E quando fui a ver, ali estava eu, com o sol ainda timidamente a aparecer, e eu ali, no centro, rodeado por um gang de bróculos com ar bastante ameaçador. De cada passo que davam, parecia que aumentavam de tamanho, ou então seria eu que estava a diminuir perante o seu avanço. Não conseguia perceber que tinha eu feito para merecer isto. Os bróculos pareciam ser às centenas, quem sabe mesmo aos milhares. E todos eles exclamavam, "não tens vergonha? não vês que entraste numa espiral horrível de consumo de carne e mais carne? e os vegetais, ficam para quem? e as proteínas e as vitaminas e todas as outras inas que precisas, vais renegá-las? tens de comer mais vegetais, TENS DE COMER MAIS VEGETAIS!!!". Procurando uma saída para aquele círculo vegetariano enverdecido que me apertava, cheguei à conclusão que só havia uma coisa a fazer. E foi assim que, trincando bróculo atrás de bróculo, fui abrindo caminho com os dentes e com a maionese que convenientemente estava no bolso das calças. Fui comendo e comendo e aos poucos apercebi-me que ou era a sede de vingança ou estava mesmo a apreciar o sabor daqueles bróculos tenrinhos. E fui comendo, comendo, comi há muito já não comia, até que apenas um único bróculo restava, e agora que era apenas um, parecia que os papéis se tinham invertido, eu parecia quase um gigante louco e esfaimado, e o pequeno bróculo suplicava, "por favor, já chega! já percebemos que também gostas de vegetais, que a tua dieta é mesmo equilibrada, chega, poupa-me, sou apenas um pequenino bróculo, mal encho a cova de um dente.". E sim, provavelmente não valia a pena devorar mais aquele pequeno vegetal. Mas quando dei por mim, já lambia os dedos depois de mais uma última trincada. Limpei os beiços e arrotei ruidosamente, com uma sensação de satisfação como poucas.
(à noite)
Então o que é hoje o jantar?
Lombos de pescada. E bróculos.
... quase não conseguia chegar à casa-de-banho...
3 comentários:
cá para mim essa gulodice era mais pela maionese que pelo bróculo
:D
Já está com destino à parede do frigorífico, para ver se o Sorriso se convence de que não são «couve-flor com alergia» e passa a comer!
Arranjas uma para cogumelos? Na versão do Monstrinho Polimorfo são «bocados de extra-terrestres perigosos»!
Um «oito deitado» de beijos.
Pena, eu nem sou muito de maioneses. Gosto do bróculo ao natural. :)
Calamity, folgo em saber que o Sorriso tem tanta imaginação para apelidar com tanta originalidade os vegetais que adornam o prato dele. Prometo, brevemente, uma ode aos bocados de extra-terrestres perigosos. Até porque só a alcunha já me está a fazer imaginar uma série de coisas... eheheheh
Beijos.
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