sábado, setembro 03, 2011

da minha Amiga Calamidade, que se lembrou de mim


"A tua morte é sempre nova em mim.

Não amadurece. Não tem fim.
Se ergo os olhos dum livro, de repente
tu morreste.

Acordo, e tu morreste.
Sempre, cada dia, cada instante,
a tua morte é nova em mim,
sempre impossível.

E assim, até à noite final
irás morrendo a cada instante
da vida que ficou fingindo vida.

Redescubro a tua morte como outros
redescobrem o amor,
porque em cada lugar, cada momento,
tu estás vivo.

Viverei até à hora derradeira a tua morte.
Aos goles, lentos goles. Como se fosse
cada vez um veneno novo.

Não é tanto a saudade que dói, mas o remorso.
O remorso de todo o perdido em nossa vida,
coisas de antes e depois, coisas de nunca,
palavras mudas para sempre, um gesto

que sem remédio jamais teve destino,
o olhar que procura e nunca tem resposta.
o único presente verdadeiro é teres partido."

Adolfo Casais Monteiro


(obrigado. por estares desse lado.)

2 comentários:

calamity disse...

s.e.m.p.r.e.

silenciosa, por vezes, mas sempre como o vento norte.
e perante a morte o melhor é o silêncio e um abraço apertado.
espera-te.
espero-te.

Nuno Guronsan disse...

E que mais posso eu dizer?
Obrigado.
Fico à espera.
Beijos. Grandes.