurça que pareciam gastos desde o primeiro dia em que os calçara. E o Sol que não parava de brilhar. E o suor que não parava de correr. E o seu destino que apesar de já ser visível continuava a ser quase uma miragem. Estugou o passo. De tal forma que quase tropeçou numa das pedras da calçada. Sentiu o desiquilíbrio e o seu coração bateu mais rápido. Não, não podia cair. Não agora que estava tão perto. Assim que recuperou a sua compostura, continuou a caminhada, agora mais atento ao chão que pisava que à imagem que buscava mesmo em frente. Passo a passo. Tinha chegado. Estava à sua frente. Respirou fundo e recuperou o seu fôlego. Os seus olhos ficaram enevoados, as lágrimas acumulando-se. Estava cansado mas feliz. Abraçou-a e ela beijou-o. Sabia que havia algo de diferente naquele beijo. Sentia-o. Mas não se preocupava com isso. Neste momento apenas queria sentir o corpo dela nos seus braços. Depois logo se veria. As coisas haviam de se resolver. Passo a passo. Tudo como dantes.
quinta-feira, outubro 12, 2006
Encruzilhada
substantivo feminino | ||||||
| ||||||
(Part. pass. fem. subst. de encruzilhar) |
© Copyright 2003-2006, Porto Editora. |
Efeméride
É um dos meus melhores amigos, e por isso achei que era bonito deixar aqui para a posteridade o aniversário do seu refúgio suburbânico. Que a sua bússola continue a apontar para caminhos urgentes e que os seus escritos continuem a fazer parte da espuma dos meus dias. Um grande bem hajas e desejos de bons devaneios escritos para os teus novos "cúmplices".
quarta-feira, outubro 11, 2006
Stairway to heaven
Por vezes dou comigo a pensar que gostava de ter um farol na minha vida. Que me guiasse o caminho no meio das vagas que se abatem sobre mim. Que me ajudasse a desviar das rochas que algumas pessoas insistem em pôr à minha frente. Mas depois lembro-me que os farois normalmente ficam bem acima da minha cabeça, lá no alto, quase no cimo do céu, lançando a sua luz pelo meio das nuvens. E mesmo gostando muito de ver as constantes metamorfoses daquelas massas brancas flutuantes, o que eu gosto mesmo é de viver com os pés no chão, lidando com as poeiras que o percorrem diariamente. Porque se a vida fosse só seguir um caminho pré-definido, onde é que estava a piada? Íamos provavelmente encontrar sempre as mesmas situações, as mesmas pessoas, sempre iluminadas pelo mesmo farol, sem surpresas ou acontecimentos inesperados. Não me teria provavelmente possibilitado conhecer novas culturas diferentes da minha. Ou, num quotidiano mais próximo, encontrar pessoas que nunca me passaria pela cabeça conhecer e que se tornariam amizades únicas. Ou, no plano oposto, conhecer pessoas que nada acrescentaram à minha pessoa e só me fizeram dar mais valor às amizades únicas e irrepetíveis. Se tivesse mesmo a luz distante do farol a guiar os meus passos, muito provavelmente não teria evoluido como pessoa. Sim, acredito que bater com a cabeça nas rochas ou ficar preso nos baixios também ajudou a formar a personalidade que hoje em dia torno corpórea. Se me sinto confortável com esta personalidade? Há coisas que ainda tento mudar, passo a passo, mas outras luto por preservar, por sentir que são intrinsecamente minhas e que não tenho vontade nenhuma de as renegar. Bem sei que mais uma vez já perdi o fio à meada, mas parece que começa a ser um lugar comum cada vez que tento escrever alguma coisa mais "próxima" de mim. Basicamente, o dia foi perfeitamente esquecível, mas, por aquelas palavras amigas de quem me diz que "não estás sozinho" e "temos os mesmos problemas, as mesmas dificuldades, e lutamos todos por algo melhor", fiquei plenamente convencido que a vida vale mesmo a pena ser vivida. Soa a chavão, mas estou-me perfeitamente a borrifar para isso. É como é! E as vacas são gordas mas também andam...
terça-feira, outubro 10, 2006
Lapidar
Legenda: "The Korean People's Army is invincible!!"
