domingo, fevereiro 18, 2007

Mais fracturas...

Há uma semana atrás Portugal dava o primeiro passo, na minha opinião, para uma sociedade mais tolerante, mais compreensiva e, esperemos, mais justa. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer. A intolerância e a falta de raciocínio prático ainda são muito comuns na nossa sociedade, e o dia-a-dia faz-se muitas vezes de uma espécie de ódio latente, seja ele dirigido a raças, credos ou orientações sexuais diferentes das nossas, ou simplesmente porque o meu clube de futebol ganhou e o do vizinho do lado perdeu. Há quem diga que a justificação reside numa estranha qualidade a que somos associados invariavelmente, a "Latinidade". Porque somos latinos, tendemos a reagir primeiro e pensar depois, vivemos com "o sangue na guelra". Pois. Mas eu acho que sim, reagimos primeiro, mas, preferimos deixar o pensar para depois. Para muito depois. Por exemplo, o que será mais condenável na nossa sociedade? Haver um homem que gosta de se vestir como mulher e subir a um palco ou haver milhares de pessoas que desrespeitam as regras de trânsito e acabam por causar acidentes mortais quase todos os dias? Será mais reprovável a contínua corrupção existente em instituições públicas ou a simples legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo? É muitas vezes isto que falta ao pensamento dos portugueses (a grande maioria, pelo menos), enquadramento. Discernimento. Reflexão. E é também por isso, infelizmente, que por enquanto as boas intenções de alguns não vão sair do papel. Sim, porque até o nosso Governo, receoso, sabe bem que mais do que uma questão "daquelas" por legislatura não ganha muitos votos do "centrão". Essa coisa indefinida, irregular, quase assexuada que ainda vai ditando a sorte dos actos eleitorais ou "referendais". Por achar que esta sociedade precisa mesmo de reflectir mais, sugiro este teste, criado pela Universidade de Harvard, no âmbito do Projecto Implícito. Sim, é apenas um teste, mas os resultados podem servir para pensarmos em que tipo de seres humanos nos andamos a transformar, diariamente e muitas vezes sem nos apercebermos. E é essa falta de percepção que por vezes me assusta.

7 comentários:

Anónimo disse...

Aplaudo de pé este comentário...

Alexandra disse...

Um longo caminho mesmo, Nuno!!!

Excelente o que aqui deixaste!!

Beijo

ps: Desculpa a ausência, mas a falta de tempo impera...

Sea disse...

muita água ainda vai correr por baixo da ponto.
há um longo caminho a percorrer.
beijo

antimater disse...

Ñão é o casamento apanágio heterosexual?
Nunca percebi muito bem essa guerra... Não sei...

Nuno Guronsan disse...

A meu ver, a questão não passa tanto pelo acto do casamento per si, mas muito mais pelo significado que pode ter. Nomeadamente, derrubar uma das barreiras que o preconceito de algumas mentes mais fechadas insiste em manter erguido, qual porta-estandarte demagogo...

José Raposo disse...

O casamento deixa de ser um apanágio hetero na altura em que a constituição de um país refere a impossibilidade da discriminação da lei perante a orientação sexual. O casamento enquanto contrato civil entre duas pessoas que é precisamente a forma reconhecida de casamento de um estado laico. Agora do ponto de vista religioso até podiam decidir que os noivos tinham de amputar um braço e declararem os seus votos de cabeça para baixo que só lá vai quem quer.

AR disse...

Aproveitei a dica e fui fazer os testes (3 neste caso)...
Pelo menos nas 3 áreas que testei, faço parte do grupo de pessoas que pensa o que diz... tinha a certeza, mas não há nada como verificar.

E quanto ao teu comentário, concordo totalmente e até vou um bocadinho mais longe (o que pode chocar alguns): porque é que há um número enorme de crianças em lares e a adopção é negada aos casais homossexuais?

É que não poderem adoptar porque não reúnem as características psicológicas/sociológicas para isso é uma coisa... agora pela orientação sexual é outra.

Se eu fosse criança certamente preferia ter um lar com "pais diferentes", a estar num lar.