quinta-feira, setembro 17, 2015

O verdadeiro alentejano

De que é que se conversa com alguém que conhecemos há sensivelmente trinta e cinco anos e com quem já não estávamos há pelo menos quinze anos? De tudo e de nada. De namoros, casamento, divórcio e descendência. De caminhos profissionais tão diferentes e com tantos pontos de contacto que, ao descrevermos alguns eventos, deixamos um sorriso cúmplice nos lábios. De viagens a mundos distantes, de viagens a mundos ao virar da esquina, das idas do campo para a cidade e vice-versa, como se de um truque mágico se tratasse. Da família, sempre a família ao nosso lado e a apoiar-nos, das cumplicidades maternais que vão ainda mais longe do que as nossas vidas, até a um tempo em que ainda só existíamos enquanto ideia desejada. De como ao fim de uma frase regressamos à nossa infância, como se nada se tivesse passado, como se nunca tivéssemos saído daquela sala de aulas magnífica, que tantas alegrias, conhecimento e amizades nos trouxe, daquelas quatro paredes onde aprendemos muito mais do que matemática ou português ou os rios e as serras deste país, onde verdadeiramente aprendemos a ser seres verdadeiramente humanos, onde absorvemos tudo o que uma professora/cúmplice/mãe/amiga (e tantas palavras poderiam aqui ser colocadas, ad eternum) nos legou e nos deixou mais ricos enquanto pessoas de, na altura, de palmo e meio. E tantas vezes a sua memória foi evocada que quase, quase nos permitimos ficar com os olhos marejados. Ela, os nossos antigos colegas, aqueles que gostávamos de encontrar mais uma vez, aqueles que desapareceram já deste mundo, os que se encontram em parte incerta, até mesmo aqueles que se deixaram ir por uma espiral de dor e tristeza abaixo, quando mereciam muito mais desta vida madrasta. Mas não falámos só do passado, também pensámos no presente, no futuro, na superação de doenças malditas, na superação do flagelo do desemprego, naquelas pequenas coisas que tornam a nossa presença nesta terra um bem inestimável. Falámos, falámos, comemos, falámos, bebemos, e no fim aquilo que foram horas, pareceram breves minutos. Foi bom, meu amigo, foi muito bom. E o melhor de tudo é que ficámos com a completa certeza de que haverá mais em breve, mais conversa, mais memórias, mais angústias, mais partilhas, mais anseios para o que aí vem. E a melhor certeza de todas, é que não vai passar tanto tempo até à nossa próxima tertúlia. Aqui te deixo um enorme brinde à tua vida, à tua coragem, à nossa bonita amizade que merecia este recomeço.


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