quarta-feira, março 11, 2009

Continuo a acordar...

... e haja muitos demónios a deixarem-me palavras tão bonitas como as que se seguem.

"Mas insensivelmente os lábios foram-se separando um pouco. Um dente. Subtil iluminado de pacificação serenidade alegria de ser - se te demorasses um pouco. E seres aí a vida rodeada de verdade por todos os lados. Um dente visível. Mas os lábios separaram-se mais e são agora um sorriso claro solar. E instintivamente deixei que se demorasse aí até eu poder reconhecer-lhe o esplendor. É um riso, não vou cometer a imprudência de o perder. Está na linha do céu e do mar, não vou. A juventude sem uma força excessiva de o ser. A confiança - não vou. O futuro dos séculos a quererem vir. A segurança contra o medo a vileza a degradação. A morte. Nem na realidade há nele futuro algum. Porque todos os séculos do futuro e do passado se conglomeram ali no instantâneo presente. O riso. Sem olhos nem face. Nem cabelos. Porque toda a sua ausência está lá. São olhos iluminados de uma festa terrível, cabelos de ar. Fixar-te para sempre, riso da minha pacificação."

Vergílio Ferreira

8 comentários:

calamity disse...

Bom dia, este e todos os dias...
:)

Nuno Guronsan disse...

Bom dia e obrigado, impõe-se dizer.
:)

calamity disse...

Obrigada, sim, a gostar cada vez mais desta tua casa. De como me(re)acolhe.
Beijo

Alexandra disse...

"E instintivamente deixei que se demorasse aí até eu poder reconhecer-lhe o esplendor. É um riso, não vou cometer a imprudência de o perder."

O que interessa mesmo é o reconhecimento!!!

São de facto palavras muito bonitas. Excelente post!

1 beijoca

Ana M. disse...

É um senhor, este Vergílio Ferreira.

São homens como este, talentos assim, de cortar o fôlego nas palavras que se lêem, que tenho imenso orgulho em falar a mesma língua que eles. Um bem hajam.

Beijos e vê se acordas!

calamity disse...

«Sento-me à mesa de trabalho. Inclino a cabeça para a memória dos livros que li e amei.
Com um gesto de ave pouso a mão sobre o papel. E no interior da sombra da mão, começo a escrever: era uma vez...»



in O Anjo Mudo, Al Berto

...para que acordes em lento e paz, como todos os acordares devem ser. e porque já se sente a falta dos teus «era uma vez...» do lado de cá.
um beijo de bom dia.

Carla disse...

esbocei um sorriso na leitura destas palavras
bom fds

Nuno Guronsan disse...

Era só para agradecer as vossas palavras, todas elas, e informar que parece que estou mesmo a acordar.

Ou assim o espero.

Beijos.