terça-feira, fevereiro 06, 2007

Conto para Carolina

Era uma vez um escritório. Um escritório como tantos outros que forravam o interior daquela cidade. Um escritório que nada possuía de especial e que até destoava pela sua normalidade.

Mas apesar deste escritório banal, havia nos seus corredores, uma pessoa especial. Especial porque era um sonhador. Preso a uma rotina diária de trabalho de secretária, mas que ao mesmo tempo imaginava cenários muito longínquos. Certamente, muito diferentes do cubículo que ocupava invariavelmente entre as nove da manhã e as seis da tarde. Por entre folhas de excel e relatórios infindáveis para rever, António, assim se chamava o nosso herói, deixava a sua mente vaguear por todos os sonhos que o acompanhavam da noite anterior. Sonhava conhecer o mundo, deixar aquela cidade que conhecia de olhos fechados, deixar a monotonia dos seus dias para trás das costas e conhecer pessoas diferentes dos zombies que todos os dias via percorrerem os obscuros corredores do seu escritório.

E este era um desejo que crescia de dia para dia no íntimo de António. E tanto cresceu que António decidiu que era altura de seguir os seus sonhos. Assim, dirigiu-se ao gabinete do seu chefe. Sabia que ele não ia impôr grandes entraves à sua saída para uma das muitas sucursais que a empresa tinha espalhadas pelo globo. Afinal de contas, nunca tinham morrido de amores um pelo outro. O que António não esperava era que a transferência fosse para um país tão distante, tão afastado de tudo o que conhecia, tão do outro lado do planeta que António até tinha dificuldade em encontrá-lo no mapa.

Mas mesmo isso não demovia António dos seus intentos. Assim, ficara acordado com o chefe que ele se manteria no seu posto até haver um substituto para as suas funções. António mal podia esperar por esse momento. Até lá tinha muito com que se preocupar, preparar as malas, informar-se sobre o país distante onde se encontrava o seu futuro, despedir-se da família e amigos, e sonhar ainda e cada vez mais com o dia em que ia deixar toda aquela existência inexistente para trás. E foi assim que chegou o dia em que o seu chefe lhe comunicou que tinha chegado o seu substituto. Dirigiu-se ao gabinete e quando abriu a porta deparou-se com Maria. E no instante em que a viu, a sua alma esvaziou-se de sonhos, de expectativas e de falsas promessas de uma vida melhor longe de tudo e de todos. De repente, apenas se imaginou ao lado de Maria para toda a vida, para todo o sempre.

Mas era tarde. Demasiado tarde. Como podia ele esperar que Maria, que apenas conhecia há um dia, tivesse sentido a mesma sensação avassaladora que o percorrera naquele primeiro encontro? António ainda tinha tentado travar uma conversa com Maria, tentanto, inicialmente, alertá-la para a rotina angustiante que constituía aquele trabalho, para aquela camisa-de-forças que restringia toda e qualquer espécie de criatividade que o seu cérebro poderia conceber. Mas a conversa tinha-se ficado por ali. Não tinha havido oportunidade para muito mais e António não tinha tido coragem para confessar-lhe o que tinha sentido por ela. E agora era tarde. Era nisto em que António pensava, ali no porto, à espera de embarcar para o outro lado do mundo.

Nunca poderia imaginar uma mágoa tão grande agora que os seus até-há-pouco-tempo sonhos mais inacreditáveis se iam concretizar. As lágrimas acumulavam-se nas suas pupilas e a dor que sentia no seu coração parecia não ter fim. Os poucos colegas de trabalho que ali se encontravam para a despedida pensavam que se tratava apenas de um caso de saudade prematura. Ele não falava, limitava-se a olhar não sabia muito bem para onde. O mar parecia chamá-lo, mesmo ali ao lado e António tentava adiar o seu chamamento o mais possível, pois sabia que o mar apenas o ia levar para longe de Maria, para demasiado longe. No entanto, o seu olhar perdido pareceu ver algo no meio da multidão. Não podia ser, a sua mente pregava-lhe partidas diabólicas. Mas não, era mesmo o rosto de Maria que avançava para si. António não sabia o que pensar quando Maria lhe beijou o rosto. António intrigado, perguntou-lhe se tinha vindo despedir-se dele (a pergunta mais desajeitada que poderia ter feito). Maria, com um sorriso enorme, apenas lhe disse que se tinha despedido, que ele tinha mesmo razão, que aquele escritório seria mais uma masmorra que outra coisa, e que, sim, de certa forma tinha vindo vê-lo, pois tinha gostado de o conhecer, mesmo que por pouco tempo. Mas isto eram as suas palavras. O seu olhar dizia muito mais. Tinha o mesmo olhar que António. Ambos se olhavam e diziam muito mais com os seus olhos do que meras palavras poderiam alguma vez dizer. António não precisava de saber mais nada. E sussurrou-lhe ao ouvido, "e que tal se fôssemos passear até ao jardim?".

E assim foram, António e Maria, mãos dadas, a deixarem o mar para trás deles. Se eles viveram felizes para sempre? Não sei, a história deles ainda não acabou. E tu, Carolina, és o novo capítulo que começa agora nesta história. A nova estrada que eles vão poder percorrer na concretização de todos os seus sonhos. E que sonho bonito tu és. Um sonho tornado realidade. Bem-vinda.

3 comentários:

Micas disse...

Um conto que pode muito bem ser real...e, quando um encontro da vida faz nascer um amor assim, então sim, vale a pena. A Carolina é o fruto e será sempre o testemunho desse sonho bonito.
Será que devo dar-te os Parabéns? És "papá"?? se é o caso, então Parabéns e Felicidades :)
Beijinho e bom fim de semana

Nuno Guronsan disse...

:)))
Não, Micas, ainda não aderi ao meu lado mais paterno... A Carolina é uma espécie de "sobrinha espiritual"... Apenas escrevi este conto como uma espécie de prenda, para os pais lhe poderem ler de vez em quando. Sempre é uma alternativa às princesas, aos dragões e às fadas... :)

Beijokas e bom fds. Tchuss!

Anónimo disse...

A Carolina vai ficar encantada!!!! Também eu fiquei!!! Também eu acredito (muito) em sonhos!!!

beijocas
sonialx