terça-feira, maio 09, 2006

Pára! Escuta! Olha! Faz!

"As mulheres têm motivos para uma boa relação com Jesus. Ele, durante a vida, com escândalo de muitos, teve para com elas uma atitude e comportamento de muita simpatia e ternura. Se a Igreja histórica nem sempre lhe seguiu o exemplo, havendo mesmo um forte contencioso das mulheres com a Igreja oficial, isso deve-se a muitas razões, como heresias que desprezavam o corpo, o sexo e o feminino, questões ligadas ao poder e ao machismo."
(Anselmo Borges, in Diário de Notícias)

"Judas Iscariotes sempre foi visto no mundo cristão como um traidor. Mas, agora, a tradução e análise de um manuscrito com mais de 1700 anos ameaça tornar o mau da fita no discípulo preferido de Jesus Cristo. As revelações foram feitas ontem pela National Geographic Society, numa conferência de imprensa que deu a conhecer ao mundo, pela primeira vez, algumas páginas do famoso Evangelho de Judas."
(in Diário de Notícias)

A propósito do filme Mary. Neste momento da minha vida, revejo-me muito no personagem Ted Younger (representado por Forrest Whitaker). Porque será que apenas buscamos o divino/espiritual/fé, nas suas variadas formas e feitios, apenas quando tudo parece estar contra nós e nos vemos dentro de um "buraco" que não parece ter fundo? Contra mim falo, pois nos últimos anos é exactamente isso que me tem acontecido. Tenho que reconhecer que o meu afastamento da Igreja (que não dos princípios que sustentam a minha fé cristã) se em deve em grande parte a mim, mas também à forma como os homens (que como seres humanos, sejam bispos ou leigos, também erram) têm conduzido a instituição Igreja. Se a fé cristã passa por amarmos o próximo (seja homem ou mulher, da nossa religião ou não), sermos humildes (e não nos acharmos senhores absolutos da verdade), sermos honestos e defensores da verdade, não deixarmos a violência e o ódio tomarem a nossa alma como refém, e despojarmo-nos daquilo que não nos "completa", que interessa quantos evangelhos existem e se são escritos por um homem ou por uma mulher, ou mesmo por aquele que é considerado o maior traidor da história?

Porque será que, enquanto seres humanos, não nos preocupamos tanto em saber que dons temos dentro de nós ou porque é que somos como somos, ou ainda porque razão não tentamos ter um real impacto no mundo que nos rodeia? Porque é que um país, uma fronteira, uma religião, um poder sobre os outros, pode ser algo que mais nos motiva? E porque é que se usam desculpas como a religião só para se poder matar mais pessoas, pessoas que não conhecemos, que se calhar até são tão inocentes como aquelas que mataram do "nosso" lado? Será porque não rezam ao mesmo Deus que nós? Ou será que é porque vivem num pedaço de terra que até gostávamos de ter? Custa-me a compreender que ao longo de todos estes milhares de anos que o Homem tem evoluido, ainda se continue a ter uma tamanha falta de tolerância para com o "próximo", seja ele católico, muçulmano, judeu, hindu, budista, agnóstico, ortodoxo ou ateu.

Mais uma vez, contra mim falo. Muitas vezes deixo-me ir por caminhos mesquinhos, de algum ódio, provavelmente, mas principalmente deixo que a minha alma seja infectada por aquilo que me rodeia. Não consigo ter forças para ter uma atitude diferente da das pessoas que passam ao meu lado. Tento manter-me fiel aos meus princípios mas mesmo assim sinto que às vezes os traio. E tudo isto para quê? Para quê tanto ódio, violência, inveja, malícia, arrogância, orgulho barato, quando no final de contas todos regressaremos ao pó? Não é a única certeza que temos nesta vida? Que a nossa passagem por este mundo é um mero segundo no tempo que dura este universo? Para quê sujá-lo com guerras, mortes, genocídios e outras atrocidades que o ser humano inventa, geração após geração?

Não espero que este texto faça sentido para todas as pessoas que o leiam. Espero, isso sim, que compreendam o sentimento que está por detrás destes desabafos. Não espero que os blogueiros do costume o comentem, mas sim que escrevam nos seus próprios blogues palavras que me façam sentir que não estou sozinho, que há mais gente a parar um pouco o ritmo das suas vidas e a pensarem naquilo que realmente "tiramos" delas e levamos connosco, para onde quer que nos dirigimos. Eu, pelo menos hoje, parei um bocadinho, olhei para o mundo, pensei, e chorei. E depois rezei. Para que nós, humanidade, ainda tenhamos uma réstia de esperança no destino que estamos a dar a nós próprios e aos nossos descendentes...

6 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post!

Célia disse...

Identifico-me plenamente com o que dizes. Já dei por mim a pensar, após chatear-me com determinadas coisas que realmente não vale a pena olhar para as coisas de forma negativa. Acho que, no fundo, todos sabemos isso, mas como seres imperfeitos que somos, volta e meia voltamos ao mesmo e tentamos melhorar constantemente. Há que viver a vida com calma e tentar apreciar o que ela tem de bom... Porque como disseste, a nossa vida é apenas um segundo na história do universo. E há coisas muito mais importantes do que os sentimentos negativos.
Gostei muito deste post, continua assim.

Anónimo disse...

"À escala do cosmos, a espécie humana, surgida por um acaso infinitesimal, durará um breve momento. E dentro dele, cada um de nós não chega quase a existir. E no entanto, é por esse instante de impensável brevidade de duração, que é nosso dever mobilizar todo o esforço de uma intensa atenção para que o melhor do universo se não destrua. Porque nesse mínimo está o máximo concebível da grandeza e do milagre. A vida. Tão pouco e tão tanto. (...) Mas que se não esqueça, que para cada um de nós o universo não existiria, se cada um de nós não existisse. Assim, a existência desse incomensurável universo depende da existência de quem, como disse, mal chega a existir (Vergílio Ferreira, "Espaço do Invisível 5")

José Raposo disse...

Muito bem meu amigo, é complicado mas importa perceber que muitas vezes o nosso caminho é individual e a procura por algo de melhor é muitas vezes apenas interior e só se nota nas pequenas coisas. O Vergilio Ferreira que tem aqui aparecido traduz isso lindamente :)

M. disse...

Bem... Tremi.

Sabes, a coisa para mim é ainda mais complicada porque não acredito em deus algum. Mas acredito nesse caminho que dizes esforçar-te por seguir, porque tento fazer o mesmo. Mas somos feitos de uma massa miseravelmente humana, que não nos deixa fugir das invejas, dos ódios, dos ciúmes, das vinganças, por muito que, por vezes, nos esforcemos.

O que dizes faz todo o sentido. Mais, faz pensar, faz doer. Fica prometido o post para quando o assunto tiver tempo para assentar. E fica também o abraço de uma (espero que) amiga virtual que não gosta de saber dessa fase menos boa.

Nuno Guronsan disse...

Obrigado a todos pela vossa preferência ;)

Beijokas e abraços a rodos!!!