(Foto e legenda copiada na íntegra tiradas daqui)
O arrepio nuclear
Corria o mês de Abril de 2000 e eu encontrava-me neste local.
Esta é uma foto da fronteira entre a República da Coreia (do Sul) e a República Democrática Popular da Coreia (do Norte), o muito tristemente célebre Paralelo 38 ou, se preferirem, a Zona Dismilitarizada (DMZ). Trata-se de uma faixa de terreno completamente desprovida de civis, com uma das maiores concentrações de forças militares por m2 no mundo, e com um ar no qual se podia perfeitamente respirar o cheiro a pólvora ou estilhaços.
Lembro-me de na altura ficar muito impressionado com todo o arame farpado, os soldados em contínua vigilância, a propaganda que era espalhada por todos os cantos e por ambos os lados da barricada, por todos os vestígios da Guerra da Coreia que por ali se encontravam espalhados e pela devastação de quase toda aquela área, quase cinquenta anos depois do conflito. Na altura, e já dois meses depois de estar a viver em Seul, fiquei com a certeza absoluta que ali, naquela faixa de terreno, a Guerra Fria ainda estava bem viva e por isso senti um arrepio na espinha, por viver tão perto de uma situação como aquela.
Isto tudo antes do W. anunciar ao mundo os verdadeiros demónios que ameaçavam a nossa liberdade (obviamente que se esqueceu da sua parte interveniente nos eventos que se sucederiam nos anos seguintes). A Coreia do Norte fazia assim parte da elite maléfica. E já na altura se comentava as suas investidas no campo do armamento nuclear. Mas, como o sucessor do Grande Timoneiro era apresentado como esquisito, cómico e mesmo louco, a Coreia do Norte ficava relegada para a segunda divisão de honra, cabendo as honras da primeira liga ao Afeganistão, Iraque e Irão. As aproximações do regime de Kim Jong-Il ao governo sul-coreano durante os primeiros anos do novo milénio, nomeadamente no que tocava às reuniões de famílias separadas pela guerra e pela DMZ, também ajudaram a pensar que ainda havia esperança para salvar quer a Coreia do Norte quer o seu cada vez mais esfomeado povo das garras do demo. Puro engano. Mesmo loucos como Kim Jong-Il conseguem ser maquinalmente frios e eis que, no ano de 2006, vivemos mais uma vez com o fantasma de Hiroxima e Nagazaki sobre as nossas cabeças. Sim, as nossas cabeças, pois mesmo estando a milhares de quilómetros de distância, devemos sentirmo-nos ameaçados.
Se no Afeganistão haviam os talibãs e o Bin Laden escondido, se no Iraque havia resmas de armas de destruição maciça (ou assim nos quiseram fazer entender... não, não vou iniciar nenhuma teoria da conspiração...), então urge intervir de algum modo na Coreia "democrática" e "popular" de Jong-Il. Pela não proliferação do nuclear neste planeta. Pela salvação de grande parte do povo norte-coreano, que passa fome extrema (havendo mesmo relatórios de canibalismo) para que o Exército seja um dos mais bem preparados do globo. Para que um ditadordezo de meia tijela não se fique a rir por detrás das cortinas dos edifícios megalómanos de Pyongyang. E porque ninguém merece viver sob a ameaça da sua existência ser terminada em décimas de segundo.
E sim, esta questão é pessoal. Tenho receio pelos meus amigos que deixei na Coreia. Eles não merecem nem têm culpa desta "guerra" interesseira e hipócrita.
Esta é uma foto da fronteira entre a República da Coreia (do Sul) e a República Democrática Popular da Coreia (do Norte), o muito tristemente célebre Paralelo 38 ou, se preferirem, a Zona Dismilitarizada (DMZ). Trata-se de uma faixa de terreno completamente desprovida de civis, com uma das maiores concentrações de forças militares por m2 no mundo, e com um ar no qual se podia perfeitamente respirar o cheiro a pólvora ou estilhaços.
