terça-feira, janeiro 31, 2012

Húmus

"Siga a vida seu curso esplêndido. Sabe a sonho e a fer-
ro. E ternura, desgraça e desespero. Leva-nos, arrasta-nos,
impele-nos, enche-nos de ilusão, dispersa-nos pelos quatro
cantos do Globo. Amolga-nos. Levanta-nos. Aturde-nos.
Ampara-nos. Encharca-nos no mesmo turbilhão do lodo.
Mata-nos. Mas um momento só que seja obriga-nos a olhar
para o alto e até ao fim ficamos com os olhos estonteados.
Eu creio em Deus."

Raul Brandão


segunda-feira, janeiro 30, 2012

Dois anos


Não me tornei um fundamentalista anti, mas na verdade não lhe sinto falta.
O que não significa que, por vezes, não tenha vontade de mandar tudo ao ar e voltar ao vício.
Mas não. Creio que seja mesmo desta vez.
A suivre.

domingo, janeiro 29, 2012

Desafio aceite

Para a semana começa o mês de Fevereiro da graça de 2012. E numa tentiva (vã?) de insuflar ar neste Espaço meio moribundo, aceitei o desafio da companheira J. e vai de começar a pensar em tirar fotos todos os dias do mês que aí vêm, sendo que cada dia há uma nova temática a cumprir. Conseguirei eu cumprir os desafios? Não percam os próximos episódios, porque nós também não... :))




P.S. - Acabei de ver o dia 22. Estou perfeitamente fod$#%... :D


Lugar de Memória e de Lembrança

"(...)

Esta terra de minha juventude,
do pôr-do-sol a desfiar-se nos jardins da Corredoura,
do Crisfal enamorado em noite de cinema,
das tascas salpicadas pela cidade, de boémia e petisqueira,
da Fonte dos Amores no encanto da Serra,
do Café Alentejano encontro de cavaqueira,
do Tarro, jardim prazenteiro em noite de Verão,
dos bailes do Atalaião em todos os arraiais,
da Feira das Cebolas, da Festa dos Aventais.

(...)"

José-António Chocolate

(para referência futura, caso a memória dê de si.)


quarta-feira, janeiro 25, 2012

Visitas


Haja gente amiga a colar-se assim, à descarada. Serão sempre bem-vindos! :)


O respeitinho é muito bonito...


Este gajo não tem mais nada que fazer do que estar p'ráqui a tirar fotos e a perturbar o nosso atarefado dia de pasto e caminhada pelo prado? Ao menos podia ter trazido um bocadinho de ração com ele, sempre o suportava um bocadinho mais. Se ele se aproxima mais, vai descobrir rapidamente que estas duas coisas na minha cabeça não são meros ornamentos...


segunda-feira, janeiro 16, 2012

Life happening


"- If you really love me, then let's make a vow. Right here... together... right now. Ok ? - Ok... - All right, repeat after me... I'm gonna be free. - I'm gonna be free. - And I'm gonna be brave... - I'm gonna be brave. - Good... I'm gonna live each day as if it were my last. - Oh that's good... - You like that ? - Yeah... - Say it. - I'm gonna live each day as it were my last... - Fantastically... - Fantastically. - Courageously... - Courageously. - With grace... - With grace. - And in the dark of the night ,and it does get dark, when I call a name... - When I call a name... - It' ll be your name... What's your name ? Nevermind... let's go... say it. - Let's go... - Everywhere... - Everywhere... - Even though... - Even though... - We're scared... - We're scared... - Cause it's life... - It's life... - and it's happening, it's really really happening... RIGHT NOW..."


domingo, janeiro 15, 2012

Twenty.

"So many people don't make it this far, and I would think they have the same appreciation for music and a drive to make music and create music and record music and share music. But somehow their bands weren't able to stay together. I think the one thing that could be missing for them is communication and understanding of each other. At some point, some of that stuff becomes unspoken. There's a communication which is unspoken, and that's the good stuff which enables you to keep going farther with it. I think the main thrust of this whole deal for us has been to continue recording, continue writing, continue on this journey. When you get married, you don't want to get married after two dates or three dates or whatever, especially to four other people. But we got in that relationship pretty quick. And we appreciate that these relationships are what keep the music going and the songs coming. That's more important than anything."

