olhámos tudo de nossa janela e muitas vezes corremos para entrar
nos campos, vimos centelhas perseguindo-nos pelas costas e pelas
barreiras laterais do corredor das chamas, algumas das centelhas
ficaram presas a nossas camisas, fomos de fogo, corremos para a
água para acalmar a nossa ferida. Certas feridas se transformaram
nas cicatrizes mágicas que nos sustentam até hoje. Vimos as larvas
desenvolverem-se no chão e algum caruncho comer nossos móveis,
foi assim que ganhámos consciência da constante mudança das coi-
sas. Nossos corpos mudavam tanto quanto as coisas. Perdemos pai
e mãe em nossa casa, perdemos a vontade e nos fizemos ao espaço
novo, fomos contra espelhos só para ver se doía e só para ver se a
sorte vinha, a sorte nunca veio, mentira, a sorte demorou a vir mas
veio nalgum dia. E depois se desfez de novo."
Matilde Campilho
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