Lembro-me de na altura ficar muito impressionado com todo o arame farpado, os soldados em contínua vigilância, a propaganda que era espalhada por todos os cantos e por ambos os lados da barricada, por todos os vestígios da Guerra da Coreia que por ali se encontravam espalhados e pela devastação de quase toda aquela área, quase cinquenta anos depois do conflito. Na altura, e já dois meses depois de estar a viver em Seul, fiquei com a certeza absoluta que ali, naquela faixa de terreno, a Guerra Fria ainda estava bem viva e por isso senti um arrepio na espinha, por viver tão perto de uma situação como aquela.
Isto tudo antes do W. anunciar ao mundo os verdadeiros demónios que ameaçavam a nossa liberdade (obviamente que se esqueceu da sua parte interveniente nos eventos que se sucederiam nos anos seguintes). A Coreia do Norte fazia assim parte da elite maléfica. E já na altura se comentava as suas investidas no campo do armamento nuclear. Mas, como o sucessor do Grande Timoneiro era apresentado como esquisito, cómico e mesmo louco, a Coreia do Norte ficava relegada para a segunda divisão de honra, cabendo as honras da primeira liga ao Afeganistão, Iraque e Irão. As aproximações do regime de Kim Jong-Il ao governo sul-coreano durante os primeiros anos do novo milénio, nomeadamente no que tocava às reuniões de famílias separadas pela guerra e pela DMZ, também ajudaram a pensar que ainda havia esperança para salvar quer a Coreia do Norte quer o seu cada vez mais esfomeado povo das garras do demo. Puro engano. Mesmo loucos como Kim Jong-Il conseguem ser maquinalmente frios e eis que, no ano de 2006, vivemos mais uma vez com o fantasma de Hiroxima e Nagazaki sobre as nossas cabeças. Sim, as nossas cabeças, pois mesmo estando a milhares de quilómetros de distância, devemos sentirmo-nos ameaçados.
Se no Afeganistão haviam os talibãs e o Bin Laden escondido, se no Iraque havia resmas de armas de destruição maciça (ou assim nos quiseram fazer entender... não, não vou iniciar nenhuma teoria da conspiração...), então urge intervir de algum modo na Coreia "democrática" e "popular" de Jong-Il. Pela não proliferação do nuclear neste planeta. Pela salvação de grande parte do povo norte-coreano, que passa fome extrema (havendo mesmo relatórios de canibalismo) para que o Exército seja um dos mais bem preparados do globo. Para que um ditadordezo de meia tijela não se fique a rir por detrás das cortinas dos edifícios megalómanos de Pyongyang. E porque ninguém merece viver sob a ameaça da sua existência ser terminada em décimas de segundo.
E sim, esta questão é pessoal. Tenho receio pelos meus amigos que deixei na Coreia. Eles não merecem nem têm culpa desta "guerra" interesseira e hipócrita.
E ainda por cima estava a chover...
"Aqui tens muitos amigos, que se preocupam contigo, gostam de ti e querem o melhor para ti. Mesmo que esta não seja ainda a oportunidade melhor para a tua carreira, queremos que saibas que se aparecer alguma coisa que se enquadre naquilo que pensamos que vais gostar, teremos todo o prazer em avançar com o teu nome. Sim, porque a única coisa que nos interessa é o teu sucesso. Nós estamos aqui para o proporcionar. E mesmo sabendo que o dinheiro também interessa, o que realmente importa é que estejas num sítio onde te sintas bem. Porque se tu te sentires bem, nós também nos sentimos bem. És a nossa razão de ser."
Script aprovado para um anúncio de uma empresa de recrutamento laboral.
(A desenvolver noutra altura, quando os níveis de cinismo baixarem para valores aceitáveis.)
domingo, outubro 08, 2006
Perdido no tempo - IV
Porque às vezes é bom ser criança outra vez e esquecer as "gravatas" que nos prendem a uma existência quase adulta, o que quer que isso seja. Não se trata de uma nostalgia oca, mas apenas de recordar algo que fazia as minhas delícias quando era criança e que ainda recordo com um sorriso nos lábios e que me faz sonhar outra vez em ser um moscãoteiro...