Eddie Vedder


(thank you for always being an inspiration.)


sábado, janeiro 14, 2012

Para um anónimo do costume

"Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá."

Vergílio Ferreira







(E fico tão feliz que tenhas mesmo decidido levar as palavras do teu mestre à letra. Não haverá estrela mais bonita do que aquela que o último Natal te trouxe. Um grande abraço, meu caro amigo anónimo do costume. Que sejas sempre feliz.)



Cambalhuetas azules...


(E não, não estou a tentar fazer concorrência a Deus.)

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Ao virar da esquina

A austeridade saiu à rua num dia assim
Em todo o lado desta terra sem fim

Um desempregado sobre a calçada cai
E milhares de outros mais vêm atrás

O vento que varre todo o nosso mal
E os bons vão saíndo de Portugal

E os posts em todas as redes sociais
Vão dizendo em toda a parte o primeiro-ministro morreu

Teu sangue, ministro, de nada nos vale
Mas sempre é mais um corte na despesa mole

Nenhum hospital público te salvou
Teu corpo pertence ao são bento que te abraçou

Todos os que mandaste emigrar
Já não vão a tempo de se salvar

Na curva da estrada há deputados no chão
E em todas florirão ordenados de uma nação


(não querendo desrespeitar o nosso maior cantor de sempre, mas hoje andei o dia todo com estas palavras na minha cabeça... triste estado em que o nosso país se encontra...)

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Promessa

Um dia ainda hei-de de ter uma livraria só para mim.






(via A Livreira Anarquista, um daqueles sítios que qualquer consumidor devia conhecer antes de abrir a boca.)

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Tenham paciência...

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

[«Lisbon Revisited» (1923), Álvaro de Campos]


(Via Lei Seca, um espaço que muito prezo.)


