domingo, outubro 18, 2009

Real.

" I've never loved anything the way he loves music."

Mesmo em versão cinematográfica, é dificil de ver este filme. É dificil porque sabemos que tudo ou quase tudo o que ali está a passar é real e não imaginado. Todos os milhares de sem-abrigos que rumam pelas ruas mais escuras de Los Angeles são reais. O desprezo a que são votados pela sociedade dita civilizada é real. A esquizofrenia de Mr. Ayers é real. Os seus ataques de fúria são reais. O seu sentimento de claustrofobia perante o resto do mundo é real. O seu talento é real. O seu amor à música é real. O facto de sabermos que a sua cura não irá acontecer e que provavelmente ele vai continuar a vaguear perdido até ao fim dos seus dias, soltando sons maravilhosos das cordas do seu violoncelo, tudo isso é bastante real. E é por isso que, mais que avaliar da qualidade do filme e dos seus actores, o que é importante é lembrarmos que o mundo pode ser terrivelmente injusto e, por isso mesmo, não deixar de ser amarguradamente real.

And now, meet the real Mr. Lopez and Mr. Ayers.




2 comentários:

calamity disse...

Assustadoramente real, Nuno.
O conforto do desconhecimento desses mundos, dos que só tem o abrigo lá fora, dos que peregrinam na sua própria cabeça e não encontram a porta da saída, é para a maioria das pessoas uma forma de se manterem autistas. Um modo de isolarem cada vez mais os que já vivem numa margem tão exígua.
Por medo, por incapacidade, por deixa-andar, por estupidez...
a mesma que o Italo Calvino diz que é uma debilidade da natureza sem contrapartidas, ao contrário da loucura, que é uma força da natureza para o bem ou para o mal.

Felicidade disse...

Vivemos num Mundo que nada tem de justo de facto e mais cruel se torna quanto menos se encaixa nele...já passei algum do meu tempo a reflectir sobre os meandros da mente, onde será que que ela se perde e porque...........

Um beijo especial e um abraço apertadinho Nuno