sexta-feira, outubro 06, 2006
O filme de um ano da minha vida
Lembro-me de ver um trailer num canal de televisão. Fiquei com curiosidade mas pouco mais. Depois apareceu um convite para ir ao cinema e lá nos encontrámos todos nas bilheteiras do Monumental versão Residence. Foi o momento em que ficou eternizado algo que ficaria conhecido como o fenómeno "Mystic River". E depois, que filme para ver? Olhei para os cartazes e lá estava ele, o do trailer. Sugeri e a sugestão foi aceite. Azar, lugares só na primeira fila e de esguelha. Seja, a minha curiosidade está em crescendo. E depois? Depois foram 102 minutos que me fizeram voltar atrás no tempo alguns anos. Numa outra cidade, num outro país, mas com todos os sentimentos que atravessam os personagens do Bill e da Scarlett. A curiosidade, a ira, o esquisito, a ironia, o desespero, o sorriso, a lágrima, a saudade, a inadaptação, o hábito, a amizade, o lunático, a aculturação, tudo. Definitivamente, o filme além de ser muito bom é, para mim, muito bom porque representa um espelho de um momento (quase breve) da minha vida, onde tudo aquilo que faz de mim o que sou hoje confluiu como um redemoinho, absorvendo todas aquelas particulariedades que me representam. E a imagem que segue em baixo é mesmo um espelho, eu vivi isto e sorrio cada vez que olho para esta imagem porque não tive uma Sofia Copolla a imortalizar o meu momento. Lembro-me também que algum tempo depois houve uma pessoa que me ofereceu o DVD deste filme, uma prenda mais que perfeita. Obrigado, minha querida amiga de sempre, e que o dia de amanhã se torne uma recordação bonita e que simbolize toda a felicidade e amor que desejo que tenhas.
"You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you."
"You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you."
quarta-feira, outubro 04, 2006
segunda-feira, outubro 02, 2006
Cloud Atlas
"Laughter is an anarchic blasphemy. Tyrants are wise to fear it."
Saltar a fronteira
"Em frente à Igreja de São Domingos, no Rossio, em Lisboa, por baixo duma árvore, vários africanos conversam e jogam às cartas. Na zona, algumas mercearias vendem peixe seco e outros produtos ao gosto dos imigrantes que fizeram daquela parte da baixa um enorme espaço de convívio. Alguns vivem ali perto, no coração da cidade. Outros vêm dos subúrbios encontrar os compatriotas."
(in Público)
Começa hoje em Portugal a 11ª Conferência Internacional Metropolis, onde se procura lidar com a problemática das migrações internacionais. Como é referido no site da mesma, a experiência de um país como Portugal nesta questão, tanto como país de origem como de destino de imigrantes, poderá servir como um bom pano de fundo para discutir uma questão que invariavelmente começa a fazer parte de programas políticos quer à esquerda quer à direita e nem sempre pelos melhores motivos (xenofobia e racismo são termos que saltam imediatamente à memória). Fora de conceitos desumanos como estes, é preciso saber como lidar com o fenómeno da migração ilegal, normalmente oriunda de países subdesenvolvidos e que buscam melhores oportunidades de vida no chamado "mundo ocidental" (um bom exemplo serão as recentes vagas de migrações ilegais do continente Africano, mas não podemos também esquecer, como exemplo, a inépcia de uma potência como os EUA em resolverem o fluxo de migração ilegal oriundo do México); como integrar os emigrantes legais no seu país de destino, de modo a que tenham um nível de vida digno e em que, para além de contribuírem para o desenvolvimento económico do país, sejam também uma mais-valia em termos de sociedade e abertura de espírito para novas culturas e formas de pensar; e, indo um pouco mais além, como lidar com o problema da sobre-população das cidades, pois, como é defendido por alguns dos especialistas nesta área, cada vez mais a migração ocorre entre cidades de países diferentes (ao contrário, por exemplo, da migração portuguesa de há 30, 40 anos atrás, onde as pessoas saíam do campo para os grandes centros urbanos estrangeiros como Paris), o que, além de desertificar ainda mais a área rural, pode levar a um cada vez mais rápido degradamento do nível de vida nas grandes cidades, esticando os seus recursos ao máximo, pondo em causa a capacidade, por exemplo, de emprego de todas essas pessoas, "obrigando-as", no limite, a viver em níveis tão baixos como aqueles que possuíam no seu país de origem.
