segunda-feira, outubro 02, 2006

Saltar a fronteira

"Em frente à Igreja de São Domingos, no Rossio, em Lisboa, por baixo duma árvore, vários africanos conversam e jogam às cartas. Na zona, algumas mercearias vendem peixe seco e outros produtos ao gosto dos imigrantes que fizeram daquela parte da baixa um enorme espaço de convívio. Alguns vivem ali perto, no coração da cidade. Outros vêm dos subúrbios encontrar os compatriotas."

(in Público)

Começa hoje em Portugal a 11ª Conferência Internacional Metropolis, onde se procura lidar com a problemática das migrações internacionais. Como é referido no site da mesma, a experiência de um país como Portugal nesta questão, tanto como país de origem como de destino de imigrantes, poderá servir como um bom pano de fundo para discutir uma questão que invariavelmente começa a fazer parte de programas políticos quer à esquerda quer à direita e nem sempre pelos melhores motivos (xenofobia e racismo são termos que saltam imediatamente à memória). Fora de conceitos desumanos como estes, é preciso saber como lidar com o fenómeno da migração ilegal, normalmente oriunda de países subdesenvolvidos e que buscam melhores oportunidades de vida no chamado "mundo ocidental" (um bom exemplo serão as recentes vagas de migrações ilegais do continente Africano, mas não podemos também esquecer, como exemplo, a inépcia de uma potência como os EUA em resolverem o fluxo de migração ilegal oriundo do México); como integrar os emigrantes legais no seu país de destino, de modo a que tenham um nível de vida digno e em que, para além de contribuírem para o desenvolvimento económico do país, sejam também uma mais-valia em termos de sociedade e abertura de espírito para novas culturas e formas de pensar; e, indo um pouco mais além, como lidar com o problema da sobre-população das cidades, pois, como é defendido por alguns dos especialistas nesta área, cada vez mais a migração ocorre entre cidades de países diferentes (ao contrário, por exemplo, da migração portuguesa de há 30, 40 anos atrás, onde as pessoas saíam do campo para os grandes centros urbanos estrangeiros como Paris), o que, além de desertificar ainda mais a área rural, pode levar a um cada vez mais rápido degradamento do nível de vida nas grandes cidades, esticando os seus recursos ao máximo, pondo em causa a capacidade, por exemplo, de emprego de todas essas pessoas, "obrigando-as", no limite, a viver em níveis tão baixos como aqueles que possuíam no seu país de origem.

É importante haver um debate sério desta problemática e, tão importante, envolver todos aqueles que sentem este fenómeno diariamente na sua vida em sociedade.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sem duvida, ainda mais num pais como o nosso onde ha um grande excesso de emigração.
Mais importante do que saber como se inserem na nossa sociedade os emigrantes, é saber como não deixar que a qualidade de vida dos portugueses seja afectada pela vinda desses mesmos emigrantes e pelo excesso de mão de obra barata que lhes é inerente, é também fundamental saber o que fazer e que medidas tomar no nosso pais (nomeadamente a nível legislativo) para que haja uma desmotivação á vinda de mais emigrantes.

Anónimo disse...

Pertinente como sempre!
De facto aquela zona da cidade espelha a sociedade dividida que temos em que se criam pequenos guetos mesmo no meio de uma cidade.

Obrigado pelas visitas e incentivo.
alguém

Nuno Guronsan disse...

Concordo que possa haver um excesso de emigração que entra todos os anos em Portugal. Mas, penso que a questão passa por uma radical mudança de atitude de parte da população activa portuguesa, que apenas busca um emprego quando o que se oferece é trabalho. Num país onde o número de licenciados desempregados aumenta a olhos vistos e toda a gente quer passar por doutor e não acredita em trabalho simples mas honesto, a única parte que ganha é algum patronato com menos escrúpulos, que recorre ao trabalho precário proveniente da emigração, viciando assim as regras do mercado de trabalho. Mesmo assim acho que também podemos evoluir na integração destes novos "portugueses", alguns dos quais contribuem mesmo para o desenvolvimento do país, vivem cá há muitos anos, e mesmo assim sofrem do estigma do "estrangeiro que vem roubar trabalho aos verdadeiros portugueses". Há que primeiro olhar para a nossa (falta de) mentalidade de trabalho.

Anónimo disse...

Guronsan não acho que tenha que haver uma mudança de atitude dos portugueses em relação ao trabalho, aquilo que tem de haver é uma mudança nas políticas de emigração deste pais, que verdadeiramente incentivam a vinda de emigrantes ilegais aos quais passado uns tempos lhes é facultada a troco de uma multa a legalização, e para aqueles que quiserem voltar, não só lhes é oferecido o bilhete de avião para regressarem ao seu pais de origem como ainda lhes é dado 250 euros.
Será caso para dizer que o "crime compensa".
Aquilo que realmente vicia as leis da procura e da oferta no mercado de trabalho em Portugal, não é o "algum patronato com menos escrúpulos", mas sim o excesso de mão de obra estrangeira disposta a trabalhar por qualquer preço, o patronato esse limita-se na sua grande generalidade a aproveitar esta "dadiva" providenciada por um sistema legislativo antiquado que assim é mantido por muitos interesse estarem em jogo, nomeadamente os do "grande capital" que afinal de contas é quem mais ganha com toda esta situação.

Nuno Guronsan disse...

Acho que fazes confusão entre emigração legalizada e ilegal, o que faz com que não concorde com tudo o que afirmas. Mas que são pontos importante na discussão, não há dúvidas.