segunda-feira, julho 17, 2006

Uma no cravo...

"Estás desprendido. Não tens mulher nem filhos que te prendam. És completamente independente. Podes ir para onde quiseres, que não tens que prestar contas a ninguém. Se continuares assim, não vais deixar nenhuma marca no mundo. E nos dias que correm, não te sei dizer se será uma boa coisa ou uma má coisa. Na verdade, gostava de te ver casado e que me desses mais um bisneto. Mas deixa lá, o importante é que sejas feliz."

(Palavras sábias do meu avô, num cada vez mais raro momento de claridade. Tem 84 anos.)

14 comentários:

Patrícia disse...

No meio das suas sábias palavras, parece-me que o teu avô errou ("Se continuares assim, não vais deixar nenhuma marca no mundo."). Mesmo por detrás da frieza dos blogs, encontram-se comentários que denotam amizades ou outras ligações que certamente porão em causa a tal frase do teu avô. :)

Cristiano Contreiras disse...

Sabia mesmo!

Nuno Guronsan disse...

Patríca, compreendo o que queres dizer. Mas tens de ver que para o meu avô, os valores e ideiais de vida passam por outras coisas que não aquelas que nós hoje em dia se calhar prezamos. Eu dou-me por contente que o meu avô, cuja mente começa tornar-se um labirinto para ele próprio, ainda consiga elaborar palavras como estas para me dizer. E espero que ainda o faça por mais uns anitos.

Cristiano, elabora mais. Fiquei na mesma.

Sea disse...

Hum... quer-me parecer que somos uns quantos assim... Porque será?
Mas daí até fazermos disso um ideal de vida... Não sei... Os tempos são outros e parece-me que é melhor pensar que quando isso tiver de acontecer, acontecerá.
P.S.: a modos que estavas no Place e eu aqui na cizentice :D

Nuno Guronsan disse...

Sim, Sea, a meu ver também passa por aí, e é óbvio que não me identifico com todas as palavras ditas pelo meu avô (daí, incusivé, o título do post). Mas a coisa funciona mais ou menos como uma névoa que começa a apoderar-se da mente dele, e só o facto de ainda conseguir atravessar essa névoa e "despejar-me" estas palavras para cima, deixa-me momentaneamente com aquela esperança parva de que as pessoas que amamos genuinamente são eternas...

Sea disse...

Não são e tu sabes disso :)
Por isso, guarda estes pedaços com um sorriso. Vais recordá-los muitas vezes mais tarde ;)

PenaBranca disse...

Há dias ouvi uma coisa que me deixou pensativo: só temos razões para festejar o passado se tivermos bases sólidas para construir o futuro (ou foi algo assim parecido e já nem sei o contexto). Acho que o teu avô (e o meu também, de quem nem me consegui despedir da última vez, tal o meu estado de emoção) também se aproxima dessa afirmação: sê feliz sim, com ou sem filhos, mas pensa no que te deram e de onde vens. Filho és, carregas contigo toda a alegria e felicidade dos teus. Pai serás (se quiseres) para transmitir essa herança para o futuro. A escolha acaba por ser muito e cada vez mais individual, mas pergunto-me se faz sentido deambularmos sós pelo mundo. Sinto-me fraco e debilitado com isto tudo, e tu?

Nuno Guronsan disse...

Eu tenho de dizer que não, não me sinto fraco nem debilitado e, não, não me preocupa muito nesta altura se deixo ou não herança para o futuro via filhos. Sei que tenho familiares e amigos que já "ganharam" alguma herança da minha parte, via amor, amizade, ombro amigo, o que lhe queiras chamar, e por isso não me sinto a "deambular só pelo mundo", como tu dizes. É claro que nada me garante que mude de opinião no futuro, mas neste momento tenho a dizer que ando a seguir a última parte das palavras do meu avô, ou seja, o importante é que seja feliz, comigo próprio e com os que me rodeiam de mais perto, tal como tu, amigo.

Abraços transatlânticos!

João Dias disse...

Qualquer dia tens o teu avô a fazer-te arranjinhos.

É lamentável que não contribuas para a hegemonia do ser humano à face da terra, sabes perfeitamente que foste criado para criar. Tens de deixar a tua sementinha, caso contrário tiveste uma vida fugaz e infrutífera.
Quanto a deixar marca aconselho-te a riscar o putativo carro do teu avô, vais ver que ele não se esquece dessa marca que deixaste.
Aliás o teu avô é bastante possessivo, ao ponto de pedir que lhe dês um bisneto, quer dizer, acabaste tu de sentir a alegria de ser pai e vais ter de entregar logo de seguida o recém nascido ao teu avô. Pergunta-lhe se ele não prefere uma mota, para que ele também possa ser feliz e sentir a adrenalina de viver no limite, e, quem sabe, deixar a sua marca na terra, a dos pneus numa qualquer autoestrada portuguesa (não estou a sugerir nenhum acidente).
:-)

Apesar de tudo tenho simpatia pelo teu avô, o meu tem um busto do Salazar na sua "salinha" e daí já se pode ter uma ideia da personagem...

Nuno Guronsan disse...

Credo, João, tanta coisa para fazer ao meu pobre avô... ;)

Sossega, apesar de por trás das palavras poder estar uma personalidade favorável ao busto que o teu avô guarda (nunca pensaste em "provocar" um acidente?), apenas o é em termos sociais, pois não passa uma eleição em que o homem não vote no partido do punho fechado. Aliás, grave defeito é mesmo o facto de ser adepto do FCP... ;))

Sea disse...

Defeito teu ou do avô?

Nuno Guronsan disse...

Acho que nenhum dos dois... Apenas diferenças salutares, I guess...

A disse...

"Mas deixa lá... o importante é seres feliz"

esta frase denuncia a grande verdade da vida. Não são os filhos ou os netos ou os bisnetos que nos fazem felizes, mas... pensa que o teu avô te faz um enorme elogio de felicidade... foi um recado, e dos sábios... ele tem-te agora... quem terás tu aos 83 anos?

São dilemas que nos são comuns, acredita, com a atenuante/agravante de eu já não ter avós nenhuns.

Permite-me a intromissão, mas: João Dias, um avô com um busto do Salazar é DEMAIS!!! Muita louco!!! Emprestas-me o teu avô? :) não sejam maus...

Beijos a ti e ao teu avô ;)

Nuno Guronsan disse...

Isso de saber quem vou ter aos 83 anos deixa-me a pensar... Se por um lado terei mesmo alguém, ou se chegarei de facto aos 83... Sou um optimista, mas não sei se ao ponto de responder que sim às duas dúvidas. Sou mais um optimista do presente ;))