domingo, janeiro 08, 2012

Berma






Parecia cansado. Já não o via há alguns meses, mas não me lembro de o ver com um ar tão cansado. Ali, sentado à beira da estrada, com as canadianas a descansarem ao seu lado, com o sol da manhã a iluminar todas as rugas de uma face a caminhar para as setenta e seis Primaveras. Passei de carro, abrandando como sempre faço quando atravesso a aldeia, para responder a todos os acenos de gente que me conhece desde os meus primeiros passos. Ele não me acenou, talvez não me tenha reconhecido. Os seus olhos também já não o ajudam grande coisa, mas ele vai dizendo que não quer usar óculos, que para aquilo que a vida ainda lhe vai reservando dia após dia não precisa de lentes para nada. Chega para ler os livros que lhe restam na estante e para reconhecer as pessoas amigas que se chegam ao pé de si. Mas mesmo assim, ou talvez por isso, os seus olhos não escondam uma névoa da tristeza que é o livro da vida daquele homem. Vive sozinho já há uns bons dez anos, desde que a sua companheira de vida faleceu. É ele que o diz, a minha companheira envelheceu como eu e um dia achou que estava na altura, que o corpo dela já tinha vivido o suficiente, nem mais nem menos, só fiquei triste por ela me ter deixado sozinho com os outros vivos, aqueles que estão longe. É ele que assim o diz, uma pequena grande alfinetada a grande parte da sua família. Filhos e respectivas caras-metades há muito que trocaram a aldeia e o campo pela cidade, fazendo aquele percurso que tantos outros fizeram no seu tempo. Raramente o visitam e quando o fazem é quase de raspão. Os netos e netas também pouco lhe ligam, conhecia-os a quase todos e todas nos longos Verões que aqui passámos juntos, brincando até ao pôr-do-sol. Talvez que nuncam tenham sabido apreciar devidamente os seus avós, talvez porque estes nunca lhes fizeram as vontadinhas todas como os pais. Com o passar dos anos fui-me desligando de todos, vivemos em sítios diferentes, estudámos coisas diferentes e, na verdade, deixou de haver aquela empatia que em criança é tão fácil de acontecer. Apenas um dos seus netos ficou meu amigo, exactamente aquele que continua a visitá-lo, a ligar-lhe, a escrever-lhe. Passa cá todos os meses, e não raras vezes quando vou a passar de carro e o vejo sentado com o avô, conversando olhos nos olhos, mãos nas mãos, encosto o carro e junto-me a eles, a beber uma cerveja, a jogar às cartas, ou simplesmente a ver quem passa. Mas hoje estava sozinho, terrivelmente sozinho. E cansado. As pernas também já não são o que eram, as canadianas praticamente também se arrastam com ele. E no entanto, não se queixa. Diz que as coisas são como são, que não levou uma vida regrada para viver eternamente, viveu tudo aquilo que lhe dava prazer e sem arrependimentos, naquele pequeno mundo que sempre foi a sua aldeia. Sempre o conheci assim, prático e sem papas na língua, nada de romantismos balofos sobre o significado da vida. Isto de um homem cuja estante repleta de livros de poesia, filosofia, e outas "ias" sempre me deixaram com uma pontinha de inveja. Ele disfarça, diz que eram da sua companheira, que ele pouco os leu durante a vida, mas eu sei que não é bem assim, e sei até que ele sabe muitos daqueles poemas de cor, pois tantas e tantas vezes no meio de conversas comigo e com outras pessoas da aldeia lhe apanhei pequenos bocadinhos declamados e retirados daquelas mesmas páginas. Mesmo que hoje já não seja tão procurado pelas gentes da aldeia como outrora, será daqueles que nos vai fazer falta quando chegar a sua hora. Será um pedaço desta terra que também vai desaparecer para sempre, seis palmos debaixo da terra que o viu nascer. Eu vou sentir a sua falta também e quando penso nisto fico triste, muito triste. E é nisto que penso quando estou de novo a entrar de novo na aldeia e o vejo ainda sentado à beira da estrada, e nem penso duas vezes. Encosto o carro e vou ao seu encontro. E a minha tristeza vai-se dissipando à medida que me aproximo dele e à medida que sinto que ele me vai reconhecendo e que, ao de leve, começa a brotar um sorriso aberto nos seus lábios e que ele abre os seus braços para mim. É a forma de ele dizer, vem cá, meu amigo, que eu ainda não estou morto e ainda tenho alegria que chegue para nós e para o resto do dia.


quinta-feira, janeiro 05, 2012

Ideias luminosas




Sempre a olhar para cima. Ora aí está um excelente conselho. Ainda que subentendido.


terça-feira, janeiro 03, 2012

Caminhada

E hoje a casa vai estar menos cheia, mais solitária. Não é muito triste, pois aqui e ali restam pequeninas coisas de quatro dias que arejaram o espaço, que lhe deram outra vida, a ele e ao respectivo inquilino. Será tempo de regressar a algumas rotinas que povoam os dias, umas mais reconfortantes que outras, mas nada que vá tirar o sono a alguém. São sempre chatas as despedidas, mesmo aquelas que apenas significam um mero até já. Nem mesmo com o cheiro a torradas e café acabado de fazer, nem assim chega para que não haja humidade ocular. Já devíamos estar habituados, digo eu. Mas nisso não há nada que se possa fazer, o coração, esse tão complicado pequeno orgão, há-de ter sempre razões que nem com uma boa rua se consegue descobrir. O que vale é que Janeiro é sempre sinónimo que festas atrás de festas, alegrias atrás de alegrias, de modo que não precisamos de muito mais tempo para estarmos outra vez juntos, a rolar por ruas e vielas, deixando que os nossos pés e demais membros cirurgicamente reciclados se deixem cansar em todas as pequenas calçadas portuguesas que vamos percorrendo nesta nossa vida. Até já.



segunda-feira, janeiro 02, 2012

Dias bons.


De momentos de alegria.
De sorrisos de cumplicidade.
Do amor que não é falado mas sente-se nas mãos.
De como se pode acabar um ano e começar o outro com a felicidade genuína de quem nos acompanha desde sempre e nunca, nunca nos abandonou no seu incondicional amor.
Bom é pouco. Foi/ainda é muito bom. Obrigado.