Será que de repente tornou-se politicamente correcto não criticar o país onde vivemos? Justificar o mal-estar que grande parte da população sente com os sucessos alcançados de alguns? E logo num país onde a generalidade só se sente bem a falar mal de algo, e logo o nosso país que está ali à mão de semear, não podemos falar mal dele?
Concordo que se deve enaltecer o espírito empreendedor daqueles portugueses que conseguiram escrever histórias de sucesso. Também concordo que se fale das boas coisas que Portugal pode oferecer ao resto do mundo. Aliás, é esse o normal sentimento dos portugueses quando se encontram no estrangeiro, e porquê? Porque normalmente, por mais pequena que seja, encontram sempre alguma coisa no país de destino que não os satisfaz e que os faz lembrar de Portugal e de estar cá (comigo costuma ser quase sempre o café...). Mas, será que também devemos pôr umas palas nos olhos e fazer de conta que também não vemos as coisas que funcionam mal no nosso país, inclusivamente aquelas que até nem sequer nos afectam directamente? Devo ficar orgulhoso da modernidade do nosso país só porque vivo num centro urbano e acabei de saber que há mais um hospital de província que vai fechar, obrigando os utentes a deslocarem-se ao país vizinho? Não me parece coerente...
A realidade de Portugal, como em todos os países, tem sempre dois lados, aquele que nos deixa com uma pontinha de orgulho em ter nascido por estes lados, e o outro que normalmente nos deixa envergonhados ou zangados com o rumo que o país leva. Não nos deixarmos levar por patriotismos bacocos e fora de validade apenas porque se trata do nosso país parece-me ser essencial para o tornarmos melhor, principalmente naqueles aspectos que são fundamentais para qualquer ser humano, independentemente do ponto do planeta onde habitemos. Apenas da discussão de ideias pode surgir uma amostra de "bonança" e, para ser franco, preocupa-me quando há unanimidade em dizer que "Portugal é o maior" ou "Portugal é uma merda". Ambas são visões redutoras do que por este rectângulo se passa e por isso mesmo fico preocupado quando se coloca em causa a liberdade de expressão apenas porque estamos a comentar aquilo em que Portugal ainda deixa muito a desejar.
Portugal é o meu país. Não o escolhi mas sinto-me parte dele e onde quer que vá neste pedaço de rocha redondo levo um bocadinho do meu país no coração. Mas também vejo o que não gosto no meu país e não é porque também concordo que este país tem de se livrar do estigma pessimista que o assola que me vou calar perante as injustiças que ainda vão por aqui acontecendo. Era só o que me faltava!
8 comentários:
tens todo o meu apoio amigo, mas acho que já faz parte de nós "comer e calar", e só quando as coisas estão mesmo mal é que as pessoas fazem barulho ou criticam.
São os brandos costumes, os brandos costumes...
Tens toda a razão, de facto por vezes dou por mim a só dizer mal mas a não fazer nada para mudar...
:)
Não podia estar mais de acordo contigo, amigo Nuno.
Por mais que nos esforcemos, não conseguimos perder este malfado hábito das unanimidades: ora tudo é bom, ora tudo é mau...
De acordo, em tudo. Quase..a verdade é que ando revoltada com o que não se faz deste país.
beijocas
“A Patriot must always be ready to defend his country against his government.”
- Edward Abbey, naturalista americano, 1927-1989
This is so you...
lol
Concordo com a nota aí acima citada pelo José Raposo... já agora... "não perguntes o que o teu país pode fazer por ti mas... o que tu podes fazer pelo teu país..."
Beijos, N.
Como se torna actual no mundo de hoje, essa antiga citação que o raposo nos traz...
O que eu acho é que tendo em conta o país de onde o sr. Abbey vem, é muito fácil fazer esse tipo de citações ;)))
Pelo menos nos tempos que correm...
Já agora, desculpem lá não andar a responder aos comentários como deve de ser. A vontade regressa dentro de momentos. Obrigado pelas vossas visitas aqui à chafarica.
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