É importante haver um debate sério desta problemática e, tão importante, envolver todos aqueles que sentem este fenómeno diariamente na sua vida em sociedade.
(in Público)
Começa hoje em Portugal a 11ª Conferência Internacional Metropolis, onde se procura lidar com a problemática das migrações internacionais. Como é referido no site da mesma, a experiência de um país como Portugal nesta questão, tanto como país de origem como de destino de imigrantes, poderá servir como um bom pano de fundo para discutir uma questão que invariavelmente começa a fazer parte de programas políticos quer à esquerda quer à direita e nem sempre pelos melhores motivos (xenofobia e racismo são termos que saltam imediatamente à memória). Fora de conceitos desumanos como estes, é preciso saber como lidar com o fenómeno da migração ilegal, normalmente oriunda de países subdesenvolvidos e que buscam melhores oportunidades de vida no chamado "mundo ocidental" (um bom exemplo serão as recentes vagas de migrações ilegais do continente Africano, mas não podemos também esquecer, como exemplo, a inépcia de uma potência como os EUA em resolverem o fluxo de migração ilegal oriundo do México); como integrar os emigrantes legais no seu país de destino, de modo a que tenham um nível de vida digno e em que, para além de contribuírem para o desenvolvimento económico do país, sejam também uma mais-valia em termos de sociedade e abertura de espírito para novas culturas e formas de pensar; e, indo um pouco mais além, como lidar com o problema da sobre-população das cidades, pois, como é defendido por alguns dos especialistas nesta área, cada vez mais a migração ocorre entre cidades de países diferentes (ao contrário, por exemplo, da migração portuguesa de há 30, 40 anos atrás, onde as pessoas saíam do campo para os grandes centros urbanos estrangeiros como Paris), o que, além de desertificar ainda mais a área rural, pode levar a um cada vez mais rápido degradamento do nível de vida nas grandes cidades, esticando os seus recursos ao máximo, pondo em causa a capacidade, por exemplo, de emprego de todas essas pessoas, "obrigando-as", no limite, a viver em níveis tão baixos como aqueles que possuíam no seu país de origem.
É importante haver um debate sério desta problemática e, tão importante, envolver todos aqueles que sentem este fenómeno diariamente na sua vida em sociedade.
domingo, outubro 01, 2006
Riding the wave
Transparente. A vida consegue ser assim, por vezes. Transparente. Sem zonas opacas, que nos escondem os pormaiores que fazem com que tempo e espaço avancem implacavelmente. Onde conseguimos ver como na realidade são mais as coisas que nos juntam do que as que nos separam. Que os elos que nos ligam podem assumir contornos estranhos, previsíveis ou mesmo infinitamente ténues, mas continuam lá, a enfrentar as tormentas em que as nossas vidas por vezes mergulham, resistindo às ondas gigantes que se abatem sobre nós e nos levam ao fundo, para longe da claridade. A transparência mostra-nos a nossa verdadeira importância infinitesimal no grande espaço que partilhamos e despoja-nos de todos os nossos preconceitos, estereótipos, enfim, todas as amarras que nos prendem a uma falsa definição de quem somos e nos impedem de disfrutar da vida como ela merece. Tanta racionalização, tantos pensamentos, tantos dados pré-fabricados, quando no fundo apenas no enganamos e tentamos enganar os que nos rodeiam. Mas os elos, os elos conseguem ver o nosso ser transparente, conseguem ver para lá da camada de verniz brilhante que tentamos pôr para evitarmos misturarmo-nos com a realidade. E são esses mesmos elos que dão algum significado à nossa vida, a todos os segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos que a compõem. E no final, quando formos ver toda a nossa vida num rápido rewind, apenas poderemos dizer até sempre e obrigado por todos os peixes! Porque, como todos sabem, a resposta à nossa Derradeira Pergunta é, sem sombra de dúvida e com toda a transparência, 42.
(Obrigado, Cuotidiano, pela inspiração que agora caminha lado a lado com uma fotografia de sábado à tarde. Que os ex-noivos sejam muito felizes!)
(Obrigado, Cuotidiano, pela inspiração que agora caminha lado a lado com uma fotografia de sábado à tarde. Que os ex-noivos sejam muito felizes!)
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